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architexts ISSN 1809-6298


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Neste artigo, Helena Câmara Lacé Brandão e Angela Maria Moreira Martins discorrem sobre a varanda, elemento quase que constante das habitações no Brasil e que, por isso, retrata uma linguagem comum à arquitetura doméstica brasileira


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BRANDÃO, Helena Câmara Lacé; MOREIRA, Angela . A varanda como espaço privado e espaço público no ambiente da casa. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 102.04, Vitruvius, nov. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.102/95>.

A varanda é um elemento quase que constante das habitações no Brasil e, por isso, retrata uma linguagem comum à arquitetura doméstica brasileira, podendo ser considerada como parte da cultura material desse povo, refletindo seus hábitos de moradia.

Na observação desses hábitos, nota-se que a varanda carrega consigo diversos significados para seu usuário que desde o período de colonização até a atualidade acompanham e justificam o seu emprego, fazendo dela uma expressão do modo de vida brasileiro. Um desses significados que surge em virtude da sua definição como um elemento que se situa na fachada da edificação, voltada para a parte externa da mesma, é o de ser elemento de transição entre dois mundos, duas esferas sociais distintas. Esses dois mundos são o da casa, reconhecida como espaço privado de relações pessoais, e o da rua, entendida como espaço público onde as relações seriam impessoais.

Essa condição da varanda que Pallasmaa, em seus estudos sobre fenomenologia, diz “fazer parte dos sentimentos primordiais gerados pela arquitetura [...] (que é o de) entrar na casa, atravessar a porta, cruzar a fronteira entre exterior e interior” (1), levanta a questão da varanda como espaço privado e espaço público no ambiente da casa, questão essa que se inicia pela discussão sobre a casa, símbolo do espaço privado, e a rua, simbolizando o espaço público.

Casa e rua: duas esferas sociais complementares e opostas

Casa e rua são dois termos repletos de significados, mas que sempre carregam uma oposição. Um desses significados opostos é o de ser a casa espaço privado e o de ser a rua espaço público. Entende-se por espaço público não aquele pertencente somente a uma instituição governamental, mas aquele que é conhecido como tal, exatamente por ser o espaço destinado a toda a sociedade. Definição que torna o espaço público, um espaço coletivo, simbolizado tanto pela praça – a piazza italiana ou a ágora grega – como pela rua; “expressões espaciais da esfera pública [...] (que) representam a concepção arquitetônica do espaço público” (2) por serem locais onde, teoricamente, todas as pessoas, sem distinção, podem livremente se reunir e trafegar.

Esse entendimento do espaço público permite compreender que, mesmo dentro de uma propriedade privada, existam zonas públicas ou, pelo menos, mais públicas do que outras, por possibilitarem o convívio de grupos sociais distintos; fato que acontece dentro até da casa, símbolo do espaço privado.

A sala, aquela destinada a ser a sala de visitas, de receber as pessoas de fora é, dentro da esfera privada, um dos espaços mais públicos da casa, com certeza mais público do que o quarto. Essa questão não diz respeito ao fato de existirem expressões como semi-público e semi-privado que suavizam a oposição entre os termos públicos e privados, mas está relacionada com a definição de cada um desses extremos.

Assim como o espaço público, o espaço privado não pode ser definido como aquele pertencente a uma instituição privada, particular. Em oposição ao sentido de coletividade, o espaço privado é aquele que não é destinado a toda a sociedade e sim a uma célula social, a família, entendendo essa, independente da sua configuração, como aquela formada por um grupo de indivíduos que compartilham a mesma intimidade.

Segundo Witold Rybczynski, o sentido de privacidade é construído pelo ser humano, não nasce com ele, e surge junto com o senso de intimidade (3). Desta forma, o espaço privado é aquele que nos é mais íntimo. No convívio familiar, o espaço privado de cada membro da família, onde ele desfruta de toda a privacidade e intimidade é, normalmente, o quarto de cada um.

“Em épocas passadas, na Europa medieval) a vida era uma questão pública e, assim como as pessoas não tinham uma forte consciência de si, elas também não tinham um quarto. [...]. Seu uso apontava para a emergência de algo na consciência humana: o surgimento do mundo interno do indivíduo, do próprio ser e da família”(4).

Essa sensação de intimidade pode ser conferida até por espaços públicos, mas é normalmente na casa, junto da família, que ela reside. Motivo pelo qual algumas pessoas chamam os espaços onde elas passam a maior parte do tempo, onde desfrutam de alguma intimidade por fazerem parte do seu cotidiano – como ambiente de trabalho, bares, praias, clubes e até praças e ruas – de casa, assim como de família, os outros indivíduos que compartilham nesses locais de seu convívio.

Como coloca Bachelard, “a casa vivida não é uma caixa inerte. O espaço habitado transcende o espaço geométrico” (5) e a intimidade que a casa exala pode ser sentida em outros universos. Na opinião desse mesmo autor “todo espaço realmente habitado traz a essência da noção de casa [...] sensibiliza os limites do seu abrigo” (6). Com isso, pode-se deduzir que o sentido de intimidade que faz com que determinado espaço passe a ser percebido como espaço privado, como casa mesmo fora dos limites físicos da moradia é, para esse fenomenológico, conseqüência do ato de habitar.

Habitar, por sua vez, para o filósofo Heidegger é “a maneira como tu és e eu sou, o modo segundo o qual somos homens sobre essa terra [...] o homem é a medida que habita” (7). Muito mais que morar numa residência, habitar é viver e ao viver se adquire experiências que vão conferir intimidade. Intimidade essa que dá à casa – àquele espaço que se torna privado pelas experiências pessoais e íntimas – um sentido de habitação que transcende as paredes onde se mora.

“Na auto-estrada, o motorista de caminhão está em casa, embora ali não seja a sua residência; na tecelagem, a tecelã está em casa, mesmo não sendo ali a sua habitação. Essas construções oferecem ao homem um abrigo. Nelas, o homem de certo modo habita e não habita, se por habitar entende-se simplesmente possuir uma residência” (8).

Dentro de uma visão fenomenológica, o espaço habitado, aquele com o qual se adquire intimidade, passa a ser chamado de lugar e, por isso, ganha a conotação de casa. Como coloca Tuan, “quando o espaço nos é inteiramente familiar, torna-se lugar“ (9). Não lugar geométrico, o topos que Aristóteles considerava como propriedade básica e física dos corpos – espaço delimitado no qual um corpo é colocado – nem lugar antropológico onde, cada indivíduo se define, se relaciona e adquire senso de filiação e onde, por isso, para Marc Augé “a identidade, as relações e a história daqueles que o habitam estão  inseridas” (10), mas lugar fenomenológico, formado pelas experiências pessoais, pela percepção do entorno, pelos valores psicológicos de cada indivíduo.

“Precisamente, a idéia de lugar diferencia-se da de espaço pela presença da experiência. Lugar está relacionado com o processo fenomenológico da percepção e da experiência do mundo por parte do corpo humano” (11).

Frente a isso, Frey, baseado nesses dois autores, Bachelard e Heidegger, questiona, então, se o termo casa é o mais apropriado para ser utilizado como referência de espaço privado.

“Os termos referentes ao conceito casa apresentam a particularidade de evocar múltiplos lugares, formas, objetos de um universo cotidiano com o qual nós estamos completamente familiarizados, já que ninguém pode viver sem habitar. Pode-se, provavelmente, se questionar se a palavra “casa” é o termo mais genérico que exista para designar não o lugar onde se habita, já que o vocábulo “habitar” pode ter um sentido geográfico ou ecológico, mas o edifício, a construção que é ocupada, senão permanentemente, pelo menos com fortes hábitos e regularidade” (12).

Contudo, “sabemos bem que nos sentimos mais tranqüilos, mais seguros na velha morada, na casa natal, que na casa das ruas que só de passagem habitamos” (13) e como a rua representa o espaço público, mesmo sem ser, na prática, o local onde diferentes grupos sociais co-existam sem problemas, Frey concorda que a casa venha a simbolizar o espaço privado, pois “considerando o que ele (o termo casa) designa de mais vital, se falará do abrigo, da cabana, do refúgio” (14).

A casa é o micro-cosmo do universo infantil; é nesse espaço privado que se aprende a conviver em grupo, em sociedade. Dentro da intimidade do lar, desfrutada pelos membros da família, dessa célula social, se adquire a segurança necessária para se viver em público.

“Ela (a casa) é [...] o nosso primeiro universo. É um verdadeiro cosmos. Um cosmos em toda a acepção do termo. [...] uma das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos dos homens [...] sem ela, o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do ser humano [...]. A vida começa bem, começa fechada, protegida, agasalhada no regaço da casa” (15).

Esse sentido de abrigo, de proteção possibilitada pela intimidade do ser humano com a casa, fazendo dela símbolo do espaço privado, se opõe ao sentido de coletividade que consiste o espaço público, demandando atitudes e comportamentos específicos para cada ambiente pelas diferenças de sensações que cada um emana.

No espaço privado da casa, tudo é conhecido, no espaço público da rua, a pessoa precisa estar sempre atenta ao que pode acontecer, ao inesperado. Enquanto no interior do abrigo a sensação é de segurança, no mundo exterior, sem controle e sem domínio dos acontecimentos, o Homem se encontra exposto a diversas possibilidades.

As diferentes sensações que o Homem possui em relação ao espaço privado e ao espaço público também são marcadas pela diferença do tempo de cada um desses ambientes. Todo o espaço possui um tempo, um tempo de deslocamento, de experiências, de percepção, de vivência. Correspondência essa que se manifesta pela expressão “‘espaço-tempo’, em relação à teoria da relatividade de Albert Einstein e à introdução da variável do movimento” (16), introduzida pelos cubistas no início do século XX que passou a considerar o tempo como quarta dimensão do espaço, depois da largura, altura e profundidade relacionadas com as suas características geométricas; “as quatro dimensões de que tanto se tem falado no tocante à arquitetura moderna” (17).

Na opinião do sociólogo Roberto da Matta (18), essa dimensão espacial, o tempo, é construída por relações sociais e como essas relações na casa e na rua são diferentes, o tempo de cada um desses espaços também difere entre si, promovendo comportamentos distintos na esfera privada e na esfera pública e, conseqüentemente, sensações de conflito. Contudo, se a casa e a rua são dois mundos conflitantes e opostos, eles também são complementares, pois é a existência de um que justifica a presença do outro, permitindo a sua compreensão.

Na verdade, como bem descreve Bachelard, “o exterior e o interior formam uma dialética de esquartejamento” (19), de corte, de ruptura, que não se restringe ao seu limite físico, geométrico, mas que engloba também comportamentos sociais.

Esse diálogo entre a casa e a rua, entre o interior e o exterior, marcado por suas diferenças, nem sempre é amistoso; pelo contrário, esses dois mundos vivem se hostilizando. Talvez não mutuamente, visto que “a casa [...] (é um) ser que se defende sem jamais ter a responsabilidade de atacar” (20). Como espaço aberto, espaço das diferenças, realmente a rua, mesmo oposta a casa, não se sinta tão hostilizada por ela, mas, com certeza, a casa sente a necessidade de resguardar seu interior, sua intimidade e privacidade.

Por isso é que Jean-Pierre Frey (21) comenta em seu texto sobre Formas de habitação e termos referentes à casa que existem pequenos detalhes que fazem toda a diferença. Esses detalhes para Frey são os limites entre esse dois mundos, espaços que introduzem a casa com a rua e vice-versa, espaços de interseção como o da varanda. Bachelard diz que “os lógicos (os racionais, os matemáticos) traçam círculos que se superpõem ou se excluem, e logo todas as suas regras se tornam claras” (22), nasce a interseção.

Contudo Frey sabe que para um filósofo como Bachelard ou para um sociólogo e arquiteto como ele próprio “porta, janela [...], loggia, balcão, varanda, pérgula, galeria, pórtico, patamar, são palavras que servem para descrever as características essenciais de uma casa. [...] da imagem e da funcionalidade urbana da casa: sua inserção no espaço urbano a partir da rua” (23).

Esses espaços apresentados por Frey, e aqui mais especificamente a varanda, oferecem uma transição gradativa entre esses opostos, diluindo a sensação de conflito entre eles. A varanda, no caso, assim como esses outros espaços, protege a casa ao mesmo tempo em que convida a rua, o espaço público, a visitar o espaço privado, apresentando os habitantes desses dois distintos universos. São “espaços diplomáticos” que se colocam na fronteira, na tentativa de apaziguar todo e qualquer embate.

“Esses espaços que se dizem também “intermediários”, arredores e partes comuns dos prédios, jardim da frente [...] nas habitações residenciais, são sem dúvida os lugares mais frágeis da casa onde o edifício, como o morador, colocam em jogo sua identidade e sua integridade [...] causa da rejeição desses espaços no anonimato da co-habitação” (24).

Fato que questiona a varanda como espaço privado, como espaço público ou como espaço de transição no ambiente da casa.

A varanda e a transição entre o mundo da casa e o da rua

A varanda, no histórico da casa brasileira, normalmente se coloca como ponto de ligação entre o mundo da casa e o da rua, atuando como local do encontro e do diálogo entre esses dois domínios aparentemente opostos, contudo, essa posição faz dela também um elo perdido, pois, nessa sua condição, a varanda não é nem espaço privado, nem espaço público ou, dependendo do ponto de vista, ela é tanto um quanto outro. Como coloca o arquiteto Hertzberger, utilizando outro termo para falar do mesmo espaço, elas são “alpendres que por um lado pertencem às habitações, mas, por outro, também fazem parte da ‘rua’” (25).

A presença de varandas nas fachadas de residências faz com que o espaço da casa seja transcendido, onde “a fronteira entre o público e o privado é deslocada e [...] pelo menos do ponto de vista espacial, o domínio privado se torna publicamente mais acessível” (26). Acesso este que não é apenas visual, pois a varanda, assim como outros espaços da casa, se comporta muitas vezes como rua, entendendo essa como local do encontro, espaço das relações sociais.

Como comentado, existem espaços públicos que se comportam como casa, da mesma maneira que há dentro do espaço privado da casa, ambientes que ganham a conotação de espaço público. Por exemplo, o ato de receber que ocorre muitas vezes nas varandas fazem delas “zonas das próprias cidades: praças e subúrbios” (27).

Sendo assim, a condição da varanda como espaço privado e espaço público é relativa. Dentro desse relativismo, a varanda carrega sentidos opostos, contrários, mas que são igualmente pertinentes, mostrando sua ambivalência, “ambivalência nos dispositivos simbólicos [...] que se referem ao mesmo tempo à ligação entre interior e exterior e à ligação entre identidade e relação, entre indivíduo e os que o cercam” (28).

Torna-se, desta forma, mais coerente do que classificá-la com espaço privado ou espaço público, chamá-la de interseção ou ainda de intervalo entre esses dois mundos. “Entradas, alpendres e muitas formas de espaços de intervalo fornecem uma oportunidade para a ‘acomodação’ entre mundos contíguos” (29), diz Hertzberger, mas também se pode falar que esses espaços de intervalo são matizes que diluem oposições a princípio rígidas.

Quando então a varanda é colocada nas fachadas dos edifícios, se forma esse intervalo, suavizando “a ligação entre interior e o exterior, em termos espaciais, e a ligação entre si – mesmo e o outro, em termos psicológicos, sociológicos e, aventuramos o termo, ontológicos” (30) que a transparência dos vidros nas fachadas dos apartamentos, promotora de continuidade espacial entre interior e exterior, proporciona de maneira muito imediata e bruta.

“Se imaginarmos [...] que estamos ao lado de uma janela [...] poderíamos exigir que o seu caixilho nos ajude a entender não apenas a paisagem, mas também nossa posição em relação à geometria da janela e ao edifício como um todo. A arquitetura moderna, no entanto, raramente satisfaz essas expectativas. Ao contrário, a janela é muitas vezes corrida, formando faixas horizontais sobre a parede, ou o que é mais assustador, transforma-se na superfície inteira” (31).

Essa transparência dos panos de vidro que não se pode deixar de considerar como uma evolução tecnológica é, para os espaços de moradia, o limiar da invasão, mesmo que apenas visual, da privacidade do lar – principalmente para realidades como a da casa brasileira, acostumada a ter em suas fachadas, o intervalo da varanda.

Essa sua condição de intervalo acaba fazendo com que ela seja um filtro para o espaço privado e, consequentemente, local do encontro com o outro; com o estranho que passa na rua e com aqueles que são recebidos pelo morador, mas que não são íntimos o suficiente para adentrar na casa, pois “aqui todo visitante é um intruso, a menos que tema sido explícita e livremente convidado a entrar” (32).

A varanda se comporta, desta forma, como Hestia – Hermes, par de deuses gregos que segundo Jean-Pierre Vernant (33), nos seus estudos sobre a mitologia e o pensamento grego, habitava as entradas das residências. Hestia, pólo feminino que simbolizava a permanência, o fixo, o interior, o lar, o espaço doméstico; Hermes, o pólo masculino, simbolizando o exterior, a abertura, o comércio, a troca, o contato com o outro. Dentro da dicotomia público – privado, a varanda exprime, assim, o comportamento cultural de seu usuário, revelando as práticas sociais de quem habita a casa, assim como as etnografias urbanas.

“É realmente digno de nota encontrar traços nas sociedades, distantes umas das outras pela história ou pela geografia, de uma necessidade que lhes é comum: a necessidade de organizar espaços interiores e aberturas para o exterior, de simbolizar o lar e o limiar, mas necessidade simultânea de se pensar a identidade e a relação, o si-mesmo e o outro” (34).

Necessidade esta apontada por Augé que justificaria a presença ou a ausência da varanda nas moradias, mas que não é percebida ao se olhar apenas para uma das esferas sociais, para a casa ou para a rua, mas sim para ambas.

Desta maneira, pode-se dizer que a varanda, ao se colocar na frente da construção, introduzindo a casa com a rua, muitas das vezes se comporta como um espaço público ou, pelo menos, como o mais público da casa.

Essa condição leva a compreensão da varanda como espaço de transição, um intervalo entre esses dois mundos que são a casa e a rua, e transmite a ela os significados de filtro, de posto de vigília e de exposição, assim como de local de encontro com o outro, do encontro entre habitantes da casa e desses com os transeuntes da rua.

Esses significados acompanham a varanda ao longo da história da arquitetura doméstica do Brasil articulados com o diálogo que a casa mantém com a rua de acordo com o modo de vida, os usos e costumes de cada época.

Quando a rua se torna menos hostil em relação à casa e essa, por sua vez, se mostra mais aberta para a rua, esses significados atribuídos à varanda podem até não serem percebidos, mas continuam presentes, refletindo os hábitos de moradia da população e fazendo desse elemento do objeto arquitetônico uma expressão do modo de vida do brasileiro.

notas

1
PALLASMAA, Juhami. A Geometria do Sentimento: um olhar sobre a fenomenologia da arquitetura. In: NESBITT, Kate (Org). Uma Nova Agenda para a Arquitetura: antologia teórica (1965 – 1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 487.

2
GHIRARDO, D. Y.. Arquitetura contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 121.

3
No seu livro Casa: pequena história de uma idéia, onde Rybczynski aborda a evolução da casa, desde a Idade Média até o século XX, não pelos avanços tecnológicos, mas pelo modo de vida das pessoas, existe um capítulo dedicado à Intimidade e privacidade, sentidos que, segundo o autor, começam a existir na Europa a partir da sociedade burguesa, quando o trabalho começa a ser realizado fora do espaço doméstico.

4
RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. Rio de Janeiro: Record, 1996, p.48.

5
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda., 1993, p.62.

6
Idem, ibidem., p. 25.

7
HEIDEGGER, Martin. Construir, habitar e pensar. In: HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2001, p.127.

8
Idem, ibidem., p. 125.

9
TUAN, Y. Fu. Espaço e lugar: A perspectiva da experiência. Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo :  DIFEL, 1983, p. 121.

10
AUGÉ. O sentido dos outros: atualidade da antropologia. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1999, p.134.

11
MONTANER, Josep Maria. A modernidade superada: arquitetura, arte e pensamento do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001, p. 37.

12
FREY, Jean-Pierre. Formes du logement et mots de la maison. In: BRUN, J.; DRIANT, S. M.. Dictionnaire de L’habitat et du Logement. Paris: Armand Coli, 2003, p.186, tradução da autora.

13
BACHELARD, Gaston. op. cit., p. 59.

14
FREY, op. cit., p. 186, tradução da autora.

15
BACHELARD, Gaston. op. cit., p. 24 – 26.

16
MONTANER, Josep Maria. op. cit., p. 28.

17
RAJA, Raffaele. Arquitetura Pós- Industrial. 1ªed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1993, p.XXIX .

18
DA MATTA, Roberto. A Casa e a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

19
BACHELARD, Gaston. Op. cit., p. 215.

20
Idem, ibidem., p. 61.

21
FREY, Jean-Pierre. Op. cit., p. 189, tradução da autora.

22
BACHELARD, Gaston. Op. cit., p. 215.

23
FREY, Jean-Pierre. Op. cit., p. 190, tradução da autora.

24
Idem, ibidem., p. 190-191, tradução da autora.

25
HERTZBERGER, Herman. Lições de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 40.

26
Idem, ibidem., p. 77.

27
DA MATTA, Roberto. Op. cit., p. 56.

28
AUGÉ, op. cit., p. 140.

29
HERTZBERGER, op. cit., p.35.

30
AUGÉ. Op. cit., p. 138.

31
GRAVES, Michel. Argumentos em favor da arquitetura figurativa. In: NESBITT, Kate (Org). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006, p.105.

32
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano 2 – morar e cozinhar. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 203.

33
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2002.

34
AUGÉ. Op. cit., p. 137-138.

sobre os autores

Helena Câmara Lacé Brandão, arquiteta e urbanista formada pela FAU / UFRJ, especialista em Cultura e Arte Barroca pelo IFAC / UFOP, Mestre e Doutoranda em Ciências em Arquitetura pelo PROARQ/FAU/UFRJ, bolsista do CNPq – Brasil.

Angela Maria Moreira Martins, arquiteta e urbanista, Doutora em Planejamento Urbano pela Université de Paris X, com Pós-Doutorado em Turismo e Desenvolvimento pela Université de Paris I, professora e pesquisadora do curso de Mestrado e Doutorado do PROARQ/FAU/UFRJ.

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