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MASSAD, Fredy; GUERRERO YESTE, Alicia. Matéria essencial. Construções em adobe. Drops, São Paulo, ano 11, n. 039.02, Vitruvius, dez. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.039/3652/pt_BR>.



A história etimológica da palavra adobe evidencia a antiguidade deste material de construção composto por uma mescla de barro, areia, palha e outros componentes orgânicos que distingue a arquitetura de diferentes regiões do Norte da África, da bacia do Mediterrâneo e Oriente Médio, América Latina e do sul dos Estados Unidos… O termo procederia do signo hieroglífico egípcio ‘tob’, que significa tijolo, e que se incorporou posteriormente a outras línguas, entre elas ao árabe como ‘at-tub’ ou ‘atobe’, do que deriva o castelhano ‘adobe’. A mescla de adobe pode servir para fabricar, em fôrmas, tijolos que se secam ao sol; mas pode ser usada também fresca para construir a estrutura desejada, que pode se solidificar com resistência comparável à da pedra.

Definido como um material humilde, próprio de arquiteturas vernáculas, o atual interesse que suscita o adobe em âmbitos acadêmicos e a prática profissional atual, particularmente nos EUA e diferentes regiões da América Latina, evidenciam a energia com que este segue vigente. Trata-se de um material que proporciona alguns níveis de climatização ótimos em zonas muito áridas, mantendo uma temperatura estável no interior do edifício, evitando recorrer a métodos artificiais e poluentes; requer métodos de construção muito simples e é capaz de adaptar-se a diferentes tipologias arquitetônicas. Soberbas construções suntuárias e domésticas da região africana de Sahal, funcionais habitações modernas no Novo México, estruturas de tipologia ancestral sobrevivendo na Síria, Irã ou Turquia... A intensidade deste olhar atual para o adobe responde não só à preocupação com o meio ambiente, mas a uma procura de novos posicionamentos físicos e psicológicos do homem no entorno. O arquiteto Nader Khalili (2) observa estas estruturas quase como sínteses alquímicas, produto da união dos elementos primordiais: terra, água, ar e fogo.

Simone Swan trabalha enfatizando o potencial que o adobe possui para recuperar uma dimensão espiritual na arquitetura, fazendo mesmo assim uma reivindicação social sobre o significado desta através da interpretação poética de construir artesanalmente com terra e elementos orgânicos. Sua atividade prolonga as idéias do arquiteto egípcio Hassan Fathy, transplantando ao Novo México as arcaicas técnicas construtivas e elementos vernaculares das arquiteturas mediterrâneas e norte-africanas revividas por Fathy: “Cúpulas, arcos núbios, pátios interiores… elementos que oferecem solidez, beleza, harmonia cultural e espiritual a um custo muito inferior ao das estruturas industriais convencionais, que requerem controles mecânicos de temperatura” – explica Swan, que desenvolve seu trabalho à frente da Adobe Alliance (3) numa dura zona desértica entre a fronteira de Texas e México. “Seguimos fórmulas matemáticas tão arcaicas que são universais e, por isso, contemporâneas”, diz Swan, sendo sua própria casa uma manifestação do ideal de uma arquitetura capaz de oferecer alternativas tecnológicas “para um mundo voltado ao desperdício de energia altamente tóxica”. A altura dos arcos, a disposição de pátios, o tamanho das janelas… geram uma estrutura sólida e espacialmente ampla, aclimatada graças às propriedades do material e à adequada entrada da luz solar.

O psiquiatra James Hillman chama a atenção sobre a carência de um vínculo profundo com a natureza e como isto deveio em patologia de nossa psique. Hillman recalca a necessidade de que a cidade e seus elementos sejam assumidos como entidades vivas como premissa essencial para refazer esse vínculo. Nas atuais experimentações avançadas e argumentações de reconversão ecológica das formas de habitar e construir, os edifícios são concebidos como sistemas vivos: positivamente reativos às condições meio-ambientais e capazes de oferecer um alto nível de conforto. No entanto, subjaz intacta nelas a concepção tecnológica e artificializadora que define as aspirações arquitetônicas de nosso tempo e que evita o restabelecimento desse vínculo mais profundo com o natural. O arquiteto Juhani Pallasmaa reivindicou a necessidade de aprender da de insetos e pássaros, que constroem com materiais colocados à sua disposição pela natureza, sofisticadas tipologias perfeitamente adequadas a suas necessidades vitais. Neste sentido, a construção em adobe constitui propriamente uma expressão do homem como animal construtor que assume um significado relevante como referente para esta evolução necessária na compreensão da arquitetura.

A construção em adobe permite retornar a uma arquitetura essencial. Uma idéia que não deve se ler textualmente, para evitar incorrer no erro de pensar que é a solução para nossas urgências climáticas e de preservação do equilíbrio ecológico. Modelos como o proposto por Swan funcionam em certas condições e escalas limitadas, mas o que é fundamental resgatar delas é a idéia conceitual de uma construção que recupera o sentido da materialidade, do espaço e sua magia contentora; e inspiram para indagar, desde perspectivas mais harmonizadoras entre homem e natureza, quais são os materiais que podem nos oferecer estes mesmos benefícios em grande escala para o futuro.

notas

1
Artigo publicado originalmente no suplemento cultural do jornal La Vanguardia.
2
Ver www.calearth.org
3
Ver www.adobealliance.org

 

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