Frederico Kirchgässner (1899-1988) nasceu na Alemanha, mas foi registrado no Brasil. Desde a infância manteve intensa conexão com a sua terra natal, o que permitiu absorver o espírito de vanguarda das primeiras décadas do século 20. Incentivado por seu tio Franz, Reitor da Escola Feminina de Baden Baden, iniciou seus estudos em artes e arquitetura, por correspondência.
Estas experiências o diferenciam das obras de influência italiana produzidas em Curitiba por Ernesto Guaita (1843-1915) e João de Mio (1879-1971) na arquitetura; e de Guido Viaro (1897-1971) e Theodoro de Bona (1904-1990) na pintura.
Em 1929 faz sua segunda viagem à Europa, para obter seus diplomas de Artes e Arquitetura e também contrair matrimônio com sua prima Hilda (1902-1999), filha de Franz Kirchgässner. Retornando ao Brasil, desenhou a nanquim sobre tecido a Planta de Curytiba como funcionário da Prefeitura.
No Brasil, Hilda manteve sua atividade artística pintando aquarelas e obtendo reconhecimento no I Salão Paranaense (1941). Frederico produziu óleos sobre tela, com temas fantásticos incluindo escritas poéticas em alemão.
Em 1930, Frederico projetou e construiu sua própria casa. Uma pequena obra-prima no modo como implantou a casa no terreno e como distribuiu o programa nos diversos pavimentos; no uso de paredes duplas que propiciam conforto térmico; no desenho dos pórticos e na utilização do terraço do último pavimento; na racionalidade da concepção da cozinha em corredor e no requinte dos detalhes construtivos.
Kirchgässner também desenhou e executou o mobiliário da suíte do casal, a mesa e o sofá da sala de estar, além de outras peças do interior da casa, dentro do espírito do início do modernismo, quando não se dispunham de móveis industrializados que acompanhassem a estética da casa.
Projetou ainda a casa para seu irmão Bernardo, em 1936, com as mesmas concepções de volumetria e detalhamento construtivo. O arquiteto aqui se utilizou de tons de rosa, contrastando com os tons de amarelo de sua casa.
Inserido na formação multicultural de Curitiba, Kirchgässner executou as primeiras casas modernistas da cidade dentro do espírito das vanguardas da Alemanha dos anos 1920. Contemporâneas e ao mesmo tempo diferentes das exemplares modernistas de Gregori Warchavichik (1896-1972) em São Paulo, Kirchgässner projetou suas casas com programas para moradores específicos, com técnicas e funcionalidades para uso urbano, sem preocupação de se constituírem modelos racionais a serem reproduzidos.
Durante o período da Segunda Guerra Mundial, as manifestações anti-germânicas e o fechamento das Deutscheschulen na cidade, aliado ao seu caráter introspectivo, provocaram um recolhimento das atividades de Kirchgässner. Somente em 1989, um ano após sua morte, com uma retrospectiva na Galeria Banestado, houve o início o redescobrimento de suas obras.
nota
NA – texto curatorial da exposição Kirchgässner, um modernista solitário, curadoria de Salvador Gnoato, Museu Oscar Niemeyer – MON, Curitiba, 21 de fevereiro a 04 de junho de 2017. Coordenação geral: Rebeca Gavião Pinheiro; texto crítico: Hugo Segawa; assistente de produção: Ellen Piragine e Jordana Cristina Machado; montagem: Emerson Rogoski e Juliano Carneiro; laudo técnico: Suely Deshermayer; fotografia: Ito Cornelsen
sobre o autor
Salvador Gnoato, arquiteto e professor titular na PUCPR, curador da exposição Kirchgässner, um modernista solitário.