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my city ISSN 1982-9922

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Artigo apresenta a abertura da VII BIAU e visita por área carente e problemática da cidade de Medellín, que passou por processo de reurbanização promovido pela prefeitura.

how to quote

GUERRA, Abilio. Medellín, cidade da arquitetura e do urbanismo democráticos. Minha Cidade, São Paulo, ano 11, n. 123.04, Vitruvius, out. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.123/3623>.



Com as presenças do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos Calderón, do prefeito de Medellín, Alonso Salazar Jaramillo, da ministra da habitação da Espanha, Beatriz Corredor, de outras autoridades e da organização do evento, abriu no dia 11 de outubro de 2010 a VII Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo – BIAU. Os discursos dos três políticos mencionados impressionaram não só pela importância dada à arquitetura e o urbanismo, mas pela consistência das ideias de como utilizá-la em prol da coletividade. O tema geral do evento – “arquitectura para la integración ciudadana” – permeou os três discursos e, no caso do prefeito da cidade-sede, se revelou nas dezenas de projetos levadas a cabo nos últimos cinco anos, período que envolve esta e a anterior administração.

Medellín, que ficou internacionalmente conhecida pela associação entre pobreza e violência, combinação materializada no “Cartel de Medellín”, tem feito um enorme esforço em erradicar estes problemas com o auxílio fundamental da arquitetura e do urbanismo. Ao menos cinco áreas distintas da cidade estão passando por ampla transformação graças ao PUI – Projeto Urbano Integrado, que vem sendo implementado pelo governo municipal. Na prática, trata-se de melhorias diversas, que vão da qualificação da infraestrutura, construção de espaços e equipamentos públicos e um eficaz programa de habitação social.

Tais informações, presentes nos discursos e diversos documentos que foram disponibilizados para o enorme e surpreendente público desta edição da BIAU, poderiam muito bem ser tomadas como exageradas, ainda mais se tomarmos como padrão o hábito político brasileiro. Mas no período da tarde foi possível visitar uma das áreas de intervenção e o que vimos foi muito melhor do que ouvimos e vimos nas falas e fotografias no período da manhã. Acompanhando um grupo enorme formado majoritariamente por alunos de arquitetura de diversas cidades colombianas e alguns dos arquitetos estrangeiros convidados para o evento, pudemos visitar o “Proyecto urbano Nor-oriental”, originalmente uma das áreas mais carentes da cidade.

Medellín se assenta a partir da parte baixa de um vale formado por duas encostas muito altas. Junto ao rio Medellín, que corre no meio deste vale, foram dispostas as linhas de trem e, mais recentemente parte do metrô elevado. A expansão da cidade se deu a partir de uma lógica rapidamente identificável: a montante e a juzante do rio foi crescendo os setores de serviços, comércio e bairros residenciais das classe média e alta; e no sentido das escarpas das montanhas, as áreas pobres. A região visitada está encravada em área de enorme inclinação, com todos os problemas inerentes a uma geografia tão ingrata, agravada pelas “quebradas”, áreas com depressões causadas pelas águas de chuva de milênios, que tornam quase impossíveis a comunicação transversal, resultando em bairros que se assemelham a “gomos” isolados.

Levado por diversos ônibus ao local, o grupo iniciou a visita conhecendo um inteligente e sofisticado meio de transporte, o teleférico operado pela empresa Metrocable. De tecnologia francesa, o sistema funciona com um sistema de cabo único, articulado entre duas estações extremas – uma na estação intermodal que divide com trens; a outra na parte alta do morro – e mais duas em cotas intermediárias do terreno inclinado. Os vagões agarrados aos cabos sobem e descem a ladeira sem parar, apenas diminuindo a uma velocidade mínima nas estações para o embarque e desembarque dos passageiros – ato simples e sem risco, mas não pudemos observar como idosos e deficiente físicos lidam com esta possível dificuldade. De resto, vale comentar que o sistema é bem eficiente mas de média capacidade – em cada vagão são transportados no máximo 10 pessoas. Foi possível ver filas de espera, mas nada que diminua o impacto causado pela existência de um sistema tão moderno em área tão carente.

A subida é de grande beleza, devido à altura e à possibilidade de ver a cidade em praticamente toda sua extensão. Neste primeiro contato aéreo com o bairro já é possível se verificar as melhorias promovidas pelo poder público. Na primeira parte da subida os vagões flutuam por cima de uma rua estreita reurbanizada, aonde coube uma única calçada do lado direito, mas larga suficiente para permitir baias para paradas rápidas de automóveis e principalmente das vãs que complementam o serviço de transporte público. As ruas muito estreitas e inclinadas não permitem que veículos de maior parte circulem pelo bairro. Dos dois lados da parte baixa é possível ver, a uma distância entre 100 e 200 metros, diversos conjuntos habitacionais construídos com tijolos à vista, alguns deles com interessantes escadas circulando por fora da edificação. Depois, no final da visita, pudemos constatar tais escadas são recorrentes na autoconstrução – com a sobreposição de lajes nas casas, famílias diversas vão se alocando no mesmo edifício, e as escada permitem o acesso individualizado às residências empilhadas – e que foram incorporadas pelo arquiteto responsável pelo projeto.

O primeiro projeto visitado foi o Parque Biblioteca Espanha. Entre a estação – a segunda intermediária – e a biblioteca há um conjunto de pequenos espaços públicos com mobiliário urbano e playground para crianças, amplamente utilizados. O equipamento – também conhecido como Biblioteca de Santo Domingo – foi o projeto premiado na última edição da BIAU, ocorrida em Lisboa no ano de 2008, e que foi motivo de polêmica no portal Vitruvius (1). Vista lá debaixo, a biblioteca é monumental, com suas três peças que brotam de embasamento único se assemelhando a rochas lapidadas; sua cor escura a distingue mais ainda das construções lindeiras, construídas em tijolos de cor mais vibrante. Vista de perto, a biblioteca surpreende por vários motivos: tem um porte menor do que o esperado e se relaciona muito bem na escala, na forma e na coloração com as edificações próximas; seu interior, com espaços pequenos, abriga equipamentos e mobiliário adequados e bem desenhados; escadas, corrimões, detalhes em geral, tudo denota a qualidade da construção. E em um virtuosismo formal nos espera: aberturas retangulares e inclinadas abre a paisagem local para o interior, abrindo a percepção a consciência permanente do local da implantação da edificação.

O segundo projeto visitado foi o Colégio Santo Domingo. Fica em cota muito superior à da biblioteca, bem acima da estação terminal do teleférico. Nesta área, o bairro, hegemonicamente de autoconstrução até então, se transforma em algo próximo das favelas brasileiras mais precárias, com barracos improvisados e mal construídos. Chegamos até lá levados por diversas vãs, por ruas tortuosas, com vista magnífica para o despenhadeiro. O colégio, um dos 35 finalistas da premiação de projetos desta BIAU, tem um conceito muito forte, pois se insere na paisagem como se fosse um mirante público para a paisagem incrível que se descortina dali. Um volume ortogonal, de estrutura e vedação metálicas, se sustenta sob pilotis, permitindo o acesso livre por uma esplanada, que se revela a cobertura da escola, que se encontra abaixo. O volume suspenso – um salão para atividades diversas, inclusive auditório – é um tanto decepcionante no seu interior, totalmente vedado e sem ventilação adequada. Esta impressão ruim é revertida pelo projeto da escola, que se projeta como promontório, permitindo vistas para a paisagem por dentre os brises-soleil feito de peças fixas de madeira.

Por fim, pudemos ver de perto os diversos conjuntos de habitação de interesse social, todos eles com diversos pavimentos e construídos em estrutura de concreto armado com vedação de tijolos a vista. De um dos lados da rua que se alinha abaixo do teleférico, eles se erguem depois de uma quebrada, que hoje deixou de ser um obstáculo de comunicação graças à uma ponte metálica que faz parte das obras do PUI. Do outro lado, temos diversos outros conjuntos, provavelmente de outro arquiteto, pois é aqui que se encontram os edifícios com escadas externas. Foi possível entrar em uma das unidades, com 48m², que nos foi apresentada com enorme orgulho por sua moradora, que sorria mesmo quando explicava que todo o acabamento – piso, pintura, instalações etc. – tinha ficado a seu encargo. Este fato parecia não importar, afinal agora tinha uma casa pequena mas agradável, e com uma vista magnífica para a cidade e para as montanhas que se erguem do outro lado do vale.

Nota

1
O arquiteto e crítico de arquitetura Benjamin Barney Caldas, colombiano, escreveu artigo em Minha Cidade que era muito crítico ao projeto e, portanto, aos critérios de sua premiação. Dois artigos foram posteriormente publicados, aonde seus articulistas defendiam o projeto em questão. Ver:

BARNEY CALDAS, Benjamin. Biblioteca de Santo Domingo em Medellín: debate a arquitetura atual na Colômbia. Minha Cidade, São Paulo, 09.097, Vitruvius, ago 2008 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/09.097/1881>.

ADRÍA, Miquel. De los sicarios a las orquídeas. Minha Cidade, São Paulo, 09.105, Vitruvius, abr 2009 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/09.105/1857/pt>.

BONILLA DI TOLLA, Enrique. Eso es, colombia, eso es. Drops, São Paulo, 09.026, Vitruvius, abr 2009 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/09.026/1789>.

sobre o autor

Abilio Guerra é arquiteto, professor da FAU Mackenzie e Editor do portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora. É o delegado brasileiro da VII Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo que acontece em Medellín, Colômbia, de 11 a 14 de outubro de 2010.

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