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architexts ISSN 1809-6298


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A autora Maribel Aliaga Fuentes aborda a questão da habitação social no Chile, destacando políticas e iniciativas da capital Santiago em que a intervenção estatal ocorre com a adoção de um modelo que se alterna entre ditadura e democracia


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FUENTES, Maribel Aliaga. Do quarto redondo à meia água. Um olhar sobre a habitação social chilena. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 102.02, Vitruvius, nov. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.102/93>.

Políticas habitacionais na América Latina esbarram ora na falta de recursos, ora na mudança de contexto. O trabalho pretende mostrar que no caso do Chile, destacando políticas e iniciativas da capital Santiago, a intervenção estatal ocorre com a adoção de um modelo que se alterna entre ditadura e democracia. Podemos perceber que esta intervenção se dá principalmente no aspecto quantitativo, não em qualidade. São raros os exemplos de qualidade, e apesar dos números parecerem extremamente favoráveis servem apenas para propagandear uma solução, quando na maioria dos casos atendem parcialmente as questões ligadas a aquisição e implantação de moradias populares. Assim como toda grande cidade contemporânea, Santiago do Chile, principalmente desde a ditadura, resolve seu déficit habitacional deslocando comunidades inteiras para periferias totalmente desprovidas de infra-estrutura e equipamento. Entre os projetos bem sucedidos é possível perceber uma interação entre profissionais e sociedade, esta interação e participação da comunidade organizada gera exemplos de fama internacional, como o Elemental Chile.

O concurso internacional de idéias Elemental Chile, experiência recente e bem sucedida, nos remete a uma nova geração de arquitetos e pensadores da arquitetura que tem colocado este país sul americano no cenário internacional com projetos que aliam teoria e participação popular. Humberto Eliash e Eduardo San Martin (2) revelam que a preocupação em atender a população de baixa renda se pauta muito mais pelo número de famílias atendidas do que pela exemplaridade das construções; “o Chile tem três experiências que devem ser destacadas pela sua transcendência urbana, pela participação de sua gestão social e pelos seus resultados quantitativos: Cités, Hogar de Cristo, Taller Norte (ONG)”.

Desmembramento histórico

Na segunda metade do século XIX, a habitação coletiva em Santiago do Chile se dividida em três categorias: cuartos redondos, ranchos e conventillos. O cuarto redondo representava uma habitação que não tinha outra fonte de luz ou ventilação que não fosse a porta. O segundo tipo de habitação popular era o rancho, uma construção que tinha a sua origem tipológica na construção rural, tendo como base as habitações indígenas.

“Em 1883 a prefeitura de Santiago estabeleceu diversas concessões e franquias aos construtores de habitações para operários, em 1888 lanou uma regra para la construção de conventillos, que se definiam por um conjunto de cuartos redondos, alinhados ao largo de uma rua interior. Estas disposições seriam logo em seu conjunto incorporadas na Lei da Comuna Autônoma de 1892; que proibiu a construção de ranchos de paja dentro de certos limites urbanos e incluiu entre as ações municipais o fomento da construção de conventillos higienicos, elaborando planos e oferecendo vantaens tributárias às empresas que utilizassem estes benefícios” (3).

Como vimos na definição anterior, o conventillo era uma construção precária formada pela repetição de cuartos redondos. A ocupação espacial se dava pela repetição ao longo de uma rua interna que também servia como pátio coletivo. Esta habitação surgiu inicialmente para atender ao mercado de locações, mas também resultou do abandono do centro da cidade de Santiago pelos grupos aristocráticos, que subdividiram suas próprias casas e começaram a alugar as peças separadamente. O conventillo representava a principal forma de habitação coletiva de Santiago em fins do século XIX.

Para atender a carência habitacional das famílias pobres e operárias que começam a se transferir do campo para a cidade, criando uma nova organização social com necessidades e reivindicações próprias, surgiu no início do século XX uma tipologia bem freqüente na cidade, e da qual ainda hoje é possível encontrar exemplares em bom estado de conservação: os cités. Estes exemplos de boa conservação talvez se expliquem pela hipótese de que na sua origem, esta tipologia fosse destinada aos setores médios da sociedade.

“A primeira Cite foi desenhada pelo arquiteto francês Emilio Doyére em 1890, a pedido do filantropo Melchor Concha y Toro – empresário das minas de prata e principal fundador da Sociedade Beneficente León XIII – para dar moradia aos familiares e amigos em difícil situação econômica. Foi um conjunto de sete casas de dois pisos localizadas na área central da cidade de Santiago” (4).

No caso dos cités as casas se repetem, geralmente ao longo de uma única via de acesso, que é também o espaço de convivência comum, embora não público. Os cités encontram-se principalmente em miolo de quadras na região central de Santiago.

Desenvolvimento político

bien de primera necesidad al que tiene derecho toda familia, planteándose atención preferencial por los más pobres y estimulándose la autoconstrucción”. Eduardo Frei Montalva (1964 – 1970)

[…] derecho irrenunciable que el Estado debe proporcionar a su pueblo, no puede ser objeto de lucro, sino de necesidad”. Salvador Allende (1970 – 1973)

[…] bien que se adquiere con el esfuerzo de la familia para el ahorro, y con aportes del Estado a través del subsidio”. Pinochet, Aylwin, Frei, Lagos, Bachelet (1973 – 2007)” (5)

O objetivo inicial deste trabalho era questionar uma impressão pessoal, a de que a ditadura militar chilena fez muito, em termos quantitativos, pela habitação social chilena, entregando um número significativo de poblaciones. Todavia, tais soluções, que a olhos estrangeiros pareciam resolver o déficit habitacional em termos numéricos, a um olhar mais atento apenas privatizavam a miséria, tanto no sentido de fechar o problema entre quatro paredes, quanto no sentido de uma política habitacional privatizada em todos as suas etapas; política essa que se transformaria em modelo a ser seguido por outros países do continente.

Para entender a política habitacional chilena e o seu desenvolvimento nos últimos cinqüenta anos podemos começar a leitura pelos discursos presidenciais e o sua posição em relação à política para a habitação.

Bem de primeira necessidade (1964-1970)

As políticas habitacionais das décadas de 1950 a 1970 falham no objetivo de atender a todas as famílias, uma vez que o alto preço das construções impossibilitava o acesso das famílias mais necessitadas. Assim, a construção de 4,5 habitações (unidades habitacional) para cada mil pessoas não chegava a metade do número estimado para a redução do déficit habitacional. Portanto, como a construção de unidades habitacionais pelo governo do Presidente Eduardo Frei não atingiu seus objetivos, os programas governamentais tomaram como base a entrega de lotes e serviços, em lugar de habitações completas.

As dificuldades encontradas pela administração Frei para sanar este problema e a proximidade das eleições presidenciais do ano 1970, acirraram o debate político em torno da questão. A pressão popular se traduziu na forma de invasões, criando novas expectativas na figura do Presidente Salvador Allende.

Direito irrenunciável (1970 - 1973)

O governo Allende tentou usar a construção de casas para a geração de trabalho e renda. Diferente da política anterior, duramente criticada, de lotes e serviços, o novo governo tentou acelerar a construção de moradias através de tecnologias avançadas (6) e construção estatal.

“A partir dos 1960 foram implementados programas de racionalização no desenho e industrialização na produção das moradias como resposta ao crescente déficit habitacional. No início dos anos 1970 foram geradas avaliações das agências estatais ligadas ao desenho e produção das moradias, que apontavam o estabelecimento do comportamento físico ambiental das habitações produzidas pelo Estado. Estas investigações estudavam o comportamento térmico, o isolamento acústico, a iluminação natural nas peças; a radiação solar (horas de radiação e influência da orientação); durabilidade dos materiais das construções. Em paralelo, desenvolveram-se estudos da funcionalidade das residênciais, dando conta da intensidade das circulações interiores, hora de permanência nas peças, uso real dos espaços, funcionalidade, mobiliário e outros aspectos que retroalimentavam os processos de projeto das casas” (7).

Essas intervenções entraram em choque com a iniciativa privada do setor da construção, e principalmente com o setor financeiro, já que o governo decidiu eliminar a indexação do pagamento das hipotecas. Em setembro de 1973 os direitos civis foram abruptamente restringidos, e com eles o direito irrenunciável à habitação passa a ter um novo sentido.

Bem adquirido (1973-2007)

“Nunca se saberá qual poderia ter sido o resultado final [desta política] graças ao golpe militar de 1973. O governo imediatamente desfez o programa de habitação socialista, não colocando nada em seu lugar. No entanto, em 1975, o esboço de um novo modelo habitacional estava criando forma” (8).

O novo modelo habitacional proposto pela ditadura tem a peculiaridade de não ter sido criado por urbanistas ou administradores da cidade, mas por um grupo de jovens economistas, formados do intercâmbio entre a Universidade Católica do Chile e universidades americanas (também conhecidos como Chicago Boys). O manual que deu origem ao modelo, também denominado El ladrillo (9), inicialmente fora criado para servir de base a uma possível manutenção do governo Frei em 1970, sendo posto de lado com a eleição de Allende e retomado depois fielmente pelo governo militar.

Assim como a economia, a habitação também deveria se reger pelas regras do mercado, tornando o sistema mais competitivo. O papel da construção pertenceria ao setor privado, que obedeceria ao mercado, ao Estado caberia o papel de financiador desta industria. Esperava-se que esta concorrência criasse habitações melhores e mais baratas para a população, já as famílias poderiam usar os subsídios para comprar a casa que quisessem.

Mesmo com sua política liberalizante, o governo militar mantinha uma política tradicional no Chile, a de dar subvenção aos pobres. Segundo Gilbert, a distinção se dava no intento de substituir um sistema paternalista por outro que fazia melhor uso dos subsídios, ou seja, o dinheiro era destinado apenas àqueles que estavam aptos a ajudar-se a si mesmos. Dessa forma, o modelo com seu enfoque facilitador se adequava ao pensamento de Washington.

“Nos anos posteriores a 1977, o novo mecanismo de subsídio à demanda converteu-se gradualmente numa parte estabelecida do modelo chileno. No princípio não teve resultados positivos e demorou alguns anos para começar a funcionar adequadamente. Ironicamente, seus melhores resultados foram conquistados durante os governos democráticos dos anos 1990. Chile logo começou a declarar ser o único país latinoamericano que estava alcançando reduzir seu déficit habitacional” (10).

O financiamento internacional, que havia sido cortado por Nixon durante o governo Allende, retoma os empréstimos em 1976, apoiando um programa de melhorias em assentamentos informais nas cidades de Santiago e Concepción. Em uma relação de David e Golias, o Ministerio de Viviendas y Urbanismo (MINVU) queria construir casas propriamente ditas, contrariando às orientações do Banco de Desenvolvimento Interamericano (BID). Essa resistência era fruto da “desastrosa experiência da Operacion Sitio, conhecida como operação Giz, porque o giz usado para delimitar os terrenos foi a única coisa que as famílias supostamente receberam” (11).

O MINVU tinha entre seus quadros, técnicos que acompanharam as três fases da política habitacional e que tentavam conseguir esse financiamento externo com a intenção de mudar as políticas habitacionais. O governo militar, por sua vez, necessitava do prestígio que um empréstimo do Banco Mundial lhe traria, tentando conter assim os resultados negativos que a economia trazia. Mesmo que o modelo chileno se apresentasse como tipo exportação, outros países não se mostravam tão otimistas com adoção do modelo. Os argumentos contrários à adoção eram que as mudanças no âmbito da economia, política e comportamento social teriam que ser muito drásticos.

Concertación Nacional e a manutenção da política

“O modelo habitacional chileno, composto por três pilares básicos: poupança, subsídio e crédito, tem colhido êxitos notáveis do ponto de vista quantitativo, avaliado pela construção de uma média de dez residências por cada mil habitantes ao ano, o que pressupõe que o Chile seja o único país da área que tenha conseguido diminuir seu déficit habitacional [...] Não podemos silenciar, que o modelo chileno deixa fora do sistema um amplo estrato de famílias pobres e indigentes, incapazes de superar os níveis de poupança prévios exigidos para poder ser beneficiado pelo modelo e que a quantidade de marginalizados pelo sistema cresce de forma notável, quando se há tentando aplicar esta aliança virtuosa em países com menores níveis de renda, maiores taxas de desigualdade e/ou administrações públicas menos dotadas que a do Chile” (12).

O resultado desta continuidade na política habitacional se tornou evidente no período da Concertación, no qual se conseguiu reduzir o déficit à metade. O primeiro presidente eleito democraticamente, Patrício Aylwin, assumiu a presidência com um número de 750.000 famílias allegadas (13) e em, segundo a Subsecretária de Vivienda y Urbanismo, restavam apenas 160.000. Entretanto, movimentos como – Chile (Agrupación de Pobladoras y Pobladores Sin Techo de Chile) colocam que os números são meros dados quantitativos, e que as políticas adotadas não levam em consideração “as características de cada família, os bairros, os serviços e tampouco a qualidade das moradias, assim, se estas inundam, se desfazem, ou lhes falta telhado, ou ainda se tem uma que outra instalação básica” (14).

Os governos democráticos tiveram que lidar com uma enorme dívida social também no setor da habitação coletiva, mesmo que os pilares básicos da política de moradia, poupança, subsídio e crédito, tenham sido mantidos, os novos conjuntos habitacionais começam a incorporar equipamentos comunitários, áreas verdes, espaços comuns e estacionamentos.

Em 1996, o governo promulgou uma lei de qualidade da construção que estabelecia claramente os papéis dos envolvidos no processo; criava o Instituto da Construção, multidisciplinar, com a participação do Ministério, entidades profissionais, Universidades e empresas, com o objetivo de pesquisar e transferir tecnologias nas áreas da edificação e infra-estrutura. Em 1996 houve uma mudança no sistema de postulação à moradia, que permitia às famílias escolherem o bairro onde queriam viver, mesmo que estas opções ainda fossem limitadas. Desde 1998 o MINVU tem projetado e construído conjuntos habitacionais que combinam ofertas programáticas variadas, que contemplam equipamentos comunitários e áreas verdes. As casas alcançam em média os 42 m2, sendo que desde 1999 há disposições que contemplam o isolamento térmico dos telhados e a proteção contra incêndio (15).

“Nos comprometemos a construir anualmente 25.000 casa de estandar mínimo – todas com capacidade para ser ampliadas – para os mais carentes, estimulando a poupança, e contribuindo com um subsidio estatal sem necessidade de crédito hipotecário. O programa Chile Barrio alcançará – desde hoje até o ano de 2005 – a erradicação de 100.000 famílias que habitaban em acampamentos ou favelas e 30.000 mais ao ano de 2007. O conjunto destes dois programas significará que no ano de 2007 teremos dotado de casas as 300.000 famílias mais pobres de Chile” (16).

Esta política habitacional apoiada nos números tem também seus aspectos negativos, como por exemplo a existência de 700 mil famílias endividadas com os altos juros bancários. Segundo os dados apresentados no artigo, há cerca de 200 mil famílias que mantém uma péssima condição de vida e que, portanto devem ser incorporadas ao déficit habitacional. Ou seja, cerca de um milhão de famílias afetadas por este déficit, uma quantidade significativa para um país pequeno como o Chile (17).

Participação popular

O fenômeno dos allegados e também a questão do endividamento das famílias no pagamento de suas casas próprias criaram uma efervescência em plena ditadura militar, as lutas pela moradia e contra o regime militar impulsionaram os movimentos. Os temas habitacionais hoje persistem, mas não movimentam a população como antes (18).

“É lícita a preocupação pelas habitações da própria família, e o Estado chileno tem sabido canalizar o desejo de propriedade, de segurança e estabilidade e, se com a ditadura se transformou às pessoas de sujeitos ativos em passivos, com a democracia parecem continuar primando sujeitos disciplinados e obedientes e em sua maioria paciente” (19).

Desde o século XIX as organizações populares têm um papel definitivo nas questões da habitação coletiva, historicamente em maior ou menor grau esta influência tem se revertido em ganhos para a população, como no caso dos cités, no lugar dos conventillos. Posteriormente, como já vimos nas políticas habitacionais, a pressão popular pela moradia se deu através dos primeiros movimentos de invasões e loteamentos dos anos 1950-60. Em fins dos anos 60, começam a se estruturar os Comites Sin Casa, que eram organizados por diferentes partidos políticos, e que pressionaram o governo por moradia e serviços, através das invasões.

Em 1970, se estabeleceu uma lei que reconhecia La Junta de Vecinos, e o movimento pela habitação começou a estabelecer relações com o processo político, principalmente com a aproximação do período socialista. Esse movimento conseguiu uma articulação coletiva por pressões e demandas que alcançaram o acesso à terra, por um grande número de famílias. Ou seja, mesmo no curto período democrático, a política de Estado ainda não era uma política de construções coletivas.

Em 1973, com a ascensão do governo militar, todo e qualquer movimento se desarticulou. Continuam existindo Las Juntas de Vecinos, só que com outro caráter, tendo seus dirigentes não mais escolhidos por seus moradores, mas por técnicos do governo. Apesar da repressão, as organizações populares se movimentam para fugir da crise, criando: “comedores solidários, ollas comunes, huertos familiares, compramos juntos”. Estes movimentos foram pouco a pouco aumentado sua pressão e as autoridades se viram obrigadas a criar soluções. A solução encontrada foi a transferência da população para a periferia metropolitana, onde novamente, terrenos foram entregues à população. Santiago, a capital, tem uma segregação que ultrapassa os limites sociais e culturais, mas que também se dá no âmbito espacial.

Quando retornaram os governos democráticos, a maioria dos “campamentos” havia sido erradicados e os processos de invasões já não aconteciam com a mesma intensidade. As novas administrações se preocupam em levar infra-estrutura aos assentamentos que ainda não contam com ela. O Estado oferecia programas que atendiam às populações de baixos ingressos, e as organização vecinales têm assumido um importante papel no processo. O Ministério (MINVU) reconhece que apenas entregando moradias, soluciona aparentemente o problema, entretanto às famílias assumem novos compromissos, como contas de água, luz e etc.

O trabalho

O trabalho nasceu de uma inquietação, a tentativa de responder através de arquitetura a tudo aquilo que os olhos nunca conseguiram entender. Talvez o papel da arquitetura ou dos arquitetos, não seja exatamente esse. Mas em relação à habitação social, principalmente a destinada aos mais pobres, há uma ausência notória de arquitetura, de envolvimento. Isto se aplica não apenas a habitação social chilena, como também ao Brasil e aos demais países vizinhos.

As regras de mercado condicionam e formatam o projeto, mas quem define as regras? A crítica que se faz ao modelo chileno de habitação social é essa, estar condicionada às leis de mercado criando uma arquitetura anônima, “ao abandonar o campo do arquitetônico e submergir-se em uma clandestinidade forçada, perde-se a necessária responsabilidade publica do arquiteto frente a sua obra” (20).

Outra questão que fica evidente com a pesquisa é a da substituição da qualidade pela quantidade. Os números indicam a construção de mais de um milhão de habitações na década de 1990, a critica é que esse número lida apenas com a questão de reduzir o déficit, deixando de lado as questões sociais, culturais e a própria arquitetura.

“O resultado destes anos de política habitacional são grandes guetos com casas muito pequenas, com graves problemas de qualidade na construção e onde não se tem desenvolvido um plano que considere um conceito urbano, que incorpore esta dimensão, que a população entende, deveriam ser os frutos do progresso que o país tanto exibe” (21).

As incongruências aparecem em ambos os lados, ao mesmo tempo em que a política da habitação se rege pelas regras do mercado, a habitação social não é um bem que possa ser vendido legalmente, criando um mercado paralelo de habitações sociais usadas. Desde 1996, o subsídio é neutro, permitindo a aquisição de habitações novas e usadas, mesmo que por tradição às famílias tendam a permanecer no lugar, mesmo que isso signifique também uma imobilidade nas questões do trabalho.

Como foi dito ao início do trabalho, às questões políticas e as habitacionais repetem-se ciclicamente, e os resultados destes ciclos são por vezes satisfatórios e outras tantas, não. Em um país marcado violentamente pela política como é o caso do Chile, as coisas sempre se confundem mascarando os resultados. Todavia, não podemos deixar de lado a idiossincrasia como componente fundamental nas questões da habitação coletiva. O professor e arquiteto Cristian Fox toma emprestado da sociologia um estudo sobre o comportamento social, que define este componente como sendo associatividade, ou seja “a habilidade de <fazer coisas> com estranhos, para juntar-se com desconhecidos em torno de um objetivo e ou comuns [...] Como mostra tal estudo, a associatividade é muito forte nos Estados Unidos e muito frágil no Chile (22).

notas

1
Elaborado originalmente 2007/1 para a disciplina História Social da Arquitetura e do Urbanismo Modernos ministrada pelo professor Paulo Julio Valentino Bruna na FAUUSP. Com algumas modificações, foi publicado em outubro do mesmo ano no II Seminário Mato-Grossense de Habitação de Interesse Social, na UFMT. Este trabalho deu início a pesquisa de Doutorado em Arquitetura, cujo tema é a arquitetura chilena dos anos 1950-60.

2
ELIASH, Humberto e SAN MARTIN, Eduardo. La vivienda social y la construcción de la periferia urbana em América Latina in GUTIÉRREZ, Ramón (org.). Arquitectura Latinoamericana en el siglo XX. Milão: Jaca Book. 1996. p. 63.

3
HIDALGO, Rodrigo. La vivienda social en chile: la accion del estado en un siglo de planes y programas. Scripta Nova Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona Nº 45 (1), 1 de agosto de 1999.

4
HIDALGO, Rodrigo. Vivienda social y espacio urbano en Santiago de Chile. Una mirada retrospectiva a la acción del Estado en las primeras décadas del Siglo XX. EURE. Disponível em <www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0250-71612002008300006&scri>. Acessado em 15/07/07.

5
COCIÑA VARAS, Camila y VALENZUELA LEVI, Nicolás. Escóndete Arquitecto. In. Revista CA. Disponível em <www.revistaca.cl/2007/04/escondete-arquitecto>. Acessado em 15/07/07.

6
Um exemplo das experiências no campo do design social são os trabalhos de Gui Bonsiepe e suas narrativas sobre o Design da Periferia.

7
MARTÍNEZ, Paola Jirón. FUENTES, Alejandra Cortés. Documento de trabajo INVI nº 4: análisis política habitacional chilena y sus futuras orientaciones. Universidad de Chile, Facultad de Arquitectura y Urbanismo, Instituto de la Vivienda. Santiago de Chile, 2004; GILBERT, Alan. Poder, ideologia y el consenso de Washington: desarollo y expansión de la política chilena de vivienda. In. Boletin del Instituto de la Vivienda, mayo, año/vol. 18, número 047. Santiago: Universidad de Chile. 2003. p. 140.

8
GILBERT, Alan. Poder, ideologia y el consenso de Washington: desarollo y expansión de la política chilena de vivienda. In. Boletin del Instituto de la Vivienda, mayo, año/vol. 18, número 047. Santiago: Universidad de Chile. 2003. p. 140.

9
GILBERT, Idem. p. 142-143. “La politica de subsidio habitacional fue diseñada entre 1975 y 1978. Algunos atribuyen los conceptos básicos a José Pablo Arellano, un economista que luego llegó a ser Ministro de Educación. Él hizo un diagnóstico temprano del deficiente estado del financiamento para la vivienda em Chile, lo cual según declara un actor importante, estableció todo lo que iba a sostener la poítica habitacional em el país, excepto como hacerla. Otros actores dicen que tuvo más influência un estudio producido a petición del Banco Central, por el Departamento de Economia de la Universidad de Chile y la Corporacion de Estudios Economicos (Universidad de Chilel, 1977). [...] Esta última visión es apoyada por el hecho que aunque el informe final de este estudio fue publicado despues del informe Arellano, contiene un plan mucho más completo del programa a fuuro. El estudio de la Universidad de Chile fue también significativo em cuanto a que muchas ersonas que contribuyeron com el trabajo, fueron claves em la reformulación de la politica general económica y social del país.”

10
GILBERT, Idem. p. 141.

11
GILBERT, Idem. p. 149.

12
SALAS SERRANO. Julian. Latinoamérica: hambre de vivienda. Boletin del Instituto de la Vivienda, mayo, año/vol. 17, n. 045. Santiago: Universidad de Chile. 2002, p. 58-69.

13
Os allegados são famílias que se instalavam em terrenos e quintais de familiares, vizinhos ou amigos.

14
NUEVA Política de Vivienda: La Casa Nueva
. Radio Universidad de Chile. Publicado em agosto de 2006. Disponível em <www.radio.uchile.cl/notas.aspx?idNota=31830>. Acessado em 08/07/2007.

15
Los asentamientos humanos en Chile: actualización del plan de acción nacional
. Boletin del Instituto de la Vivienda, mayo, año/vol. 17, n. 045. Santiago: Universidad de Chile, 2002, p. 110-130.

16
RAVINET, Jaime. Intervención del Ministro de Vivienda, Urbanismo y Bienes Nacionales de Chile ante la Asemblea General de las Naciones Unidas, Sesión Especial, Estambul +5. Nueva York, 8 de junio 2001. In. Boletin del Instituto de la Vivienda, mayo, año/vol. 17, n. 045. Santiago: Universidad de Chile. 2002, p. 131-134.

17
DÉFICIT habitacional afecta a más de un millón de familias chilenas. In. Visiones Alternativas. Março de 2007. Disponível em: <www.visionesalternativas.com/article.asp?ID=%7B9A1DB7A3...>. Acessado em 08/07/2007.

18
“La organización territorial ha perdido importancia y capacidad de intervenir en las políticas sociales, lo que hace difícil que tengan un rol relevante en mecanismos de planificación, como son los Planes de Desarrollo Comunales e Intercomunales, donde se decide sobre las áreas de crecimiento urbano, no existiendo, entonces, capacidad de incidir comunitariamente en las políticas de vivienda”. ARAYA CORNEJO, José e BRANDIS, Johanna. La vivienda: la magnitud de un derecho brevemente escrito. In. Codepu: Opinión y Perspectiva. Disponível em <www.derechos.org/nizkor/chile/libros/rev/op5a.html>. Acessado em 08/07/07.

19
SIMÓN ROJO, Marian. Las organizaciones de pobladores y la vivienda. Ingeniería sin Fronteras. In. Boletín CF+S - Especial sobre vivienda y participacion social. Madrid: Instituto Juan de Herrera. Agosto/Octubre 1995. Disponível em <http://habitat.aq.upm.es/boletin/n4/amsim.html> Acessado em 08/07/07.

20
COCIÑA VARAS, Camila y VALENZUELA LEVI, Nicolás. Escóndete Arquitecto. In. Revista CA.

21
ARAYA CORNEJO, José e BRANDIS, Johanna. La vivienda: la magnitud de un derecho brevemente escrito. In. Codepu: Opinión y Perspectiva.

22
FERNANDES COX, Cristian. El orden complejo de la arquitectura: teoria básica del proceso proyectual. Ediciones Universidad Mayor. Santiago. 2005. Comentário a um estudo de sociologia comparada realizado pela Universidad Católica de Chile.

bibliografia consultada

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sobre o autor

Maribel Aliaga Fuentes, arquiteta pela Faculdade Belas Artes de São Paulo (1992). Mestre em Arquitetura pelo Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura/ UFGRS – PROPAR (2004). Atualmente cursando Doutorado pela mesma instituição.

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