A festa do carnaval ocupa uma posição central no imaginário da cidade de Torres Vedras.
O projecto do Centro de Artes do Carnaval — CAC, reabilitando uma pedreira desactivada e um matadouro em ruínas, materializa esta referência colectiva, oferecendo ao mesmo tempo uma praça pública a um bairro marginalizado.
O bairro, implantado sobre a Encosta de São Vicente, cresceu em torno de uma pedreira e do Matadouro Municipal, tornando-se, depois da desactivação de ambos, um fragmento degradado e esquecido da cidade.
Do matadouro restava o seu valor iconográfico, reflectindo a memória do lugar. Da pedreira ficou uma plataforma abraçada por uma escarpa, cuja dimensão, forma e materialidade davam um carácter onírico ao sítio.
O antigo matadouro foi reabilitado para ser a entrada principal do cac, contendo a sala de exposições temporárias, a black box, o centro de documentação e a loja, directamente relacionada com a rua. sobre os vestígios de um pátio que serviu para ventilação e drenagem do sangue dos animais, construiu-se a escada principal do edifício, circular, sendo o espaço que a envolve o primeiro passo do percurso expositivo. No piso superior, encontram-se as Reservas Visitáveis e a Nave da Exposição Principal, suspensa, ao fundo da qual uma grande janela enquadra a vista sobre a escarpa, a praça e o bairro.
A praça, cuja forma resulta da geometria sugerida pela cratera, é qualificada pela massa da escarpa, em continuidade com a superfície elíptica do novo corpo que nasce suspenso sobre o matadouro, e é animada pela presença da cafeteria e das oficinas organizadas, como lojas de rua, ao longo de uma galeria exterior coberta.
Este espaço público foi desenhado tanto como lugar de parada e teatro urbano para a celebração do Carnaval como palco para as práticas quotidianas dos cidadãos, sendo, simultaneamente, o centro do CAC e o novo coração do bairro.
A presença nítida e perene do edifício contrapõe-se ao carácter transitório do Carnaval, para o acolher.
ficha técnica
projeto
Centro de Artes do Carnaval — CAC
local
Torres Vedras, Portugal
ano
Projeto: 2017
Construção: 2021
arquitectura
Arquiteto José Neves (autor); arquitetos Rui Sousa Pinto, André Matos, Fernando Freire, Sara Brandão, Vitor Quaresma, Vasco Melo, Paulo Cunha, arquitectos (colaboradores projecto); Carlos Almada, Inês Oliveira, Diogo Amaro, João Tereso, arquitectos (colaboradores obra)
consultoria de cor
Arquitecto João Pernão e artista Maria Capelo
paisagismo
Victor Beiramar Diniz
sinalética
Nuno Caniça
foto
Paulo Catrica e Atelier José Neves
cliente
Câmara Municipal de Torres Vedras