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architexts ISSN 1809-6298


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Realizado com estrutura metálica, esse edifício resulta de uma opção pela racionalidade contida, aonde submerge qualquer necessidade de lançar mão da excepcionalidade


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LUZ, Vera Santana. Uma peça lógica. Edifício do Grupo Itambé, projeto de Vainer e Paoliello. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 050.03, Vitruvius, jul. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.050/564>.

A utilização de estruturas metálicas não chegou a configurar uma tradição consolidada comparável à do uso do concreto armado na arquitetura moderna brasileira. Essa tradição, consistente na América do Norte, resultou nas tipologias exemplares da Escola de Chicago, apropriadas aos diversos programas urbanos de edifícios comerciais ou de escritórios, bem como a depurada elaboração miesiana de esqueletos para edifícios em altura ou horizontais marcados pela sobriedade volumétrica, refinamento do detalhe e sábia implantação para agenciamento dos espaços públicos e privados, cujo primeiro germe se estabelecera no Pavilhão de Barcelona, de 1929.

O projeto para o Edifício do Grupo Itambé, de André Vainer e Guilherme Paoliello, advém de uma série de decisões lógicas articuladas, que partem de necessidades práticas afinadas para configurar uma volumetria coerente. Assim é que se adotou a grelha estrutural de aço organizando os espaços em dois pavimentos-tipo, pavimento de cobertura utilizável, térreo e subsolo a meio nível abaixo da rua, otimizando os índices urbanísticos de coeficiente de aproveitamento e taxa de ocupação que o terreno possibilitava, adequados ao programa do edifício – uma empresa de administração imobiliária. Esse primeiro esquema resultou em um prisma ortogonal isolado das divisas, cujas faces se voltam plenas ao exterior para receber luz e ventilação. O fechamento de todas as fachadas é homogêneo, resolvido por caixilhos semelhantes, de alumínio e vidro do piso ao teto, com modulação de aberturas e partes fixas. Essa neutralidade é submetida à aplicação de quebra-sóis ligeiramente destacados do plano da caixilharia por um passadiço de manutenção, orientados segundo as diferentes condições de insolação, de modo que à face norte se articulam placas de madeira horizontais e às faces leste e oeste, placas verticais.

A modulação dos vãos entre pilares obedece à hierarquia interna dos espaços – pisos abertos no primeiro e segundo pavimentos, para a ocupação de escritório panorâmico com alta densidade de funcionários; diretoria, conselho e reuniões, pequenas recepções e jardins na cobertura; recepção e espera, exposições e auditórios no pavimento térreo; estacionamento, infra-estrutura técnica e salas complementares no subsolo, aberto em sua maior extensão. Dada a largura do volume, seus vãos estruturais se intercalam em duas faixas externas de 8,00 metros e uma faixa central de 10,00 metros e, no sentido longitudinal os vãos se organizam em duas faixas externas de 8,00 metros e três faixas centrais de 6,75 metros de distância entre eixos de pilares. Essa organização modular A:B:A e A:B’:B’:B’:A pretende a articulação em planta do espaço do pavimento-tipo como um anel externo contínuo de 8,00 metros, suficiente para a circulação interna e disposição de postos de trabalho, mobiliário e equipamentos perpendiculares ao longo das fachadas, em torno de um núcleo central aberto com pé direito total intercomunicando os pisos, disposição que faz lembrar o pioneiro Edifício Larkin, de Frank Lloyd Wright, de 1903, modelar na concepção de escritórios abertos.

O recorte do núcleo central – uma área de 10,00 x 20,25 metros de vão –, abriga dois blocos cerrados, um deles para as áreas hidráulicas de apoio, como copa e banheiros e o outro para a circulação vertical, constituído por um elevador e uma escada envoltória. Esses dois blocos verticais, estrategicamente posicionados na área central do volume pela não necessidade de iluminação natural, tendo garantida sua ventilação por dutos verticais de tiragem mecânica, foram estruturados por um sistema independente de concreto armado que realiza o contraventamento da grelha metálica principal e é organizado por vigas e pilares e fechamento de alvenaria revestida, pintada de vermelho vivo ressaltando sua presença maciça. O vão livre remanescente no núcleo aberto central, de pé direito contínuo, é banhado por iluminação zenital, obtida por faixas de cobertura de vidro, completadas por um conjunto de três sheds curvos na posição frontal do volume, que apontam na fachada da rua, como uma delicada pontuação ao volume homogêneo.

Duas outras decisões de projeto perturbam a pureza inicial do volume: a colocação excêntrica de uma escada metálica de serviço em uma das faces laterais e duas prumadas simétricas na fachada dos fundos, para distribuição dos equipamentos externos do sistema split de ar condicionado. Esses três volumes salientes são vedados por painéis industriais de chapa metálica também pintadas de vermelho, estabelecendo um conjunto lógico de leitura da leveza e translucidez do volume principal do edifício em relação aos prismas compactos verticais de apoio.

As demais decisões construtivas e de acabamento são de extrema simplicidade: lajes em steel-deck sem forro, pintura complementar de piso, organização de linhas de dutos de ar condicionado e canaletas de iluminação e instalações aparentes, cobertura de telhas metálicas, peitoris e guarda-corpos construídos com perfis e chapas metálicas, arrimos de paredes-cortina constituindo um intervalo com respeito às divisas para formar uma área de jardins e simplificar a estrutura e um especial cuidado nas decisões de proteção contra incêndio da grelha de estrutura de aço: os pilares são encapados em concreto evitando também qualquer trepidação e as vigas mantém seu perfil, sendo sua almas revestidas por uma argamassa de proteção e as mesas superiores e inferiores tratadas por pintura adequada, de modo a garantir a proporção de sua silhueta.

Esse edifício representa um experiência da maior racionalidade, exemplo de uma metodologia de projeto que parte de uma hipótese estrutural e, através de decisões paulatinas, passo a passo vai constituindo um todo coerente, onde a qualidade está na propriedade em bem configurar o típico pelo controle do projeto sem necessidade de lançar mão da excepcionalidade.

ficha técnica

Projeto
Grupo Itambé

Local
São Paulo, SP

Datas
2002 (projeto) e 2003 (conclusão)

Área do terreno
1 882,30 m2

Área construída
3 760,80 m2

Arquitetura
André Vainer e Guilherme Paoliello (autores); Carolina Nobre (co-autora); Nina Domingues, João Paulo Meirelles, Luciana Padroni e Manoel Maia (colaboradores)

Fundações
Fundacta

Estrutura metálica
Exata Engenharia e Codeme

Instalações
Prolux Engenharia

Ar condicionado
Willem Scheepmaker Associados Air Systems

Luminotécnica
Reka Iluminação

Automação e sistemas
Si2

Paisagismo
Arquitetura da Paisagem

Sinalização
Estúdio Rafic Farah – Rafic Farah, Mariana Lucato e Karina Aoke

Construção
Leopoldo Góes Engenharia e Construções

Fotos
João Xavier

sobre o autor

Vera Santana Luz é formada pela FAU Mackenzie, Doutora pelo Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Paulo, professora da FAU PUC-Campinas desde 1986 realizando projetos e obras de arquitetura em escritório próprio em sociedade com o arquiteto Fernando Vianna Peres na Casa de Projetos

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