Com o lançamento do concurso (1) em 2006 para a ampliação da Biblioteca de Estocolmo, projeto do renomado arquiteto Eric Gunnar Asplund, um novo cenário se anuncia e com ele, uma pergunta inevitável, qual seria esse novo cenário? Como intervir em uma obra ícone da Arquitetura Moderna Escandinava, de autoria de um dos dois mais proeminentes arquitetos [juntamente com Alvar Aalto], escandinavos do início do século XX?
Como associar o desejo por um futuro e a injunção da memória. Mas deveriam essas duas tarefas ser apenas unidas ou justapostas? Uma, a ampliação, não deveria estar fundamentada na outra, o passado? Ao fundamentar-se em algo existente, o novo não estaria de alguma maneira já se fundindo a ele?
Um desafio enorme se configura: a necessidade de arquivamento de uma memória, sem corrompê-la, concomitante a adição de uma nova estrutura [o complemento] pelo menos três vezes maior que a referência “ícone” existente. Diante disso, qual seria a melhor estratégia de arquivamento dessa memória?
Em um sentido enigmático, talvez o conceito de arquivo não deva estar associado ao arquivamento de algo, ou seja, ao passado ou aquilo que deve ser mantido apenas como preservação de um tempo. Trata-se de futuro, a possibilidade de se transformar em promessa e uma responsabilidade para o amanhã se não o tratarmos como arquivo arquivável, mas algo potencialmente capaz de arruinar a própria noção de arquivo como memória ao ter a possibilidade de lançar-se ao porvir, e para isso, transformando-se.
A idéia então de lançar-se adiante, recorrendo a Derrida, o jet em inglês, um termo o qual poderíamos associá-lo mais com gênese que com genealogia, o início de algo e não algo espectral, remoto, cristalizado por uma áurea inviolável.
Sim, a memória é importante para que lembremos, mas não uma lembrança que demandasse sempre a proteção, como o arquivo, o arkhê e o arkheîon, a casa dos arcontes e a ação arcôntica de proteção e comando do que merece ser arquivado.
Em sua obra Mal de Arquivo, acerca de uma discussão sobre o arconte e sua residência, local onde eram guardados os arquivos, Derrida associa a domiciliação do arquivo a partir de um cruzamento do topológico e do nomológico, ou seja,
do lugar e da lei, do suporte e da autoridade, uma cena de domiciliação torna-se, ao mesmo tempo, visível e invisível. Remetem todas a esta topo-nomologia, a esta discussão arcôntica de domiciliação, a esta função árquica, na verdade patriárquica, sem a qual nenhum arquivo viria à cena [...] Esta função arcôntica não é somente topo-nomológica. Não requer somente que o arquivo seja depositado em algum lugar sobre um suporte estável e à disposição e à disposição de uma autoridade hermenêutica legítima. É preciso que o poder arcôntico, que concentra também as funções de unificação, identificação, classificação caminhe junto com o que chamaremos o poder de consignação.
Consignar, con-signar, para Derrida (2) não significaria apenas “designar ou confiar, pondo em reserva, em um lugar e sobre um suporte, mas o ato de consignar reunindo signos” Então, o princípio arcôntico de arquivo, de arquivamento, seria também um princípio de reunião de signos, ou simplesmente, reunião.
Quão nós, os arquitetos construtores de arquivos, arkhê-tektôn, em nossa função arcôntica de “domiciliação da memória”, de arquivamento, não estaríamos, historicamente, trabalhando de maneira isolada o signo a fim de monumentalizá-lo? Ainda sobre o termo arkhê, este remete também aos termos arcaico e arqueológico. Sendo assim, além de nós arquitetos trabalharmos de maneira isolada o signo [receio de contaminação?], seria interessante nos indagarmos o quanto estaríamos também trabalhando este signo de maneira arcaica e arqueológica, ou seja, condenando-o eternamente a um passado, uma imagem representativa de si mesmo, buscando eternizá-lo em um sentido único.
Em um arquivo não deve haver nem a dissociação e isolamento absolutos do signo histórico, nem a sujeição deste ao novo. Ao contrário de entendê-lo de forma arcôntica, isolando-o em uma auto-referência e autoridade histórica, a estratégia poderia ser de ameaçá-lo com a possibilidade da con-signação, a reunião efetiva com outros signos suficientemente fortes para que o desestabilizem e o contaminem [suplemento] em sua autoridade e, ao mesmo tempo, suficientemente frágeis para que não o ultrapassem. Poderia, então, a reunião efetiva ao “signo arquivado”, e não apenas aproximação de algo, tornar-se capaz de transformar um arquivo conservador em instituidor de algo além de sua “natureza”, atualizando-o?
Trata-se de des-organizar o saber familiar consolidado e seguro sobre o arquivo histórico e, assim, despertar a possibilidade de outros sentidos para esse arquivo. A diferença, o vir-a-ser do signo só será possível de houver um enfraquecimento deste como significado original e inviolável, se houver uma des-apresentação e arruinamento conceitual e, ao mesmo tempo, re-apreensão conceitual desse signo. A articulação, a articulação do signo original com algo, com acessórios, signos suplementares seria a condição para o vir-a-ser significante do signo, vir-a-ser linguagem de uma linguagem cristalizada. A articulação do signo original com signos/acessórios suplementares é capaz de arruinar a natureza, a essência deste signo, um arruinamento desejável para o seu vir-a-ser.
Diante do exposto, como poderíamos entender a proposta de ampliação da Biblioteca de Estocolmo, um “conjunto” composto pelo histórico edifício do arquiteto Eric Gunnar Asplund e algumas estruturas complementares representadas por três pequenos edifícios anexos. Submeto agora à discussão a proposta para o concurso de ampliação, foco desse trabalho onde o conceito de articulação será fundante.
O projeto proposto para a ampliação da Biblioteca de Estocolmo
Trabalho iniciado por volta de 1910 para a criação de uma biblioteca central na cidade de Estocolmo, Eric Gunnar Asplund iniciou seus desenhos da Biblioteca Publica, juntamente com um bibliotecário municipal chamado Fredrik Hjelmquist, após uma viagem de estudos em 1920 aos Estados Unidos para estudar bibliotecas em diferentes cidades. Seus primeiros desenhos já mostravam a solução que viria a ser adotada e se transformar em um ícone da arquitetura do século XX, um grande cilindro envolvido por quatro prismas retangulares, em uma solução híbrida como linguagem, entre um estilo que misturava o clássico com os primeiros desenhos do movimento moderno.
Asplund apresentou o projeto no início de 1924, tendo sido inaugurada, a biblioteca, em 31 de março de 1928, porém, por razões econômicas, sem um dos prismas retangulares de fechamento, erguido, posteriormente, em 1932.
Por volta de 1920, Asplund estava envolvido no processo de planificação da cidade, tendo sido incumbido de projetar um campus universitário junto do local que seria implantada a biblioteca. Em seus primeiros desenhos, junto com a biblioteca, Asplund também previu a implantação de alguns edifícios públicos, alguns blocos perpendiculares à rua Odengatan, no pé da colina e um Observatório municipal no topo. Como curiosidade, a implantação levemente rotacionada da biblioteca em relação às duas ruas, Odengatan e Sveavagen, foi resultado de uma elaborada composição de projeto em termos de eixos visuais entre a Rotunda e o Observatório no topo da colina, além de ser uma referência aos meridianos, ao se colocar em um meio termo entre o antigo e o novo, corrigido.
Um importante momento do projeto, e que nos interessa ressaltar, foram os projetos dos atuais anexos da biblioteca nos anos 30. Baseados em desenhos de Asplund, em estilo clássico, com a fachada voltada para a rua Odengatan remetendo à fachada da biblioteca, dois dos três anexos existentes foram projetados pelo arquiteto Erik Lallerstedt e erguidos em 1931 e 32, apenas 4 anos depois da inauguração da Biblioteca. Apenas o terceiro anexo, situado ao lado da biblioteca, foi projetado por Paul Hedqvist, em 1952, portanto, bastante posterior, em um estilo apenas adaptado do restante do conjunto. Inicialmente projetados, os dois primeiros, para abrigar departamentos de ciências sociais e um laboratório de bioquímica da Universidade de Estocolmo, foram posteriormente incorporados como anexos da Biblioteca.
Com a projeção de um crescimento populacional da cidade de Estocolmo de 150.000 pessoas para o ano de 2030, foi lançado um concurso no ano de 2006 para ampliação do conjunto formado pelo prédio projetado por Asplund e os três anexos, destinando, para o projeto, uma exígua área no pé da colina, atrás dos três anexos voltados para a rua Odengatan, tendo-se a possibilidade ainda, a critério de cada competidor, de demolição parcial ou total dos anexos.
Assim, o concurso nos colocava um desafio: a decisão pela demolição ou não, parcial ou total, dos anexos. Mas por que são chamados de anexos? O que significa e pode significar o termo anexo? No início, os três edifícios, desenhados por Asplund, não tinham relação com a Biblioteca, faziam parte da planificação da área estando associados à Universidade, alocada na outra extremidade da área. Seriam mesmo anexos esses edifícios pensados concomitantemente ao restante do conjunto e partes importantes, na época, de um plano maior de estruturação de uma área?
Não que edifícios não possam ser demolidos, substituídos por outros, mas não estariam sendo esses edifícios minorados ao serem entendidos e denominados como anexos? Erguidos, o prédio de Asplund e dois dos “anexos”, praticamente de maneira concomitante [ressalta-se, baseados em desenhos do próprio Asplund], estabeleceu-se uma hierarquia ao denominá-los anexos. Com uma arquitetura “monumental”, mais eloqüente [a eloqüência fortalece a re-presentação da imagem] e grandiosa que os anexos, seria o prédio projetado por Asplund um exemplo de uma arquitetura sublime, um objeto a ser contemplado [e mitificado] à distância e em comparação com o qual todo o resto é pequeno? Institui-se, novamente, a razão do colossal, que já por ser absolutamente grande, grandioso, excede toda comparação, tornando essa comparação inadequada.
Ao tornar-se um mito, um paradigma, um arquivo inviolável, a possibilidade de passagem do conservador para o instituidor de algo novo, ou da conservação para um além, adiante da própria obra tornou-se um desafio ainda maior; tornou-se fundamental o adiante [o lançar-se, a gênese de algo novo, de uma nova situação] e não o à distância. Possivelmente, se a Biblioteca fosse considerada em sua própria aura, estaríamos condenando-a a seu passado. E sua eterna re-apresentação, um espectro paradigmático, imperturbável e inabalável, nem produtor nem gerador de coisa alguma, apenas objeto sedutor a ser contemplado, um exemplo condenado a ser fac-símile de um modelo, ele próprio. Citando Derrida, “o paradigma é a sepultura do paradigma, o monumento funerário de si mesmo[...]Efeito de Fantasma. Nada é mais estranho, mais inquietante: está ali sem [já não mais, o grifo é meu]estar ali” (3).
Nota-se que o termo Paradigma ou o “Paradigmático” tem o sentido de propor-se como modelo, dar-se como exemplo, mas também censurar, condenar, infringir um castigo exemplar, como uma pena destinada a servir de exemplo. Ao transformar uma obra arquitetônica em paradigma, não estaríamos, possivelmente, condenando-a?
Passou a ser fundamental não entender a proposta de ampliação atual apenas como um complemento ao principal e os outros edifícios não somente como anexos, para que a Biblioteca de Asplund também pudesse ser entendida como um suporte ao porvir e não um objeto a ser conservado sobre um suporte.
Apesar de sua inegável importância histórica, no momento atual, pareceu-nos de fundamental importância não entender o prédio projetado por Asplund como a obra de arte e o restante dos edifícios como apêndices, anexos ou complementos; ao contrário, seriam párergons (4), ou seja, elementos nem totalmente integrados à obra principal, o marco [o ergon], o dentro-da-obra, nem elementos autônomos, o fora-da-obra, mas ao mesmo tempo obra e fora-da-obra, algo que agrega, um suplemento, não como simples exterioridade, mas capaz de interferir e agregar significado à obra, ao marco.
Novamente, partes integrantes do plano de Asplund para a área, e projetados, os dois primeiros anexos, praticamente em concomitância a Biblioteca, sendo posteriormente incorporados à ela, não poderiam ser entendidos apenas como anexos, talvez coadjuvantes que sempre ameaçaram o edifício principal, o marco, porque sempre estiveram lá, ao lado, sempre fizeram parte de um conjunto que ia além do marco, sendo fundamentais, inclusive, para a viabilização do plano para a área elaborado pelo próprio Asplund.
Porém, apesar de partes importantes de um conjunto, os edifícios “anexos” permanecem com certa autonomia, isolados tanto em relação aos interiores de cada um como em relação à situação urbana. Premissa do concurso, a ampliação poderia levar em conta a possibilidade de melhor articulação entre eles, caso fossem preservados, e deles com o Observatório Municipal no topo da colina, hoje isolado e praticamente abandonado como local de visitação.
Em virtude da extensão do programa proposto pelo edital e, de certa forma, a exigüidade da área proposta, a solução mais evidente e imediata seria a demolição dos anexos para liberação da área e acomodação de todo programa no prédio histórico e na nova edificação. Dificilmente essa solução não levaria à criação de um novo marco na paisagem, condenando o marco histórico à sua inscrição histórica, sua condição inviolável de arquivo e de “domiciliação” da memória ao se tentar preservá-lo de qualquer contaminação em relação ao novo. Constituiria-se, dessa forma, uma situação onde dois marcos justapostos realçariam, por oposição, suas condições de passado e futuro.
Como questão corolária, a supressão do párergon, ou seja, dos chamados “anexos”, a fim de se realçar os ergons, os marcos, não poderia ser interpretado como uma repressão? Uma repressão em prol do essencial, da pureza da “obra de arte”, do sublime colossal, eliminando-se os acessórios ou aquilo que pudesse contaminá-la.
Como a intenção era não condenar o “marco histórico”, o edifício projetado por Asplund, ao seu papel eterno de “domiciliação” da memória ao contrapô-lo com o que poderia vir a ser um marco da contemporaneidade [um novo marco simplesmente justaposto ao marco histórico], optou-se por uma solução projetual que reforçasse a idéia de conjunto, a unificação dos tempos, passado e futuro, como uma possibilidade do porvir, ao contrário da clara identificação dos marcos como co-existência do diverso, da diversidade. Paradoxalmente, se adicionamos algo a uma estrutura, se a adição permanece como absoluta exterioridade não se estaria anulando essa adição? A adição a algo pré-existente não pressuporia, justamente, interferência em algum nível?
A estratégia passou a ser, transformar o marco histórico em párergon, explico-me, algo suficientemente preservado em sua dimensão história por permanecer quase independente e, ao mesmo tempo, fragilizado em sua condição monumental, ao quase aderir à situação proposta. O conjunto histórico passaria a ser contaminado por uma nova estrutura objetivando a constituição de algo além de sua inscrição histórica.
Como optou-se pela preservação parcial dos anexos [os dois primeiros foram preservados, o terceiro, por ter sido construído em outra época e apenas adaptado ao conjunto, seria demolido e re-construído parcialmente como envoltória e volume memorial], a área restante tornou-se insuficiente para uma “grande” construção, o que acabou contribuindo com a intenção de não se criar um “novo” marco.
A parcial preservação dos anexos seria em decorrência também de um corte em diagonal nestes desobstruindo a visual da rua Odengatan à Biblioteca histórica, trazendo, portanto, “mais” Biblioteca para a cidade ao mesmo tempo que se tornaria “menos” Biblioteca, e “domiciliação” da memória, por dividir tanto parte significativa de seu programa como “valor” simbólico com o restante do conjunto.
Parte do extenso programa de ampliação seria acomodado em interiores reformulados dos antigos anexos e do prédio histórico projetado por Asplund. A maior parte do programa, entretanto, seria acomodada em um edifício “lâmina”, disposto longitudinalmente aos anexos, posicionando-se entre esses e a colina, paralelo à rua Odengatan, reforçando a unificação do conjunto ao inserir-se como um elemento articulador e suporte de todos os prédios, inclusive como um “andaime” de acesso ao Observatório no topo da colina.
Com uma área algumas vezes maior que a atual Biblioteca, o novo conjunto não poderia contar com a atual entrada do prédio histórico como acesso principal. Seria criada uma grande praça de acesso entre o prédio projetado por Asplund e os “anexos”, conduzindo os visitantes diretamente para o interior do edifício lâmina.
Uma vez no saguão principal, passarelas, corredores e escadas rolantes distribuiriam os visitantes/usuários pelo prédio e para os anexos, além de dar acesso, por uma generosa galeria [um museu dedicado a Asplund] no sub-solo, ao prédio projetado por Asplund; na outra extremidade, cruzando o saguão do edifício proposto, haveria um acesso ao metrô da cidade. Assim, o prédio histórico e anexos seriam interligados e seus interiores unificados por um sistema de circulação, horizontal e vertical, do edifício-lâmina.
Em destaque, como uma ligação pública e urbana, uma imensa escada-rolante levaria os visitantes direto do saguão público para uma “janela/praça” no alto do edifício laminar, um local de “contemplação” à Biblioteca de Asplund e de acesso ao Observatório no topo da colina. Configuraria-se assim uma grande conexão, articulação, pública urbana entre a rua Odengatan e o Observatório municipal por intermédio do edifício “lâmina”, um suporte “andaime”. Articulação e não justaposição, sem arquias e hierarquias.
Ao invés de colocar-se como um novo marco na paisagem, independente, monumental, a nova edificação funcionaria também como um párergon, quase independente e quase aderente ao conjunto ao situar-se como um pano de fundo diferenciado, mas, ao mesmo tempo, de articulação, de relação entre os blocos e um elemento de reestruturação urbana. Diferenciado, pois, ao contrário de ser trabalhado como volume opaco, como todos os edifícios históricos, sua estruturação e definição em grelha metálica translúcida funcionaria como contraponto, garantindo independência e hibridização de linguagem.
Se não podemos falar mais de um sublime matemático [quantidade/tamanho e qualidade], associado fundamentalmente à contemplação, talvez pudéssemos falar de um sublime dinâmico [relação entre], um sublime associado ao movimento. Ao colocar-se como um “andaime” urbano, uma grande conexão urbana, a nova edificação contribuiria para a formação de uma “situação” suplementar de todo o conjunto, uma força suplementar advinda da plenitude do conjunto, onde os edifícios, isoladamente, seriam apenas suplentes.
O conjunto da “Nova Biblioteca”, composta pelo prédio histórico de Asplund, os anexos e o novo edifício adquiriria um papel suplementar (5) ao facilitar o trânsito da população das ruas lindeiras ao topo da colina e ao Observatório da cidade, e assim, transformar-se em algo potencialmente além a que foi destinado, uma plenitude enriquecendo outra plenitude. Acumular presenças, ter ao mesmo tempo várias significações, estaria aí a força, em potencial, do adiante do prédio histórico projetado por Asplund; citando Derrida (6), “tornando-se talvez mais prodigioso ao negar o fim que constitui seu próprio conceito”, ou seja, o de marco colossal e “arquivo da memória”.
Relações com o de-fora, e não com o em-si, talvez essa maneira de interrogar a História, a partir de jogos de possibilidades conceituais outras [diferença profunda] e não apenas diversidade de linguagem [diferença frágil], seja a forma mais fecunda de desfazer identidades e construir outras histórias na História.
notas
1
Foram apresentados mais de 1.000 projetos na primeira fase, onde seriam selecionados 5, posteriormente 6, projetos para a segunda fase, ainda em andamento.
2
DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo. Uma impressão Freudiana. Rio de Janeiro, Editora Relume ltda, 2001, p. 14.
3
DERRIDA, Jacques. La verdad en pintura. Barcelona, Editorial Paidós, 2001, p. 236.
4
Em suas discussões sobre o conceito Kantiano de párergon em sua obra La Verité em Peinture, Derrida associa o termo ao suplemento, algo como um fora-da-obra na obra, portanto nem obra nem fora da obra, mas uma adição [suplemento de operação] des-necessária ao ergon, à obra, ao marco, algo secundário mas capaz de afetar a estrutura do ergon, seus sentidos e significados.
5
Citando Derrida (2004), “o suplemento supre, ele não se acrescenta senão para substituir [...]Enquanto substituto, não se acrescenta simplesmente à positividade de uma presença, não produz nenhum relevo” , seu lugar é assinalado pela “quase ausência” , mas capaz de produzir presenças outras, um outro signo além da coisa.
6
DERRIDA, Jacques. La verdad...Op. Cit. 2001, p. 150.
7
Planta nível 1: no centro, praça rampada de acesso ao saguão principal de distribuição. À esquerda, a conexão com a Biblioteca do Asplund no primeiro sub-solo. Entre os “anexos”, os dois auditórios enterrados. À direita da imagem, rua de acesso à área de carga-descarga.
8
Conjunto da “Nova Biblioteca“: em evidência, praça no térreo de acesso ao conjunto, praça elevada de acesso ao observatório no alto da colina. Corte em diagonal dos anexos permitiriam melhor visualização do prédio histórico da rua Odengatan, ao mesmo tempo que grelha estrutural preservariam “memória” volumétrica.
9
Vista frontal: conjunto da “Nova Biblioteca” composto pelo edifício histórico, praça de acesso e telão urbano, anexos e edifício “lâmina” com Observatório ao fundo, no alto da colina. As cores na fachada do edifício evidenciam os setores do prédio. A grelha estrutural aparente faria o contraponto com a solidez volumétrica do prédio histórico.
ficha técnica
Projeto
Proposta de Ampliação da Biblioteca de Estocolmo (concurso)
Ano
2006
Autor
Arq. Igor Guatelli
Equipe
Olívia Fontanetti
Patrícia Burmeister
Mayra Barriento
Alexandre Yagui (perspectivas)
referências Bibliográficas
COLQUHOUN, Alan. Modernidade e Tradição Clássica ensaios sobre arquitetura. São Paulo, Cosac & Naify, 2004.
DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo, Perspectiva, 2004, p.178.
DERRIDA, Jacques. L’écriture et la différence. Paris, Le Seuil, 1967.
DERRIDA, Jacques, BERGSTEIN, Lena. Enlouquecer o Subjétil (Forcener le Subjectile). São Paulo, UNESP, 1998.
SOLA MORALES, Ignasi Y COSTA, Xavier. Metropolis. Barcelona, Ed. Gustavo Gilli, 2005.
sobre o autor
Arquiteto, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, mestre em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, doutor pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, professor do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie.