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architectourism ISSN 1982-9930


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Inhotim, jardim da arte, é um espaço cultural e natural, em região próxima a Brumadinho, interior de Minas Gerais. No seu jardim ou abrigados em seus diversos pavilhões, se encontram obras de importantes artistas contemporâneos brasileiros e estrangeiros


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TEIXEIRA, Denise Mendonça. Inhotim, jardim da arte. Arquiteturismo, São Paulo, ano 03, n. 027.04, Vitruvius, maio 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/03.027/1521>.


Viaja-se pelo mundo buscando lugares que nos surpreendam, tirem o fôlego e eis que atravessamos a Fernão Dias, chegamos em Belo Horizonte. Dormimos e, dia seguinte, zarpamos para Inhotim, hora e meia de BH. Percorremos uma rodovia de pista dupla, entramos numa estrada vicinal de boa qualidade. Margeamos o rio Paraopeba, cheio, barrento, mostrando as raízes arrancadas pela força das águas de fim de verão. Atravessamos Brumadinho, cidadezinha modesta, sem atrativos aparentes: chegamos em Inhotim (palavra que se origina da corruptela de “senhor” (Nhô ou Inhô), acrescida de Tim): 350 mil m² de jardins com 1.600 diferentes espécies ornamentais nativas e exóticas; e 30 mil m² de lâmina d’água divididos em três lagos.

Absolutamente inédito. Começa pelo estacionamento cortado no morro, forrado com pavimentação de bloco de cimento e grama. Saltamos do ônibus e entramos por caminho sinuoso, coberto com lascas de pedras grandes, rejuntadas com filetes do mesmo material, formando desenhos, combinação entre o geométrico e o orgânico: belo revestimento.

Andamos alguns metros e, de repente, descortina-se paisagem exuberante, carregada de vegetação harmoniosamente organizada, com infinitos tons de verde, revelando a diversidade da flora brasileira. Paisagismo originalmente de Burle Marx num momento sublime. Contudo, algo incomoda nesse jardim milimetricamente desenhado, sugerindo que uma pequena parte foi desenhada pelo paisagista e repetiu-se o modelo para uma área mais ampla.

Avistamos o primeiro edifício: a recepção, emoldurada por concreto; no centro, panos de vidros, deixando ao fundo transparecer um lindo lago contornado com diferentes espécies de palmeiras. Troncos imensos oriundos de matas queimadas se transformam em móveis rústicos espalhados pelos espaços abertos.

Iniciamos nossa visita guiada por Agnaldo Farias, curador do Instituto Tomie Ohtake, instituição que generosamente nos proporcionou a viagem. Agnaldo comenta cada espaço e obra com precisão. São 10 pavilhões especialmente construídos para abrigar obras de arte permanentes e temporárias, e inúmeras esculturas ao ar livre.

Percorremos um pequeno trecho margeando o primeiro lago, salteado de patos. Contornando toda a margem, verde, verde dos mais inéditos desenhos e tons. Não se sabe para onde olhar, tamanha diversidade. Chegamos ao primeiro pavilhão, a Galeria Praça: pé direito gigante, inteiramente aberto de dois lados. Nas duas paredes estruturais, uma pintura de Iran Espírito Santo, em tons de cinza nos calava, tamanha sutileza . Nos dois prolongamentos do edifício, grandes espaços fechados guardavam obras de artistas contemporâneos. Uma instalação (Forty part motet de 2001) de Janet Cardiff com 40 caixas de som e duração de 14’7”, cantada pelo coro da catedral Salisbury, reproduzia em cada caixa a voz de um participante.

Continuamos a caminhada e chegamos na Galeria Adriana Varejão, construída exclusivamente para receber obras permanentes da artista. Projeto pousado em lâminas de água transparente, tingida de tom esverdeado, deixando no mesmo nível caminho e água. Lá dentro, parede azulejada tem suas terminações cobertas de vísceras simuladas, iluminadas por aberturas vindas do teto (Linda do Rosário, 2004). Impactante. Ao lado ‘O colecionador´, de 2008, lembra uma terma romana.

No pavimento superior, pinturas azuis sobre parede branca, remetem a azulejaria portuguesa em tamanho gigante (Celacanto provoca maremoto, 2008).

Prosseguimos a caminhada, chegamos a Galeria Cildo Meireles. Na primeira sala somos surpreendidos pela Glove trotter de 1991: uma malha metálica recobre toda a superfície de um grande quadrado, salientando de quando em vez, esferas de tamanhos irregulares, cores e materiais distintos. Em seguida, entramos literalmente no “Através” (1983-89), com suas divisórias dos mais diferentes materiais, criando sensações inusitadas.

Entre uma galeria e outra, somos confrontados com árvores seculares, chega-se ao espaço de refeição. Hora do almoço e nos espera um bufê estupendo, dos mais variados pratos, ornados graciosamente, deixando todos eufóricos. O restaurante tem suas três largas paredes rasgadas, permitindo uma ampla visão para o exterior, onde obras de Tunga (Deleite, 1999) e Paul McCarthy (Boxhead, 2001) estão pousadas sobre o gramado. A parte superior do restaurante abriga um grande salão com mais uma obra de Tunga (Lézard, 1989).

Prosseguindo a visita, vamos nos deparando com esculturas expostas ao ar livre: esferas em mármore (Waltercio Caldas, Esculturas para todos os materiais não transparentes, 1985) e barco invertido (Simon Starling, Móbile architecture n.1) estão integrados à paisagem.

A próxima é a galeria da Mata. Aí estão expostas obras que nos deslocam no espaço. A curadoria chamou de “Pontos de Vista”. Trata de uma exposição temporária. Logo na chegada, uma corda no chão simula uma cobra no gramado impecável. É Tunga mimetizado no verde. Dentro da galeria, um telescópio de Olafur Eliasson (Viewing machine, 2001), desdobra os espaços; imagens de globos, dentro de um visor, vão sendo trocadas permitindo 300 possibilidades diferente (Three kinds in transition, 2008, Haegue Yang). Na sala seguinte, linhas esticadas por pequenos pregos, iluminados, formam desenhos encantadores (Jorge Macchi, Fuegos de artifício, 2002). Agora, é a experiência dentro da obra simulando chuva intensa, é preciso estar atento para perceber a proposta, se não, pensamos que chove lá fora (Dominique Gonzalez – Foerster, Promenade, 2007)

Entramos na sala das formas, de Iran do Espírito Santo, onde na diagonal, um copo de cristal esculpido, de aproximadamente 15 cm nos atrai para perto (Copo d’água, cristal, 2006) iludindo quanto a sua materialidade. Não se toca por pouco, tamanho seus efeitos e veracidade. Nos dois outros cantos, pedras estão esculpidas e um cubo de vidro está rebatido na suas seis faces. Na última sala, imagem de um tenista flagrado no momento do saque (Anri Sala, Agassi, 2001)), fecha o percurso da galeria. Uma vez fora, escultura (Gigante dobrada, 2001) de Amílcar de Castro provoca uma aproximação para verificar como aquelas duas placas grosseiras de aço se mantém em equilíbrio. Maravilhosa.

Mais um lago à frente, numa das margens um edifício moderno pousado sobre suas águas, a Galeria True Rouge abriga mais uma instalação de Tunga em diferentes tons de vermelho (True rouge, 1997). Na galeria Doris Salcedo, uma grande caixa de paredes altas abriga inquietante instalação. No seu interior, paredes revestidas por telas de aço, salientadas em alguns pontos, remetem a enclausuramento, prisão (Neither, 2004). Certamente uma obra política.

Mais uma caminhada de baixo da chuva intensa. Uma escultura de Cildo Meireles (Inmensa, 1982-2002) em aço, com diferentes apoios, nos abrigou da tempestade. No pavilhão seguinte, filme de Mathew Burney, hiper realista, causou a todos certo desconforto. No pavilhão em frente transpomos uma catraca e deparamos com uma engrenagem de rodas dentadas, tira de couro, macaco mecânico, toras de madeira e placas de aço, obra de Chris Burden (Samson, 1985).O próximo encontro ao ar livre e beirando o maior lago, a colorida escultura de Helio Oiticica constrói cheios e vazios, com paredes grossas e esguias, remetem à infância, tamanha alegria que causa.

No maior lago, do lado oposto a escultura de Hélio Oiticica, uma pequena construção triangular com paredes de vidro planas e arredondadas, captura o olhar através da transparência e leveza sugerida pela delicada estrutura de Dan Graham (Bisected triangle Interior curve, 2002).

De um dos lados desse mesmo lago três fuscas coloridos com aparelhagem de som, surpreendem pela possibilidade de estarem ali estacionados. É o Troca-troca (2002) de Jarbas Lopes.

Na Galeria Fonte a exposição “Lugares”, inaugurada em 2008, abriga um acervo diversificado de Inhotim. São mostras que duram em média dois anos e agrupam obras que podem ter interesses e afinidades em comum, possíveis diálogos.

Na primeira sala, Marepe inunda o espaço com seus objetos domésticos, dentro de um caminhão em proporções quase infantis, feitos em madeira (A mudança, 2005). Segue um vídeo de Anri Sala (Air Cushioned Ride, 2006), mapas de Jorge Macchi (La ciudad luz, 2007), um filme super-8 de Rivane Neuenschwander & Cão Guimarães (World/World, 2001) registra o trabalho intenso de formigas.

Enfim, tem muito mais o que contar. É preciso visitar Inhotim, lugar do inusitado, como tal, lugar de arte contemporânea.

sobre o autor

Denise Mendonça Teixeira, arquiteta, mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Mackenzie com a dissertação “Plano Diretor do Município de Ipiaú – BA: limitações e possibilidades”

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