Fernando Diniz Moreira / Giselle Cristina Cantalice de Almeida: Nos anos 1960 e 1970, o ambiente brasileiro não estava tão atento às estas críticas internacionais à arquitetura e ao urbanismo modernos, como o Team X, Archigram, Jane Jacobs, Robert Venturi etc. Você notou isto quando chegou no Brasil?
Héctor Vigliecca: Quando eu cheguei no Brasil em 1972, falava sobre o que acontecia na Europa principalmente e percebi que as a maioria das pessoas desconheciam estas ideias e autores e muito menos colocavam em prática na arquitetura. Quando cheguei aqui, eu fiquei até assustado, me lembro que eu falava dos irmãos Krier e aqui ninguém sabia quem eles eram. Mas isso mudou radicalmente hoje em dia. Primeiro, porque o sistema de informação disponibilizou muito mais literatura sobre o tema, por meio de livros, e, evidentemente, a internet. Lá nós vivíamos muito antenados com o que acontecia na Europa e em Buenos Aires.
FDM/GCCA: Quando chegaste ao Brasil em 1975, já tinhas uma obra relevante em termos de habitação social como o Bulevar Artigas. Como foi sua impressão em relação ao contexto brasileiro de reprodução maciça do Banco Nacional de Habitação – BNH?
HV: Bom, quando eu cheguei no Brasil eu fiquei muito interessado em fazer habitação principalmente habitação para baixa renda e tudo isso. Nós tínhamos uma boa experiência, eu trabalhei no Centro Cooperativista Uruguaio que foi referência naquele momento. Mas eu não conseguia acessar a esse mercado. Isto mudou na época da gestão da Erundina, cujo secretário de habitação era o Nabil Bonduki, que tinha conhecimento do que nós havíamos feito no Uruguai. A prefeitura abriu algumas licitações e promoveu alguns concursos que nós ganhamos e então começamos a dar os primeiros passos aqui no Brasil em relação a habitação de interesse social.
FDM/GCCA: Na época em que chegaste ao Brasil, o BNH empreendeu um dos maiores programas de habitação no país, mas ao se priorizar a quantidade, perdeu-se muito da qualidade.
HV: Sim, os exemplos que nós vimos na época eram péssimos, mas isto continua hoje. Quando chegamos ao Minha Casa Minha Vida vemos que é um desastre ainda maior. Foram construídas quase 3 milhões de casas e os arquitetos foram banidos do processo. Ainda bem que estamos de acordo com isso.