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português
Em 2012 a reforma da Arena Castelão em Fortaleza recebeu a certificação LEED nas obras que envolveram a demolição parcial do antigo edifício e a construção das novas instalações, porém ela pouco acrescenta na qualidade de sua sustentabilidade.
english
In 2012, the reform of the Castellan Arena inFortaleza received LEED certification in the works that included the partial demolition of the old building and the construction of new facilities, but this adds little to the quality of its sustainability.
español
En 2012, la reforma de la Castellan Arena en Fortaleza recibió la certificación LEED en las obras que incluyeron la demolición parcial del antiguo edificio y la construcción de nuevas instalaciones, pero esto añade poco a la calidad de su sostenibilid.
RAMOS, Valmir; RIGHI, Roberto. Arena Castelão em Fortaleza. Avaliando o LEED. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 166.05, Vitruvius, maio 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.166/5174>.
Em 2014 a Copa do Mundo, organizada pela Fifa no Brasil, demandou a construção e reforma não apenas de estádios, mas também sua adequação urbana. O discurso oficial argumenta que após a realização do evento, os equipamentos construídos serão um legado positivo para as cidades-sede. Porém verifica-se que foram poucos os países sede que lucraram direta ou indiretamente com a realização dos eventos, principalmente devido a ulterior subutilização dos equipamentos construídos, pouco adequados à realidade local, bem como a operação custosa das infraestruturas de apoio (1).
No caso brasileiro, nas doze capitais eleitas para a Copa foi necessária a construção de sete estádios e a reforma de cinco outros, inteirando investimento da ordem de 3 bilhões de dólares. Dentre os estádios reformados está a Arena Castelão localizada em Fortaleza, foco deste trabalho.
O estádio Castelão original é de 1973, auge da ditadura militar, e contava na época com capacidade para 60.326 pessoas. Em 2007 por ocasião da escolha do Brasil como país sede da Copa 2014 verificou-se que o estádio não se encontrava em conformidade com os requisitos estabelecidos pela Fifa para receber os jogos da Copa do Mundo. Como consequência o estádio passou por uma grande reforma estrutural e das instalações, que pode ser descrita por: “com profundas alterações na configuração que existia anteriormente. Para tanto, optou-se pelo regime de PPP como alternativa econômica e administrativa mais viável em benefício da procura de eficiência que tem pautada as ações do Estado do Ceará.” (2). Estas obras foram iniciadas em 2010 e concluídas em 2012, capacitando-o para receber grandes eventos e prioritariamente a Copa do Mundo de 2014. Como balanço das obras feitas no decorrer dos dois anos, sabe-se que ocorreram de maneira eficiente seguindo o cronograma previsto para conclusão de cada etapa da reforma e sua finalização, fato excepcional no âmbito das obras para a Copa.
O conjunto conta com o estádio principal e outro onde funcionará a Secretaria de esportes e o Departamento de Arquitetura e Engenharia, dois estacionamentos e duas praças.
Hoje o estádio conta com aproximadamente 64.000 lugares, sendo completamente reformulado, com o custo total da reforma de R$ 518,6 milhões, com sua função ampliada: “Com a entrega da Arena Castelão reformada, ampliada e modernizada a população cearense terá à disposição um complexo multiuso que estará habilitado a receber grandes eventos de negócios, esportivos, culturais, artístico e religioso” (3).
Durante a concepção do projeto de reforma, foi proposta a certificação do estádio pelo selo LEED (4), numa atitude inovadora, pois é o primeiro estádio na América do Sul a submeter-se a isto.
No LEED o edifício e complementos foram submetidos e verificados quanto a seu atendimento em cinco categorias setoriais, a saber:
Sítios sustentáveis:
– Proteção das galerias e bocas de lobo evitando o acúmulo de detritos na rede pluvial;
– Bacias de decantação para reter efluentes da água da chuva, minimizando seu impacto na rede pública;
– Locação de “lava rodas” para evitar que as vias públicas sejam sujas com os detritos contidos nas rodas dos caminhões;
– Fixação de tapumes para evitar a dispersão dos sedimentos fora da área da obra;
– Umidificação do local, para evitar a suspensão de poeira;
– Local de lavagem dos caminhões betoneiras a fim de evitar a contaminação do solo por resíduos tóxicos;
– Estímulo ao uso de transportes sustentáveis, com locação de bicicletário para funcionários do estádio e da Secretaria de Esportes;
– Reserva de 5% de vagas no estacionamentos para a prática da carona solidária e 5% de vagas para carros de baixa emissão.
Consumo e eficiência de água:
– Instalação de descarga de duplo acionamento (3 litros ou 6 litros);
– Torneiras com fechamento automático;
– Sistema de esgoto à vácuo reduzindo o volume de esgoto gerado;
– Preservação das fontes e mananciais de água potável.
Energia e atmosfera:
– Sistema eficiente de ar condicionado para a Secretaria de Esportes e o estádio;
– Lâmpadas energeticamente eficientes e com maior durabilidade;
– Sistema de desligamento automático da rede de ar condicionado e iluminação;
– Padronização dos sistemas de instalações técnicas, visando a correta instalação e uso.
Materiais e recursos:
– A madeira utilizada na construção possuía selo 100% FSC (Forest Stewarship Council);
– Separação dos resíduos gerados durante a construção com armazenamento em contêineres;
– Reciclagem do material de demolição dentro da própria obra;
– Tratamento da água utilizada na lavagem dos pincéis.
Qualidade do ar interno:
– Uso de lixadeiras com aspiradores a fim de evitar o acumulo de partículas suspensas;
– Renovação máxima do ar nos ambientes internos, segundo a norma americana ASHRAE 62.1 e da Anvisa.
– Controle da iluminação interna;
– Proteção dos dutos de ar durante a obra, para evitar o acumulo de partículas e a aspersão destas no ambiente interno;
– Uso de materiais com baixo teor de compostos orgânicos voláteis;
– Controle do conforto térmico dentro dos escritórios da Secretaria de Esportes.
São então rigorosos os procedimentos empregados do LEED na construção e operação da Arena Castelão, impondo custos elevados e dificuldades organizacionais e logísticas. Apesar disto, ele pouco garante, na medida que o processo de reforma da Arena Castelão mostra-se, em parte, pouco útil e necessário em seu uso no pós Copa. Há evidências de que o uso do estádio será incapaz de sustentá-lo financeiramente após os jogos, apesar das afirmações iniciais. Os clubes Fortaleza e Ceará, mais importantes daquele estado já não se interessaram em assinar contrato para utilização da Arena Castelão.
Quanto a avaliação do processo de certificação LEED, apesar de ser uma medida importante para incremento da qualidade da obra, traz estranheza sua ênfase, na medida em que a concessão de pontos favoráveis baseia-se em ações e procedimentos que possuem uso corriqueiro e que, em muitos casos, já são previstas como obrigatórios em leis e normas oficiais. Este é o caso da utilização de tapumes durante as obras e a preservação das fontes e mananciais de água potável, já estabelecidos no Código de obras e posturas do Município de Fortaleza de 1981 nos artigos 29 e 638, respectivamente.
Assim, é possível afirmar que a maior parte das exigências do LEED reafirmam procedimentos e exigências técnicas já previstas e constantes das normas oficiais, preceitos práticos e teóricos acadêmicos, que na realidade brasileira podem até ser enfaticamente tratados e que infelizmente muitas vezes, apesar de sua duplicidade, são até omitidos.
notas
1
MEYER, Regina; EROLES, Elisa; LOUREIRO, Sergio; FONTES, Orlando. Infraestruturas nas Copas do Mundo da Alemanha, África do Sul e Brasil. Caderno Metrópole, São Paulo, v. 15, n. 30, pp. 557-582, 2013.
2
Ceará - Estádio Castelão - Obra Integral – PPP. Portal Copa Transparente <http://www.copatransparente.gov.br/acoes/estadio-castelao-obra-integral-ppp>.
3
Arena Castelão, item “sustentabilidade” <http://www.arenacastelao.com/site/o-castelao/arena-castelao/sustentabilidade>.
4
LEED – Leadership in Energy and Environmental Design,GreenBuilding Council.
sobre os autores
Valmir Ramos é arquiteto e urbanista, mestrando em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Roberto Righi é arquiteto e urbanista, professor titular em arquitetura e urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Doutor da Universidade de São Paulo.