Em minhas perambulações parisienses tive a oportunidade de visitar o chamado Memorial da Deportação. Como o nome já sugere, trata-se de um espaço que perpetua a lembrança de duzentos mil deportados da França, durante a Segunda Guerra, que nunca retornaram dos campos de concentração alemães. Projeto do arquiteto Georges Henri Pingusson (1894-1978), o Memorial foi inaugurado em 1962.
Tomei conhecimento do lugar através de um guia virtual de arquitetura parisiense, mas nunca tinha ouvido, de nenhum conhecido meu que houvesse visitado a cidade (dentre os quais muitos arquitetos), nenhuma palavra sobre ele. Provavelmente por não ter muitas referências do espaço fui visitá-lo sem nenhuma expectativa.
O mais curioso na falta de destaque para a obra é que ela encontra-se em uma das regiões mais turísticas de Paris: muito perto da catedral de Notre-Dame, no extremo leste da Île de la Cité.
Talvez, em uma cidade como Paris, onde muitas edificações se destacam pela monumentalidade, a discrição do Memorial faça-o passar despercebido pelo turista desavisado e menos atencioso. Sua simplicidade e austeridade estão, no entanto, entre seus principais méritos, pois transmitem todo o peso que o tema da deportação requer em uma cripta sóbria que propicia o recolhimento.
Implantado em um nível inferior ao solo do resto da ilha, entre o Sena e o céu, o espaço consiste basicamente em um pátio triangular descoberto, através do qual se tem acesso a um pequeno ambiente coberto, localizado entre as duas escadas que dão acesso do exterior ao pátio.
Há no ambiente coberto algumas poucas inscrições nas paredes (nomes de campos de concentração e poemas) e um corredor iluminado onde cada ponto luminoso representa um deportado que não retornou e onde fica a cripta de um deportado que nunca foi reconhecido.
As fotos apresentadas dispensam qualquer explicação sobre o que representa dor, confinamento ou liberdade. Já outras sensações, como o silêncio na sala que parece gritar ou o barulho das águas do Sena batendo nos muros do pátio, não tem lente que capte (ou, como diria o amigo Fernando Almeida, nem gravador que grave). Parece-me suficiente afirmar que o monumento constitui uma homenagem particularmente emocionante à memória dos que conheceram o sofrimento dos campos de concentração.
Pode até ser que, para alguns, o Memorial não pareça grande coisa, mas esta simples e pequena obra encontra-se, sem dúvida, entre os meus espaços preferidos em Paris. Bom, propagandas à parte, quando vocês forem à Paris não deixem de visitar o Memorial da Deportação. Porque bom mesmo é quando a arquitetura comove.
sobre o autor
Elisa Vaz, arquiteta pela Universidade Federal de Pernambuco, foi colaboradora no escritório VRF arquitetos (Vital Pessoa de Melo), Recife, e consultora de urbanismo do Centro Josué de Castro para o desenvolvimento dos planos diretores de Arcoverde e Belo Jardim (PE). Atualmente é arquiteta colaboradora de Márcia Moreira (Ruimtelijke Vormgeving en Interieur Advies), Haarlem, Holanda.