A situação atual da linha férrea
Os sete quilômetros de linha férrea da Madeira-Mamoré, recuperados em 1983, depois de mais de dez anos de paralisação, e que se tornou a atração popular para cerca de mil pessoas que freqüentam o passeio de trem da EFM-M, ao longo de vinte anos, está paralisado.
Usando uma enorme locomotiva a vapor Schwartzkopf, de origem Alemã, fabricada na década de 1930, o comboio de três vagões, sai da Estação de Porto Velho, em direção à cachoeira de Santo Antônio, contornando a margem direita do Rio Madeira, passando pelas casas de madeira do Bairro do Triângulo, pela igreja “inglesa” de Santo Antônio até chegar à pitoresca cachoeira.
Neste trajeto o trem passa pelo cemitério abandonado da Candelária, hoje, coberto pela vegetação, onde estão enterrados os corpos dos trabalhadores brasileiros e estrangeiros que morreram durante a construção da EFM-M. A Associação de Amigos da Madeira-Mamoré (AAM-M) construiu uma cruz, de vinte metros de altura, com trilhos, para marcar o local do cemitério. Em todos os anos, no mês de novembro, é realizada uma missa ecumênica em memória daqueles que perderam suas vidas durante a construção desta ferrovia como: ingleses, americanos, espanhóis, gregos, chineses, brasileiros, portugueses, afro-caribenhos e outros de diferentes nacionalidades.
Em dezembro de 2000, ocorreram muitas chuvas, na região de Porto Velho, o que causou o desmoronamento do bueiro e de todo o aterro no Km 3 desta estrada-de-ferro. A lagoa que se formou, neste local, tem sido um novo entretenimento para as crianças, como mostra a fotografia publicada por um jornal local – Diário da Amazônia – e que é vista na primeira página deste boletim. As autoridades de Rondônia, estaduais e municipais, não têm tomado nenhuma providência para reconstruir este trecho da linha-férrea.
Os passeios de trem na EFM-M, aos domingos, estão paralisamos a quase dois anos, apesar dos apelos e denúncias feitas por jornais locais. A M-MRS entende que o Governo do Estado de Rondônia, responsável pelo patrimônio desta ferrovia, não tem recursos financeiros para a recuperação do trecho danificado. Observamos algumas críticas que dizem que falta uma política-administrativa no sentido de agir rapidamente para recuperar o pleno funcionamento desta estrada-de-ferro que é um recurso turístico local. E que, o Governo de Rondônia, não percebeu que investir em patrimônio histórico-cultural proporcionará um importantíssimo retorno para a indústria do turismo regional, assim como, irá atrair novos investimentos que possibilitarão o crescimento econômico necessário a região por um longo período.
Em maio de 2002, o Governador José de Abreu Bianco divulgou um projeto que prevê a recuperação do pátio da EFM-M e da beira rio em Porto Velho. O arquiteto Luiz Leite de Oliveira, um dos principais membros da AAM-M, foi o vencedor da licitação pública, e apresentou uma proposta que resultou no Projeto de Restauração e Elementos de Integração no Complexo Ferroviário da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e Beira Rio. Muitos dos prédios existentes neste local são originais da época da construção da ferrovia, 1907-1912, e a área e de importante valor histórico.
A área na qual está localizada esta ferrovia, até o presente momento, está abandonada e desprotegida. O museu ferroviário e a oficina ocupam dois dos enormes armazéns, na margem do rio, mas o restante da área é freqüentada por vendedores de drogas e prostitutas e concentra um grande número de bares.
Algumas construções feitas dentro do pátio ferroviário, como uma praça, bancos e mesas de concreto, jardineiras, estacionamento e um anfiteatro, feitas aos longos dos anos, são elementos que não se integram ao conjunto arquitetônico. Entendemos que qualquer interferência neste sítio histórico deve ser precedida de estudos técnicos e devem privilegiar a restauração dos prédios, a conservação dos elementos originais e a revitalização do espaço.
O projeto do arq. Luiz Leite propõe a restauração dos prédios originais; o renivelamento do pátio de manobras; a continuidade do passeio de trem até o Km 14; a recuperação do meio-ambiente em torno da linha férrea; a implantação de estacionamentos e de um elevador interligando o pátio ferroviário aos Mirantes I e II.
Embora não tenha recebido o pagamento integral por este trabalho, o arquiteto Luiz Leite acredita que este projeto marca o seu envolvimento pessoal e profissional com a EFM-M. O projeto e considerado ambicioso e tem sido, em geral, aceito pelos administradores públicos e políticos de Rondônia. O problema e a falta de recursos estaduais disponíveis para a sua execução.
Os serviços diários desta estrada-de-ferro tem sido se restringido a uma péssima conservação e limpeza, interna e externa do museu, da oficina e da estação de passageiros, realizada por alguns funcionários públicos disponibilizados pelo Governo de Rondônia. Uma vez que, este órgão cultural não e beneficiado com verbas do orçamento estadual e não possui autonomia administrativa-financeira.
O novo Governo de Rondônia que assume a administração do Estado, em janeiro de 2003, tem um desafio que e destinar ou viabilizar verbas para a execução deste projeto. Acreditamos que o novo clima político brasileiro, ocorrido com as eleições gerais, de 2002, possa beneficiar a conservação e o resgate do patrimônio histórico-cultural no Brasil.
Este projeto e um passo importante para a restauração, conservação e revitalização desta ferrovia e tem recebido o apoio da AAM-M e da M-MRS. Estas entidades entendem que o principal problema e a falta de financiamento para este projeto; para a a conservação do acervo ferroviário e do museu; recuperação das locomotivas; conservação dos enormes equipamentos e construções existentes ao longo da estrada-de-ferro entre Porto Velho e Guajará-Mirim.
Uma outra questão que tem preocupado os membros destas Associações e a maneira como as autoridades públicas, estaduais e municipais, tem tratado o patrimônio remanescente da EFM-M. Observamos que falta aos administradores deste patrimônio histórico uma preocupação com o resgate da memória ferroviária e com a recuperação e restauração de todo o acervo móvel e imóvel. Uma vez que, eles têm privilegiado o simples funcionamento do trem. Por outro lado, se torna necessário a implantação de projetos sócio-culturais, a qualificação dos funcionários e a implantação de novos serviços.
Divulgação na Imprensa Internacional
A M-MRS continua divulgando a EFM-M e a dificuldade que tem sido a sua defesa e preservação. Nos últimos doze meses, a M-MRS publicou materiais nos seguintes jornais: Museums Journal (Londres, Inglaterra, novembro 2001), Society for Latin American Studies Newsletter (Edimburgo, Escócia, outubro 2001), Revista Terra (São Paulo, Brasil, novembro 2001), Correio Brasiliense (Brasília, Brasil, novembro 2001), Yorkshire Post (Leeds, Inglaterra, outubro 2001), Royal Geographical Society Newsletter (Londres, Inglaterra, fevereiro 2002).
Na condição de presidente da M-MRS, realizei palestras públicas, sobre o patrimônio ferroviário brasileiro, com destaque para a EFM-M, na University of the Third Age, de Leicester, Inglaterra, e na Huddersfield Georgraphical Society, ambas instituições na Inglaterra.
Está agendada para os dias 6 a 18 de janeiro de 2003, uma exposição fotográfica sobre a EFM-M, a ser realizada na Pontefract Library, em Yorkshire, Inglaterra, com estrada gratuita, de Segunda a Sábado, no horário das 9:00 as 17:00 horas. Está sendo elaborada matéria que será publicada na Revista Narrow Gauge World, de Skipton, Inglaterra. Posteriormente, os membros desta Associação irão receber mais informações sobre o evento.
Notícias Sobre a Associação
O website da M-MRS www.efmm.net tem atraído um grande número de visitantes. Fomos contatados por duas pessoas, uma residente nos Estados Unidos e outra na Austrália, descendentes de médicos que trabalharam no Hospital de Candelária, entre 1908 e 1912, junto com o Dr. Carl Lovelace, durante a construção da EFM-M. Estas pessoas estão inventariando o acervo documental de suas respectivas famílias.
A M-MRS tem contribuído com duas universitárias, residentes em Miami, Flórida, EUA, que estão pesquisando a obra do jornalista e escritor britânico Richard Collier, autor do livro The river that God forgot: the story of the amazon rubber boom (O rio esquecido por Deus), publicado em 1968, sobre a exploração, produção e comercialização da borracha Amazônica. Collier esteve em Porto Velho e viajou por um trecho da EFM-M, no início da década de 1960. O livro e um relatório, não acadêmico, sobre a participação dos Estados Unidos e da Inglaterra, durante os anos 1876 ate 1912, na Amazônia brasileira e peruana.
Prêmio Rolex
Qualquer membro da M-MRS que esteja interessado em apresentar projetos voltados ao patrimônio histórico-cultural da EFM-M pode contatar a presidência da entidade, que poderá endossar o referido projeto junto a Comissão do Prêmio Rolex. O regulamento do referido prêmio está disponível no website www.rolexawards.com. O prazo final para os projetos da América Latina e no dia 31 de julho de 2003.
O Prêmio Rolex visa encorajar o espírito empresarial e individual, em todo o mundo, patrocinando projetos que visam o avanço do conhecimento do mundo, a melhoria da qualidade de vida no planeta e que contribua para o melhoramento do ser humano. O Comitê do Prêmio Rolex estabeleceu como áreas de interesses: ciências e medicina; tecnologia e inovação; exploração e descobertas; meio ambiente e patrimônio cultural.
Questões futuras
Visando manter os baixos custos das despesas com a M-MRS e a agilidade de seus serviços, a partir do próximo ano, vamos disponibilizar os nosso boletins informativos em duas versões: uma eletrônica, via e-mail anexado, e outra em papel, via Correios. Pedimos aos membros desta Associação que façam contato informando sua opção: se prefere receber nossas próximas publicações na versão eletrônica ou em papel. Esta Associação esta crescendo e precisa agilizar o contato, a participação e o repasse de informações aos seus membros.
Está sendo concluída uma lista dos membros da M-MRS, com os respectivos endereços, profissão e área de interesse ou de pesquisa, que será disponibilizada a todos os seus membros. A circulação será restrita aos membros da M-MRS e não poderá ser disponibilizada a outras instituições ou pessoas. Caso você não deseje que seus dados sejam divulgados, por favor informar a presidência da Madeira-Mamoré Railway Society.
Estamos planejando incluir nos próximos boletins uma série de dados sobre as locomotivas do acervo da EFM-M; traduções de artigos, sobre esta ferrovia, publicados em jornais brasileiros; e uma lista dos nomes de trabalhadores, entre os anos de 1872 e 1918, levantados em diversas publicações, visando contatar descendentes de pessoas que trabalharam nesta ferrovia. Se você tem artigos para oferecer, gratuitamente, ou idéias para matérias, por favor apresente.
Madeira-Mamoré Railway Society
A M-MRS é uma entidade sem fins lucrativos, formada por membros residentes no Brasil, Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha e Suíça. E temos trabalhado em co-participação com a AAM-M, existente em Porto Velho, Rondônia. A M-MRS tem dado apoio internacional para a divulgação, preservação, conservação e funcionamento da EFM-M.
Estas Associações acreditam que a EFM-M representa um patrimônio histórico-ferroviário, brasileiro e internacional, com referências industriais e de tecnologia, com grande potencial turístico e de valor para a memória sócio-cultural brasileira.
notas
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A Madeira-Mamoré Railway Society é uma ONG dedicada à preservação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e produz informativos sobre as ações desenvolvidas. Para mais informações consulte o website www.efmm.net.
sobre o autor
Martin Cooper é presidente da Madeira-Mamoré Railway Society
– M-MRS