O Desenho Urbano resultantes de diferentes momentos das políticas urbanas no Brasil é analisado por um arquiteto urbanista brasileiro – Vicente Del Rio – e um economista e planejador urbano – William Siembieda. Este é a oportunidade de leitura que a publicação de “Desenho Urbano Contemporâneo no Brasil” traz ao leitor. Não se trata apenas de compreender o produto de cada intervenção, mas sim entender as possibilidades políticas, sociais, técnicas e econômicas de cada contexto. A forma urbana ganha substância ao ser compreendida como resultante de processos sociais que conformam o lugar. O desenho do lugar.
Os olhares cuidadosos dos organizadores souberam escolher e relacionar as experiências e protagonistas com os três momentos e enfoques distintos: a) o pensamento modernista brasileiro: nascido da esperança de um pais a ser inventado; b) o anseio pela redemocratização: onde o espaço público revelava seu papel fundamental e c) o querer consolidar a democracia: onde a premissa da inclusão, de grande parte da população desconsiderada historicamente pelo planejamento das cidades, passava a ganhar importância na composição de forças que atuam na paisagem urbana.
Vicente Del Rio é nome conhecido no Brasil pela grande maioria de profissionais e alunos de arquitetura e urbanismo das últimas duas décadas. Isto se deve ao fato de ter escrito, em 1990, “Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento”, referência obrigatória para compreender a relação arquitetura, urbanismo e planejamento. Se ali Vicente reunia e relacionava autores chaves, que experimentavam distintos métodos e abordagens de planos e projetos urbanos, na busca de cunhar um campo disciplinar do desenho urbano; no novo livro, possibilita a analise das experiências do desenho urbano no Brasil em três momentos distintos. Organizado juntamente com William Siemieda, que detém um conhecimento calcado na vivência acadêmica e profissional em diversos países latino-americanos, o livro consegue, de maneira não obvia, relacionar um conjunto de experiências emblemáticas que ocorreram no Brasil.
Além dos textos dos dois organizadores um conjunto de autores, reconhecidos por seus trabalhos na área de arquitetura e urbanismo no Brasil, contribuíram para o desenvolvimento do livro. Nomes como: Frederico de Holanda, Maria e Gunter Kohlsdorf, Dirceu Trindade, Silvio Soares Macedo, Gilda Bruna e Heliana C. Vargas, Denise Alcantara, Ana Fernandes e Marco Aurélio A. de F. Gomes, Lineu Castello, Clara Irazábal, Carlos Leite, Cristiane R. Duarte e Fernanda Magalhães.
Muitos leitores já devem conhecer algumas das experiências aqui analisadas, entretanto, cabe alertar que a importância do livro não está na apresentação dos casos isolados e sim na capacidade de relaciona-los e conseguir, com isto, caracterizar o período e identificar as condicionantes do desenho urbano nos diferentes momentos. Por outro lado, por conta do forte envolvimento dos autores convidados para desenvolver os capítulos com os respectivos estudos de caso, o livro possibilita uma analise crítica das intervenções executadas revelando limites e entraves que são percebidos pelo afastamento histórico dos fatos e pela capacidade de autocrítica de cada autor.
Trata-se de um livro que além de documentar importantes experiências do Desenho Urbano contemporâneo no Brasil possibilita a reflexão acerca dos diferentes contextos: os anseios, as expectativas, as esperanças, os desejos de desenvolver o Desenho Urbano do lugar.
sobre o autor
Jonathas Magalhães Pereira da Silva é professor doutor do Programa de Pós-Graduação POSURB PUC-Campinas. Atua como consultor na MPS associados em diferentes planos e projetos: coordenação técnica do Plano Sócio-Espacial da Rocinha Rio de Janeiro; coordenação de 11 planos participativos da região serrana do Espírito Santo; desenvolvimento do projetos urbanos dos corredores de transporte em São Paulo e na da Área Portuária do RJ.