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D’ELBOUX, Roseli. Um caloroso testemunho. Resenhas Online, São Paulo, ano 11, n. 125.04, Vitruvius, abr. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/11.125/4330>.


Neste livro, primorosamente preparado pela Editora Senac, com textos de Ruth Zein e atraente projeto gráfico de Vera Severo, Rosa Kliass nos brinda com um caloroso testemunho de sua carreira e da constituição de um campo de atuação profissional, hoje plenamente consolidado.

Em seu depoimento Rosa divide generosamente as glórias de seu pioneirismo ao reconhecer, na decisão do Prof. Anhaia Mello pela contratação de Roberto Coelho Cardozo e na lembrança da parceria com Miranda Magnoli, hoje Professora Titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, uma conjunção de esforços e mesmo um pouco de senso de oportunidade que viram frutificar a arquitetura paisagística em São Paulo, logo após a sua graduação, em meados da década de 1950.

Outra atitude pioneira de Rosa foi vislumbrar na criação da ABAP — Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas — um instrumento do fortalecimento da atuação, formação e valorização dos profissionais da área no mercado de trabalho. Esta é outra faceta dessa profissional, que ao longo de sua carreira foi, como diz o título do livro, moldando uma profissão, ao formar ela mesma, nas pranchetas de seu escritório, profissionais competentes como Maria Maddalena Ré, Luciano Fiaschi e, mais recentemente, José Luiz Brenna.

O diálogo com Roberto Burle Marx, Garret Eckbo e Lawrence Halprin, entre tantos outros profissionais de primeira linha e reconhecidos internacionalmente, proporcionou à Rosa Kliass um aguçado senso de atualidade, traduzido em projetos perfeitamente ajustados à realidade e às necessidades de sua ampla clientela. Essa, aliás, arriscaríamos afirmar, de maneira sutil também foi moldada por Rosa, pelas inúmeras vezes em que interferiu positivamente nas suas vontades e desejos, modificando programas, propondo usos mais eficazes, circulações mais funcionais, soluções ambientalmente mais corretas — em tempos em que esse assunto não era contemplado como o é hoje.

Tal postura, frutificou, como atesta o rol de obras elencadas ao longo do livro, onde comparecem antigos clientes, fidelizados pela constante qualidade projetual de Rosa, e novos contratantes, a confiar-lhe a concepção de projetos os mais variados, em temas e escalas. Essa inspiração constante, reflexo de sua vivacidade e amor à vida, entusiasmo em relação à profissão e à diversidade de nossa cultura, permeia seu discurso projetual ao longo de toda a sua carreira e os resultados dessa tenacidade estão presentes neste livro.

O texto mostra que Rosa Kliass é múltipla: trabalha em diversas escalas, com diferentes enfoques e tempos. Desde sempre, soube da importância do trabalho interdisciplinar: amealhou, ao longo de sua carreira, um sem número de colaboradores, de toda ordem: botânicos, arqueólogos, antropólogos, demógrafos, geógrafos, fotógrafos e os tão constantes engenheiros, além de arquitetos, muitos dos quais colegas da FAUUSP.

Essa diversidade, essa capacidade de captar as várias problemáticas que cada projeto demanda, pode ser percebida quando examinamos os exemplos apresentados no livro, pela amplitude de suas propostas, tanto para o setor público quanto para o setor privado.

A maneira como Ruth Verde Zein organiza o texto é reflexo disso. Está dividido em três partes, que apresentam as diferentes escalas de intervenção em que Rosa atua e que constituem uma seleção cuidadosa e criteriosa dos melhores entre os seus recentes projetos: Paisagem e ambiente, onde, como afirma Zein, “comparecem trabalhos paisagísticos em área urbanas e em áreas naturais, ou em casos em que sejam inextricavelmente imbricadas”; Paisagem e cidade, expondo projetos na escala urbana “em que o paisagismo é chamado a atuar em pelo menos duas instâncias peculiares: as áreas ‘vazias’ e as áreas ‘cheias’ e Paisagem e arquitetura, englobando, segundo Zein, “o segmento mais tradicional do trabalho da arquitetura paisagística, o de contraponto e harmonia com o projeto arquitetônico do edifício”.

Assim, seguindo essa divisão do texto, Ruth Zein destaca em seu ensaio, alguns projetos significativos, como o Plano da Paisagem Urbana de São Luís, no Maranhão, para a primeira parte, os projetos Feliz Luzitânia e Docas, obras realizadas no centro histórico de Belém, para a segunda parte e, finalmente, na “escala da arquitetura”, o Aeroporto de Brasília e o Laboratório Fleury, em São Paulo.

Além dos destaques de Ruth Zein, outros projetos merecem a observação mais detida por parte do leitor, pelo seu significado: o projeto para o SESC Campestre José Papa Júnior, de 1971, que, além de lhe render duradoura parceria com a entidade, tornou aquela unidade de Santo Amaro referência para outros realizações, sendo o diálogo com os especialistas do SESC uma constante - as diretrizes que nortearam o projeto foram enriquecidas pela visão ambientalista da autora; a reurbanização da Avenida Paulista e do Vale do Anhangabaú, em momentos diversos, mas focados no usuário da metrópole, com sensibilidade e extremo respeito pelo cidadão comum, refletido no acurado detalhamento e no desenho ao mesmo tempo simples e objetivo, permitindo uma leitura muito clara dos espaços propostos; e, finalmente, os edifícios para as sedes administrativas da Manah e Hochtief, onde o olhar de Rosa volta-se para o conforto ambiental, as relações pessoais no cotidiano das áreas de trabalho, mais humanizadas e menos tensas, pela presença de vegetação e luz natural

No entanto, que não se engane o leitor achando que Rosa só se interessa pela grande escala, as grandes obras: seu comprometimento com os projetos residenciais é o mesmo e isso pode-se verificar ao observarmos os exemplos apresentados já ao final do texto, quando fica claro que o diálogo, quer com proprietários, quer com aqueles que realizam a obra, sempre acontece e os resultados, obras de ourivesaria, são notáveis. Estão presentes nesses pequenos oásis individuais as mesmas preocupações que comparecem nos grandes projetos, quanto ao equilíbrio estético, a satisfação dos usuários, a adequação e integração ao projeto arquitetônico e, sempre, à utilização e valorização da flora nativa.

Aliás, quanto aos critérios de utilização de espécies vegetais, de sua incorporação ao projeto, este também é um livro didático: em vários projetos apresentados e através de  seu depoimento é notável sua boa relação com botânicos e viveiristas, relação essa de confiança e aprendizado mútuo, como com os botânicos Harry Blossfeld e Luiz Emygdio de Mello Filho e o viveirista Walter Doering.

Enfim, um texto que é referência para quem quer entender o fazer e o constituir-se do projeto paisagístico e da arquitetura paisagística entre nós.

sobre a autora

Roseli D’Elboux, Arquiteta e Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP, é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.

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