Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Os percalços e necessidades no exercício das profissões "arquiteto" e "engenheiro" no Brasil dos dias atuais

english
The troubles and needs in the exercise of "architect" and "engineer" professions in Brazil nowadays


how to quote

GONÇALVES, Adilson Luiz. Engenharia e arquitetura: valorização profissional. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 024.04, Vitruvius, maio 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.024/782>.

Via de regra, as consultas com Médicos e Advogados são marcadas por atendentes ou secretárias. Como a seleção do profissional é feita por indicação ou catálogo de planos de saúde, nem sempre o interessado tem certeza se seu caso é a especialidade do consultor. Independentemente de o profissional ser apto, a consulta é cobrada ou registrada no plano de saúde. Se o profissional não estiver habilitado, indica outro, que também cobrará consulta. O fato de não ser especialista no assunto, contudo, não implica em nenhum constrangimento à reputação do profissional.

Suponhamos que, no caso de um médico, ele considere-se apto e resolva o problema do paciente, não importando a despesa gerada: é um santo homem; um instrumento de Deus na face da terra; merece nota de agradecimento em jornal e tudo o mais!

No extremo oposto, imaginando que o problema não seja resolvido, não importando a despesa gerada: foi uma fatalidade; o paciente não seguiu suas recomendações; merece nota de agradecimento em jornal “pelo apoio à família nos momentos difíceis”; recebe a solidariedade incontestável da classe!

Façamos o mesmo exercício no caso dos Advogados: se o profissional não estiver habilitado, indica outro, que também cobrará consulta. O fato de não ser especialista no assunto consultado não gera nenhum “arranhão” na reputação do profissional. Caso ele considere-se apto, cobrará honorários e custas durante a tramitação do processo.

Na hipótese de causa ganha: o advogado recebe a “sucumbência”, ganha fama, aumenta o valor de seus honorários, etc. No caso de causa perdida: foi fatalidade, deram azar no sorteio do juiz, etc. Infelizmente, cabe ao cliente pagar as custas processuais além das decorrentes da sentença.

O médico salva uma vida! O advogado liberta um inocente! É certo que essas ocorrências enobrecem a Humanidade, e seus beneficiários são, justamente, gratos relevando, inclusive, o fato de a maioria ter pago para tanto. Afinal, a vida e a liberdade são os dons maiores do ser humano! Pena que alguns, inescrupulosos, valendo-se disso, tirem proveito de sua ascendência momentânea arbitrando os valores de uma e outra segundo critérios próprios.

Devemos lembrar que muito da ascendência dessas categorias deve-se a razões históricas (primeiros cursos universitários criados no Brasil), atraso nos investimentos em infra-estrutura de saneamento, legislações ambíguas, corporativismo, e ao fato de serem chamados a atuar em momentos em que o cliente encontra-se psicologicamente abalado por um risco físico ou financeiro apresentando, portando, menor capacidade de “negociação”. Também dispõem de conselhos e organismos de classe atuantes e zelosos da preservação de seus mercados de trabalho.

Como “concorrentes” dos Advogados temos, apenas, os conselhos arbitrais, dentro de suas limitações legais. Seu mercado de trabalho pode ser considerado como um monopólio, praticamente inexpugnável.

No caso dos Médicos, há a concorrência dos curandeiros em geral, dos charlatães, e da automedicação, todos condenáveis e de alto risco, mas que são fruto da ignorância gerada pela falta de preocupação social dos vários governos, e pela ineficiência do sistema público de saúde.

Nesse contexto, são profissões que, afora seu resultado prático, alcançaram o mais elevado prestígio dentre as existentes no Brasil.

Não se trata de menosprezar sua importância, ou “desglamurizá-las”. Também não podemos esquecer que muitos dos profissionais dessas áreas prestam serviços gratuitos, às vezes com prejuízo financeiro e pessoal, com real espírito humanista. Tampouco se deseja generalizar atitudes e posturas de minorias, comuns em todas as profissões. O objetivo é fazer uma analogia e, para que seja efetiva, é necessário que a análise seja pragmática, despida, dentro do possível, de aspectos subjetivos.

Analisemos, agora, a Engenharia e a Arquitetura, em suas várias habilitações.

Alguém desconhece a importância efetiva dessas profissões no cotidiano, no desenvolvimento do país e como base de apoio e viabilização do exercício das demais profissões? Se houverem mãos levantadas é culpa nossa, porque não celebramos nem divulgamos este valor!

Um profissional dessas áreas recebe um cliente (às vezes tem de ir onde o cliente está), analisa suas necessidades, elabora estudos técnico-financeiros que tomam tempo e recursos próprios. Dependendo do estudo, dias dão consumidos. Não se cobra consulta e, raramente, “hora técnica”. Comumente, esse estudo, depois de visualizado, é considerado inadequado; curiosamente, a obra acontece, semelhante, pelas mãos de profissionais não habilitados - também por culpa nossa -, referendada por profissionais habilitados no papel, mas irresponsáveis na conduta.

Na hipótese do cliente aceitar o proposta, porque vai lucrar mais, é comum a exigência de redução de preço, parcelamento e flexibilidade de pagamento, sob a alegação de que existem outros que fariam pela metade. Mais uma vez, culpa nossa!

Supondo que o profissional não seja especializado no assunto, indicando outro colega, é considerado incompetente, como se fosse possível um único profissional dominar todas as áreas da Engenharia e da Arquitetura.

Quando assume a responsabilidade e não resolve o problema, é incompetente, uma vez mais, com o agravante de ser responsável civil e criminalmente por qualquer prejuízo material ou humano. Qual a postura de parte significativa da categoria? Condena sem julgamento e, se puder, joga a “pá de cal”, escondendo, sob o manto de profissionalismo, o pensamento mesquinho do: “um a menos!”. O Código de Defesa do Consumidor facilitou, ainda mais, o acionamento dos profissionais, estendendo sua condição de Lei de Fé Pública, às normas técnicas oficiais, com as exigências e prazos de responsabilidade pertinentes.

Pergunta: Alguém já ouviu falar de Médicos e Advogados serem acionados pelo Código de Defesa do Consumidor por “frustração de expectativa”; tratamento ineficaz; seqüelas; infecção hospitalar; perda de prazo processual; falha processual; negativa em receitar remédios “genéricos”; diagnóstico errado; recusar-se a visitar um paciente após ser notificado que o mesmo foi vítima de grave crise em virtude da anomalia em tratamento; privilegiar clientes em detrimento de outros?

É certo que toda a categoria sofre com os deslizes técnicos e éticos de seus membros. Também é óbvio que existem mecanismos de reivindicação específicos para cada área, além dos de natureza comum. Mas, é fato que as áreas de Medicina e Direito são das poucas que recebem remuneração sem a exigência de resolverem o problema proposto, além de não terem sua credibilidade significativamente afetada por insucessos. Não se pode, contudo, deixar de reconhecer que estão sujeitas a grande pressão psicológica pelo envolvimento direto com seres humanos, seus dramas e suas mazelas. Todavia, existem outras profissões, com carga emocional semelhante, mas, nem por isso, privam da mesma condição diferenciada.

Voltando ao caso dos Engenheiros e Arquitetos, se o problema for resolvido, o profissional ainda será responsável pelo seu trabalho por anos, devendo custear qualquer reparo decorrente de problemas conceituais ou construtivos. Embora construam: hospitais, escolas, tribunais, casas, infra-estrutura urbana, veículos, equipamentos, melhorem a produtividade agrícola e industrial, ampliem a produção ou reduzam o consumo de energia - assumindo os riscos de viabilizar sonhos e necessidades de forma cada vez mais rápida, bela, funcional, durável e econômica -; recebem pouco crédito ou reconhecimento pelo seu trabalho, normalmente capitalizado por usuários finais ou políticos.

Engenheiros e Arquitetos têm por obrigação transformar sonhos em realidade, melhorando a qualidade de vida. Mas, como fazem isso para uma quantidade maior de clientes ao mesmo tempo, seus méritos nem sempre são reconhecidos de maneira individualizada. Normalmente, os usuários sequer têm conhecimento da natureza e importância desse trabalho. A atuação dos Engenheiros e Arquitetos, aliás, só é lembrada quando suas obras apresentam problemas. Caso contrário, é conforto, emprego, funcionalidade... e esquecimento.

Isso pode parecer despeito com as profissões, de inegável mérito, utilizadas nessa analogia. Não é! É inconformismo com um estado de aviltamento profissional que ajudamos a moldar, e que estabeleceu usos e costumes que, por exemplo, consideram que se tratar sem o concurso de um médico, ou tentar acionar a justiça sem um advogado, é inconcebível, mas contratar um mestre de obra ou um pedreiro para fazer um “puxadinho” clandestino não carece de maiores escrúpulos éticos.

Estudantes de medicina e direito já se autodenominam “doutores” desde o primeiro ano de suas graduações (incomodando-se quando o tratamento é esquecido), enquanto Engenheiros e Arquitetos só o fazem após anos de Mestrado e Doutorado (mesmo assim, há colegas que questionam a faculdade de origem e a universidade de concedeu o título). Somos, nós, muito rigorosos e pragmáticos, ou eles, muito flexíveis e elitistas?

Então? Qual o motivo dessa discrepância entre o “status” dos Médicos e Advogados, e o dos Engenheiros e Arquitetos?

A resposta é: autovalorização profissional e ética!

Se não nos unirmos e aprendermos a nos valorizar enquanto categoria, continuaremos a ser eminências pardas da sociedade.

Isso não implica em passarmos a usar roupa branca, terno e gravata, fecharmo-nos “em copas” ou falar em latim, para alcançarmos esse objetivo, afinal cada profissão tem suas peculiaridades. Passa, sim, pelo fortalecimento dos organismos de classe, sejam reguladores ou sindicais; exige um esforço intensivo e continuado de publicidade das potencialidades e realizações das categorias; e de uma firme e uníssona atitude de defesa das categorias. Em suma, só depende de nós!

sobre o autor

Adilson Luiz Gonçalves é engenheiro civil e professor universitário

comments

024.04
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

024

024.00

Desenho urbano perde David Gosling (editorial)

Vicente del Rio

024.01

Lá vem o pato patropí...

Wellington Cançado

024.02

Pensar y habitar

José Alfonso Ramírez Ponce

024.03

Meu tio era um Blade Runner: ascensão e queda da arquitetura moderna no cinema

Lineu Castello

024.05

El edificio FOCSA

Juan de las Cuevas Toraya

024.06

El tratamiento del patrimonio, nuevo campo profesional

Graciela María Viñuales

024.07

Villa Savoye: arquitetura e manifesto

Carlos Alberto Maciel

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided