O livro Hotel: parâmetros e concepção foi redigido por três arquitetos formados pela faculdade da USP, sócios da NPW Arquitetos, especializada na área de hotelaria. O livro em questão é um dos poucos existentes no Brasil voltado para este setor. Por ser bem objetivo, é recomendado tanto para estudantes quanto para especialistas. O leitor depara-se, ao iniciar a leitura, com um breve histórico sobre o surgimento e a evolução do setor através de dissertação e tabelas, abordando principalmente o Brasil ao discorrer sobre a chegada da Corte Portuguesa ao país – quando os hotéis começam a ser construídos de fato – até a chegada das grandes redes hoteleiras internacionais.
Os autores detalham no decorrer do texto as preocupações necessárias para a construção de um hotel: localização, dimensão e custo do terreno; tipos de clientes que deseja atender (empresários, turistas, comerciantes) entre outras variáveis. Mencionando a devida importância de cada item e suas variações quanto ao tipo de hotel, usando-se de dados complementares à leitura que auxiliam a compreensão, como, por exemplo, a abordagem da importância do turismo diante do PIB mundial e em como o turismo no Brasil é pouco explorado, mesmo havendo um grande potencial turístico.
Além de explicar cada tipo de hotel e suas subdivisões, elenca os critérios otimizados pela ABIH – Associação Brasileira da Industria de Hotéis – para a sua classificação.
Os autores são sucintos e objetivos ao detalharem o planejamento de um projeto hoteleiro e tudo que deve ser considerado para tal. Deve-se observar primeiramente a viabilidade financeira, o segmento do mercado a que se destina o hotel, o perfil do usuário, a localização, o tipo de hotel, entre outros. Segundo os autores, interdisciplinaridade é o ponto chave do sucesso do projeto, envolvendo especialistas nas áreas de hotelaria, estudos de mercado e arquitetos competentes.
De acordo com os autores as áreas básicas de um hotel podem ser divididas como área de hospedagem, áreas públicas, administrativas, serviço, alimentos, equipamentos e recreativas. Interessante o modo como faz o leitor refletir que este ramo de projetos vai muito além das suítes. Cada uma dessas áreas contribui de maneira significativa para o desempenho do empreendimento como, por exemplo, o lobby.
O lobby é provavelmente a área mais importante do hotel, uma vez que é onde se dá todo o acesso de hóspedes e é o primeiro e último espaço do hotel visto pelo cliente. Portanto a estética deste ambiente é de suma importância para atrair os hóspedes ao empreendimento.
Na área de hospedagem, é interessante ressaltar a importância dos andares-tipo, que se distribuem em pavimentos idênticos ou muito semelhantes e são como um modelo com configurações parecidas, e apartamentos-tipo. Obviamente e segundo os autores, o dimensionamento é característica fundamental para a concepção desta parte do projeto, que pode representar até 85 por cento da área total construída do hotel. Geralmente a área de hospedagem, pela importância, é uma das primeiras coisas a serem definidas no projeto, já que o conjunto de andares-tipo define a volumetria básica do edifício.
Explica-se bem no texto a diferença entre suítes e apartamentos-tipo: as suítes têm maior número de dependências, são apartamentos maiores que resultam da composição de um ou mais módulos.
O apartamento-tipo deve ser atentamente estudado a fim de estar dentro de parâmetros de economia, segmentos de mercado e adequado ao tipo de hotel. O projeto de um apartamento-tipo deve ser idêntico aos outros.
Interessante como os autores colocam os parâmetros para concepção de um projeto para pessoas portadoras de deficiências. Entre eles, a necessidade do piso de ser uniforme e antiderrapante, as medidas mínimas de acessibilidade para circulação e giro de uma cadeira de rodas dentro do apartamento. Os autores trazem também detalhes quanto ao mobiliário de um apartamento acessível, e ao banheiro.
É importante que um arquiteto perceba como os acessos de um empreendimento hoteleiro devem ser projetados visando resolver dificuldades acarretadas no trânsito devido ao embarque e desembarque de hóspedes, e dimensionando corretamente o espaço para manobra de veículos, estacionamento de ônibus e acesso às garagens.
O livro detalha a rotina de um funcionário e onde ele coloca suas roupas, onde ficam os armários individuais, e soluções mais fáceis para projetar as instalações para empregados.
Os autores abordam a questão dos sistemas e das instalações, que é um dos pontos mais importantes a ser trabalhado no projeto. Enfatiza nesta parte que devem funcionar sempre, não podendo parar nem para reforma. Enumera, portanto, diversos itens que tem de ser seguidos com o propósito de evitar que as manutenções futuras não causem interferência nos demais sistemas e na própria operação do hotel.
Os autores lembram ainda que todos os componentes tem importância no hotel e que devem ser projetados não só com vistas à qualidade dos serviços, à economia na implantação e aos custos operacionais reduzidos, mas também aos baixos níveis de ruído e vibração, algo que é bastante negligenciado por diversos hotéis e motivo freqüente de reclamações de hóspedes.
Durante o detalhamento de cada sistema e instalação, os autores atentam o leitor a certos erros habituais observados nos hotéis como, por exemplo, a instalação de quadros de energia elétrica em locais acessíveis aos hóspedes.
Nas páginas em que detalha, ele ainda ressalta qual o público-alvo que o equipamento atinge – mesmo que raramente faz a devida menção disto – e onde deve ser instalado. Às vezes, para um melhor entendimento do leitor, cita o que o sistema proporciona ao hóspede.
Os autores comentam que um programa de hotel deve começar pela seguinte questão: Qual será o público-alvo? – a categoria e o tipo de hotel a ser construído. Após esta decisão, o número de apartamentos será, segundo os autores, o segundo item a ser definido. Porém, ele explica que a sua definição depende do mercado hoteleiro local, das conclusões do estudo de viabilidade, da área do terreno e também dos recursos financeiros.
Após os dois itens, as decisões seguintes partem de um programa básico, que deve conter os serviços, por exemplo, que serão necessários para o hotel em sua dada localização. Neste momento do projeto, os autores falam da importância de saber detalhadamente o local de implantação do hotel, bem como o seu entorno, porque certamente isso induzirá nas medidas tomadas para a escolha do número e do tipo de restaurantes e bares, por exemplo, que concorrerão com outros similares da região.
Os autores relembram que cada categoria de hotel possui um dimensionamento. Ele também fornece tabelas que comprovam ser possível estipular a área total construída a partir do número de apartamentos do hotel, por exemplo. Discorre ao longo do texto acerca do dimensionamento do andar-tipo de hospedagem – o que inclui a configuração do andar –, lembrando da necessidade de prever um determinado número de apartamentos destinados a portadores de deficiências físicas, das áreas públicas e sociais. Esta parte do livro é bem apresentada, contendo informações cruciais que seguem as normas da NBR.
Os autores são sucintos ao dizer que o desenvolvimento do projeto de um hotel deve sempre passar por uma avaliação de custos, com a presença de um quadro fundamental para mostrar o custo aproximado do m² do hotel no Brasil – divido por região. A obra que é ao mesmo tempo didática e científica, buscando parâmetros da concepção dos projetos e exemplificando com ilustrações e quadros de hotéis nacionais e internacionais. O livro atinge os objetivos propostos de maneira simples e clara.
Livro resenhado
ANDRADE, Nelson; BRITO, Paulo Lúcio de; JORGE, Wilson Edson. Hotel: planejamento e projeto. São Paulo, Senac, 2000. ISBN: 85-7359-109-9
sore o autor
Priscilla Silva Loureiro é formada em arquitetura e urbanismo e mestre em engenharia ambiental pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Vila Velha, leciona as disciplinas de História da arquitetura, urbanismo e paisagismo e Metodologia de pesquisa aplicada à arquitetura. Evelyn Machado, Raími Leone, Vitor Fehelberg são alunos do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Vila Velha – ES