Modernidades amazônicas foi o tema do II Seminário de Arquitetura Moderna na Amazônia – II Sama, realizado em Palmas (TO), de 13 a 16 de março deste ano. A temática foi sugerida pelo professor da Universidade de São Paulo – USP, Hugo Segawa, com o intuito dar a continuidade aos debates iniciados no I Sama, que ocorreu em Manaus, em fevereiro de 2016, organizado pelo professor Marcos Paulo Cereto, da Universidade Federal do Amazonas – Ufam.
A segunda edição do Sama teve grande repercussão em Palmas, contou com um público de aproximadamente 500 inscritos, com amplo envolvimento das escolas de arquitetura da região, em especial da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e do Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra), representadas pelas professoras Patricia Orfila e Adriana Dias, que juntamente com o professor Marcos Cereto da Ufam organizaram o evento.
O II Sama reuniu pesquisadores, professores, arquitetos e estudantes de todos os estados que constituem a Amazônia Legal. Participaram do evento representantes das seguintes instituições: Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU/TO, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan/TO, Superintendência de Desenvolvimento de Cultura do Estado do Tocantins, Prefeitura do Município de Porto Velho (Rondônia), Universidade de São Paulo – USP, Universidade de Brasília – UnB, Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp –Ulbra, Universidade Católica do Tocantins, Universidade Estadual do Maranhão – Uema, Université de Strasbourg – Unistra, as Universidades Federais dos Estados do Tocantins – UFT, do Amapá – Unifap, do Pará – UFPA, do Amazonas – Ufam, de Roraima – UFRR, do Acre – Ufac, do Mato Grosso – UFMT, da Bahia – UFBA, do Mato Grosso do Sul – UFMS e de Goiás – UFG.
Todas as apresentações contaram com um público expressivo, com destaque para a conferência do “Plano Urbanístico de Palmas”, ministrada pelos arquitetos goianos Luiz Fernando Teixeira e Walfredo Antunes de Oliveira Filho – autores do projeto da capital, um encontro histórico, com riqueza de detalhes acerca da criação da capital tocantinense. Também foram conferencistas do II Sama os pesquisadores Hugo Segawa (USP), que proferiu a conferência de abertura; José Afonso Botura Portocarrero (UFMT) e Celma Chaves (UFPA).
O projeto “Moradias Infantis”, fruto da parceria do designer Marcelo Rosenbaum e o escritório de arquitetura Aleph Zero (Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes) tambem foi tema de palestra. Idealizado para abrigar 800 crianças que estudam em regime integral na escola da Fundação Bradesco, localizada na Fazenda Canuanã, em Formoso do Araguaia (TO), o projeto foi todo desenvolvido em estrutura de madeira. O seminário contou com a presença de Ricardo Figueiredo e Edson Peres (representantes da Fundação Bradesco), do arquiteto Gustavo Utrabo e do engenheiro Hélio Olga, que apresentaram detalhes de toda a produção do projeto, desde sua idealização até a fase de execução e inauguração da obra.
Fez parte da programação cultural do II SAMA uma Mostra de Filmes do Docomomo, com temas sobre a modernidade: Artigas: o arquiteto e a luz; Quarteto simbólico; Wandenkolk; Os Irmãos Roberto, dentre outros.
A partir da escolha de artigos apresentados no I e II Sama foi lançada a primeira revista acadêmica de arquitetura da Região Norte, “AMAzônia Moderna”, que estabelece novas perspectivas para a pesquisa e a discussão sobre a necessidade do desenvolvimento de novos programas de pós-graduação em arquitetura e urbanismo na Amazônia Legal.
Na manhã do último dia, os participantes visitaram edifícios históricos da cidade, dentre eles o Memorial Coluna Prestes, projeto de Oscar Niemeyer, e a primeira sede da Assembleia Legislativa do Tocantins. O segundo prédio abrigou o parlamento estadual até 1994 e foi restaurado em 2010, atualmente encontra-se em completo estado de abandono. Após constatarem a necessidade de preservação do edifício, no encerramento do seminário, os participantes do II Sama aprovaram uma carta e lançaram a campanha #salveantigaALtocantins com o objetivo de alertar o completo descaso com o patrimônio público e a necessidade de recuperar e utilizar esta importante edificação, testemunha da recente modernidade brasileira. A carta aprovada no II Sama foi enviada para o CAU/TO, UFT e Governo do Estado, com o intuito de fortalecer a importância do restauro deste bem.
O CAU/TO, por meio da iniciativa do arquiteto e Gerente Técnico Matozalém Santana, alguns meses antes do II Sama, já sugeria a hipótese do prédio ser restaurado para ser as sedes do CAU e do Instituto dos Arquitetos do Brasil do Tocantins – IAB/TO. Na oportunidade da realização do II Sama, bem como de notícia veiculada em 15 de março de 2017 no Jornal do Tocantins sobre o abandono do prédio, as intenções se uniram em favor da recuperação do patrimônio.
Em matéria divulgada pelo CAU/TO, em 29 de março de 2017, o Governo do Estado fechou acordo para que o prédio seja utilizado pelo CAU e IAB do Tocantins por meio de um Termo de Cessão de Uso, que “em contrapartida ficarão responsáveis pela restauração do prédio e do entorno, destinando parte do edifício para abrigar um museu, preservando, assim, a função prevista atualmente para o local” (1).
As mesas temáticas do II Sama discutiram além das Modernidades Amazônicas, o campo expandido da “Modernidade no Cerrado”, incluindo no debate as cidades de Goiânia e Brasília e, ainda, a arquitetura contemporânea no Estado do Tocantins. A apresentação dos artigos e a exposição dos pôsteres enriqueceram e multiplicaram o debate da produção arquitetônica na Amazônia.
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (FAU-UFPA) demonstrou interesse em sediar o próximo seminário, através de documento apresentado pela Dra. Celma Chaves Pont Vidal. Desta forma, com aprovação do público presente, o terceiro SAMA ocorrerá em Belém do Pará em 2018.
O II SAMA promoveu o intercâmbio entre pesquisadores, professores e estudantes, buscou maior integração entre as universidades da região, as quais unem-se para a pesquisa em estudos avançados no campo da arquitetura na Amazônia, com enfoque no pós-guerra; e futuramente com vizinhos sul-americanos que também compõem a Amazônia internacional.
"Defender nosso patrimônio histórico e artístico é alfabetização”, afirmou certa vez o poeta Mário de Andrade. E, se quisermos defendê-lo enquanto habitantes da Amazônia Legal, faz-se necessário sobretudo conhecer essa realidade, moderna por natureza.
nota
1
Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Tocantins. Antigo prédio da Assembleia Legislativa poderá ser a nova sede do CAU/TO e IAB/TO. Disponível em: <www.cauto.gov.br/?p=7546z>. Acesso em 29 demarço de 2017.
sobre a autora
Patrícia Orfila Barros dos Reisé doutora pelo Instituto de Filosofia e Ciência Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), coordenadora do Grupo de Pesquisa em Arquitetura Contemporânea – GPAC (Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins – UFT) e organizadora do II SAMA.