A Deriva
A palavra Deriva está relacionada à ideia de um desvio de caminho. Quando dizemos que um barco ficou à deriva é que certamente ele foi levado pelas águas sem rumo ou objetivo próprio. Derivar segundo o dicionário Aurélio é “desviar do curso ou do caminho” (1).
Para a Internacional Situacionista, a Deriva é uma técnica de passagem rápida por várias ambiências urbanas. O conceito da Deriva, segundo Guy-Ernest Debord (1931–1994), está ligado de forma indissolúvel ao reconhecimento de natureza pisicogeográfica e à afirmação de um comportamento lúdico –construtivo, fazendo da experiência algo totalmente diferente e oposto à noção de passeio ou de viagem.
“As grandes cidades são favoráveis à distração que chamamos de deriva. A deriva é uma técnica do andar sem rumo. Ela se mistura à influência do cenário. Todas as casas são belas. A arquitetura deve se tornar apaixonante. Nós não saberíamos considerar tipos de construção menores. O novo urbanismo é inseparável das transformações econômicas e sociais felizmente inevitáveis. É possível se pensar que as reivindicações revolucionárias de uma época correspondem à ideia que essa época tem da felicidade. A valorização dos lazeres não é uma brincadeira. Nós insistimos que é preciso se inventar novos jogos” (2).
A deriva, portanto, como técnica de reconhecimento da cidade foi criada pela Internacional Situacionista como forma de promover a investigação e a pesquisa sobre a cidade. Para a IS a Deriva poderia ser realizada por uma ou várias pessoas que, por um período mais ou menos longo, pudessem rejeitar a rotina de deslocamento do cotidiano na cidade e“procurar um outro caminho para entregar –se às solicitações do terreno e das pessoas que nele venham a encontrar”, como diz Jacques (3).
A deriva, segundo Debord (4), é a oportunidade de responder à frase de Marx – “Os homens não veem nada em torno de si que não seja o próprio rosto, tudo lhes fala deles mesmos. Até a paisagem é alvo vivo”. Esta resposta se dá pelo caráter urbano da Deriva, no contato com centros de possibilidade e significações que são as cidades transformadas pela indústria.
A Deriva Fotográfica do Bem
Parece ser contraditória a proposta de uma Deriva que utilize a fotografia como meio deregistro das imagens, mas a contradição da memória imagética pode facilitar na descrição da experiência de derivar pela própria cidade. Assim, a Deriva fotográfica parece ser adequada ao reconhecimento urbano e arquitetônico de qualquer cidade.
A Deriva Fotográfica do Bem é uma expedição que reúne um grupo de pessoas que tem, como interesse comum, a cidade, a fotografia e a memória e, como objetivo, promover o encontro com o centro da cidade utilizando o registro imagético como forma de expressão da memória.
A atividade nasceu em 2008, em uma disciplina optativa do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na qual alunos, divididos em grupos, andavam pelas ruas do centro da cidade, conhecendo e reconhecendo seu traçado histórico. O objetivo da Deriva era propiciar uma visita ao centro da cidade de Goiânia e o registro através de fotografias e vídeos da cidade, da arquitetura e das pessoas que habitam, trabalham e passam pelas ruas visitadas.
Mas, em 2010, a disciplina acadêmica deixou de ser oferecida e, dando continuidade ao projeto, um grupo de 15 pessoas entre estudantes e professores de arquitetura da UEG, resolveram unir a fotografia à ação beneficente. Assim, cada pessoa levou gêneros alimentícios e roupas usadas, para serem doados a uma instituição que assiste moradores de ruas e dependentes químicos e, desta forma, nasceu a Deriva Fotográfica do Bem.
Em 2011, a Deriva, ainda realizada de maneira informal, tendo como premissa de divulgação a internet e as redes sociais, contou com a participação de 140 inscritos. Não foi cobrado nenhum valor de inscrição: a única contrapartida era a doação de dois litros de leite longa –vida. Na ocasião, foram arrecadados 185 litros e na edição de 2012 alcançou a surpreendente marca de 203 inscritos e arrecadou 225 litros de leite.
A Deriva Fotográfica do Bem de 2013
Em 2013, a Deriva Fotográfica do Bem apresentou –se bem mais organizada, com a participação de uma equipe multidisciplinar composta por estudantes de arquitetura, psicologia, além de arquitetos, professores e profissionais de direito, comunicação social e informática.
A primeira mudança proposta pela equipe foi a criação de um tema que pudesse chamar a atenção para o centro da cidade e a percepção de toda a ambiência urbana. Assim, o tema escolhido foi “O Centro que eu nunca vi”. A escolha foi feita visando o encontro das pessoas com o centro da cidade e no centro de Goiânia, permitindo, além de uma experiência urbana sensorial, a percepção de todos os elementos que compõem a região e que, quotidianamente, são despercebidos pela maioria do que passam pelo lugar.
A criação de uma identidade conceitual e visual para a Deriva foi amplamente discutida pela equipe organizadora, que levou à definição de um conceito e também de uma identidade visual que conseguisse comunicar todo o conceito e ideia do evento. O resultado foi o seguinte:
Assim, a marca da Deriva Fotográfica do Bem apresenta 03 pictogramas semelhantes ao que são encontrados nas máquinas fotográficas, uma tipografia que anuncia o evento e outra que explicita o tema do ano de 2013: “O Centro que eu nunca vi”. Os pictogramas referem –se à cidade – através de uma síntese do centro de Goiânia, ao encontro – características do evento – e à fotografia.
Durante a divulgação do evento, a equipe organizadora procurou destacar que a Deriva Fotográfica do Bem não é um encontro de fotógrafos profissionais, mas sim um encontro de pessoas que têm como interesse comum a cidade, a memória e a fotografia. Foi estimulado, durante o evento, a participação de pessoas com os mais variados equipamentos fotográficos, dos smartfones e tablets, passando pelas câmeras compactas e também os equipamentos profissionais dos clubes e escolas de fotografia da cidade.
Outra mudança em relação às edições anteriores foi a proposta de dois outros momentos da Deriva. Um evento que antecede a caminhada e outro de encerramento no dia da Deriva. Por isso, no dia 16 de agosto, no Centro de Cultura da UFG houve um encontro chamado “Bate papo” com o tema: “A arquitetura, a fotografia e a poesia – olhares sobre a cidade”. O encontro contou com a participação da Arquiteta Marcia Metran de Melo, do Fotógrafo Helio de Oliveira e do Poeta Alexandre Marino. O objetivo do bate papo foi provocar o debate sobre arquitetura, fotografia e cultura urbana, além de provocar uma reflexão sobre a cidade, sua memória e a imagem.
No dia 17 de agosto, a Deriva 2013 teve início às 8 horas, com a concentração, na Praça Cívica,de aproximadamente 250 participantes Em seguida, foi realizada a entrega dos litros de leite e feita também a divisão dos grupos, sendo iniciada a Deriva propriamente dita.
A divisão em grupos menores é essencial à prática da deriva. E sobre a quantidade de pessoas envolvidas na atividade Debord afirma:
“Pode –se derivar sozinho, mas tudo indica que a distribuição mais proveitosa será a que consiste em vários grupinhos de duas ou três pessoas com idêntico nível de consciência, cujas observações serão confrontadas e levarão a conclusões objetivas. É desejável que a composição de grupos mude de uma deriva para outra. Acima de quatro ou cinco participantes, o cunho específico da deriva decai rapidamente e, se o grupo chega a dez ou mais, a deriva se fraciona em várias derivas efetuadas simultaneamente. Aliás a prática deste último movimento é de grande interesse, mas as dificuldades que acarreta não permitiram até agora que seja organizada numa dimensão desejável” (5).
O número de participantes em cada grupo da Deriva Fotográfica do Bem está diretamente relacionado ao número de orientadores. Os orientadores são arquitetos, estudantes formandos de arquitetura, professores de arquitetura, historiadores entre outros. A função do orientador é pensar em um provável caminho e também ajudar na identificação de elementos arquitetônicos e urbanos interessantes que podem aparecer durante a caminhada.
Para orientar os grupos, a equipe da Deriva fotográfica do bem criou um mapa do centro de Goiânia contendo, além das informações geográficas, outras que pudessem revelar ao participante as possibilidades de reconhecimento da cidade nas seguintes categorias: arquitetura, monumento, encontro e gastronomia. Mais que orientar, o mapa tem como objetivo revelar um centro da cidade que continua vivo e dinâmico. Outro objetivo é potencializar o reconhecimento geográfico do centro histórico da cidade através de seu desenho e informações textuais.
O mapa proposto ajuda a explorar o campo espacial marcado pelo estabelecimento de bases e a direção dos percursos feitos por cada derivante. Debord (6) afirma que o estudo de mapas pode favorecer à exploração das cidades mesmo que não haja familiaridade com os bairros percorridos. Nesse sentido, vale ressaltar que em todas as edições a Deriva Fotográfica do bem contou com vários participantes de outras cidades, como os estudantes de arquitetura de duas escolas de Anápolis, além de outros participantes que ou se mudaram para Goiânia ou estavam a passeio na cidade.
Ao final do percurso, o grupo se reuniu no saguão de entrada do Teatro Goiânia para o fechamento do evento e entrega dos certificados. Além das formalidades de encerramento, a palavra foi franqueada para os participantes que quisessem – de forma voluntária – apresentar seu depoimento sobre a experiência da Deriva Fotográfica do Bem. Neste momento os depoimentos, carregados de emoção, descreveram experiências ricas e muito interessantes.
O registro fotográfico (7) do centro da cidade, de sua arquitetura, de seus usos, e das pessoas é uma das maneiras de valorizar e preservar a história e a memória da capital do Estado. Os depoimentos são reveladores e deixam claras as conexões com a cidade nas esferas física e emocional. É possível perceber a integração entre a cidade e seus usuários a partir de uma técnica que tem como objetivo o reconhecimento urbano da cidade.
Alguns depoimentos e registros da Deriva Fotográfica de 2013
Para um melhor entendimento sobre a Deriva Fotográfica do Bem e também para reconhecer nas imagens e textos um interessante conteúdo de pesquisa, seguem depoimentos e imagens de alguns dos participantes da Deriva de 2013 (8).
“Foi muito bom (re) conhecer Goiânia pela Deriva Fotográfica. Há 17 anos eu circulo em Goiânia, e nunca havia visto a cidade assim. Creio até que todas as cidades deveriam ser conhecidas dessa forma. Você agendaria sua chegada, e um grupo o esperaria para uma expedição fotográfica. As cidades seriam mais aconchegantes, e talvez menos inóspitas. A Deriva me apresentou um centro mais humano, ainda que maltratado”
Alexandre Marino
“Participar da Deriva fotográfica é uma oportunidade incrível para caminhar e experimentar a cidade. Um convite a vivenciar uma cidade cheia de memórias, histórias e encontros. A Deriva nos proporciona experimentar, apreciar e refletir nossa cidade. Pensar o nosso papel nela e avaliar processos de apropriação e abandono, zelo e descuido, o novo e o 'velho', o material e o imaterial urbano, realidades que a rotina dos dias privam nosso olhar”.
Altillierme Carlo
“A Deriva foi uma ótima oportunidade de redescobrir o centro em que eu nasci e cresci, apesar do convívio de infância com o centro foi ótimo poder observá-lo dentro de um novo aspecto, um aspecto mais urbano, mais ligado também ao cultural. Observar as pessoas que ali trabalham, vivem, observar também com novos olhos a arquitetura, o urbano, os equipamentos e mobiliários, muitos desgastados pelo tempo, já outros, vandalizados foi uma experiência única”.
Amanda Bucar
“Foi gratificante participar da Deriva fotográfica, tinha uma visão totalmente diferente de Goiânia, através da deriva ver um centro bem mais harmonioso. Tenho uma foto que tire que eu gosto muito que foi da máquina antiga de dinheiro foi umas da coisa que eu não sabia que existe Goiânia. Obrigado pela oportunidade”.
Elisangela Moreninha
“O centro é o meu lugar na cidade. É onde me sinto verdadeiramente parte de um todo. Ter participado da deriva reforçou em mim a percepção de ser cada vez mais todo e menos parte. Derivar pelo centro fotografando me permitiu constatar que há flores em todo ser, que há em cada um a vontade de pertencer, que é de cada um o direito de reivindicar um lugar. Do bem que a deriva proporciona, destaco sobretudo uma importante lição: apreendi que centro é sinônimo de comunhão”.
Ellen Ribeiro Veloso
Observar a cidade de dentro para fora, perceber o significado da paisagem urbana através da pulsação de seus habitantes, transitar à deriva pelo centro de Goiânia não me trouxe apenas uma nova percepção sobre a cidade, trouxe também novas conexões com os transeuntes e breve, porém marcante, participação em seus caminhos, e a deles nos meus”.
Emille Reis, Estudante de Arquitetura da Fama – Anápolis
“Experiência única, a Deriva Fotográfica do Bem eterniza a bela Goiânia através da fotografia, e mais que isso, mostra mais sobre mim mesma e minha percepção sobre o que me cerca”.
Fernanda di Sant
“Participar da Deriva foi viver um pouco, talvez vivência ou experiência, não sei até que ponto me movi pelo momento em si e não pelas consequências, no entanto sei que tentei captar parte de uma vida política, uma convivência de indivíduos sozinhos, prédios e natureza, que não vivem em conjunto, apesar de juntos ou próximos. Ao mesmo tempo, pude ver desejos, anseios, a curiosidade e o sol”.
Gustavo Borges Mariano
“A Deriva Fotográfica do Bem me proporcionou ser turista na cidade onde vivo há 40 anos, exercitando um olhar sem pré –conceitos mesmo observando cenários conhecidos. A proposta: deixe –se levar, derive pelas ruas da sua cidade e registre essa experiência éespecial, é redescobrir o local onde vive a partir do olhar curioso que praticamos, pelos mais diversos e pessoais motivos, apenas em momentos turísticos”.
Hugo Braga
Sentado a beira do destino
"A cidade já está de pé
E eu não me levanto
Onde fiquei preso?
Em que sombras estive?
Estou fora das grades
Mas a sociedade me excluiu
Qual a dose cavalar que tomei
Para levar um coice de vocês?”
JB Alencastro
“Eu acho que a Deriva significa um conjunto de pessoas que gostam de fotografar, mas que nunca viram o centro de nossa cidade daquela maneira. Foi a primeira vez que fui no centro de Goiânia, então achei muito legal”.
Júlia Braga, 8 anos.
“mas acho que estas são representações do cotidiano do centro e típicas minhas, que prefiro fotografar mais detalhes a uma paisagem, por exemplo. Espero que gostem. Abraços!”
Julia Wilson
“Os invisíveis sociais”.
Marcos Lafitte
“Flutuar ao sabor de Goiânia. Estar à deriva é essencial em certos momentos da vida. Desviar o rumo de uma manhã de sábado e flutuar ao sabor de Goiânia foi uma rica experiência para meu olhar e para meu pensar. Nasci e cresci na cidade, percorrendo as ruas do Centro, mas com pouca atenção ao além calçada, faixa de pedestres, sinaleiro ou comércio. Na Deriva Fotográfica do Bem pude atentar aos becos, monumentos, cores, cheiros e sons, com calma, sem pressão ou deadline. O centro eu já tinha visto, mas agora fui reapresentada a ele. Prazer, Centro”.
Marina Muniz Mendes, 24 anos, de Goiânia, Jornalista.
“A deriva fotográfica do bem me proporcionou a oportunidade de ver os detalhes dessa linda cidade, que não observamos no dia a dia”.
Marli A. Gomes
“A experiência de ser derivante por um dia em minha cidade me fez querer ser um derivante para a vida toda. Ter nas mãos um objeto capaz de capturar os mais pequenos detalhes de uma vida exposta, é algo indescritível. Além da paixão por fotografia, descobri uma paixão que dormia, pela minha cidade, pelos cantos que mal conhecia, pela diversidade de lugares bonitos. O projeto é, de longe, o mais bonito que vi e vivi. Valeu, derivantes!”
Nathália Machado
“Esse foi meu segundo ano de Deriva e o centro de Goiânia continua fascinante a cada olhar. Sem a correria do dia-a-dia, boas companhias e uma câmera em mãos ,derivar se torna um prazer, um divertimento até. Meu encanto continua sendo o verde misturado a incrível arquitetura da cidade e só tenho a agradecer aos organizadores pela atenção dos dois encontros e por proporcionar aos derivantes uma manhã incrível fazendo o que adoramos e ajudando a quem precisa. Aguardando ansiosa pela próxima edição”.
Samara Pinheiro Ferreira
“A Deriva Fotográfica foi uma experiência interessante porque me levou a refletir sobre a possibilidade de ver o comum, o simples e corriqueiro de outra forma: parar e observar. E marcante por não ter ainda feito uma aventura dessas! Que venham mais Derivas Fotográficas do Bem!”
Silas Lima
“Flanar pelas ruas do centro de Goiânia foi uma descoberta maravilhosa, fiquei completamente a deriva, descobri novos lugares na minha cidade”.
Vanusa Machado de Carvalho, estudante de Arquitetura e Urbanismo pela PUC –GO
“Minha terceira edição seguida deriva fotográfica foi extremamente especial no sentido de um novo olhar sobre minha cidade e fotografar é a luz da minha vida, e derivar para o bem teve um momento único e muito mais iluminado porque a minha filha que mora em Santa Catarina estava participando do encontro o centro que eu nunca vi”.
Zuca Romano
Algumas considerações
Desde o início da Deriva Fotográfica do Bem em 2010 havia sempre a intenção de se refletir sobre a produção de imagens e textos oriundos da experiência da Deriva Fotográfica do Bem em Goiânia. O que levava centenas de pessoas a saírem de suas casas e irem para o centro da cidade caminhar à deriva com um grupo de pessoas que não se conheciam? Mais do que um simples passeio a Deriva Fotográfica do Bem é um convite ao reconhecimento da cidade. Tal reconhecimento é visto através dos depoimentos registrados acima, bem como pelas imagens.
A Deriva Fotográfica do Bem como atividade de extensão atinge seu objetivo ao ter em seu público pessoas das mais variadas formações, idades e origens. Além da atividade de extensão, a deriva cumpre também um papel de ensino quando possibilita um aprendizado aos estudantes de arquitetura – a todos os participantes – que é impossível ser transmitido apenas nas salas de aula. Nesse sentido, segundo Debord,
“As lições da deriva permitem estabelecer os primeiros levantamentos das articulações psicogeográficas de uma cidade moderna além do reconhecimento de unidades de ambiência, de seus componentes fundamentais e de sua localização espacial, percebem –se os principais eixos de passagem, as saídas e defesas. Chega –se à hipótese central de plaques tournantespsicogeográficas. Medem –se as distâncias que separam de fato duas regiões de uma cidade, distancias bem diferentes da visão aproximativa que um mapa pode oferecer” (9).
Além das lições evidentes e concretas que a deriva pode proporcionar, como apontou Debord , a Deriva Fotográfica do Bem pode trazer outras lições que resumidas em pequenos depoimentos e frases apontam para sensível e poético. Outras leituras são possíveis a partir do universo imagético de fotografias escolhidas por quem fez a caminhada e pode selecionar 05 fotografias de uma manhã significativa para cada um e para o coletivo.
A Deriva Fotográfica do Bem aponta para um caminho de continuidade da técnica da deriva criada pela Internacional Situacionista que tinha como objetivo ser uma técnica de passagem rápida por várias ambiências e a afirmação de um comportamento lúdico –construtivo. Os relatos e as imagens apresentadas neste artigo podem nos dar uma rápida impressão das ambiências da cidade de Goiânia e também da construção de um comportamento lúdico em cada participante. O que proporciona, entre outras coisas, novos e outros olhares sobre “o centro que nunca se vê”, bem como acerca das vidas que se fazem e refazem nestas ruas, nestes prédios, nesta cidade.
notas
1
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio o Dicionário da Língua Portuguesa. Curitiba, Positivo, 2010.
2
DEBORD, Guy. Apud JACQUES, Paola Berenstein. Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade/Internacional Situacionista. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003, p. 17.
3
JACQUES, Paola Berenstein. Op.cit., p. 87.
4
DEBORD, Guy. Op. cit.
5
Idem, ibidem, p. 88.
6
Idem, ibidem.
7
Todos os registros feitos durante a expedição podem ser vistos na “Expoderiva”, projeto que dá continuidade ao evento, através de uma exposição virtual realizada no website www.blogdobraulio.com, com o envio das imagens feitas pelos participantes. Atualmente, conta –se com um total de 390 fotos enviadas por 78 participantes.
8
As imagens e depoimentos aqui selecionados foram enviados por email pelos participantes para a organização da Deriva Fotográfica do Bem. E todas – no período de redação deste artigo – ainda não haviam sido publicadas no endereço eletrônico www.blogdobraulio.com.
9
DEBORD, Guy. Op. cit., p. 90.
sobre o autor