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architexts ISSN 1809-6298


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O universo da arquitetura regional é formado pela soma das arquiteturas autônoma e apropriada, cabendo à primeira a hegemonia do processo por ser a base necessária para que a apropriação seja possível


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RAMÍREZ PONCE, José Alfonso. Arquitetura regional. Coberturas de tijolo “sobrecarregado”. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 047.03, Vitruvius, abr. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.047/593/pt>.

“A continuidade histórica de uma sociedade é possível porque possui um núcleo de cultura própria. [...] sem a cultura autônoma nem sequer seria possível o processo de apropriação”(Guillermo Bonfil Batalla)

Ouve-se falar indistinta e freqüentemente da arquitetura regional e apropriada, ou do particular, do alheio e do apropriado no sentido geral, dando de barato que os próprios termos sejam auto-explicativos. Mas na verdade não é bem assim, pois é necessária uma argumentação muito mais explícita que defina tais termos. Sobretudo, porque os mesmos qualificativos se aplicam não apenas à Arquitetura, mas também a suas técnicas e ao que se esconde embaixo do título “tecnologias alternativas”, que tem sido adotado acriticamente. Conceito infeliz inclusive, pois contém um duplo erro, afinal o ato de construir com diversas matérias brutas – ou primas – em nossos países, não é uma “alternativa” ou uma opção, mas uma necessidade factível e econômica; além disso, as formas específicas de construir com adobe, bambu, tijolo ou madeira, não são “tecnologias” (2), não são conjuntos de conhecimentos, mas técnicas, ou seja, maneiras de fazer ou de descobrir. Duplo erro, portanto: as “tecnologias alternativas” não são nem tecnologias, nem alternativas.

Arquitetura autônoma

Ocorre, em muitas ocasiões, que os conceitos sobre o específico e o apropriado permaneçam, para dizer o mínimo, no campo da imprecisão e da ambigüidade. Neste sentido, nos parece oportuno apoiarmo-nos na clareza de um antropólogo mexicano, que comenta o seguinte sobre o tema da cultura:

“Os âmbitos da cultura autônoma e da cultura apropriada conformam o universo da cultura específica... Cultura específica, então, é a capacidade social de produção cultural autônoma. E não temos criação sem autonomia... Na cultura autônoma, o grupo social tem o poder de decisão sobre seus próprios elementos culturais (3); é capaz de produzi-los, usá-los e reproduzi-los” (4).

Em nosso caso – extrapolando a citação para a arquitetura e para suas técnicas –, defendemos como hipótese de trabalho que o universo da arquitetura regional é formado pela soma das arquiteturas autônoma e apropriada. Mas caberia a predominância à primeira – a arquitetura autônoma –, sendo ela a base necessária para que a apropriação seja possível. Complementando a epígrafe de nosso texto:

“A continuidade histórica de uma sociedade é possível porque esta possui um núcleo de cultura própria, em torno da qual se organiza e se reinterpreta o universo da cultura estrangeira... Sem a cultura autônoma nem sequer seria possível o processo de apropriação” (5).

Portanto, os significados do próprio, do apropriado e do autônomo, não são indistintos, mas desiguais e de diferentes extensões. O próprio é o todo e as partes, o autônomo e o apropriado. Mas ainda: como já vimos, estas partes são desiguais, pois existe uma parte maior e uma outra menor, sendo que o núcleo básico do próprio é o autônomo e sua existência é o que permite que coexista um “processo de apropriação”. Em outras palavras, o necessário é o autônomo e o apropriado, o contingente. Ambos conformam o universo do próprio.

A técnica

Agora sim, após este preâmbulo necessário, podemos dizer que a utilização da técnica popular de construção – que temos chamado de “tijolo sobrecarregado” – não é fortuita nem por acaso. Obedece à intenção clara e definida de conservar e difundir uma das poucas tradições construtivas mexicanas que continuam sendo expressão de nossa cultura arquitetônica autônoma.

Esta técnica, chamada popularmente de “abóbadas do Bajío”, é um dos poucos exemplos do que podemos chamar de arquitetura autônoma; ela é a parte medular de nossa arquitetura específica. Por quê devemos dar valor ao passado? Porque o controle sobre os elementos culturais – neste caso, os recursos materiais naturais ou transformados, como o tijolo – e os recursos de conhecimentos, experiências e tradições construtivas, continua nos pertencendo, dos pontos de vista cultural e histórico. Desenvolvendo o argumento, podemos dizer que esta maneira de construir coberturas não acontece em nenhum outro país ibero-americano aonde se construa com o tijolo.

Uma última citação, antes de abandonar nosso autor:

“A natureza da sociedade capitalista, acentuada pela industrialização, implica num processo crescente de alienação e imposição cultural sobre o mundo subalterno, aonde se quer ver as pessoas convertidas em consumidores de cultura e não em criadores dela. As teses da propaganda consumista – tanto de bens materiais como de sentimentos e ideologia – buscam convencer o homem do mundo subalterno de que ele é cada vez menos capaz de pensar, fazer, querer ou sonhar por si mesmo, porque os outros é que sabem pensar, fazer, querer ou sonhar melhor do que ele. A afirmação da cultura própria é, por isso, um componente central, não apenas de qualquer projeto democrático, mas de toda ação que repouse na convicção de que os homens são o que são graças à sua capacidade criadora” (6).

No atual processo de globalização, o que se pretende é que não sejamos produtores, mas consumidores de arquitetura. Que nossa profissão continue sendo uma profissão elitista, excludente, voltada para o externo, dependente das “modas” arquitetônicas, negando sua própria realidade prenhe de necessidades espaciais dos grupos sociais majoritários.

Esta postura é devida, em grande parte, à (de)formação acadêmica, pois em muitas escolas, os problemas imediatos, as obras pequenas, nossas tradições construtivas, não são consideradas dignas de ser estudadas, pois não seriam “arquitetura”. Não são merecedoras da atenção dos inefáveis arquitetos “artistas”. Sempre dependentes do que acontece para além de nossas fronteiras, sobretudo o que acontece nos países primeiro-mundistas. Que sejam os outros os que pensam e inventam para que nós copiemos. Lá, os homens, aqui, os “macacos”. Reconhecemos os macacos por sua capacidade de imitação, que redunda numa captura do alheio sempre deslocada. Os arquitetos “artistas” poderão ser, como em realidade alguns o são, bons imitadores. O problema é que nunca deixarão de ser “macacos”.

A “afirmação da cultura própria” e dentro dela, de uma arquitetura específica, passa pelo conhecimento e reconhecimento de nossas tradições construtivas. Dentre elas, algumas técnicas que existem para construir coberturas econômicas de tijolo sem cimbramento.

Coberturas de tijolo

Temos registrado várias delas – localizadas principal, mas não exclusivamente, em países ibero-americanos – e as temos classificado em três grandes grupos: o primeiro, as coberturas formadas por uma ou duas peças de barro, que precisam de vigas intermediárias para dividir o espaço a ser coberto; o segundo, as tabicadas, formado pelas coberturas feitas em duas ou mais capas com uma pequena cimbra, sendo que os exemplos mais notáveis são encontrados em Portugal e na Espanha.

Aqui temos que mencionar – mesmo que seja de forma breve – as meticulosas pesquisas de Juan Diego Carmona de Badajoz, que demonstram a contribuição dos artesãos portugueses de Extremadura à tradição construtiva das abóbadas sem cimbramento, com tijolo assentado de face. E na Catalunha, mencionarei como exemplo um edifício cuja excepcionalidade tem razões diversas, que não poderemos relatar aqui. Refiro-me ao atual Museu da Ciência e da Técnica em Terrassa, Catalunha, projetado e construído pelo arquiteto Luis Muncunil i Parellada em 1907. A nave principal tem 11.088 m2, com 176 abóbadas de 8 x 9m2 cada uma! As abóbadas têm dupla camada – “fulla doblat” –, mas separadas por tijolos postos de canto sobre a primeira capa e cuja função é suportar a segunda. Trata-se de um edifício impressionante, que na condição de espécime das boas obras de arquitetura – a um passo de cumprir seu primeiro centenário – tem envelhecido dignamente.

Ao terceiro grupo temos chamado de coberturas sobrecarregadas, por ser esta sua principal característica. Encontramos neste grupo as coberturas construídas pelos persas sassânidas – em arcos de meio ponto com o tijolo assentado de face e sobreposto em suas três quartas partes –; as milenares abóbadas núbicas de adobe de canto (7) e, por último, as coberturas mexicanas – superfícies esferoidais – que aqui descreveremos de forma sucinta.

O tijolo sobrecarregado

Esta técnica para construir coberturas econômicas de tijolo de canto sem cimbramento é utilizada na zona central e ocidental do México, aonde aparece – invenção do saber popular – na segunda metade do século XIX, em dois povoados que disputam sua origem: San Juan do Rio, em Querétaro, e Lagos de Moreno, em Jalisco.

Façamos uma digressão que nos parece necessária. Mencionamos anteriormente o tijolo colocado de canto. Nossa classificação não é a tradicional, mas nos parece mais clara e simples. Se todos os tijolos comuns têm três superfícies – cabeça, canto e face, considerando da menor para a maior – a proposta é que os muros e as coberturas se denominem segundo a posição do tijolo. Nas abóbadas espanholas – catalãs e extremeñas – a parte visível é a face e se juntam de canto; no caso das “abóbadas” mexicanas é justamente o contrário – se juntam de face e a parte visível é o canto. As primeiras seriam abóbadas “tabicadas”, com tijolos de face e as segundas abóbadas “sobrecarregadas” com tijolos de canto. Na denominação atual, as abóbadas espanholas são chamadas de abóbadas com “tijolos de plano” (8) e as nossas (mexicanas), com “tijolos em rosca” (sic).

Estendendo as questões do parágrafo anterior para os muros, diríamos que em vez de muros a soga, a tizón ou de panderete, – que são termos de compreensão não muito clara nas diversas latitudes de fala hispânica –, e baseando o nome na posição do tijolo, teríamos simplesmente muros de canto, de cabeça ou de face, mais, evidentemente, as combinações possíveis – de face e canto, de cabeça e face e outras mais. Não analisaremos aqui os modos inglês, belga, flamengo, gótico ou holandês, por não ter nada ou quase nada a ver com a nossa realidade latino-americana.

Encerrando a digressão e retornando a nossa técnica, se agregamos ao material o elemento construtivo e o procedimento, então temos que a nossa é uma técnica de construção de coberturas de tijolo sobrecarregadas sem cimbramento.

Quais são as opções construtivas?

As superfícies contam com dois elementos básicos: suas diretrizes ou perímetro envolvente; e suas geratrizes formadas pelas distintas fieiras de tijolo. Estas últimas se mantêm constantes, mas podemos encontrar variação na geometria de suas diretrizes.

Ao iniciar a construção do primeiro tijolo ou dos primeiros – segundo o caso – se sobrecarregam sobre um canto ou um lado do perímetro da cobertura. O início pelos cantos é geralmente em abóbadas com plantas de forma quadrada ou retangular, cuja proporção não é maior do que uma vez e meia a relação entre seus lados. Um critério semelhante à classificação das lajes de concreto em perimetrais ou simplesmente apoiadas.

Esta é uma técnica construtiva muito inteligente e singular, de invenção popular. Cada tijolo da cobertura está apoiado ou sobrecarregado sobre o anterior. Sua estabilidade é conferida por seu encosto ou sobrecarregamento. À semelhança do chamado efeito dominó, cada ficha se sustenta sobre a outra. Ao invés de partir para o enfrentamento, entabulando uma luta desigual contra a gravidade, se declara desde o princípio vencida por ela. Como compensação por sua derrota, ganha sua estabilidade, apoiada por outros fatores a seu favor, entre eles, sua leveza – a de um pequeno tijolo – e a forma abobadada (9) da cobertura.

Mesmo que o perímetro seja quadrado ou retangular, a técnica construtiva permite que possa ser poligonal com as irregularidades que o espaço interior determine. Peso e forma (10) –, duas características da estabilidade das construções.

"O problema do construtor de edifícios é obter vãos ou cobrir espaços, o que significa que tem que lutar contra a gravidade, contra o peso; sem dúvida, se quer evitar os esforços de tração, é o peso do material de sua obra, convenientemente disposto no espaço, que a torna apta para resistir às flexões sempre inevitáveis" (11).

Ao relacionar peso e forma – quando menciona que o material deve estar "convenientemente disposto no espaço" –, Eladio Dieste alude à geometria e à forma da construção que define a luta permanente contra a gravidade. A flecha da cobertura é diretamente proporcional à dimensão menor a ser coberta e geralmente se considera de 20 a 25% do vão menor. Por exemplo, em um espaço de 3x5 metros, a flecha será de 60 a 75cm.

Outras características

Dentre os procedimentos, existem três principais. Resumindo, em primeiro lugar os tijolos se sobrecarregam um sobre o outro em uma contínua sucessão. Em segundo, o tijolo para ser suportado necessita ser leve e pequeno, ao contrário de um tijolo de base, que precisa ser grande e pesado. Em terceiro, o tijolo necessita ser colocado a seco, para aumentar sua aderência. A argamassa deve ser composta por cimento, cal e areia em proporção 1:1:8. A quantidade de areia varia segundo o pedreiro. É utilizado um tijolo comum feito à mão, de 5x10x20 cm, comercialmente conhecido como tijolo “cunha”. A espessura da cobertura é de 10 cm, ou seja, os tijolos são assentados de canto e grudados de face.

A abóbada mais simples se constrói sobre quatro paredes retas horizontais com planta quadrada. Inicia-se sobrecarregando o tijolo sobre os quatro cantos com uma inclinação de 45 graus para manter-se dentro da zona dos esforços de compressão. As fieiras curvas recostadas são as geratrizes da superfície e as linhas perimetrais sobre as quais se apóia são suas diretrizes. Tais fileiras curvas se assemelham a arcos, não do ponto de vista estrutural, mas geométrico. Na realidade, contudo, o que formam não são linhas curvas, pois o tijolo não o é, mas secções poligonais cujo lado é o comprimento do tijolo, ou seja, 20 cm.

A relação entre a flecha da abóbada e o vão a ser coberto se define pela posição dos pontos de inflexão, pois o tijolo é um material que trabalha principalmente sob compressão. Ou seja, os pontos nos quais acontece a mudança do fenômeno tencional (12) das compressões na parte superior – área na qual deve se manter a abóbada – às trações da parte inferior.

"Em outras palavras, pode se considerar que uma cúpula de pouca altura se comporta como uma série de arcos meridianos, elasticamente apoiados nos paralelos, desenvolvendo tensões de compressão (em ambos)... E, ao menos em teoria, é possível construí-la com materiais incapazes de suportar tensões de tração, como alvenaria ou tijolos" (13).

Ou seja, em abóbadas abatidas ou escarzanas, como é o caso da esmagadora maioria das construídas com esta técnica, não se apresentam esforços de tração – seguindo a terminologia de Candela –, apenas compressões. O que Salvadori afirma das cúpulas abatidas "em teoria", podemos transpor para as abóbadas ou coberturas cupuloidais na prática. Basta um anel perimetral de concreto para absorver os possíveis empuxes laterais. Ou seja, podemos dizer que a seção das abóbadas pode ir além da área das compressões, delimitada pelos pontos de inflexão. Tais pontos, alguns especialistas localizam na interseção do arco com um ângulo entre 51 e 52 graus com a vertical.

A lógica construtiva da técnica agrega uma de suas principais características: seu baixo custo. Ou seja, é uma técnica que permite "delimitar e envolver o espaço" – nas palavras de Torroja – em forma econômica. Os dados precisos variam segundo as regiões e as dimensões, mas podemos dizer que na Cidade de México o custo atual das abóbadas por m2 está entre 50 e 60% do custo de uma laje comum de concreto armado em vãos pequenos. Em vãos de 5 metros ou mais a diferença de custo se amplia, pois é sabido que lajes de tais dimensões necessitam de elementos estruturais adicionais.

A razão econômica dá à técnica e ao tijolo sua vigência, sua atualidade e a razão de sua desejada difusão. Temos que recordar que estamos falando de uma invenção popular. Um sistema não inventado por nenhum engenheiro ou arquiteto, não reconhecido pela academia e, portanto, não ensinado na esmagadora maioria das escolas. A técnica permite dar uma resposta atual ao eterno problema do fechamento superior de um espaço. Por isso afirmamos que o tijolo é um material milenar e moderno, pois a modernidade não é privilégio do novo, mas do vigente. Por outro lado, a técnica permite cobrir, sem nenhum reforço adicional, superfícies aonde o vão menor pode ser de até de 10 metros. Isto quer dizer que os espaços da maioria dos gêneros arquitetônicos – em particular o habitacional – podem ser construídos com esta técnica.

Conclusão preliminar

Como temos visto nesta incompleta e rápida narrativa, as possibilidades da técnica construtiva de coberturas econômicas de tijolo "sobrecarregado" são inumeráveis. E também muito variadas, porque são o resultado e o reflexo da análise do espaço interior. A aparência em acordo com a essência. Estes espaços ou "continentes" são, às vezes, tão diversos como diversas são as atividades humanas. As coberturas não são pré-concepções formais que são impostas sobre os espaços, mas, são conseqüências das condições espaciais internas. É um sistema que condiciona o pensamento tridimensional, pois a altura é proporcional às dimensões em planta.

De nossa experiência, se deduz que, apesar da aparente complexidade, esta técnica construtiva é suscetível de ser aprendida, tanto por pedreiros como por autoconstrutores.

Isto fecha o círculo. Um conhecimento popular para ser utilizado por todos aqueles necessitados de um teto econômico, útil, firme e belo.

notas

1
Temos chamado assim a este grupo de coberturas de tijolo, por ser a “sobrecarga” sua principal característica. Comumente são chamadas de abóbadas do Bajío, por ser esta a região aonde se originaram espontaneamente, fruto do saber popular.

2
A palavra tecnologia aparece no século XVIII (1765) e deriva do grego tékhne – "arte, indústria, habilidade" – e de tekhnikós – "relativo a uma arte". E de logos – "argumento, discussão, razão" – e logikós – "relativo à raciocínio" –, derivado de légo – "eu digo". Ou seja, a tecnologia em sua etimologia – em sua palavra verdadeira – e em nossa definição é o conjunto de conhecimentos, argumentos, razões em torno de uma arte, de um fazer determinado, cujo objetivo é satisfazer às necessidades humanas. Daí que o termo "logía" seja entendido também como ciência. Em outras palavras, a tecno-logía como substantivo requer de um adjetivo que o precise e o qualifique. Se falo tecnologia arquitetônica, estarei me referindo ao conjunto de conhecimentos em torno do fazer arquitetônico. Neste sentido, cada disciplina do conhecimento tem "sua" tecnologia. E assim encontramos aqueles que falam das tecnologias médica, educativa, química, biológica, entre muitas outras; em outras palavras, se fala de conjuntos de conhecimentos acumulados por distintos fazeres. Para abundar a tecnologia é o “conjunto de conhecimentos e procedimentos que servem para produzir objetos e processos, sejam físicos ou sociais”, segundo a Red CYTED XIV C.; citado em Transferencia tecnológica para el hábitat popular. Editora Trama. 2002, p. 11. Também em consonância, é o conjunto de “conhecimentos, habilidades e procedimentos para a fabricação, o uso e a execução de coisas úteis” (R. S. Merrill, 1968), citado em STEWART, Frances. Tecnología y subdesarrollo. FCE, 1983.

3
Bonfil Batalla, o autor citado, entende por elementos culturais os recursos tanto os materiais naturais e elaborados, como conhecimentos, experiências, tipos de organização, entre outros.

4
BATALLA, Guillermo Bonfil. Pensar la cultura. Alianza Editorial, 1992, 2ª ed., p. 52.

5
Idem, ibidem
, p. 53.

6
Idem, ibidem
, p. 56.

7
Ver FATHY, Hassan. Arquitectura para los pobres. Editorial Extemporáneos. 1975, p. 277-281. Nas chamadas abóbadas núbicas – da região da Núbia no sul do Egito – os tijolos de barro não cozidos que a conformam se apóiam sobre um muro que se levanta a uma altura maior do que a dos muros laterais de apoio do corpo da abóbada.

8
Como se o tijolo não tivesse 3 planos – comprido, largo e alto – mas apenas um, o de sua face.

9
Se recordamos que a palavra abóbada vem do latim volvita, que significa “dar volta”, “girar”, e que as abóbadas, em nossa definição, têm por padrão geométrico o cilindro; então as superfícies que se constroem com esta técnica de tijolo sobrecarregado, não são abóbadas em sentido estrito, mas superfícies que se assemelham a uma esfera, ou seja, são esferóides ou superfícies esferoidais.

10
Eladio Dieste (1917-2000), inovador engenheiro uruguaio, dizia que “resistir pelo peso não é mais do que uma torpe acumulação da matéria; ao contrário, não temos nada mais nobre e elegante do que resistir pela forma”. Em perfeita harmonia, outro genial construtor Eduardo Torroja (1900-1961), engenheiro espanhol, apontava que “a melhor obra é a que se sustenta por sua forma e não pela resistência oculta de seu material... [Sustentar-se pela forma]... tem a fascinação da busca e a satisfação do descobrimento”.

11
DIESTE, Eladio.La estructura cerámica. Somosur, 1987, p. 31

12
TORROJA, Eduardo. Razón y ser de los tipos estructurales. Editorial Instituto E. Torroja, 1960, p. II-3. O segundo capítulo se intitula precisamente assim – "O fenômeno tencional" – e diz: "O sólido se estreita ou se alarga proporcionalmente à tensão, ou seja, a tração e a compressão por unidade de superfície". Félix Candela, outro genial construtor, prefere o termo “esforço” à palavra tensão e diz: “Permita-nos não empregar como sinônimo de tração o anglicismo “tensão”, usual no México, que se presta a confusões, já que sua verdadeira acepção castelhana é a de esforço, tanto de tração como de compressão”. Colocação com a qual concordamos totalmente.

13
SALVADORI, Mario; SÉLLER, R. Structure in architecture (mal traduzido como Estructuras para arquitetos). Edições A Isla, 1966, p. 330-331.

sobre o autor

Alfonso Ramírez Ponce é arquiteto mexicano, professor, escritor, conferencista, projetista e construtor de obras de baixo custo, com matérias primas como o tijolo. Assessor da FPAA (1992-2000) e da Fundação Rigoberta Menchú. Ganhador do Prêmio Armando Mestre da República de Cuba. Primeiro prêmio do Concurso de Transferência Tecnológica para a Habitação Popular, organizado pelo CYTED

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