Meus devaneios com arquitetura começaram cedo. Aos 10 anos já imaginava e esboçava complexas plantas de casas e fazendas que junto à escola e clube compunham minhas referências de edificações à época. Falando em clube, passei minha infância no Harmonia, projeto emblemático do arquiteto Fábio Penteado e onde comecei a praticar pólo aquático, esporte que me levou a conhecer importantes destinos turísticos e me propiciou contato com a arquitetura. Ao voltar da primeira viagem à Europa em 1988, aos 14 anos, tinha a certeza da profissão que queria exercer.
Foram quase vinte anos dedicados ao esporte, dez dos quais servindo à Seleção Brasileira. Período marcado com muitas viagens internacionais, principalmente pela América e Europa e chegando até a Cidade do Cairo, Egito, um dos lugares mais impressionantes que conheci. O melhor resultado que obtive nas piscinas foi a medalha de prata nos Jogos Panamericanos de Mar Del Plata, Argentina em 1995, o momento emoção foi a abertura dos Jogos Panamericanos de Winnipeg, Canadá em 1999 e a grande frustração foi a não classificação para as Olimpíadas de 1996 em Atlanta.
O pólo aquático é um esporte pouco conhecido no Brasil, está ligado a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) e disputa com o Nado Sincronizado e os Saltos Ornamentais as migalhas que caem do investimento na Natação. Levando isso em conta, a verba para viagens sempre foi restrita, dando somente para os campeonatos aonde chegávamos sempre em boas condições físicas mas limitados em experiência pois não participávamos dos torneios preparatórios e tampouco conhecíamos nossos adversários.
Numa das ocasiões, estávamos treinando havia quatro meses para o Campeonato Panamericano Juvenil que foi disputado em Ponce, Porto Rico. Duas semanas antes do embarque recebemos um recado da Confederação dizendo que a viagem estava cancelada por falta de verba. A equipe arrasada, interrompeu o treinamento e após uma semana ligaram avisando que deveríamos embarcar imediatamente, coisas de esporte amador...
As viagens para disputar campeonatos tinham sempre muito em comum, a começar pelos meses de intensa preparação, treinamento e sofrimento pelo qual passava o grupo de 13 atletas mais comissão técnica. Então chegava o dia do embarque e vários sentimentos se misturavam, o alívio pelo fim dos treinos, a excitação para conhecer novos lugares, pessoas e culturas e a ansiedade pelo resultado a ser obtido.
Durante a estadia imperava a rotina com horários certos para alimentação, sono, mais treinos e jogos. O deslocamento se restringia basicamente entre hotel e piscina com no máximo dois dias de folga para conhecer correndo os principais pontos turísticos do local. A descontração também estava presente, afinal um grupo de quinze pessoas que fica grudado por tanto tempo precisa de uma válvula de escape e aí surgiam as brincadeiras, sacanagens e apelidos, o clímax ficava por conta dos erros de comunicação.
Sendo o inglês a língua oficial das derrapadas, tivemos perólas como: “I want a tennis eleven e meio, blue claro” ou ainda, respondendo ao maitre que reclamou dos atletas que tomavam café da manhã cada um em horário diferente do outro “no problem, is day nevermore”; na fila do bandejão, ao receber um filé de frango, uma atleta não hesitou: “someone please”, disse com toda a educação, e não é que foi atendido!
No refeitório do hotel, ao ser servido o atleta quis dizer que queria o prato da noite anterior e soltou “yesterday, tonight!” e para fechar, no táxi “you conesce the centre? wonde´s the tumult?” Eu juro que ele queria perguntar onde ficava o tumulto... É incrível como as pessoas conseguem ser entendidas em outras línguas, basta ter certeza do que está dizendo!
As piscinas merecem destaque, afinal eram o palco do sucesso ou do fracasso de toda a preparação e algumas ficarão para sempre na memória. A primeira a gente nunca esquece... e nesse caso é a do Club Gymnasia y Esgrima de Buenos Aires em 1986.
A mais bonita de todas é também a mais simples: em Dusseldorf disputamos um torneio e a piscina ficava localizada dentro de um parque muito arborizado, no meio de uma grande área gramada.
Para iniciar os jogos precisávamos pedir licença aos donos da piscina, uma família de patos que vivia no parque! Na categoria grandiosidade o prêmio vai para o parque aquático da Cidade do Cairo com sua enorme arquibancada, qualidade que pode ser vista por todo o lado na cidade, construções grandiosas, impactantes, porém extremamente mal cuidadas.
O troféu de mais suja vai para um clube do qual não me recordo o nome em Cienfuegos, Cuba. Nas piscinas da Alemanha, um desfile de tecnologia, com bordas móveis e fundos elevadiços que dividem as piscinas em diversos tamanhos para prática de diferentes modalidades.
Os projetos mais interessantes são dos Complexos Panamericanos de Mar Del Plata na Argentina e Winnipeg no Canadá. A gelada ficou para Sofia na Bulgária, sob temperatura de 15 graus negativos. O prêmio Design vai para a plataforma de saltos do Centro Desportivo da Cidade do México.
Não poderia faltar a sessão proibido para menores, em Wurzburg, cidade ao norte da Alemanha, ao lado da piscina ficava o spa e para entrar no local era obrigatório “pendurar” os trajes e ficar nu!
Dentro do espaço, saunas, hidromassagens e solarium para dezenas de pessoas de ambos os sexos e todas as idades compartilharem, onde tive a felicidade de dividir a banheira de hidromassagem com uma senhora alemã de aproximadamente 150kg.
Após os campeonatos, ao invés de voltar para casa, aproveitávamos para passear e conhecer as cidades próximas, comprávamos um eurailpass e saíamos de mochila nas costas pelos trilhos. Nestas viagens tive a oportunidade de conhecer algumas capitais européias: Amsterdã, Bruxelas, Londres, Paris e Roma. E foram justamente estas cidades que despertaram em mim a vontade de ser arquiteto.
sobre o autor
Diogo Figueiredo de Freitas, 33 anos, é ex-atleta da Seleção Brasileira de Pólo Aquático, medalha de prata nos Jogos Panamericanos de Mar Del Plata em 1995 e atualmente titular do escritório Digas Arquitetura.