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architexts ISSN 1809-6298


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GUERRA, Abilio. Historiografia da arquitetura brasileira (editorial). Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 010.00, Vitruvius, mar. 2001 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.010/905>.

Neste último mês desenvolveu-se na coluna "Espaço do leitor – opinião e debate" da seção arquitetura.crítica uma acalorada discussão sobre a historiografia da arquitetura brasileira. No artigo "Arquitetura moderna no Brasil – enfim, uma nova história", Ana Luiza Nobre – uma das editoras de "a.c" ao lado de Haifa Sabbag – faz uma aguerrida defesa do surgimento de uma nova escola historiográfica nas hostes arquitetônicas brasileiras. "Guiada mais por problemas que por postulados", afirma Ana Luiza Nobre, "esta nova história dá uma contribuição decisiva ao adensamento das questões que se colocam quanto à experiência arquitetônica moderna no Brasil, ampliando consideravelmente o entendimento de uma produção que até há pouco escapava à análise e à crítica". A afirmação não passou desapercebida e acabou gerando uma intensa discussão nas semanas que se seguiram.

O estopim que provocou a celeuma foi, infelizmente, a publicação indevida no "Espaço do leitor" de uma mensagem de Carlos Eduardo Dias Comas, arquiteto e professor da UFRGS, enviada ao editor geral de Vitruvius. A mensagem foi reencaminhada para a autora do artigo e o fato foi comunicado ao arquiteto gaúcho. Como a co-editora de arquitetura.crítica, alguns dias depois, encaminhou uma resposta, acabamos publicando as duas mensagens, lamentavelmente nos esquecendo de consultar Carlos Comas sobre a conveniência ou não de tornar pública sua mensagem original. Ressaltamos, contudo, que não havia, de nossa parte, qualquer interesse em causar sensacionalismo, mesmo porque a mensagem do professor da Federal gaúcha era polida e gentil. Frisamos também nossa política de obtenção de autorização de publicação junto aos autores de mensagens polêmicas. Como convinha no episódio, nos desculpamos com Comas pelo equívoco episódico e não estaríamos mencionando o fato não fossem duas circunstâncias: em primeiro lugar, em sua réplica Comas estende indevidamente nossa participação no caso ao afirmar que "o culpado é o Abílio, que não lhe explicou direito o contexto do email, e ele já sabe disto e já se desculpou"; em segundo lugar, diante dessa afirmação categórica, diversos leitores nos solicitaram um esclarecimento do fato. Ora, tanto Comas e Ana Luiza estavam cientes das "circunstâncias" da mensagem e do seu reenvio – portanto não há desculpas a serem solicitadas aqui – e, se o debate ocorreu, foi por haver uma motivação de ambas as partes. Também não temos nenhuma responsabilidade pelo tom adotado ou pelo conteúdo expresso, que algumas vezes ultrapassaram o tom educado desejável em discussões públicas, ainda mais em uma polêmica cultural e acadêmica.

A mensagem de Comas e a réplica de Nobre – ainda teríamos tréplicas de ambos os lados... – trouxeram para o debate gente do peso de Hugo Segawa, Ruth Verde Zein, Cêça de Guimaraens, Cecília Rodrigues dos Santos e Renato Luiz Sobral Anelli, que defenderam posições de ambos os lados e trouxeram nuances e outros pontos de vista para o campo de batalha intelectual. Agora que baixou a poeira podemos repetir com anuência as palavras de Renato Anelli: "Apesar de um leve desconforto, não esperava a rica polêmica se seguiu. Acho que é a primeira vez que se explicita, por escrito, algumas confluências e outras diferenças no meio dos historiadores de arquitetura". Ou seja, no final das contas, a refrega valeu para alguma coisa!

De nosso lado, não temos muita coisa a acrescentar a não ser uma opinião um tanto distanciada mas carregada de convicção: não existe na área de estudos históricos da arquitetura brasileira nenhuma obra que sequer se aproxime da produzida por luminares de outras áreas intelectuais, das quais citamos alguns nomes apenas para exemplificar: Renato Mezan e Maria Rita Kehl, na psicanálise; Antonio Candido, Alfredo Bosi, Roberto Schwarz e Willi Bolle, na crítica literária; Paulo Arantes, Roberto Romano, Sérgio Paulo Rouanet, Renato Janine Ribeiro, Arthur Giannotti e Marilena Chauí, na filosofia; Maria Sílvia de Carvalho Franco e Nicolau Sevcenko, na história.

Talvez os intelectuais dedicados aos temas da arquitetura que mais se aproximem deste perfil seriam Sophia da Silva Telles e Otília Arantes, intelectuais brilhantes, com formações sólidas e trânsito em outras áreas do saber. Da primeira, contudo, ainda esperamos uma obra maior que confirme o prognóstico de todos nós. Quanto à Otília Arantes, seus textos sobre Lúcio Costa e a formação da arquitetura brasileira constituem, segundo nossa opinião, o que há de mais interessante escrito no Brasil em nossa área do conhecimento. Sua obra, contudo, é limitada pela falta de um ambiente intelectual mais estruturado que permita os desdobramentos que não são possíveis em estado de isolamento.

Este é, no fundo, o verdadeiro e grande problema da crítica e da história da arquitetura no Brasil – uma base mais ampla e sólida aonde possam se sustentar as obras superiores que ainda não foram escritas. O debate acontecido em arquitetura.crítica só terá conseqüências positivas caso ele ultrapasse a personalização excessiva, a busca prematura de láureas e o enrigecimento de opiniões em torno de trincheiras provisórias. Para tanto precisamos adotar uma postura humilde condizente com o atual estágio da crítica e história da arquitetura no Brasil e nos dedicarmos com afinco na formação de novos valores.

Convidamos o leitor a participar do debate e para isso seria importante começar pelas opiniões expressas na editoria de Ana Luiza Nobre e Haifa Sabagg.

sobre o autor

Abílio Guerra é professor da FAU PUC-Campinas e do Curso de Arquitetura da Belas Artes, e editor de Vitruvius.

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