Desde 1979, o Júri que confere anualmente o Prêmio Pritzker nos tem habituado a surpresas agradáveis e desilusões desanimadoras. Em 2006, decidindo conferir o Prêmio a Paulo Mendes da Rocha (1928), o Júri nos presenteou com a mais agradável das surpresas.
Era impossível encontrar uma escolha melhor e mais inteligente. Mendes da Rocha, de fato, entre aqueles ativos na segunda metade do século 20, é um dos arquitetos mais originais, coerentes e corajosos. Autor de poucas obras (2), Mendes da Rocha é estranho à cena atualmente ocupada pelos mais histriônicos entre os protagonistas da arquitetura internacional.
Desde 1958, quando a inusitada síntese de vitalidade formal e de concretude estrutural representada pelo Clube Atlético Paulistano em São Paulo lhe fez merecer a atenção dos mais atentos críticos internacionais, até 1988, ano no qual completou uma outra das suas obras primas, o Museu Brasileiro de Escultura, sempre em São Paulo, a carreira de Mendes da Rocha conheceu momentos de sucesso e de dificuldade, estes últimos devido às perseguições políticas que os governos ditatoriais que se sucederam no Brasil submeteram os melhores arquitetos do País.
A coerência que Mendes da Rocha soube dar prova no curso da sua vida, e da vida transferir às suas construções, merece respeito e admiração. A clareza das concepções estruturais, a exemplaridade das escolhas formais, a límpida tectônica, o rigor e a essencialidade de cada solução construtiva, a intransigência no emprego dos materiais, o desprezo pelo supérfluo e a indiferença pela aparência de atualidade, a segura racionalidade, fundem-se na marca das obras de Mendes da Rocha.
Entre os fundadores de uma magnífica Escola, como aquela formada no Brasil na segunda metade do século 20, Mendes da Rocha é herdeiro confiável e continuador conseqüente, genial e digno da melhor tradição e dos mais sólidos valores que deveriam nutrir a cultura arquitetônica (3).
notas
1
Este artigo será publicado na revista Casabella, nº 744, maio 2006.
2
As obras recentes de Paulo Mendes da Rocha foram publicadas nos números 688, abril 2001, 693, outubro 2001, 720, março 2004 de “Casabella”.
3
Nota do editor – Podem ser consultados os seguintes artigos sobre Paulo Mendes da Rocha publicados no Portal Vitruvius:
ANELLI, Renato. “Um olhar intensivo”. Resenhas Online nº 052. São Paulo, Portal Vitruvius, dez. 2002 <http://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha052.asp>.
COENEN, Jo. “Meus encontros com Paulo Mendes da Rocha”. Arquitextos nº 001.02. São Paulo, Portal Vitruvius, jun. 2000 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq001/arq001_02.asp>.
CRUZ, José Armênio Brito. “Mube violentado”, In: Minha Cidade nº 014, São Paulo, Portal Vitruvius, mar. 2001, <www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc014/mc014.asp>.
ESPALLARGAS GIMENEZ, Luis. “Autenticidade e Rudimento. Paulo Mendes da Rocha e as intervenções em edifícios existentes”. Arquitextos nº 001. Texto Especial 001. São Paulo, Portal Vitruvius, jun. 2000 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp001.asp>.
GUERRA, Abílio. “O oitavo dia da criação”. Resenhas Online nº 013. São Paulo, Portal Vitruvius, dez. 2001 <http://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha013.asp>.
MULLER, Fábio. “Velha-nova Pinacoteca: de espaço a lugar”. Arquitextos nº 007. Texto Especial 038. São Paulo, Portal Vitruvius, dez. 2000 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp038.asp>.
PASSARO, Andrés Martín. “A descoberta de uma geração perdida”. Resenhas Online nº 062. São Paulo, Portal Vitruvius, abr. 2003 <http://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha062.asp>.
SANTOS, Cecília Rodrigues dos. “Paulo Mendes da Rocha: os lugares como páginas da dissertação de uma existência”. Arquitextos nº 038. Texto Especial 191. São Paulo, Portal Vitruvius, jul. 2003 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp191.asp>.
SCHARLACH, Cecília. “As Olimpíadas de 2008 em Paris e a participação de Paulo Mendes da Rocha”. Arquitextos nº 015.01. São Paulo, Portal Vitruvius, ago. 2001 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq015/arq015_01.asp>.
SPERLING, David. “Arquitetura como discurso. O Pavilhão Brasileiro em Osaka de Paulo Mendes da Rocha”. Arquitextos nº 038.3. São Paulo, Portal Vitruvius, jul. 2003 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq038/arq038_03.asp>.
SPERLING, David. “Museu Brasileiro da Escultura, utopia de um território contínuo”. Arquitextos nº 018.02. São Paulo, Portal Vitruvius, nov. 2001 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq018/arq018_02.asp>.
VILLAC, Maria Isabel. “Um novo discurso para a megacidade. Projeto Praça do Patriarca”. Arquitextos nº 018.01. São Paulo, Portal Vitruvius, nov. 2001 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq018/arq018_01.asp>.
WISNIK, Guilherme. “Nova cobertura da Praça Patriarca em São Paulo”, In: Minha Cidade nº 060, São Paulo, Portal Vitruvius, dez. 2002, <www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc060/mc060.asp>.
sobre o autor
Francesco Dal Co é arquiteto e editor da revista Casabella.
Tradução de Renato Anelli.