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architexts ISSN 1809-6298


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O artigo resgata a formação de uma consciência generalizada sobre a necessidade de melhor compreender os processo de projeto e analisa a evolução dessa noção até os dias de hoje


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OLIVEIRA, Juliano Carlos Cecílio Batista; PINTO, Gelson de Almeida . O movimento dos métodos de projeto. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 105.06, Vitruvius, fev. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.105/77>.

Alguns anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando se aquecia a disputa entre americanos e soviéticos na chamada Guerra Fria, os socialistas dão um inesperado passo à frente e lançam, pioneiramente, o primeiro satélite artificial a orbitar o planeta Terra.

Esse salto é suficiente para alertar as agências governamentais, americanas em especial, da mudança de rumo das pesquisas – de objetos e parques militares, para a pesquisa em criatividade, segundo Nigan Bayazit (2), professora da Universidade Técnica de Istambul. Ela acredita que o lançamento do satélite Sputnik, entre outros motivos, despertou o interesse nas pesquisas voltadas para as necessidades do homem, o que abria um novo caminho no processo de projeto de bens manufaturados pelo homem.

Basicamente a partir desse período, começa a formar-se uma consciência generalizada sobre a necessidade de melhor compreender os processo de projeto, através da análise e avaliação de seus métodos.

Essa idéia é formalmente lançada e materializada após a realização de um seminário fundamental (e fundador) para o nascente movimento: a Conferência em Métodos Sistemáticos e Intuitivos na Engenharia, Desenho Industrial, Arquitetura e Comunicações (The Conference on Systematic and Intuitive Methods in Engineering, Industrial Design, Architecture and Communications), realizada em Londres em 1962 e organizada por um engenheiro que logo torna-se um dos seus líderes, Joseph Christopher Jones. Vários trabalhos (3) atestam a importância desse momento na história da pesquisa em métodos de projeto, por reunir mentes que foram de grande importância para o desenvolvimento das pesquisas – além de realmente lançar o que, até então, era mais um sentimento comum entre várias pessoas: a necessidade de compreensão de processos de projeto e do desenvolvimento e formalização de métodos claros para os mesmos. Sobre essa primeira conferência, o próprio Jones comenta que “foi a primeira conferência desse tipo e permitiu a todos que tinham algum interesse em ‘métodos sistemáticos e intuitivos’ em projeto que conhecessem a existência de cada um” (4).

Essa busca pela desmistificação da criatividade no processo de projeto é o que convencionou-se tratar como a passagem da “caixa preta” (a black box) para a “caixa de vidro” (a glass box). Del Rio lembra dessa necessidade, enfatizando que o “saber fazer arquitetura” é um “saber operativo”. Nesse sentido, a aproximação da prática arquitetônica do conhecimento popular e filosófico e seu distanciamento do científico dificulta a compreensão desses processos de concepção. Isso torna a criatividade algo próximo apenas da intuição e distante de métodos que venham a despertá-la ou ambientes de trabalho que a favoreçam (5).

A partir dessa primeira conferência, há uma evolução dos métodos de projeto, expandindo-os na forma de pesquisas nas mais variadas áreas do conhecimento: aeronáutica, engenharia, planejamento urbano, arquitetura, eletricidade, indústria automobilística, psicologia, artes plásticas, etc., como pode-se notar consultando os anais desse primeiro encontro (6). Herbert Simon chamou a essa nova ciência, que buscava se firmar, de “Ciência do Artificial”, escrevendo um livro (7) sobre o tema. “Ele propôs aplicar a extensa abordagem científica das ciências do artificial na economia assim como na engenharia e em outras disciplinas, nas quais o projeto do artificial é o tema da própria disciplina”, como analisa Bayazit (8).

Nesse mesmo livro, Simon também introduz a idéia dos “problemas de projeto” como “problemas mal-definidos” ou “mal-estruturados” (‘wicked’ problem): a questão inicialmente lançada não será a mesma questão quando se obtiver algumas respostas, ou seja, cada nova solução levantará novos problemas não previstos, que exigirão novas soluções (9). Bruce Archer, um dos pioneiros da área, comenta sobre essa situação que Simon adianta com tanta pertinência:

O problema [em um projeto] é obscuro sobre seus requisitos [...]. A solução é a combinação de requisitos/provisão que contém uma pequena quantidade aceitável de desajuste e obscuridade. [...] A atividade de projeto é comutativa, a atenção do projetista oscila entre a emergência dos requisitos ideais e as idéias provisoriamente desenvolvidas, como se iluminasse a obscuridade em ambos os lados e reduzisse o desajuste entre eles” (10).

Katakura (11) ao abordar o “processo de invenção do objeto” destaca que “a exatidão e a unicidade dos resultados das operações matemáticas elementares não são encontradas nas lógicas projetuais”, pois o projeto de arquitetura é de outra natureza, dependente daquele que as desenvolve, que procura compreender o sentido de cada um dos elementos imaginados e a totalidade do espaço assim gerado”. Daí a dificuldade em cientificar tal processo.

Independente disso a década de 60 foi promissora para a pesquisa em projeto. Três importantes congressos reuniram pesquisadores de várias áreas, divulgando as pesquisas e resultando na criação de grupos e associações de trabalho para a área, além de buscar padronizar um formato para as pesquisas. Além do primeiro congresso, em Londres, houve um segundo congresso em Portsmouth (Design Methods in Architecture Symposium) em 1967, organizado por Geoffrey Broadbent e Anthony Ward. Nesse momento, eles afirmavam que o congresso era o resultado de uma mudança de paradigma, na qual se alterava o papel do projetista na sociedade. Um terceiro congresso foi realizado no MIT em 1968 (organizado por um grupo de trabalho recém criado, o Design Methods Group – DMG, que também editava uma revista, a DMG Newsletter). Ele foi suficiente para configurar o que, algum tempo depois, ficou conhecido como a “primeira geração” do Movimento dos Métodos. (12)

Com o passar do tempo e o desenvolvimento dos trabalhos, a pesquisa em projeto torna-se um tanto rígida e abstrata: perde o foco sobre os usuários (ou sobre a própria idéia de produzir para seres humanos) e emaranha-se na discussão do próprio processo. É o que Jones (13) classifica como o processo no lugar do progresso.

Essas críticas à “tecnocratização” da pesquisa aumentam com o passar do tempo. Sua linguagem torna-se mais rígida, desconsiderando as reais necessidades do homem, colocando-o como mais uma peça a ser projetada (diminuindo então sua instância enquanto ser).

“o resultado foi a rigidez: a fixação de objetivos e métodos para produzir projetos que todos agora sentem como insensíveis às necessidades humanas. Outro resultado foi que os métodos de projeto tornaram-se mais teóricos e a maioria deles tornou-se assunto para estudos acadêmicos sobre métodos (metodologia) ao invés de tentar projetar coisas melhores” (14).

Em seguida, Jones fala, ainda, sobre a crescente abstração que toma conta da linguagem na pesquisa em projeto, cujo resultado para ele acabaria na tirania.

No livro resultante do congresso de Portsmouth, organizado por Broadbent (15), ele comenta o trabalho dos palestrantes. Lá ele já destacava a importância da atenção às necessidades do homem, ao falar do trabalho de Amos Rapoport e de Thomas Markus, por exemplo.

Comentando sobre a apresentação de Rapoport (que defende um raciocínio preocupado com a “humanidade” na arquitetura), ele lembra que por mais racional e lógico que possa ser o projeto, “outros fatores, não tão mensuráveis, são igualmente importantes. Podem tratar-se de questões de sentimento, juízos e valores, gostando ou não” (16). Com relação à apresentação de Markus, que aborda processos para a leitura de um edifício, Broadbent fala dos riscos de deslumbramento com abstrações matemáticas (os “fabricantes de mapas” que acabam esquecendo-se do “valor do edifício em si”) (17).

Em função disso, há um enfraquecimento no entusiasmo pela pesquisa em métodos de projeto, levando seus pesquisadores a um questionamento sobre a validade de seus resultados. Assim, em meados dos anos 70, o Movimento assiste à saída de dois de seus líderes: J. C. Jones e Christopher Alexander, declarando sua insatisfação com os rumos das pesquisas em projeto, que apenas o enrijeceram e o afastaram da prática profissional e de seus consumidores finais.

Alexander, em entrevista à DMG Newsletter, em março de 1971, anuncia sua saída desse campo de pesquisas: “Eu sinto que uma terrível parte disso tornou-se um jogo intelectual e, em muito, por essa razão que eu me desassociei do campo”, avisa ele para a surpresa de muitos. Em seguida, fala ainda de sua desfiliação da revista e do grupo: “Eu renuncio ao Quadro de Editores da DMG Newsletter porque eu senti que as propostas que a revista representa não são realmente válidas e eu não quero estar associado a isso” (18).

Motivos semelhantes foram apresentados por Christopher Jones. Ele abandona sua carreira docente e algum tempo depois anuncia (em entrevista na primeira edição da Design Methods and Theories Journal, em 1977) estar deixando o campo de pesquisa em projeto, pois tanto a pesquisa quanto a universidade tornaram-se “rígidos e inumanos”, “impingindo meios mecânicos de pensamento para a arquitetura” (19). Em artigo mais atual, ele comenta que, com relação ao projeto, não basta apenas a racionalidade, mas também a intuição (20).

Esses acontecimentos não levam ao fim do Movimento, mas ao redirecionamento de seus trabalhos. Isso fica claro na primeira edição da revista Design Studies (ainda hoje existente, com importante atuação na área), em que Bruce Archer anunciava em seu editorial: “A metodologia do projeto está viva e bem, e vivendo sob o nome de Pesquisa em Projeto” (21).

Aproximadamente nesse período, após essas primeiras revisões das pesquisas em projeto, se inicia o que mais tarde se chamou de uma segunda geração do Movimento dos Métodos, com novas preocupações: ao invés de buscar a simplicidade e a redução dos procedimentos projetuais em metodologias claras (o que era inclusive compreensível para uma primeira etapa do trabalho), ele buscava agora inserir o usuário no processo projetual; firmava-se a idéia do projeto participativo (reflexo, inclusive, das ações dos movimentos sociais a partir do início dos anos 70). Houve uma abertura para a participação de outras áreas, como a sociologia, a geografia e a psicologia, no processo de projeto.

Conjuntamente a isso ocorre uma acelerada evolução dos computadores e de sua capacidade de processamento, que provoca o crescimento do campo da cibernética - com a divulgação da idéia do controle por meio da máquina inteligente (pesquisas na área de inteligência artificial derivam de pesquisas na área de projeto). Assim, surge a necessidade de compreensão de processos de pensamento (a ação do projetista) para serem simulados por máquinas. Cada vez mais a cibernética de Wiener (22) alimentava e estimulava as teorias do projeto.

Bayazit (23) observa que a integração entre a informática e a arquitetura começa entre o final dos anos 60 e o início dos 70, quando alguns pesquisadores iniciam o desenvolvimento de programas de avaliação de decisões de projeto por meio da análise do desempenho dos  edifícios. Ela afirma que os pesquisadores “estavam tentando programar e avaliar a performance de edifícios para justificar decisões científicas de projeto”.

Essas primeiras aplicações ainda são muito restritivas e contrárias à tradicional liberdade de ação do projeto. Ainda no início dos anos 90, imagina-se o computador como uma central eletrônica na qual seriam inseridos dados (problemas e questões do programa de necessidades) e de onde também são retiradas soluções, num sistema de input e output, conforme observa Myrian Cortesi. Neste momento ainda é muito forte a idéia do gráfico ou mapa que encadeia os passos de um processo por demais linear para a prática projetual: “Para utilizar o computador na solução de um problema qualquer, é preciso apresentar os elementos deste problema de forma sistematizada, já que só assim o computador, instrumento lógico, poderia interpretá-lo”. A partir da configuração desse sistema lógico, a autora esclarece que “a execução de cada função requer a manipulação de métodos de projeto de exigem dados de entrada (input), e produzem dados de saída (output), consumindo certos recursos ou habilidades” (24).

Atualmente, a pesquisa em projeto é menos voltada à criação de metodologias rígidas, que tratam o procedimento projetual como um cálculo matemático ou um processo excessivamente controlado. Alguns autores (25) apontam que o campo de pesquisa está em uma nova expansão, voltando a ter espaço em universidades e maior apoio governamental. Nesse sentido, a pesquisa integradora do projeto e das tecnologias da informação tem-se revelado um importante ramo do trabalho.

notas

1
O principal interesse deste artigo está em tornar acessível um conjunto de informações que apresentem, de forma concisa, a origem e a evolução do Movimento dos Métodos, em função da escassez de informações encontradas ao longo de nossa pesquisa (principalmente em língua portuguesa). O material aqui apresentado é parte de nossa Dissertação de Mestrado, cuja referência completa é: OLIVEIRA, J. C. C. B. Construindo com bits: análise do processo de projeto assistido por computador. Dissertação de mestrado. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos / Universidade de São Paulo, 2007.

2
BAYAZIT, Nigan. Investigating Design: a review of forty years of design research. Design Issues, v. 20, n. 1, p. 16-29, winter 2004.

3
BAYAZIT, Nigan. Op. cit.; JONES, Joseph Christopher. Métodos de diseño. Barcelona, Gustavo Gili, 1976; JONES, John Chris. Design methods in 250 words. Disponível em: <www.softopia.demom.co.uk/2.2/design_methods_250_words.html>. Acesso em 17.04.2007.

4
JONES, John Chris. Discovering that there were other people in this invisible subject. Disponível em: <www.softopia.demom.co.uk/2.2/early_days1.2.html>. Acesso em 17.04.2007.

5
DEL RIO, Vicente. Projeto de arquitetura: Entre Criatividade e Método in DEL RIO, Vicente (Org.). Arquitetura: pesquisa & projeto. Rio de Janeiro, FAU UFRJ, 1998, p. 207.

6
JONES, John Chris. Conference on design methods. Disponível em: <www.softopia.demom.co.uk/2.2/dmconference1962.html>. Acesso em 17.04.2007.

7
SIMON, Herbert A. The sciences of the artificial. Cambridge, MIT, 1968.

8
BAYAZIT, Nigan. Op. cit., p. 19.

9
BAYAZIT, Nigan. Op. cit., p. 21.

10
ARCHER, Bruce. Whatever became of Design Methodology? Design Studies, v. 1, nº 1, jul. 1979, p. 17.

11
KATAKURA, Paula. O processo do projeto arquitetônico. Dissertação de mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997, p. 34.

12
BAYAZIT, Nigan. Op. cit.; BROADBENT, Geoffrey. Metodologia del diseño arquitectónico. Colección Arquitectura y Crítica. Barcelona, Gustavo Gili, 1971.

13
JONES, Joseph Christopher. Opus one, number two. Design Studies, vol. 1, nº 6, out. 1980, p. 375.

14
Idem, ibidem, p. 375.

15
BROADBENT, Geoffrey. Op. cit.

16
Idem, ibidem, p. 30.

17
Idem, ibidem, p. 23.

18
JACOBSON, Max. The State of the Art in Design Methodology – Christopher Alexander. DMG Newsletter, v. 5, nº 3, mar. 1971, p. 3.

19
JONES, Joseph Christopher. Opus one, number two (op. cit.), p. 373.

20
JONES, John Chris. Design methods in 250 words (op. cit.).

21
ARCHER, Bruce. Op. cit.

22
Cf. WIENER, Norbert. Cibernética: ou controle e comunicação no animal e na máquina. Trad. Gita K. Ghinzberg. São Paulo: Polígono / EDUSP, 1970. 256 p.

23
BAYAZIT, Nigan. Op. cit., p. 25.

24
CORTESI, Myrian Vieira Porto. Projeto de arquitetura e sistemas gráficos computadorizados: uma análise metodológica. 1992. Vol. I. Dissertação de mestrado. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos / Universidade de São Paulo, São Carlos, 1992, p. 14, grifos da autora. Mesmo diante dessa concepção extremamente racional – tanto do projeto quanto do meio de trabalho –, a autora não se furta a esclarecer as dificuldades encontradas, “dada a subjetividade presente e a complexidade das variáveis mal-definidas” (p. 15).

25
ARCHER, Bruce. Op. cit.; BAYAZIT, Nigan. Op. cit.

sobre os autores

Juliano Carlos Cecílio Batista Oliveira é arquiteto (UNIUBE), Mestre em Arquitetura (EESC-USP) e professor de Projeto na UNIUBE.

Gelson de Almeida Pinto é arquiteto (PUC-CAMPINAS), Doutor em Arquitetura (FAU-USP) e professor da graduação e da pós-graduação do Departamento de Arquitetura da EESC-USP.

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