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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
A crítica Menene Gras Balaguer, comenta as fotos e vídeos da artista chilena Magdalena Correa que retratam a Patagônia

english
The critic Menen Gras Balaguer comments the photos and videos of the Chilean artist Magdalena Correa depicting Patagonia

español
La crítica Menene Gras Balaguer comenta las fotos y videos de la artista chilena Magdalena Correa que retratan la Patagonia


how to quote

GRAS, Menene. A viagem de inverno. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 006.02, Vitruvius, ago. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.006/1348>.


O projeto de Magdalena Correa parte de uma viagem real à Patagônia feita pela artista com a intenção de explorar um território desconhecido. Aquela Patagônia que, segundo Luis Sepúlveda, se manteve virgem até os princípios do século XX, “quando começou sua colonização”, e ali aonde começam a aparecer baleias e formações de delfins austrais, ou aonde “o cordeiro capado ao dente não deve perder nem uma gota de sangue”.

A intenção é que a vivência de cada instante desta viagem sirva de material para a formulação de hipóteses novas, para poder traduzir o vivido na escritura. Uma escritura feita de eloqüentes imagens que se rivalizam com os testemunhos escritos de seus predecessores.

O vivido é o visto e ouvido no vasto silêncio que inaugura a paisagem do sul do mundo, inevitavelmente transformado no sul do sujeito – o lugar do não-lugar, o espaço sem espaço, tempo imóvel – caracterizado por sua obscuridade e impenetrabilidade.

A viagem é concebida como peregrinação a um deserto povoado de árvores, ervas, moitas, cordilheiras, lagos; é uma viagem para os olhos, que alimentam também os sons que não se escutam, mas se pressente os elementos constitutivos da paisagem por onde se passa.

A vídeo-instalação “A viagem de inverno” foi pensada desde o princípio como um quadro animado no qual se justapõem cinco vídeos, que formam uma só imagem, cuja divisibilidade resulta da desintegração do relato único, que o vivido expõe na fragmentação da experiência que estrutura nossa vida cotidiana.

A janela fictícia que se abre sobre a paisagem expansiva reproduz o modo em que a imaginação compartilha em um tempo único espaços e tempos que arquiva na memória em idêntica desordem. A rodovia austral faz circular o olho e o transporta de um lugar a outro, fazendo-o atravessar vales, cordilheiras, campos, lagos e nevascas, a pé, a cavalo, em um veículo de tração mecânica ou navegando.

A viagem se pode repetir incessantemente, iniciando-se e se acabando sem interrupção, reproduzindo uma circularidade que anula o sentido linear do princípio e do desenlace, e parece imobilizar o movimento da imagem. Este elemento e a unidade da imagem divisível e dividida em cinco seqüências formam uma composição pictórica, na qual reaparece o quadro fotográfico, sob cujo enunciado se pode reconhecer a intenção presente em sua apresentação.

Mesmo tratando-se, neste caso, de uma imagem em movimento, se favorece a possibilidade de interpretar a composição como um quadro fotográfico que aproxima aquela à pintura, recuperando a história da pintura para a compreensão do presente e dos novos suportes mediante os quais se exploram novos meios de expressão nas práticas artísticas atuais. A imagem pictórica também se pode elaborar a partir da imagem em movimento. Tudo é pintura, inclusive aquilo que parece negá-la, superando sua imobilidade. O vídeo converte em realidade o movimento que a pintura tenta imitar mediante diferentes métodos e sistemas.

A ficção pictórica é possível a partir da imagem em movimento e, ao contrário, esta última se pode fabricar baseada naquela. Esta reciprocidade reúne e une o que aparentemente está separado ou destrói a continuidade da história da arte. A fascinação da artista pela imagem em movimento não reside em sua capacidade em reproduzir a realidade do modo mais verossímil possível, de modo que a distância entre a imagem e o modelo, ou aquilo que representa, se encurta até o ponto de poderem se substituir mutuamente, mas sim de uma forma que a imagem virtual possa induzir à existência de um mundo preexistente ou que nunca antes havia existido.

O descobrimento da câmara de vídeo estabelece para Magdalena Correa, desde o princípio, a possibilidade de fabricar imagens e multiplicar os efeitos visuais, alterando a percepção do mundo ou dos mundos que a imagem em movimento dotam de vida própria. Neste trabalho, a vontade de associar de forma cúmplice fotografia e vídeo torna evidente o desejo de obter certos resultados complementares de ambos os suportes.

Tendo em conta que, como dizia Barthes, a fotografia imita a realidade à semelhança da pintura, se isto se faz extensível ao vídeo, se pode entender que o projeto da artista transcende inclusive a interpretação meramente técnica da câmara fotográfica ou da câmara de vídeo. O aspecto experimental deste trabalho é o que importa à artista, porque é o lugar comum de uma experiência relacional, na qual a associação e a dissociação entre vida interior e mundo externo se produz livre e arbitrariamente.

As visões daquela paisagem percorrida pelo olho que caminha ou navega impregnado de vento, frio e chuvas durante as expedições efetuadas no território nos transmitem a continuação, depois de um largo processo de reelaboração, consideração e construção mediante as ações que são indispensáveis para conseguir a imagem analógica não tanto do real como daquilo que é imaginado ou reimaginado uma e depois outra vez. Processo que é comum à arquitetura da escritura ou da teia que fabrica a aranha.

As imagens que se podem contemplar nos transportam a estes lugares pelos quais antes circulou a artista, arquivando o que ela viu e não viu, ou simplesmente imaginou acerca do território. A exploração se reinicia e se repete a experiência interpretativa, que se sucede à percepção sensível das imagens que nos são apresentadas. O projeto de Magdalena Correa se pode contextualizar em diferentes planos, o que caracteriza sua própria trajetória, que é interno à própria obra e ao âmbito no qual ela se produz; entre aquelas gerações de artistas que antes dela, ou contemporaneamente, têm transformado o conceito da fotografia e o da fotografia da paisagem. É o caso de Dough Aitken, Olafur Eliasson, Pierre Huygue ou Carlos Garaicoa, para mencionar alguns artistas que trabalham partindo de uma confrontação com a natureza ou partindo da paisagem urbana e industrial. Trata-se de todos aqueles que têm introduzido uma nova maneira de conceber a representação analógica e digital da paisagem (natural ou urbana), contribuindo para uma redefinição do conceito mesmo daquilo que se apresenta como real e que é uma ficção obtida graças à técnica e à intervenção do sujeito que se serve dela para conseguir determinados efeitos.Qualquer que seja o objetivo de seu olhar e do que se propõe para ser visto ou contemplado, a prática artística de Magdalena Correa ou destes outros artistas subverte o meio fotográfico e o vídeo, explorando as formas de representação e de expressão para descobrir cenários que previamente exigem uma colocação em cena casual ou deliberada, aonde chegamos a ver a “paisagem”, cujo desconhecimento “é suficiente para viajar até ela”, como afirmam Bruce Chatwin e Paul Théroux, pela força do sonho e a “queda” que nos precipita no naufrágio na Natureza, reproduzido em nosso deserto interior. Em outras palavras, Chatwin, referindo-se a um clássico da Patagônia Argentina, W. H. Hudson, faz uma observação similar ao aludir à conclusão que aquele extrai ao contestar a afirmação contrária de Darwin, dizendo que “aqueles que deambulam pelo deserto descobrem em si mesmos uma serenidade originária, conhecida pelo selvagem mais primitivo” (Retorno à Patagônia). O selvagem que descobrimos em nós mesmos quando retornamos à Natureza, à qual continuamos pertencendo, como ao abismo do ser do mundo, em cuja obscuridade nascemos e morremos.sobre o autor

Menene Gras Balaguer, crítica de arte e curadora de diversas exposições, é diretora de cultura e exposições da Casa Asia de Barcelona, instituição vinculada ao Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha.

Gras é curadora da exposição "Austral", da artista chilena Magdalena Correa, em exposição no Museu da Casa Brasileira, São Paulo, de 2 de agosto a 16 de setembro de 2007. O presente texto é composto de passagens dos artigos “Austral” e “El Viaje de Invierno”, ambos sobre a obra de Magdalena Correa.

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006.02 Paisagem natural
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