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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
O arquiteto Carlos Ferrater nos fala sobre a cidade de Barcelona sob o ponto de vista da arquitetura e explica particularidades do partido arquitetônico adotado para algumas de suas obras construídas

english
The architect Carlos Ferrater tells us about the city of Barcelona from the architecture point of view and explains special features of the architectural layout adopted by some of his construction works

español
El arquitecto Carlos Ferrater nos habla sobre la ciudad de Barcelona desde el punto de vista de la arquitectura y explica particularidades del partido arquitectónico adoptado por alguna de sus obras construidas


how to quote

FERRATER, Carlos. Barcelona para viver e visitar. Arquiteturismo, São Paulo, ano 02, n. 014.03, Vitruvius, abr. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/02.014/1412>.


A arquitetura atual implica na perda da identidade?

Uma cidade que teve tanto sucesso como Barcelona tem suas vantagens, mas também tem seus inconvenientes, como a perda de identidade. E ainda a produção de alguns erros, como o experimento urbanístico ligado ao Fórum das Nações, de 2004, vazios de conteúdos frente àquele urbanismo que Barcelona construiu desde o Eixample, dos interiores de quadras. Por outro lado, não me parece totalmente ruim que Barcelona tenha se transformado num destino turístico e perdido parte de sua identidade, pois isso lhe dá um dinamismo e um cosmopolitismo extraordinário. Ainda mais porque Barcelona é umas das cidades que pode agüentar esta espécie de invasão, pois tem um tecido social muito compacto. As Olimpíadas detonaram este processo, mas os preparativos são anteriores, dos anos 80, quando a cidade se requalifica. Com a democracia chegaram novas teorias, novas idéias, novos políticos, novos arquitetos. Estes últimos, moldados por novas idéias, se deparam com a possibilidade de trabalhar na sua cidade e de atuar em conjunto com os políticos e com o cidadão que se torna cúmplice, produzindo uma situação que ocorre raramente, onde tudo se encaixa perfeitamente.

A cidade se torna mais justa, passa a ser de todos os habitantes, o anel viário dá conectividade aos bairros e estes se enriquecem com equipamentos públicos. E a partir dai se produz uma situação em que a cidade definitivamente assume uma identidade metropolitana. Condição, para mim, presente desde a Barcelona romana.

Quando viaja a turismo, você faz fotos ou desenha?

Não faço fotos, para isso tenho um irmão fotógrafo. Já desenhar... os arquitetos sempre desenham. Quando esperava vocês para esta entrevista fiz alguns pequenos desenhos para passar o tempo. Não tenho cadernos de viagem com desenhos, eu simplesmente registro na memória alguns episódios arquitetônicos, como uma coleção, afinal temos uma memória muito seletiva que permite recordar, e afortunadamente, também esquecer. Tenho uma coleção de casas na memória, uma lista que poderia começar, por exemplo, com a casa de Coderch em Cadaqués e ir até Farnsworth de Mies, que visitei recentemente, mas também tenho outros episódios registrados, da vida da cidade, do cotidiano das pessoas...

Como relacionar a estação de Zaragoza e o turismo?

Quando ganhamos este concurso, tentamos entender o fenômeno da alta velocidade: primeiro, como potencial transformador da rede de comunicações de um país; segundo, como Zaragoza – uma cidade que estava perdida em uma espécie de buraco negro – pode assumir uma situação de centralidade, estando hoje a uma hora e quinze minutos de Madrid, de Barcelona, de Valência e em breve, quando finalizado, de Bilbao, as 4 cidades mais importantes da Espanha e as duas saídas ao mar. Por isso a preocupação com transfers, acessos e distribuição foi essencial e creio que foi o motivo pelo qual ganhamos o concurso. Depois estas preocupações se unem com os espaços de outros programas – hotéis, museus, escritórios, etc. –, esta cidade indoor que invocava Koolhaas... Por outro lado, os arcos da cobertura criam uma paisagem, um novo lugar na cidade. No fundo, buscamos unir dois bairros completamente desconectados, o que parecia difícil, mas que acredito termos alcançado. Entretanto, a estação e tudo o que acontece ao seu redor, construiu "cidade" onde não existia, pois era um deserto terrível, como por exemplo, a Vila Olímpica de Barcelona. É algo que estas operações de grande envergadura podem conseguir, às vezes...

Qual o partido para o cemitério de Veneza?

Com o cemitério de Veneza voltamos à questão da construção da paisagem. As duas cidades que eu mais gosto são Atenas e Chicago, mas eu me sinto um pouco veneziano, porque penso entender o que sucede a um habitante dessa cidade: a magia, a história da água, o jardim interior, uma cidade que vai se "desabitando" e ao mesmo tempo se povoa de turistas, uma cidade que não tem um tecido social compacto para suportar essa pressão e pode chegar a se converter em parque temático. Mas ainda existem alguns valentes venezianos, uma estirpe que ainda mantém essa idéia de cidade e seguem utilizando seus circuitos, suas formas de se comunicar e viver. Quando um arquiteto trabalha em Veneza essa condição é importante, ainda mais diante dos mortos de um cemitério. Quando um veneziano morre, não querem incinerá-lo; e ainda existe o problema de mineração dos cadáveres, decorrente da umidade da cidade... Aí estava a idéia do censitário que projetamos como uma espécie de plataforma, como se um barco chegasse, recolhesse esses cadáveres e desaparecesse como desapareceu na névoa o Teatro do Mundo de Aldo Rossi.

O Guggenheim Bilbao é só estratégia de marketing?

Esta é a polêmica atual. O Guggenheim tem algumas diferenças com relação a outras operações mediáticas que estão sendo realizadas ao redor do mundo. É um edifício que analisado em profundidade, como museu, eu não sei se estaria de acordo com ele, mas é inegável que ele redimensiona a idéia de lugar, dando a sensação de que o lugar estava esperando uma intervenção desse tipo, que Frank Gehry tinha passado toda a vida preparando, fazendo maquetes até encontrar o lugar em que aquelas formas pudessem ser implantadas. Atualmente também estamos trabalhando em Bilbao, com um hospital e alguns edifícios habitacionais, onde creio que também temos uma condição mediática. Mas sempre tentamos que isso aconteça através de uma geometria mais clara, do estudo da tradição local, o que ajuda a incorporar de forma definitiva estes edifícios à malha urbana da cidade. Quando Le Corbusier projeta a Unité de Marseille não pensou realizar um ícone; entretanto, logo se converte em um. Projetos como a Ópera de Sidney ou o Guggenheim de Bilbao transformam a idéia de lugar e se transformam em símbolos, muitas vezes de um país ou até mesmo um continente.

Em contrapartida existem outros projetos que se entrelaçam com a cultura do lugar, que geram paisagens, que constroem cidades e que também podem chegar a se converter em ícones.

As dobras e curvas em alguns de seus projetos se explicam pela escala e programa?

Não, isso não tem relação com a escala, sempre iniciamos nossos projetos com a ausência de escala, a escala vem em seguida com as questões construtivas. O fato de empregar uma geometria euclidiana, de cubos e caixas, muito próxima à tradição do movimento moderno ou geometrias com certa complexidade, é uma conseqüência da complexidade interna dos projetos. Existem determinados lugares, determinados programas, locais que tem uma herança cultural muito grande como o Passeig de Gracia, por exemplo. Nestes casos, quando o instrumental disciplinar não é suficiente para operar com as geometrias tradicionais, ativamos então geometrias com maior complexidade para extrair as condições para realizar o projeto.

Dobras e curvas têm como função criar uma paisagem artificial?

Eu diria que sim. O que nós tratamos de fazer é, a partir de um mecanismo ultra-artificial, construir um espaço natural, uma natureza artificial. Seriam exemplos o passeio marítimo de Benidorm e o Jardim Botânico de Barcelona. Neste último, temos uma idéia abstrata: a colocação de uma malha sobre o território regular que se deforma e tem a capacidade de se adaptar às condições do sítio, da economia, etc.

Ao mesmo tempo, temos atuantes elementos externos à arquitetura, como as plantas que começaram a crescer se converteram em uma estrutura cientifica. No final, o que era estrutura se converteu em ornamento, e o que era ornamento – as plantas – se converteu na verdadeira estrutura do jardim. Produziu-se uma inversão, ratificando a coalizão transversal e interdisciplinar. A estrutura inicial vai desaparecendo – ao final desaparecerá praticamente toda – e permanecerá apenas como uma ordem intrínseca na construção da paisagem.

Como você entende o tema da sustentabilidade?

Nosso interesse é por uma sustentabilidade natural. Eu sempre digo aos alunos que a boa arquitetura sempre é sustentável, como nos mostra a arquitetura vernácula, a história, depois Coderch e mestres mais próximos. Neste sentido em nossa arquitetura – sobretudo quando trabalhamos muito em contato com a paisagem –, sempre nos preocupamos com iluminação natural e ventilação cruzada, ou seja, todas aquelas ações passivas que fazem a arquitetura sustentável.

Nas 3 quadras no Eixample você buscou discutir as deturpações ocorridas no Plano Cerdà?

Neste experimento, que fiz com Josep Maria Montaner entre 1988 e 1992, construímos uma paisagem interior que enriqueceu a exterior através da transparência e da porosidade. Tentamos construir uma nova cidade, quase um modelo de ocupação, um manifesto. Acredito que tivemos a possibilidade de construir um modelo até agora eficaz.

sobre entrevistado

Carlos Ferrater (Barcelona, 1944) é arquiteto e doutor pela Escola Técnica Superior de Barcelona, UPC, onde é catedrático no Departamento de Projetos e titular da Cátedra Blanca. Desde 1971 mantém em Barcelona um dos mais importantes escritórios de arquitetura da Espanha, com projetos construídos dentro e fora do país. Entrevista realizada pelos arquitetos Marcio Cotrim e Liliane Correa Lemos, em Barcelona, no dia 12 de abril de 2008

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014.03 Entrevista
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