Arquitetura é construção e arte. Com esse argumento, João Batista Vilanova Artigas convenceu, em julho de 1945, o proprietário do Hospital São Lucas, em Curitiba, a contratar um arquiteto para se responsabilizar pelo projeto e pelas obras do edifício. A ideia foi transmitida na forma de uma carta, onde Artigas, ferrenho defensor da profissão, explica e detalha as vantagens que o amigo teria na contratação de um arquiteto, questionando o amadorismo e o improviso que persistia na construção civil brasileira, além de apresentar cálculos que comprovavam a relação custo-benefício a favor do projeto arquitetônico.
Essa carta, bastante citada em livros que contam a trajetória de Artigas, é a tradução perfeita do ideal que o arquiteto transmitiu às suas obras. O trecho em que defende a arquitetura como arte é singular:
“Arquitetura é construção e arte. Arte não tem livro de regulamento que ensine. Nasce dentro de cada um e desenvolve-se como conjunto de experiências. Procure um homem que possa dar à sua casa de saúde, além das características de um hospital eficiente pelo perfeito planejamento das diversas seções, um valor artístico indiscutível.
O valor artístico é um valor perene, enorme, inestimável. É um valor sem preço e sem desgaste. Pelo contrário, aumenta com os anos à proporção que os homens se educam para reconhecê-lo. O valor artístico subsiste até nas ruínas. Os anos correm e desgastam o material, enquanto valorizam o espiritual”.
Nascido em Curitiba, em junho de 1915, João Batista Vilanova Artigas mudou-se para São Paulo e se formou arquiteto pela Escola Politécnica da USP, em 1937. Foi fundador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, em 1948, na qual liderou, mais tarde em 1962, um movimento para a reforma de ensino que influenciou outras faculdades de arquitetura no Brasil. Foi bolsista da John Simon Guggenheim Foundation em 1947. Militante dos movimentos populares no Brasil, foi perseguido pela ditadura militar, tendo sido expulso da Universidade em 1969, juntamente com outros professores brasileiros. Sua obra foi duas vezes premiada internacionalmente pela União Internacional de Arquitetos – UIA (Prêmio Jean Tschumi, em 1972; e Prêmio Auguste Perret, em 1985, este póstumo). Dentre os 700 projetos que produziu durante sua carreira, destacam-se: Edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo; Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, em Guarulhos; Passarelas Urbanas; Estádio de Futebol do Morumbi; clubes; sindicatos e várias casas. Sua obra já mereceu exposições, publicações, pesquisas e teses no Brasil no Brasil e no exterior.
O arquiteto se tornou nome dos mais respeitados na arquitetura brasileira do século 20. De sua prancheta, saíram mais de 500 projetos numa profícua carreira. Paralelamente à atividade do seu escritório, aliou o canteiro de obras à teoria nas suas aulas, sempre concorridas pelos alunos, inicialmente na Politécnica de São Paulo, mais tarde, no curso de Arquitetura da USP, que ajudou a fundar.
Professor eloqüente, articulado e carismático, conquistou admiradores e exerceu uma vasta influência na arquitetura do país. Foi referência para várias gerações de profissionais e o mestre que, durante décadas, iniciou jovens na carreira de arquiteto e nas lides de planejar espaços. Para o professor, desenho era emancipação e projeto, demonstração de soberania. Seguindo essa linha, norteou o ensino da arquitetura nas instituições onde lecionou.
Admirado, Artigas não foi esquecido ou abandonado pelos antigos alunos e colegas de profissão, mesmo depois de ter sido afastado do magistério durante o regime militar, em 1969. Sua casa, nesse período, permaneceu de portas abertas, recebendo a todos que o procuravam. O costume de reunir-se para discussões, debates e serões vinha de longa data, quando recém-chegado a São Paulo, na década de 1930, freqüentava ateliês de artistas como Rebolo e Volpi, na chamada “família artística paulista”.
Artigas concebeu grandes obras, públicas ou privadas. Do seu traço, saíram hospitais, clubes, escolas, cinemas, rodoviárias e prédios comerciais e residenciais. Mas foi, sobretudo, um construtor de moradas. Fazia casas para serem usufruídas na acepção mais pura da palavra morar. Talvez por esse motivo simples, mas essencial, os lares que projetou são perenes e mantêm felizes os seus proprietários originais, ainda que décadas tenham se passado desde a construção.
Muito embora no campo da arquitetura tenha sido um dos paranaenses de maior renome nacional, ainda é pouco lembrado em sua terra natal, não obstante, entre projetos, estudos e anteprojetos, ter deixado cerca de trinta obras espalhadas pelo Paraná, principalmente na capital e em Londrina. No auge da expansão do plantio do café, quando Londrina, transformou-se numa das cidades de maior crescimento econômico da região sul, os projetos de Artigas deram o tom de modernidade e contemporaneidade à sua paisagem. O conjunto formado pelo Cine Ouro Verde e o Edifício Autoln, a Santa Casa, a Rodoviária e a Casa da Criança são marcos da arquitetura londrinense e testemunhas do progresso material que a cidade viveu na passagem da década de 1940 para a de 1950.
Em Curitiba, ao lado de Frederico Kirchgässner e Lolô Cornelsen, é responsável pelas manifestações iniciais do modernismo na arquitetura da capital. Suas primeiras obras na cidade datam dos anos de 1940, quando, recém-formado pela Politécnica de São Paulo, era fortemente influenciado pelo arquiteto Frank Lloyd Wright. Mais tarde, Artigas assumiu a influência de Le Corbusier, visível, em Curitiba, na residência de João Luiz Bettega (1949), hoje denominada Casa Vilanova Artigas.
O contato com sua cidade de origem foi sempre permanente. Seja em reuniões com os parentes, nas temporadas que aqui passou, ou no campo profissional. Projetou para particulares, casas para a família e os amigos, além do Hospital São Lucas, no bairro Juvevê. Em meio a essas atividades e passeios familiares, dedicou parte de seu tempo às primeiras turmas do curso de arquitetura da Universidade Federal do Paraná. Em 1962, quando foi implantado o curso na UFPR, Artigas foi convidado para integrar o corpo docente, mas, com a vida já estabelecida em São Paulo, declinou o convite. No entanto, apesar da recusa, proferiu inúmeras palestras e sua obra influenciou algumas gerações de arquitetos formados na UFPR.
Levou para São Paulo sua ligação com a terra natal. A casa paranaense de sua infância, como ele mesmo dizia, foi referência para algumas residências que o arquiteto projetou na capital paulista. As recorrentes memórias familiares, a infância e a adolescência passadas em Curitiba transportaram interpretações pessoais das paredes de madeira e de lambrequins paranaenses para a capital paulista. Um reconhecimento do valor e uma identidade inicialmente pouco valorizada em Curitiba, que Artigas, com sensibilidade, apresentou ao resto do país.
Nos mais de 500 projetos realizados e no contato com profissionais de várias nacionalidades, João Batista Vilanova Artigas conquistou reconhecimento internacional e seu nome, três décadas após seu falecimento, ocorrido em 12 de janeiro de 1985, continua um dos mais respeitados entre os arquitetos brasileiros. Dada a importância e influência da obra de Artigas para a história da arquitetura, seu acervo, composto por estudos e projetos, é atualmente preservado nos arquivos da FAU-USP e acessível aos pesquisadores.
Pormenores
“Quem faz o teu projeto é o teu ideário. Se você constrói como sendo você, a estrutura da tua própria consciência, a criatividade individual, nao é desligada da tua postura interior. Você tem que saber quem você é ideologicamente, em relação ao total da sociedade...”
Vilanova Artigas, 1984
Pormenores são detalhes, minucias que indicam um fazer especial!
Projetos arquitetônicos contêm sempre detalhes e detalhes do detalhe, que Artigas chamava de “pormenor”.
Os pormenores são a mais clara representação da conduta do arquiteto, que traduzia ideias em obras construídas.
Seus pormenores não continham só desenhos e especificacoes técnicas; eram feitos também de memórias, ideologias, relações com a história, com a política e com a vida.
Nem sempre eram minúcias, às vezes grandes atos transformados em concreto, como escadas esculturais que acessam e dignificam o quarto da empregada, ou os lambrequins redesenhados que lembram a arquitetura de madeira da sua infância, como a barbearia da rodoviária (de Londrina), a rampa para o paciente do hospital, a vidraça que deixa o sol aquecer a sala de estar.
Pormenores percorrem a obra do arquiteto, instigam a qualidades técnica até o limite por meio de cálculos precisos que envolvem a sua arte.
As residências foram um de seus melhores suportes. Nelas, os pormenores partiam dos pisos, ora coloridos, ora rigorosamente geométricos, subiam pelos rodapés inexistentes. Às vezes era invisível para o observador porque estava escondido nas paredes, nas medidas mitigadas de cada porta ou janelas ideais. Podem passear pelos jardins que foram convidados a participar do interior das casas como extensão das salas, ou presentes no neoprene que oferece a possibilidade do encontro entre os materiais, entre o passado e o futuro.
Dos lápis de cor alaranjados em seus projetos até as cores de Gruber, Rebollo, Volpi e outros, traços de uma relação iniciada no grupo Santa Helena, onde a técnica foi em busca da arte. O arquiteto fez escola e a escola fez o arquiteto: escolas de madeira, escolas de concreto, escola de ideias e de cidadãos.
Para Artigas, as escolas foram sempre os lugares primordiais, desde a pequena escola de madeira onde sua mãe lecionou, em Teixeira Soares, passando pelas escolas de Curitiba onde se formou, o Gymnásio Paranaense e a Politécnica de São Paulo, até a FAU, gigante guardiã dos pormenores e dos grandes desígnios.
“A vida escolar no Ginasio Paranaense marcou Artigas para sempre: nas escolas publicas que desenhou, sua aproximação com os pensadores reformistas da educação brasileira, a dedicação à escola de arquitetura, o respeito e a crença na excelência do ensino público, o espírito cívico tem origem na vida passada nessa escola republicana do Estado do Paraná. Por que não se tratou somente da vivencia na escola secundária, mas uma experiência rara e só possível numa época muito especial”.
Rosa Artigas, Filho de viúva parte 1
O mestres paranaenses de Artigas eram os intelectuais da época (década de 1920), como o poeta e pensador neo pitagórico Dario Velloso (1869-1937) e o professor de historia Universal, o escritor Sebastiao Paraná.
“La (no ginásio) eu fiz o curso secundário, com os professores do Estado do Paraná, de quem eu posso lembrar, um por um, porque eles fazem parte, não da minha formação, mas da cultura brasileira”.
Vilanova Artigas, 1981
A exposição “Nos pormenores um universo” (1), que comemora o centenário de Vilanova Artigas em Curitiba, é realizada na terra natal do arquiteto. Artigas nasceu, estudou e foi para São Paulo em busca da sua formação de arquiteto, mas sempre levou na memória o que viveu no Paraná. Remete-se a ela em muitos aspectos de sua obra e, às vezes, a imprime, literalmente como na casa Olga Baeta (1956) que possui na empena de concreto o desenho das tábuas de madeira das fôrmas dispostas na vertical . Surge também nos lambrequins reinterpreados da Casa Elza Berquó (1967) e nos coloridos inspirados nas casas populares dos brasileiros do sul.
A maior parte do seu legado está em São Paulo. Sejam obras grandes ou singelas, conectam-se e explicam a história de uma escola de arquitetura formada por uma legião de alunos que ainda se multiplicam como se fossemos nós arquitetos todos alunos de Artigas, que ainda se faz presente, num ciclo que nao se encerra, mas encontra apoio para prosseguir.
No Paraná, de um expressivo conjunto de 37 projetos, a Rodoviaria de Londrina, a casa da criança, a casa Bettega e o hospital São Lucas ainda expressam com atualidade os desenhos do mestre.
Os pormenores de Artigas batizam esta exposição na ideia de conferir uma justa homenagem o menino João Batista que gostava de matematica e de desenho.
Para Artigas, os números mostravam o caminho. A matemática lhe conduzia à inventividade, do desenho para a arquitetura e num passo imediato para a arte eternizada.
A obra de Artigas se explica em pormenores.
Exposição
Em comemoração aos 100 anos de nascimento do arquiteto, a exposição acontece nas salas expositivas do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e pretende apresentar um acervo que compreende aproximadamente trinta obras, com o seguinte conteúdo:
- 28 projetos originais;
- fotografias de obras;
- desenhos artísticos do arquiteto;
- 16 maquetes;
- 12 partes de vídeos antigos e recortes do atual documentário produzido especialmente para o a comemoração do centenário.
a) os suportes
Desenvolvidos pelo arquiteto Felipe Tassara, os suportes que compõe o projeto museográfico são confeccionados em madeira crua em formatos de painéis com impressões de imagens e suportes para expor os projetos originais.
b) as maquetes
As dezesseis maquetes representam os sequintes projetos: 1aCasa do arquiteto; 2aCasa do arquiteto; Residência Luis Leite; Edificio Louveira; Rodoviaria de Londrina; Casa da Criança em Londrina; Cine Ouro Verde e Autolon; Casa Baeta; Casa Mendes André; Edificio do Sindicado dos trabalhadores têxteis em SP; Garagem de Barcos Santa Paula; Edificio da FAU USP.
Estas maquetes, sem vitrines, são expostas em bases baixas, com cadeiras para que o público possa visualizar a obra no seu interior.
c) o percurso
A mostra que deve permanecer por pelo menos cinco meses ocupa uma área de mil metros quadrados em duas grandes galerias do Museu. O percurso se dá a partir de uma cronologia da vida e da obra de Vilanova Artigas e se distribui em outros seis núcleos expositivos.
Inicia pela primeira casa do arquiteto, composta por maquetes e textos relativos ao pensamento do arquiteto que remete as casas da sua infancia no Paraná.
Em seguida, a segunda casa, e outras que pontuam o início de carreira, outras residências e o edificio Louveira, já partindo para uma fase das várias residências que marcaram a obra do arquiteto. As residências formam um conjunto variado, destacando a Casa Baeta, de 1956, obra que demonstra a influência do movimento concretista, além de revelar na sua empena principal as marcas da arquitetura de madeira do Paraná. A Casa dos Triângulos, outra obra de importância, que revela a conexão com os artistas que conviveram com Artigas ao destacar o painel de triangulos criado pelo pintor Mario Gruber.
Prosseguindo já ao fundo da primeira galeria, um grande hall apresenta a linha do tempo do arquiteto, com imagens da infância em família, sua formação e militância política: um vídeo sobre a atividade política e exílio é apresentado neste momento.
Em seguida, as casas em concreto iniciam o percurso que leva à arquitetura “introspectiva”, outras residências, de empenas cegas e expressivo uso do concreto, passando pelas escolas, onde também aparecem os painéis dos artistas na obra de arquitetura. A garagem de barcos Santa Paula é destacada pela maquete de um grande detalhe dos apoios. A Rodovidaria de Jaú compõe um espaço com desenhos, croquis e detalhes, e por fim, a obra da FAU USP encerra a exposição, com um conjunto de imagens, uma grande maquete aberta, vídeos e textos.
Pelas galerias, além das doze maquetes das obras, seis grandes detalhes dos pilares são organizados para se poder observar em minucias os detalhes preciosos dos famosos “pontos de apoio”.
d) os textos
Em alguns momentos, às vezes explicando uma obra precisamente ou algum detalhe, textos foram inseridos na mostra. Em outros momentos, o próprio pensamento do arquiteto é destacado.
Selecionamos a partir da bibliografia de vários autores, e de textos oferecidos pela família Artigas, algumas partes. Os textos foram impressos em painéis na mostra.
Textos dos painéis
Apresentação – Vilanova Artigas, nos pormenores um universo
Giceli Portela
“Pormenores são detalhes, minucias que indicam um fazer especial!
Projetos arquitetônicos contem sempre detalhes, e detalhes do detalhe, que Artigas chamava de ‘pormenor’.
Os pormenores são a mais clara representação da conduta do arquiteto, que traduzia ideias em obras construídas.
Seus pormenores não continham só desenhos, e especificações técnicas; eram feitos também de memórias, ideologias, relações com a história, com a política, e com a vida”.
Entrada – Linha do tempo
Giceli Portela
“Perfumado e elegante, quase sempre de terno e gravata, borboleta à la Wright numa época e mais tarde gravatas longas, saía todo dia, bem cedo, para ir ao escritório numa rotina precisa, nunca quebrada. Lá, os cabelos brancos se debruçavam sobre a prancheta, os olhos míopes acompanhavam os traços que a mão lisa e expressiva desenhava no papel. E as idéias, ruminadas nas andanças, se transformavam nas casas dos homens.
Assim era o mestre Artigas, velho mesmo quando moço com seus cabelos brancos”.
Texto 1 – Entrada, próximo aos desenhos de Artigas
Rosa Artigas
“Se para Artigas desenhar foi uma curiosidade e passatempo, descoberto desde cedo, aos nove anos de idade...
No final da década de 1960, na aula inaugural ‘Desenho’ da FAU USP, Artigas defendeu o desenho como linguagem da arte e da técnica, lembrando da proposta de Rui Barbosa que, em 1883, apresentou à Câmara uma proposta de Reforma do Ensino Secundário e Superior, que propunha preparar os jovens para as mudanças da vida moderna que se avizinhavam”.
Texto 2 – A Casinha, 1942
Vilanova Artigas
“Transferi algumas vivências minhas, de menino paranaense, do sul do Brasil, que tem sala e não sabe para quê. A convivência da família brasileira era na cozinha. Enquanto, na casa tradicional paulista, a sala de jantar se dirigiu na direção do ‘living-room’, pelo processo de transformar duas salas em uma, eu fui para a tradição brasileira de integrar a cozinha à sala. Segui caminho diverso. Sei que perdi a parada. Mas minha casa está lá”.
Texto 3 – A segunda casa do arquiteto, Campo Belo, 1949
Rosa Artigas
“Nós nascemos e moramos na casa mais bonita e... esquisita do bairro do Campo Belo, naquela época (anos 1950 e 1960) uma região meio subúrbio de São Paulo. A casa, como vocês devem saber, é toda de vidro, sem fachada, nem telhado de duas águas (como eram as casas “normais” da época), mas cobertura em borboleta".
Texto 4 – Hospital São Lucas
Vilanova Artigas, carta ao cliente, São Paulo, julho de 1945
“Arquitetura, é construção e arte. Arte. Arte não tem livro de regulamento que ensine. Nasce dentro de cada um e desenvolve-se como conjunto de experiências.
Procure um homem que possa dar à sua casa de saúde, além das características de um hospital eficiente pelo perfeito planejamento das diversas sessões, um valor artístico indiscutível.
O valor artístico é um valor perene, enorme, inestimável. É um valor sem preço e sem desgaste. Pelo contrário, aumenta com os anos à proporção que os homens se educam para reconhecê-lo. O valor artístico subsiste até nas ruínas. Os anos correm e desgastam o material, enquanto valorizam o espiritual”.
Texto 5 – Casa Rubens de Mendonça
Vilanova Artigas
“Gosto imensamente dessa casa. As cores começaram a me impressionar. Esses triângulos concretistas são azuis. Acho que a contribuição que eu pude dar para a história da forma na nossa Arquitetura foi com essa casa. Ela foi publicada em revistas italianas com sobrenomes: Artigas: uma ricerca brutalista. Tive uma satisfação napolitana”.
Texto 6 – Rodoviária de Londrina
Vilanova Artigas, 1950
“Tinhamos em Londrina, uma fronteira agreste, mais vermelha de terra que o vermelho da revolução, mas também com o vermelho da esperança que nascia para aqueles que abandonaram seus locais de origem em vieram para Londrina em busca de uma nova vida”.
Texto 7 – Casa Baeta
Vilanova Artigas
“Qual a natureza das obras que eu fiz? Procurar em algumas delas sentir o tipo de proporção que conheci com o povo de minha terra, o Paraná, com as casinhas feitas de madeira. A maneira como o homem se relaciona com a forma passa a ser uma linguagem que o artista assume”.
Texto 8 – As casas
Mario de Andrade, 1943
“Mas agora entra a lição histórica de todos os homens de todas as raças, todas as ideologias sociais de todos os tempos, que insiste em me dizer que disso deriva também o capitel, (que além de funcionalmente arrebanhador de esforços funcionalmente enfeitador também) e os mil e um quilemandjaros que empetelecam as arquiteturas mais sublimes. As quais pra meu gosto e racismo são o egípcio, o renascimento florentino e a casa moderna. A casa moderna legítima entenda-se. O Ministério da Educação e jamais o Ministério da Guerra; o Edifício Esther e jamais a Faculdade de Direito, uma morada de Artigas e jamais uma moradia neo-colonial”.
Texto 9 – Casa Bettega
Paulo Mendes da Rocha, 2004
“Casa é uma bela imagem do querido Artigas.
Forma peculiar de conhecimento, distingue o homem enquanto personagem – uma novidade no universo – que constrói para habitar o planeta. Transforma a natureza, as geografias.
Arquitetura está no centro da Universidade, arte, ciência e técnica a um só tempo, a idéia de êxito para todas as outras escolas.
Esta Casa é uma extensão do seu trabalho. Reflexão e aula que estimula todos nós para continuar construindo a cidade atual.
Inverter a rota dos desastres.
Deve ser um lugar alegre porque sempre novo e atento às transformações de nosso tempo”.
Texto 10 – Linha do tempo
“São certas tendências para os estudos filosóficos à necessidade criada pela lógica matemática e o desenho que sempre foi uma atração”.
Texto 11 – Linha do tempo
Vilanova Artigas, 1981
"Nós mudamos para o Planalto do Estado do Paraná – 1400 ou 1500 metros de altitude – onde o gelo era enorme. Eu comemorei com o dedo machucado o Sete de Setembro de 1922, numa escolinha de vilarejo da frente de exploração da madeira, Teixeira Soares, no meio do Estado do Paraná. Nós ficamos um tempo lá e, quando esgotaram as possibilidades de eu continuar estudando em Teixeira Soares, minha mãe me mandou para Curitiba”.
Texto 12 – Linha do tempo
Vilanova Artigas
“Lá (no Ginásio) eu fiz o curso secundário, com os professores do Estado do Paraná de quem eu posso lembrar, um por um, porque eles fazem parte, não da minha formação, mas da cultura brasileira. Homens que eu tenho que recordar como Dario Veloso, um poeta simbolista que era professor de história Universal, mas nunca se deu ao relaxamento de nos ensinar história.
Conosco, falava do saber poético, nas aulas. Estranhas aulas que começavam às três horas e não terminavam mais. O bedel vinha na porta e batia: a aula já terminou".
Texto 13 – Linha do tempo
Vilanova Artigas
“Lá, os cabelos brancos se debruçavam sobre a prancheta, os olhos míopes acompanhavam os traços que a mão lisa e expressiva desenhava no papel. E as idéias, ruminadas nas andanças, se transformavam nas casas dos homens”.
Assim era o mestre Artigas, velho mesmo quando moço com seus cabelos brancos.
Texto 14 – Linha do tempo
Vilanova Artigas
“Passei a ser perseguido, não só como arquiteto, mas como um político perigoso que queria fazer a Revolução através da escola. Uma tolice lamentável”.
Texto 15 – Linha do tempo
Vilanova Artigas
“Depois de cassado, vivi a década de 70 cercado pelo medo. (...) Voltei para a Universidade, em 80, com o mesmo entusiasmo com que tinha saído (...). No período que estive afastado a FAU foi favelizada. Voltando, encontro um ambiente diferente, sem harmonia e solidariedade. Querem que eu me submeta, depois e tudo, a provas de capacidade. Felizmente há os estudantes, com seu ardor, sua curiosidade, seu entusiasmo pelo novo. Eles permitem que afirmemos que a Universidade, num país como o Brasil, pode ser fator de independência cultural e tecnológica”.
Texto 16 – Próximo das casas brutalistas
Lina Bo Bardi, revista Habitat, São Paulo, 1950
“Artigas trabalha na sombra (...). As casas de Artigas são espaços abrigados contra as intempéries, o vento, a chuva, mas não contra o homem, tornando-se o mais distante possível da casa fortaleza, a casa fechada, a casa com interior e exterior, denuncia de uma época de ódios mortais”.
Texto 17
Rosa Artigas
“A burguesia nacional é considerada um dos sujeitos da transformação social, o que quer dizer que precisa ser educada por uma nova ética do morar, capaz de conscientizá-la quanto ao seu papel social revolucionário”.
Texto 18 – Casa Elza Salvatore Berquó
Vilanova Artigas, 1967
“É meu projeto meio pop, meio irônico, e eu gosto muito de vê-lo, sob qualquer ângulo. São pedaços ou troncos de árvores que apoiam toda a estrutura de concreto da cobertura. Mas o que é avanço técnico! Danei a descobrir que era possível colocar laje de concreto armado sobre uma coluna de madeira e experimentei, pela primeira vez, na casa de praia de meu irmão Giocondo. Com o surgimento de um material chamado neoprene, foi possível fazer com que a carga do telhado se distribuísse pela área da coluna de madeira e, dali, para as funções”.
Texto 18a – Casa Elza Berquó, 1967
Ivens Fontoura, Sobre o lambrequim, 2005
“O uso das peças utilitárias seria, segundo a tradição verbal, uma característica indicativa da origem polonesa de seus construtores; aos ucranianos lhes apeteciam lambrequins somente como decoração. É notável o esforço dos carpinteiros em personalizar os desenhos, fazendo deles uma espécie de assinatura com caligrafia de rara beleza".
Texto 19 – Centro de Integrado de Educação Pré-Primária da Vila Alpina
Vilanova Artigas
“A escola tem um tratamento que é, na sua essência, paisagística. O objetivo não foi a implantação de um parque infantil numa praça, mas integrar esses dois aspectos: praça e parque formam um conjunto homogêneo. O meu projeto trata de uma reorganização dentro da tradição republicana da escola primária. Dei aos grandes espaços abertos prioridade sobre as salas de aula. Estas não seguem um esquema rígido, ao contrário, têm formas bastante irregulares, evitando a solução convencional de salas quadradas ou retangulares”.
Texto 20 – A Rodoviaria de Jaú
Vilanova Artigas
“Um pequeno pormenor, que vale a pena contar, porque sempe acho interessante um julgamento do povo em relação às coisas que faço. Se acham bonito ou feio.
Em relação à essa rodoviária, ha uma anedota que me encantou. O ônibus entra na Rodoviária e as pessoas descem diretamente na plataforma e, uma senhora que ia para Jaú me contou que, quando o ônibus entrou na estação, o motorista disse:
– A senhora não vai descer?
E ela: – Não, vou pra Jaú.
– Mas nós estamos em Jaú.
– Que nada rapaz, eu conheço Jaú e, lá não tem dessas coisas!"
Texto 21
Vilanova Artigas
“Sempre achei que a obra que eu fazia não era para ser olhada do lado de fora, mas era para ser um espetáculo para quem desfruta dela...”
Texto 22 – FAU USP
Vilanova Artigas
“Este prédio acrisola os santos ideais de então: pensei-o como a espacialização da democracia, em espaços dignos, sem portas de entrada, porque o queria como um templo, onde todas as atividades são lícitas”.
Texto 23
Vilanova Artigas
"Quanto a mim, confesso-lhes que procuro o valor da força da gravidade, não pelos processos de fazer coisas fininhas, uma atrás das outras, de modo que o leve seja leve por ser leve. O que me encanta é usar formas pesadas e chegar perto da terra e, dialeticamente, negá-las”.
Texto 24
Vilanova Artigas
“Como se viu, ninguém desenha pelo desenho. Para construir igrejas há que tê-las na mente, em projeto”.
Os vídeos
Recortes posicionados de acordo com o tema.
vídeo 1 – Marco Artigas – Casinha (1942) e Casa Vilanova Artigas (1949), Ocupação Vilanova Artigas, 2015
vídeo 2 – Julio Artigas mostrando a Casa
vídeo 3 – Casa Rubens de Mendonça / Casa dos Triângulos, 1958
vídeo 4 – Edifício Louveira (1946), Ocupação Vilanova Artigas, 2015
vídeo 5 – Atividade política e exílio, Ocupação Vilanova Artigas, 2015
vídeo 6 –Por uma formação ampla do arquiteto, Ocupação Vilanova Artigas, 2015
vídeo 7 – Casa Elza Berquó (1967), trecho do vídeo da exposição no Instituto tomie Ohtake de 2004
vídeo 8 – Por um futuro de progresso e felicidade, Ocupação Vilanova Artigas, 2015
vídeo 9 – Retorno à FAU USP, Ocupação Vilanova Artigas, 2015
vídeo 10 – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU/USP (1961/1966), Ocupação Vilanova Artigas, 2015
vídeo 11 – Estação Rodoviária de Jaú (1973), Ocupação Vilanova Artigas, 2015
Vídeo 12 – Educador, Ocupação Vilanova Artigas, 2015
nota
1
Exposição “Nos pormenores um universo”, curadoria de Giceli Portela, Museu Oscar Niemeyer, agosto de 2015 a fevereiro de 2016. As maquetes da exposição são de autoria da Arqcom Maquetes, de Curitiba PR.
sobre a autora
Giceli Portela é graduada em arquitetura e Urbanismo pela PUC PR, doutora em arquitetura pela Universidade de São Paulo, professora de Universidade Tecnológica Federal do Paraná e presidente da Centro Cultural Casa Vilanova Artigas em Curitiba.