A iniciativa do Governo de Minas Gerais, na criação do Circuito Cultural Praça da Liberdade é um louvável exemplonão só para a cidade de Belo Horizonte, como para todo o país. A viabilização deste importante pólo cultural através de um grande projeto interdisciplinar deverá trazer ainda mais vitalidade para este Centro Cívico, sem a perda da sua identidade. É dentro desta proposta que se insere a nova Sede da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. O antigo prédio da Secretaria da Fazenda, depois de sucessivas adaptações, deverá abrigar uma nova função, de cunhocultural e educacional.
Projeto proposto
A proposta parte inicialmente da intenção de resgatar a arquitetura clássica apenas através do conceito e não da forma, identificando as verdades do edifício histórico e questionando a intervenção neo-clássica tardia no mesmo. Devido à complexidade do programa apresentado, o conceito adotado sugere a introdução de um novo volume dinâmico. Este novo volume parte das relações áureas e se insere na estrutura antiga e estática de grande valor histórico e de identificação muito importante para a cidade.
Questiona-se a intervenção tardia sem descartá-la; ela se insere no projeto, porém sem as funções estruturais do edifício original. Assumimos sua função decorativa onde ela se mantém como uma escultura, um volume independente e principalmente um registro de uma conduta.
Conceito Elo: reorganização de fluxos
Quando o elo histórico se rompe cria-se possibilidade de compreender as necessidades do presente a partir do imaginário que configurou a organização do espaço no passado. O conceito do Elo surgiu no momento em que foi necessária uma síntese formal dos fluxos a partir da organização do programa.
A observação dos fluxos existentes no conjunto histórico e arquitetônico nos remete a forma de um elo fechado, o elo histórico.
Dessa maneira o novo edifício se torna capaz de abrigar as novas funções do programa a partir da convivência de duas escalas de funções. De um lado o grande centro de espetáculos e de outro o singelo centro administrativo e histórico.
Do rompimento surgiu uma nova organização. O elo fechado representado pelo histórico e estático é rompido para dar lugar a um novo desenho representado pela conexão dos fluxos predominantemente verticais determinados pelo projeto. O rompimento do elo recria a fruição de fluxos no edifício e reorganiza a convivência de várias funções no mesmo espaço ou de múltiplas funções no mesmo espaço.
A organização espacial dos fluxos é resultado do desenho do elo horizontal que se forma quando o edifício se abre para a praça no térreo histórico e que se une ao elo vertical formado pelo acesso do térreo movimento às funções do cubo.
A união desses elos é representada pelo o encontro dos fluxos no vazio que separa o edifício antigo do novo criando o hall de circulação que permite que os espaços sejam não segregados, mas segregáveis quando necessário.
O partido
O partido do edifício surgiu como resposta às questões de preservação do patrimônio histórico e às novas necessidades de fluxo que o programa exige. Devido à complexidade do programa buscou-se uma forma geométrica simples respeitosamente deslocada do volume antigo, o Cubo.
Elementos de projeto
- Passeio Sinalizador: tem função de sinalizar a nova entrada do edifício e representa a inserção do novo edifício ao circuito cultural.
- Sustentabilidade: Ventilação otimizada pela presença das placas que trabalham a direção de vento adequadamente e calor distribuído homogeneamente dentro do edifício, através do sistema de convecção com sida de ar quente localizadas junto ao cubo;
- Coleta e reciclagem de água pluvial mostrando didaticamente o escoamento através do shaft de vidro localizado atrás dos elevadores;
- Energia otimizada por coletores solares localizados na cobertura;
- Reciclagem de água, esgoto e águas cinzas;
- Utilização dos vãos entre as fundações do prédio histórico para localização das cisternas, filtros e reservatórios de reciclagem;
- Estrutura metálica perfilada em I composta por colunas em aço corten e vigas tipo vierendel também metálicas, feitas com o mesmo perfil.
- Volume do cubo em chapa de aço cortén perfurada. O observador não enxerga os furos da placa, mas a dobra proporciona características de controle de luz solar, ventilação, e direcionamento da vista.
- “Pedestre maestro” – conceito que surgiu da possibilidade de interação do pedestre com o edifício. Para isso cria-se um sistema de composição de luzes, cores e som que funciona através das aberturas contidas na chapas de aço corten que compõe a fachada do Cubo.
- O pedestre poderá controlar o sistema a partir de estruturas instaladas no boulevard que, composta por sensores de movimento, permitem que ele brinque com as composições do Cubo cênico.
Sugestões com interface urbana
- Alargamento do passeio em frente do prédio da OSMG;
- Estudo de avaliação do impacto que o novo uso do edifício causará em relação ao fluxo de circulação de automóveis, para definir a necessidade de se criar novos estacionamentos na região;
- Criação de uma linha de ônibus que percorra o Circuito Cultural.
Mobiliário
As poltronas da sala de concertos foram especialmente desenvolvidas para o projeto. O encosto em madeira apresenta propriedades acústicas de reflexão e absorção, adequadas à equalização ideal do tempo de reverberação de acordo com o tipo de espetáculo, permitindo que o tempo de reverberação da sala seja alterado intencionalmente sem provocar distorções de extremos graves e agudos. O “molejo”natural da madeira laminada garante o conforto necessário.
Os assentos são estofados e escamoteáveis. A poltrona apresenta pouca profundidade quando fechada (35 cm), principalmente se comparado a outros modelos existentes no mercado. Outra inovação é a fixação no piso através de pinos, onde serão previstos furações que permitam várias configurações.
Sinalização
Priorizamos no projeto a sinalização do circuito cultural, permitindo a fácil visualização do percurso ao redor da Praça da Liberdade. O suporte é executado em chapa de aço corten, mesmo material de envelopamento do “cubo”. O mobiliário interno e externo recebeu elementos da iconografia dos prédios que fazem parte do circuito cultural. Queremos que o usuário se interesse e aprenda com os detalhes das fachadas. Um folheto impresso deverá conter o significado, que pode ser reconhecido através de placas de sinalização no piso do circuito.
ficha técnica
Equipe
Teia Studio
Autores
Adriana Cocchiarali, Fábio Zeppelini, Isabela Jock Piva, Jörg Spangenberg, Lars Diederichsen, Leticia Lodi, Maria Carolina Duva e Patrícia Bertacchini
Colaboração
Rafael Baldi e Maria Alice Cardoso Parente