As imensas desigualdades de renda do país criam formas de segregação espacial, e áreas privadas, como os shoppings centers, substituem, por razões de segurança e de pasteurização social, lugares tradicionais do convívio público, como ruas e praças. A PBH toma iniciativa importante para o futuro das nossas cidades para a revalorização do espaço público, locus da democracia. A proposta para o viaduto Silva Lobo parte da manipulação da topografia - natural e antrópica, positiva e negativa - para a criação de espaços de permanência e encontro. A estratégia visa adicionar programas que gerem fluxos constantes no baixio do viaduto sem bloquear as visuais sob o viaduto, de forma a garantir a sensação de segurança dos usuários cotidianos e transeuntes. Entre esses espaços de usos definidos, há espaços para o improvável, aberto ao acaso e à excessão. A mescla entre o definido e o indefinido amplia a dinâmica territorial, e oferece maiores possibilidades de apropriação e identidade por parte dos moradores locais, uma vez que seu uso cotidiano e as nuances da arquitetura vivida cria uma lacuna sobre a arquitetura projetada.
Fases de implantação
A proposta se estrutura em duas fases de implantação, inicialmente a intervenção é feita no baixio do viaduto, e em sua segunda fase é ampliada para o vazio urbano adjacente, com quadras poliesportivas e de basquete, palco para apresentações, entre outros equipamentos. Dessa forma, pretende-se transformar a imagem dessa região atualmente sub-utilizada para um ponto de centralidade, de encontro e de permanência para o lazer. Já há em andamento uma petição pública com cerca de duzentas assinaturas dos moradores locais para implementação de um parque na região da segunda fase da proposta, uma área vazia de edificações e de função social.
Topografia antrópica
Uma série de planos horizontais convergem e sobrepõem à estrutura do viaduto, criando assim uma plataforma infra-estrutural de usos diversos. Essa topografia artificial também oferece às pessoas um espaço de permanência em que o programa não é definido pelo arquiteto, mas mutável e em constante renovação conforme as necessidades do momento. Um aluno que queira ler um livro, um grupo que se encontra para conversar, ou uma apresentação musical em que a plataforma se transforma em arquibancada, as pessoas se apropriam de acordo com as necessidades do cotidiano. Indefinido, portanto infinito como potencial.
Ativação urbana
Para que se tenha uma ambiência com qualidade urbana, é essencial que a PBH, além de oferecer a infra-estrutura arquitetural, promova eventos de ativação urbana, em especial no início do novo uso. Pequenos shows musicais, feiras gastronômicas, festas de celebração, encontros dos locais, são exemplos. Esses eventos de excessão, efêmeros por natureza, criam uma densidade de uso âncora para manutenção e apropriação do espaço. Aos poucos essa política pública de gerenciamento relacional pode ser dividida com os moradores locais, com a criação de uma comissão do bairro.
ficha técnica
Autores
ENTRE Arquitetos (Vinícius Capella e Daniele de Souza Capella) junto a Alecsander Gonçalves
Ano do projeto
2014
Área
5.100m²
Local
Baixio do viaduto Silva Lobo, Belo Horizonte
Contratante
Prefeitura de Belo Horizonte