O arquiteto David Gosling, um dos mais importantes nomes do desenho urbano internacional, faleceu neste Primeiro de Maio, em Cincinnati – Ohio, EUA. Ele se preparava para o lançamento do seu novo livro The evolution of american urban design (John Wiley & Sons, 2002), que se somaria a outros importantes títulos, dentre eles Concepts of urban design (com Barry Maitland; Academy Editions, 1984) e Gordon Cullen: visions of urban design (Academy Editions, 1996), um maravilhoso trabalho sobre a vida, a obra e os escritos do pai do “townscape” que, junto com Kevin Lynch, foi a sua principal referência (1).
Nascido na Inglaterra em 1934, David Gosling teve uma carreira intensa e brilhante, dividida entre a prática profissional e a academia. Formado em arquitetura pela Universidade de Manchester, Inglaterra, pós-graduou-se em planejamento urbano no MIT e em Yale, nos EUA, quando obteve uma bolsa Fullbright para viagem de estudos ao Brasil. Foi ai que ele iniciou o seu “caso de amor” com o país e a nossa arquitetura e urbanismo, que ele sempre tanto prezou, e quando conheceu a sua esposa, Miriam. Passou o ano de 1976 como professor visitante da Universidade de Brasília, onde lançou os fundamentos do ensino de desenho urbano e do townscape, em tempos de rígidas posturas tecnocráticas no planejamento urbano. David ainda viria ao Brasil em diversas outras oportunidades para lecionar, participar de conferências e congressos.
Perfeccionista em suas pesquisas e projetos, David mesclava com maestria a visão sistêmica do planejamento urbano com o urban design das “escolas” de Lynch e Cullen. Tendo trabalhado no projeto das cidades novas de Runcorn (1965-68) e Irvine (1968-73), onde foi diretor de arquitetura e urbanismo, foi consultor ou o responsável por dezenas de outros projetos de urbanismo em todo o mundo. Um bom exemplo da sua produção e o famoso projeto de renovação para a Isle of Dogs, encomendado pela London Docklands Development Corporation, no qual contou com a colaboração de Gordon Cullen na equipe, projeto infelizmente abandonado por uma alternativa voltada para o mercado imobiliário do neo-liberalismo thatcheriano.
Em sua ativa vida acadêmica, David foi professor visitante e convidado em dezenas de universidades em vários países. Em 1973 tornou-se professor da faculdade de arquitetura de Sheffield, uma melhores da Inglaterra, e foi seu diretor de 1977 a 1981. Em 1989 foi agraciado como o primeiro Ohio’s State Eminent Scholar in Urban Design e convidado a lecionar na University of Cincinnati. La ele montou e foi diretor do Center for Urban Design, unidade de ponta voltada para a prática do desenho urbano e a pesquisa aplicada, interessando-se particularmente pelas possibilidades abertas pelo CAD, seja como instrumento para a análise da forma urbana quanto para a visualização das possibilidades de intervenção.
É uma pesada perda para a prática e o ensino do desenho urbano, e para todos que, como eu, conheciam David pessoalmente. Conhecendo-o como external examiner em minha banca de mestrado, tive a felicidade de poder colaborar com ele em diversas outras oportunidades e contei com suas palavras na apresentação de meu primeiro livro. Importante deixar registrado que, acima de tudo, ele era uma pessoa maravilhosa, um grande humanista com profundas preocupações sociais, o que faz o seu falecimento no Primeiro de Maio ainda mais significativo.
notas
1
Vide a minha resenha do livro Gordon Cullen: Visions of Urban Design na Revista Topos vol. 1 nº 1, EA/UFMG, 1999; e em Journal of Architectural and Planning Research. Vol. 16 # 1, spring 1999
sobre o autor
Vicente del Rio é professor titular da FAU/UFRJ e professor associado da CalPoly-EUA