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architectourism ISSN 1982-9930


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NUNES, Geraldo. Olhando a cidade do céu. Arquiteturismo, São Paulo, ano 03, n. 027.03, Vitruvius, maio 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/03.027/1520>.


Quando você começou a sobrevoar a cidade?

Comecei a sobrevoar São Paulo em outubro de 1989. Portanto, vou fazer 20 anos de sobrevôos. Claro que muita coisa mudou. A cidade se modifica com uma rapidez incrível. Quando tiro férias e passo um mês fora, percebo muitas mudanças. Alguns prédios surgem numa velocidade tão espantosa que nem percebo, um exemplo é aquele construído no antigo estacionamento do shopping Eldorado na marginal do rio Pinheiros. Tirei férias e só havia andaimes, quando voltei já estava quase pronto. Já as obras viárias, essas demoram mais. É óbvio que a cidade também cresceu nesse aspecto ao longo de 20 anos e foi na gestão do Maluf que uma porção de coisas foi desengavetada. Não se sabe a que custo, mas muitas obras viárias foram feitas. Porém numa cidade que já tem mais de 6 milhões de automóveis circulando onde a cada dia, cerca de 500 novos carros são licenciados, não sei onde iremos chegar. Fica difícil para qualquer governante melhorar alguma coisa. Quando comecei a voar eram “apenas” 2 milhões e meio de veículos.

São Paulo, vista do alto, é linda?

Quero que avaliem minha resposta dentro de uma visão urbana. O Rio de Janeiro é uma cidade linda vista sob qualquer ângulo e São Paulo é uma cidade que também tem sua beleza vista do alto. Para explicar isso preciso me reportar a meu primeiro vôo de helicóptero feito em outubro de 1989. Ao decolar assustei-me, primeiro, com o tamanho da cidade.

Todos sabem que São Paulo é uma cidade grande, mas vista do alto ela é imensa, porque seus limites ultrapassam a linha do horizonte do ponto de vista de quem a sobrevoa numa altura entre 250 e 300 metros. Também me chamou a atenção a quantidade de árvores. A cidade de São Paulo é mais arborizada do que se imagina, a Cidade Universitária chama a atenção de qualquer um porque possui aquela raia olímpica que contrasta com o rio Pinheiros poluído.

O Ibirapuera chama a atenção porque é muito bem ornamentado, o Parque da Aclimação entre os prédios é lindíssimo, tudo isso sem contar a imensidão de edifícios. Nem o Secovi tem o número de quantos prédios já foram construídos em São Paulo. Mais tarde em outros sobrevôos, especialmente no entardecer, constatei que do alto Higienópolis também é um bairro bonito pela luminosidade que vem das janelas dos edifícios com suas luzes acesas.

Durante o dia, o Morumbi chama a atenção pela beleza das casas e do verde. Até o Brás é bonito. Pela manhã chegam caminhões lotados de frutas no Mercadão e vão descarregando as laranjas, as bananas, os cocos. Como disse no início, minha visão é urbana e por isso sou suspeito quando falo de São Paulo, acho que vejo beleza até naquilo que outros consideram rude. Entretanto, vale a ressalva que do alto quase não se percebe a sujeira e as mazelas, nem as calçadas arrebentadas e a mendicância cada vez mais aviltante do centro.

Por quê não respeitamos nosso patrimônio?

Diziam: “o brasileiro não liga para política”, mas percebo política em muitas coisas há muito tempo. A maior parte de todo patrimônio arquitetônico no mundo foi construído pelas elites Ao se preservar o que foi edificado no passado, preserva-se também a memória dessas elites. Assim vemos em São Paulo imóveis, ainda que tombados pelo patrimônio histórico em péssimo estado. Foi assim no tempo dos militares que buscavam apagar lembranças do passado que antecedeu seu regime e assim também é hoje com os partidos que estão no poder. Tal posicionamento de décadas não fez despertar no povo brasileiro o interesse preservacionista. Acho também que há muitas pessoas desinformadas que acham necessário preservar tudo, ou seja, nossa política de preservação do patrimônio histórico possui erros de difícil solução. Quem tem um imóvel tombado deveria receber um presente, mas na verdade descobre um problema porque nunca mais conseguirá alugar seu imóvel, tamanhas as exigências a serem cumpridas. Cito como exemplos imóveis em bairros tombados como os da avenida Brasil e Pacaembu, em São Paulo, que estão fechados e entregues aos pichadores.

Na escala nacional, o atual governo criou o projeto Monumenta, do Ministério da Cultura, que financia a reforma de imóveis tombados pelo Iphan que pertençam a pessoas físicas. Graças a ele foi possível recuperar parte do Centro Histórico de Mariana (MG) e também móveis e imóveis do Pelourinho, em Salvador. Mas o Monumenta não financia a recuperação das igrejas históricas desses lugares, porque são imóveis pertencentes às dioceses. Percebem como há política em tudo? Assim a histórica igreja de São Francisco de Assis, em Mariana, corre o risco de desabar, assim como outras. Como já disse, no meio do tiroteio a população fica perdida. Eu certa vez recebi a carta de um ouvinte que dizia assim. “Quando mudei para meu apartamento na Aclimação dava para ver o parque da janela, mas como demoliram as casas vizinhas e construíram prédios, já não vejo mais o parque, a natureza está morrendo”. Ele se esquece que também o prédio dele foi construído no lugar de uma antiga casa. Sei que é difícil, mas precisaríamos definir melhor os conceitos de desenvolvimento e preservação.

Nossa arquitetura estimula o turismo ou prevalece a natureza?

Acho que prevalece a natureza embora o paisagismo seja algo que é muito desenvolvido no Brasil, no meu entender. A imagem do Cristo Redentor no alto do Corcovado é um exemplo da participação do homem que deixou mais bela a natureza já existente, assim como o aterro do Flamengo implantado por Burle Marx. Por sinal neste ano estão sendo lembrados os 100 anos de seu nascimento e acho que, como tantas outras coisas, Burle Marx é um patrimônio nacional pouco divulgado.

Quais são os lugares imperdíveis de São Paulo?

Olha, alguns lugares já citei anteriormente, mas tem umas coisas em São Paulo que não existem em outros lugares do Brasil. A parte interna do Trianon é muito legal, com aquelas árvores nativas da mata atlântica misturada com outras.

Aquela passarela sobre a Alameda Santos é maravilhosa. Depois é só atravessar a avenida Paulista e você está diante do maior vão livre do mundo. O problema é que nesses lugares nem sempre há quem possa explicar às pessoas a importância que esses locais têm. A freqüência do Trianon é sempre preocupante e todos sabem a quantas anda a situação financeira do Masp que permite que se faça qualquer tipo de feirinha lá embaixo e a prefeitura não fala nada.

Há também coisas óbvias que as pessoas se esquecem: Há poucos autódromos no mundo onde se assiste quase todos os lances de uma corrida como em Interlagos. O projeto foi maravilhoso. Da arquibancada você tem uma ampla visão de quase toda a pista como em poucos lugares no mundo. Assistir uma corrida em Interlagos deveria estar no roteiro das agências de turismo, pois é algo que deveria ser considerado imperdível.

E os mais inusitados?

Aqui melhoramos muito o conceito do que é visitar um museu. Existe no brasileiro o conceito de que ter memória é ser necessariamente saudosista ou nostálgico, o que não é verdade. O importante é ser memorialista e nesse aspecto, visitei o Museu do Futebol e achei tudo muito moderno, sem aquela cara de naftalina que outros museus possuem. Também há o museu da Língua Portuguesa e o Espaço Catavento, no Parque Dom Pedro. Todos foram financiados pela iniciativa privada. Precisaríamos de mais lugares e museus assim que permaneçam em constante mudança. Gosto também de subir de carro a avenida Nova Cantareira e passar por aqueles restaurantes em meio à mata. Nem é pela comida, mas tem um restaurante lá chamado O Velhão que fica num lugar muito bonito.

No seu programa, como o turismo entra na pauta?

Meu programa radiofônico Brasil em todos os tempos é uma derivação do antigo São Paulo de todos os tempos, que apresentávamos na Rádio Eldorado. Como a emissora expandiu seus domínios e está formando uma rede de outras emissoras que retransmitem nossa programação, decidimos aumentar a amplitude do programa falando em nível nacional das coisas interessantes que existem no Brasil.

Nesse aspecto é claro que o turismo ganhou maior dimensão com este programa. Procuramos sempre falar de lugares interessantes e que podem ser visitados, mas que nem todos conhecem, como, por exemplo, a região do circuito das frutas do interior paulista que conta com a participação de dez cidades que podem ser percorridas de carro em um final de semana ou ainda das cidades gaúchas e catarinenses percorridas por um Grand Canyon que poucos conhecem.

O que falta para o público conhecer nossas cidades?

Falta uma porção de coisas. O Brasil tem dimensões continentais e as estradas federais, por exemplo, deveriam estar em melhores condições. Não temos também uma boa rede de hotéis. Os organizadores da Copa do Mundo de 2014 e o pessoal do Sinaenco já alertaram e o governo está contando com investimentos da iniciativa privada. Espero que tudo fique pronto a tempo porque depois do evento toda a infra-estrutura montada precisará ser utilizada e nesse aspecto o turismo no Brasil irá se desenvolver.

Qual foi sua viagem inesquecível?

Conheço a América do Norte e a Europa, aonde aprendi muitas coisas que apliquei em meu trabalho para aprimorá-lo. Foi na minha primeira viagem para os EUA em 1987 que comecei a rever conceitos dos tempos de estudante. Eu criticava os norte-americanos pelas práticas capitalistas. Foi então que descobri que na verdade nunca se praticou capitalismo aqui, pois o que existia, e em certas práticas ainda existe, é o capitalismo selvagem.

sobre o entrevistado

Geraldo Nunes, paulistano, é jornalista, escritor e radialista, com quatro livros publicados e um quinto em preparação. É especialista em assuntos ligados ao trânsito, transportes e cidades, além de turismo e meio ambiente. Repórter Aéreo com mais horas de vôo em todo o mundo, cerca de dez mil horas, apresenta os programas Eldorado Cidades e Brasil em Todos os Tempos na Rádio Eldorado

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