Introdução
Em São Paulo, hoje, há uma infinidade de pequenos córregos, muitos deles anônimos, que, devido aos procedimentos de praxe adotados em obras viárias, de drenagem ou de saneamento, praticamente não fazem mais parte da paisagem urbana. Por conseqüência, não encontram lugar na consciência atual nem na memória, embora sua existência subterrânea se expresse na superfície sob a forma de becos, vielas, escadarias, fragmentos de áreas livres e até de insurgências de água.
Isto também ocorre em muitas cidades brasileiras. É importante, porém, diferenciar a situação que se pretende tratar aqui dos casos em que a canalização deu lugar a grandes eixos viários pois, nestas circunstâncias, as marcas dos rios tamponados ainda funcionam como guias para a leitura da paisagem – mesmo que sob a forma de canteiros centrais ou taludes laterais ajardinados ou arborizados.
Referimo-nos, ao contrário, a situações em que a existência dos córregos é apenas sugerida pelos seus vestígios, dispersos no espaço e diversos na forma. Pode-se passar constantemente pelos lugares atravessados pelos córregos, pode-se até morar em suas proximidades, sem se dar conta de que, sob variados disfarces, ali existe um curso d’água. Revelar sua existência a partir destes indícios – que normalmente escapam ao olhar comum, à cartografia convencional e às fotografias aéreas, e que só o palmilhar acurado do território pode recuperar – demanda um trabalho semelhante ao do arqueólogo ou do detetive que, a partir da espreita dos movimentos e da observação de fragmentos, busca esclarecer ou reconstituir uma cena ou um contexto.
Dentre os inúmeros casos de cursos d’água capilares, anônimos e sumidos de vista, despertam interesse aqueles situados em áreas já consolidadas, de ocupação antiga ou que venham sofrendo rápidas transformações a ponto de só restarem vestígios pálidos da existência do córrego, exigindo, portanto, maior esforço de identificação. E, particularmente, interessam os que concorrem para a formação de elementos valorizados da paisagem urbana, como os lagos nos parques públicos, sem que esta contribuição seja conhecida ou reconhecida.
Os casos a serem expostos aqui referem-se a dois parques municipais de São Paulo – Ibirapuera e Aclimação – ambos contando com lagos que constituem importantes focos de atração, embora os córregos formadores não compartilhem igual notoriedade, nem sejam aproveitados como opções de acesso de pedestres e ciclistas àqueles equipamentos públicos. Os bairros em torno destes parques – Vila Mariana, Vila Clementino, Aclimação, Paraíso, Cambuci – estão expostos às pressões por mudanças no uso e na ocupação do solo, sem que os córregos que os atravessam estejam contemplados por uma política de integração à paisagem ou de valorização enquanto percursos alternativos e reveladores das sutilezas das formas urbanas. Tampouco se nota atenção para as oportunidades de conexão física entre os dois parques por meio dos vales dos cursos d’água formadores dos lagos do Ibirapuera e da Aclimação, aproveitando as declividades mais suaves proporcionadas pelo embate milenar dos rios com o relevo. Caso isso fosse considerado, seria possível formar um tecido conjuntivo múltiplo, intrincado e variado como a própria rede capilar de drenagem em que se apóia, interligando comodamente equipamentos públicos de maior porte, uma vez vencidos, com alguma astúcia, os divisores de água que os separam.
Entende-se que trazer à luz fatos espaciais ocultados do olhar ou recalcados na memória coletiva, pondo à mostra o avesso do tecido, permita o reconhecimento e uma efetiva assunção dos espaços associados à rede capilar dos córregos urbanos. O trabalho de revelação, ou reapresentação dos córregos ocultos, justifica-se assim não somente pelo efeito simbólico da operação, mas também pela possibilidade desta rede vir a constituir, através de seus elementos devidamente trabalhados, mais uma das camadas ou estratos disponíveis para as múltiplas associações que as práticas cotidianas não cessam de criar.
Deste modo, atualizam-se na mesma manobra tanto o prazer desinteressado que pode advir da compreensão da base física primordial dos sítios, pela exposição da morfologia do relevo e da hidrografia, ou das respostas inusitadas e pouco convencionais que uma urbanização peculiar imprime na paisagem, quanto a apropriação prática, por pedestres e ciclistas, de caminhos alternativos no interior de uma trama cuja racionalidade se apóia quase que exclusivamente na fluidez dos deslocamentos motorizados.
Sapateiro, Curtume ou Matadouro – um corpo fora de cena
O córrego do Sapateiro, que também já foi chamado do Curtume ou do Matadouro, tem suas nascentes no bairro de Vila Mariana, próximo à antiga estação dos bondes, na rua Domingos de Moraes. Junto às suas cabeceiras, situadas a oeste do espigão que separa as águas do Pinheiros das do Ipiranga, a principal referência urbana atual é a estação Vila Mariana do Metrô.
As nascentes, hoje não mais acessíveis, localizam-se na quadra formada pelas ruas Domingos de Moraes, Carlos Vitor Cocozza, Lutfala Salim Achoa (rua Um, no mapa do Sistema Cartográfico Metropolitano da Grande São Paulo, vôo atualizado em 1974) e Capitão Cavalcanti. O relevo é particularmente acidentado nos primeiros500 metrosdo alto curso do córrego, fato que a declividade e o traçado irregular e sinuoso das ruas confirmam.
A primeira manifestação, embora indireta, da existência do córrego na região das nascentes ocorre em um beco curto e fechado, que dá para a rua Lutfala Salim Achoa. O curso d’água prossegue por esta rua, atravessa a Capitão Cavalcanti e, depois de cruzar, sempre subterrâneo, um espaço aberto, de acesso público, com o formato de um adro, adentra a quadra do colégio Madre Cabrini, contornando os fundos dos lotes da rua Frontino Guimarães e da vila que leva o nome de Irmã Efigênia, situada em cul-de-sac na extremidade leste daquela rua. Os vestígios, sempre indiretos, de sua passagem voltam a se expressar na paisagem no ponto mais baixo da rua Coronel Lisboa, no encontro com a rua Pedro Morganti, onde se forma outro espaço em forma de adro.
O trecho inicial, das nascentes à rua Coronel Lisboa, apresenta várias situações de interesse do ponto de vista da ocupação do solo e do traçado viário, pois elas ainda guardam as peculiaridades das soluções que respondem de perto aos condicionantes do terreno natural. Tais características se tornam ainda mais interessantes quando comparadas ao modo convencional, indiferente ou agressivo à paisagem com que o mercado imobiliário vem atuando na região. Chama também a atenção a diversidade de usos do solo, principalmente pela presença de várias instituições de ensino e pelo irromper de pontos de comércio e serviços relativamente animados, num meio em que predominam as residências. Estas são na maior parte unifamiliares, no geral modestas e em bom estado de conservação, sobressaindo algumas delas como testemunhos evocatórios dos tempos de um bairro em formação.
As marcas iniciais da urbanização continuam impressas na paisagem do lugar que, já avançada a terceira década do século XX, era ainda pouco ocupado, configurando um grotão quase vazio, circundado por um anel de construções alinhadas ao longo das ruas França Pinto, Domingos de Moraes, Tangará e do feixe formado pela Sena Madureira, Capitão Macedo e Pinto Ferraz (atual Madre Cabrini), a separá-lo dos vazios mais vastos dos campos do Ibirapuera, a oeste, das encostas do ribeirão Ipiranga, a leste, e do loteamento de Vila Clementino, ao sul.
Eram poucos e dispersos os lotes edificados nas ruas já abertas no interior deste anel, observando-se maior adensamento nas ruas Tomás Alves e Major Maragliano e na confluência desta com as ruas Capitão Cavalcanti e Álvaro Alvim. As ruas Araxá (atual Sud Menucci) e Frontino Guimarães eram praticamente desertas.
As cartas do Mappa Topographico do Município de São Paulo, elaboradas pela empresa Sara Brasil, em 1930, mostram ainda, no ponto correspondente ao atual encontro das ruas Pedro Morganti e Coronel Lisboa, uma barragem do córrego, formando um pequeno açude, que já comparecia na Planta Geral da Capital de São Paulo, organizada por Gomes Cardim em 1897, porém não mais no Levantamento Aerofotogramétrico do Município de São Paulo, executado pela Vasp / Cruzeiro entre 1952 e 1957.
Hoje não há qualquer indício espacial da antiga lagoa, pois sobre ela construíram-se as casas existentes entre as ruas Coronel Lisboa e Rio Grande. Porém, atravessada a Coronel Lisboa, depara-se, a montante, com a área em adro, já referida, que é um remanescente do espaço aberto associado ao boqueirão.
O córrego do Sapateiro, ao sair da quadra formada pelas ruas Capitão Cavalcanti, Madre Cabrini e Coronel Lisboa, passa sob o leito da rua Pedro Morganti e prossegue sob a Mário Cardim até o complexo viário chamado “cebolinha” (que interliga as avenidas Ibirapuera, Rubem Berta e a rua Sena Madureira), onde recebe, sem que a urbanização tenha concedido sequer uma referência a este acidente, um importante afluente pela margem esquerda. Com o caudal assim aumentado, vai formar a seqüência de lagos do parque Ibirapuera.
Mas antes dos lagos, e antes mesmo da foz do tributário, o Sapateiro deixa outros rastros da sua existência. O mais evidente é o “largo” que a rua Mário Cardim forma no cruzamento com a rua Rio Grande. Embora de pequenas dimensões e sem denominação própria, é um espaço que se destaca pela arborização e pelos canteiros arbustivos. O largo está ainda ladeado, na “margem” direita, pelas vilas Henrique Machado e Francisco Bibiano, hoje cercadas, mas que, em outros tempos, abriam-se diretamente para o vale. Sua origem deve estar associada à fábrica da Palmolive, estabelecida na rua Rio Grande. As casas que as compõem estão bem mantidas e os espaços livres comuns são convidativos e acessíveis sem qualquer constrangimento por qualquer pessoa, apesar das grades e do portão que os separam da rua Mário Cardim.
Provavelmente por conta do baixo trânsito de passagem de veículos e da favela que há tempos se formou na área situada entre as vilas citadas e a rua Uruana, a rua Mário Cardim (vale dizer o leito do córrego) é a que apresenta maior concentração de pessoas usufruindo o espaço público o qual, no caso, limita-se às calçadas e ao próprio leito carroçável. Valeria a pena aprofundar a pesquisa neste trecho específico da bacia do Sapateiro, visando relacionar a história da ocupação e da urbanização da área, a apropriação atual e a percepção das características paisagísticas do lugar por parte daquela comunidade.
A dinâmica imobiliária do bairro torna também urgente a divulgação das peculiaridades do sítio e a identificação das oportunidades de enfatizá-las, como tentativa de evitar a camuflagem das suas singularidades pelas soluções convencionais de reciclagem urbana e seu conseqüente apagamento da memória. Uma destas situações ocorre na rua Rio Grande, na altura da Álvaro Alvim, em imóvel hoje desocupado, outrora industrial, a cavaleiro da antiga favela já urbanizada junto ao vale.
O Sapateiro segue seu percurso, continuamente subentendido no traçado da rua Mário Cardim a qual, à medida que se distancia da antiga favela, passa a assemelhar-se, no aspecto e na pacatez, a outras tantas ruas do bairro, com suas residências unifamiliares, vilas fechadas, travessas e pequenas praças.
Ao atravessar a rua Tangará inflecte à esquerda, buscando o ponto baixo onde deságua o afluente que vem da Vila Clementino. Contorna assim a pequena elevação constituída na confluência dos dois cursos d’água sobre a qual foi inaugurado, em 1887, o matadouro da Vila Mariana, presentemente sede da Cinemateca Brasileira.
É neste ponto que se situa o maior conjunto de espaços livres e áreas verdes do bairro, constituído pelo largo Senador Raul Cardoso, esplanada ampla, plana, em frente ao antigo matadouro, mas com uso limitado a estacionamento de veículos, e pelos taludes arborizados no que restou das encostas do vale contíguo, aos quais se deu o nome oficial, e abusivo, pois não se configuram como tal, de “praça” Kenichi Nakagawa.
Por sua vez, o afluente do Sapateiro que nasce na Vila Clementino deixa marcas menos evidentes na paisagem, a não ser na época das chuvas, quando provoca inundações. O relevo ali é mais suave e é preciso estar bem atento aos detalhes para ler o percurso do córrego.
A região das nascentes, grosso modo delimitada pelas ruas Sena Madureira, Mairinque, Diogo de Faria e Coronel Lisboa, é bem menos expressiva que a do curso principal do Sapateiro, tanto nas feições da topografia original, quanto nas características paisagísticas resultantes da urbanização.
Afora o Liceu Franco Brasileiro, hoje Liceu Pasteur, principal referência na quadra onde se situam as nascentes, as vilas existentes nas ruas Mairinque e Coronel Lisboa são os únicos diferenciais no projeto convencional do loteamento a marcar o lugar de origem do córrego. As da Coronel Lisboa fazem-no com maior ênfase por se localizarem no eixo da rua Estado de Israel, ainda chamada do Tanque no levantamento de 1930.
Esta é de fato uma rua em talvegue até cruzar com a Botucatu, ponto em que o curso d’água deflete para a esquerda, internando-se nas quadras entre as ruas Estado de Israel e Diogo de Faria. Justamente na esquina das ruas Estado de Israel e Botucatu situa-se hoje a Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de São Paulo, mas a possível vantagem do uso institucional não se realiza em proveito da revelação do percurso do rio. A mesma indiferença ocorre duas quadras abaixo, quando o córrego volta a cruzar a rua Estado de Israel, já na esquina com a Leandro Dupré, altura em que se instalaram, à margem direita, o Comando do 8oDistrito Naval da Marinha do Brasil e, contíguo a ele, o Clube Adamus de Voleibol.
São assim muito sutis os vestígios deixados pelo córrego afluente, só adivinhados pelos dispositivos anti-enchentes, alguns até criativos, adotados pelos moradores mais afetados por elas, e mal pressentidos nas pequenas excepcionalidades do traçado viário, ocupação e uso do solo.
A rua Manuel Cebrian Ferrer é um destes sinais. Curta, estreita e encurvada, contrasta com a malha hipodâmica característica da Vila Clementino, deixando evidente que foi aberta para encerrar o córrego em época mais recente, pois ainda não existia no levantamento de 1952-1957, só comparecendo, com o nome de Travessa Botucatu, na carta da década de 1970. O córrego continua pelo terreno atualmente usado como estacionamento de veículos, assim que atravessa a rua Napoleão de Barros.
Caminhando a jusante, sobressai a praça Manuel Vaz de Toledo – a rigor uma faixa estreita, declivosa, coberta de eucaliptos, na rua Estado de Israel, entre as ruas Napoleão de Barros e dos Otonis – como outra reminiscência do vale original, correspondendo a um trecho de encosta da margem direita do córrego afluente do Sapateiro. Mas as construções ao longo da Estado de Israel interpõem-se entre ela e o córrego, dificultando a associação. Novamente algumas ocupações atípicas e a recorrente presença de “lava rápidos” e estacionamentos de veículos fazem pressentir a presença do córrego.
Por fim, o curso d’água deixa o interior das quadras, cruza a Estado de Israel e completa seu trecho final, antes de embocar no Sapateiro, beirando a rua atualmente denominada Doutora Neide Aparecida Sollito, antes conhecida como rua das Mangueiras. Ali se destaca outro agrupamento de habitações irregulares e precárias, tipo de uso e forma de ocupação que, pela frequência da associação, também acusa a existência de um córrego, mesmo que não explicitamente. O deságue no Sapateiro se dava na região hoje ocupada pelo complexo de viadutos conhecido como “Cebolinha”.
Já encorpado pelo contribuinte da margem esquerda, o Sapateiro prossegue sob o complexo viário que interliga as avenidas Ruben Berta, Pedro Álvares Cabral, Quarto Centenário e Sena Madureira, desembocando, às escondidas, no parque do Ibirapuera. Vem a público sob a forma de um lago, depois da assepsia que a urbanidade e o pudor impõem, como se tivesse surgido do nada e não das nascentes escondidas no interior de loteamentos prosaicos da Vila Mariana e da Vila Clementino, nem atravessado, sempre oculto, as ruas e quadras daqueles bairros. Consumado o espetáculo, retira-se, tão discretamente quanto entrou, tubulado sob a avenida Juscelino Kubitschek até sua foz, no rio Pinheiros.
Aclimação e Pedra Azul / Cambuci – atores retirados do palco
Os córregos formadores do lago do parque Aclimação estão representados, embora não nomeados, na Planta Geral da Capital de São Paulo de 1897. São eles: Aclimação e Pedra Azul, que passa a se chamar Cambuci, a jusante do lago. Ambos, mais um afluente da margem esquerda do Pedra Azul, definem o acidente topográfico que, ainda na carta de 1930, era denominado Morro da Aclimação, anteriormente conhecido como Morro Vermelho, um esporão formado no principal divisor de águas do sítio urbano de São Paulo, num trecho de aproximadamente800 metrosentre as atuais estações Paraíso e Vila Mariana do Metrô.
Ali também está representado, nas terras que então pertenciam a Carlos Botelho, o lago em torno do qual gravitaram as atrações que, desde os fins do século XIX, fizeram deste local um dos mais procurados para o lazer nos arredores do núcleo central da cidade.
Vales e morros, bosques, o gado leiteiro, um pequeno zoológico, salão de baile, eram os chamarizes do lugar, cujas feições rurais ainda eram reconhecíveis, já adentrada a década de 1920, em meio ao avanço dos loteamentos urbanos.
Antes da consolidação dos loteamentos que, aos poucos, envolveram o parque da Aclimação e ocuparam o morro, as minas de água eram abundantes, reforçando o aspecto rústico do bairro:
“Na baixada em direção à Rua do Paraíso, por onde passava o córrego da Aclimação, existia uma mina de água, que era explorada e comercializada. Vendia-se então a ‘água do paraíso’, devidamente engarrafada, para se poder levar às mais longínquas distâncias. Inúmeras eram as ‘bicas’ d’água (...) muitas se mantêm até hoje, nos porões das casas e sub-solos de edifícios de apartamentos” (DOREA, s.d., p. 91, 92).
Em1930, aurbanização ainda não havia alcançado aqueles cursos d’água, mas o Morro da Aclimação já se encontrava arruado, embora com ruas “oficializadas não recebidas” ou “mal definidas” (2). Somente na encosta da margem esquerda do Aclimação, em seu alto curso, ao longo da rua Jurubatuba, atual Arthur Saboya, dispunham-se algumas construções, com os fundos dando para o córrego; ou então na última quadra da rua do Paraíso, onde os lotes também terminavam em um pequeno afluente do Aclimação, ainda a céu aberto.
Os terrenos cortados pelo córrego Pedra Azul, em cujo leito hoje se encontra a avenida Engenheiro Luís Gomes Cardim Sangirardi, eram ainda mais ermos. As ruas que do espigão desciam para o vale, a maioria delas não oficiais ou “mal definidas”, eram interrompidas antes de cruzar o córrego, isolando o cemitério da Vila Mariana na vertente oposta. Só a encosta meridional do morro, em cuja base corria livre o afluente da margem esquerda, se achava urbanizada e construída, ainda assim com todas as suas ruas (exceto a Gregório Serrão) terminando no riacho, sem atravessá-lo.
Vinte anos mais tarde os córregos, a montante do lago, continuavam a céu aberto, a não ser o trecho final do Aclimação, entre as ruas Cruz e Souza e Topázio, tubulado sob a avenida Jurubatuba (3), hoje Armando Ferrentini. Mas já não constituíam atrativos, e sim incômodos. O levantamento aerofotogramétrico realizado pelas empresas Vasp e Cruzeiro, com fotografias tomadas em 1954, assinala as construções avançando sobre o Aclimação, principalmente em seu baixo curso, e novas ruas cingindo o vale, anunciando seu enclaustramento no interior das quadras, com o seu definitivo desaparecimento de cena. Só os terrenos nas cabeceiras, muito íngremes, desafiavam a ocupação; ainda hoje apresentam poucas construções, o que permite reconhecer a forma do vale, preservada no miolo da extensa quadra contornada pelas ruas Arthur Saboya e Armando Ferrentini.
O afluente da margem esquerda do Pedra Azul comparece, no mesmo levantamento, já sitiado e subjugado em toda sua extensão, apesar de não canalizado. As ruas Gaspar Lourenço, Paula Nei, Guimarães Passos, José do Patrocínio, que antes paravam cautelosas às suas margens, agora o atravessam, e as construções o envolvem por completo, menos na região alagadiça da foz.
O vale principal, que é o do córrego Pedra Azul, já estava então circundado por ruas oficiais, e o número de construções que voltavam seus fundos para o córrego aumentara significativamente, sobretudo na margem direita, talvez devido à proximidade da avenida Lins de Vasconcelos, tradicional artéria estruturadora do bairro do Cambuci, e a única a atravessar o vale. O Pedra Azul continuava, portanto, a isolar os bairros situados em suas encostas. Em conseqüência da urbanização, suas nascentes, indicadas no mapa de 1930 no cruzamento das ruas Dona Avelina e Bartolomeu de Gusmão, sofreram um deslocamento de mais de cem metros morro abaixo, despontando na altura da rua Dona Brígida e impedindo a continuidade do seu traçado, conforme o levantamento de 1952-1959.
Os córregos se tornaram inconvenientes. Minas d’água não havia mais; caso ainda existissem, a sua exploração comercial e mesmo o uso para fins domésticos já não eram possíveis. Uma vez esvanecidas as feições pitorescas, os vales e morros deixaram de atrair os visitantes, e o próprio jardim da Aclimação, adquirido pela prefeitura em 1939, estava abandonado. Não é difícil imaginar a nova paisagem do lugar, com seus vestígios de ruralidade deslocados, com as condições ambientais precárias devido ao lançamento direto de águas servidas e de lixo nos vales, além dos bloqueios à circulação que eles impunham. As canalizações limitavam-se a poucas dezenas de metros, o suficiente para disciplinar a entrada das águas do Pedra Azul e do Aclimação no lago, como atestam os desenhos do Departamento de Obras da Prefeitura de 1946 e 1952 (4).
Por tudo isso, deve ter sido recebido com satisfação o plano de melhoramentos urbanísticos, aprovado por lei em 1955, que consistia na abertura de uma avenida de mais de um quilômetro de extensão no fundo do vale do Pedra Azul; de uma rua sobre o seu afluente da margem esquerda, desde a Gregório Serrão até a avenida projetada; do prolongamento da rua Coronel Diogo, na encosta leste, de modo a uni-la com a rua Ximbó, a oeste, possibilitando assim um novo ponto de travessia da várzea, além da retificação e alargamento de outras vias, da “urbanização do vale existente no fim da rua Dona Avelina e criação de um espaço livre lateral destinado a canteiro e escoamento de águas pluviais” (5), hoje denominado praça Dr. Washington Pelúcio, que corresponde, aliás, às nascentes do córrego Pedra Azul.
Dava-se o golpe de misericórdia nos recursos que conferiram atratividade àquele sítio urbano e impulsionaram a ocupação que os destruiria, limitando-os ao atual parque. Mas a sentença não se consumou imediatamente. Os mapas do Sistema Cartográfico Metropolitano da Grande São Paulo, executados com base em vôo atualizado em 1974, indicam que, da avenida de fundo de vale projetada, apenas um trecho de duzentos metros, entre a cabeceira do lago e a rua Ximbó, estava implantado. Atualmente, porém, todos os cursos d’água formadores do lago da Aclimação estão ocultados por completo.
Do lago para baixo, o córrego, ali também conhecido pelo nome de Cambuci, nunca teve o prestígio dos seus formadores, e se algum dia o teve, perdeu-o há mais tempo. Embora ainda a céu aberto em 1930, seu curso se insinuava em meio a quadras já muito ocupadas de um lado e de outro da rua Muniz de Souza, principal via de acesso a partir do centro, e só corria livre na baixada onde mais tarde seria construído o conjunto de prédios residenciais projetado por Attílio Corrêa Lima, em 1942, para o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários – I.A.P.I.
A rua Albina Barbosa, que hoje acolhe as águas do córrego na galeria sob o seu leito, assim que ali lançadas pelo vertedouro do lago, não chegava até o parque em 1930, de modo que o córrego fluía solto no meio da quadra entre as ruas Augusto de Toledo e Muniz de Souza. Depois, entre esta e a Albina Barbosa – que se limitava então a um pequeno trecho entre as ruas Dom Duarte Leopoldo e Senador Carlos Teixeira de Carvalho.
Por uma canaleta, construída nos fundos dos lotes, recebia o afluente da margem esquerda, cortava longitudinalmente a quadra existente entre a Muniz de Souza e a rua Mazzini, voltava a cruzar a Muniz de Souza na altura da rua Ubá e percorria o quarteirão entre aquela e a rua Apiahy (atual Miguel Teles Júnior). Trespassava mais uma vez a Muniz de Souza, entrando pela mesma quadra que esta forma com a rua Mazzini, para então transpor a rua Lavapés e se enfiar pelos fundos dos lotes. Chegando à rua Cesário Ramalho, adentrava o quarteirão entre a Justo Azambuja e Teixeira Mendes. Daí em diante as informações cartográficas dispersam-se em canais sem conclusão, pois já fora atingida a várzea do Tamanduateí, onde o Cambuci deságua.
No levantamento aerofotogramétrico de 1952-1959 já não se nota mais este ziguezague. Apenas em pequenos segmentos, aparentemente aleatórios, no interior do quadrilátero composto pelas ruas Muniz de Souza, Augusto de Toledo, Maracaí e Almeida Torres, e na quadra entre a Muniz de Souza e a Miguel Teles Júnior, o córrego está representado. A marca mais incisiva da sua passagem, além da ruela no final do lago, que depois viria a ser o prolongamento da Albina Barbosa, é a travessa Lavapés, (entre a Muniz de Souza e a Cesário Ramalho), que hoje se chama Professor Oscar Saiago de Sá Pereira, e sob a qual foi tubulado.
Os topônimos mais afáveis – Aclimação, Pedra Azul, Cambuci – não pouparam estes córregos do mesmo destino do Sapateiro, Cortume ou Matadouro. Quem andar pelas ruas do Morro da Aclimação precisará estar muito atento para descobrir vestígios dos formadores do lago.
Se a avenida Engenheiro Luís Gomes Cardim Sangirardi, aliás denominada Pedra Azul em seu trecho final, torna mais explícita a presença do curso d’água que ela encerra, o mesmo não se dá com o seu afluente, no limite meridional do morro. São os ouvidos e não os olhos que acusam o riacho no ponto mais baixo da rua Gragório Serrão, entre a Machado de Assis e a Joaquim Távora: das bocas de lobo se ouvem as águas que descem por onde a lei municipal de 1955 anunciava uma via, jamais executada devido à alta declividade do terreno. A rua não foi executada, mas entubou-se o córrego, e na sua esteira formou-se uma favela, recentemente removida. Uma escadaria projetada na parte mais íngreme e caminhos pavimentados nos trechos mais suaves permitirão percorrer a pé o caminho do córrego até sua foz no Pedra Azul, marcada pela praça do Povo Húngaro.
O Aclimação também exige acuidade para ser pressentido no espaço público: as cabeceiras estão absorvidas em uma quadra contornada pela rua Arthur Sabóia e a avenida Armando Ferrentini. Uma escadaria longa, unindo as duas vias, permite cruzá-lo, mas os acessos controlados nas extremidades impedem esta experiência para quem não tem as chaves. Só mais adiante o seu leito subterrâneo se confunde com o traçado da avenida Armando Ferrentini, sendo a prova mais cabal do corpo presente uma grande boca de lobo na confluência com a rua Topázio, pouco antes dele entrar no parque e ser conduzido, ainda às escondidas, ao lago. Um pequeno afluente seu, paralelo à rua Paraíso, também deixou alguns rastros nas linhas quebradas das ruas Joaquim Gomes e André Gouveia. E é só.
Final
Caso faça sentido, não “renaturalizar” os córregos, procedimento duvidoso se não impossível, mas recuperar sua memória e, mais ainda, vivificá-los, acusando sua existência atual e abafada, ou mesmo expô-los, trazê-los de volta à paisagem, então os casos estudados apresentam algumas possibilidades.
Ambas situações permitem verificar que à importância paisagística dos lagos, um dos grandes atrativos do parque Ibirapuera e, certamente, o principal foco do parque Aclimação, não corresponde o tratamento indiferente, e até agressivo, dispensado aos córregos formadores.
Os cursos d’água foram tradicionalmente encarados como estorvos à urbanização, sua serventia se limitando aos serviços de saneamento, no melhor dos casos, ou ao lançamento direto de dejetos, nos piores e mais comuns. Sendo áreas rejeitadas, foram afastadas dos olhares públicos. Seus vales, deixados ao acaso, foram ocupados irregularmente por habitações precárias ou então privatizados, mesmo quando públicos, por empreendimentos imobiliários.
A aprovação do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, em 2002, ensejou a execução de parques lineares ao longo de cursos d’água ainda com alguma expressão na paisagem, os quais compõem a chamada “rede hídrica estrutural”. Ficaram de fora, no entanto, os capilares desta rede, os quais, não obstante, podem se integrar aos espaços livres públicos de maior porte e, assim, conectá-los.
A detecção destas oportunidades, quase sempre sutis, só é possível pelo andar lento e pelo olhar acurado, empenhadosem percebê-las. Assingularidades, tanto físicas quanto sociais, de cada caso exigem respostas particulares, frustrando qualquer esforço de generalização. O que há em comum, ao menos em certos trechos dos casos estudados, é a ocorrência de soluções pouco usuais, estranhas às “boas normas” urbanísticas ou às convenções, sempre que se trata de encarar ou de driblar as constrições que a matéria primordial do sítio – o relevo associado à hidrografia – impõe à urbanização. Mesmo quando estes supostos entraves são vencidos pela força, arrasados, enterrados, sobram alguns vestígios, resíduos que denunciam a operação.
O que se advoga aqui não deve ser confundido, portanto, nem com a defesa de medidas de “renaturalização”, ademais nada naturais, ou de proposições que idealizam as relações entre a urbanização e a materialidade primordial do sítio. Há harmonias, mas também há conflitos, e daí decorrem repostas não previstas, que convém levar em conta: escadarias, dispositivos incomuns, volteios bruscos de ruas, divisões insólitas dos lotes, ocupações atípicas, insurgências de água. Reclama-se considerar a riqueza deste repertório, riqueza constatável tanto nas particularidades das respostas pontuais quanto nas oportunidades de articulação destes pontos, constituindo novos percursos na cidade, aumentando as possibilidades de leitura e de apropriação.
Acessar um parque por caminhos que proporcionem experiências que o cotidiano embota, afasta ou impede, já representa um ganho, seja pelo conforto, seja pela qualidade ambiental, seja pelo mero prazer de perceber e experimentar o espaço de uma outra forma que não a de consumi-lo de um modo estritamente funcional e especializado – descaminho que pode se dar mesmo nos parques, se vistos como “bolhas” de saúde e bem estar, antídotos de um urbano degradado.
O exame das cartas que representam as duas bacias – Sapateiro e Pedra Azul / Aclimação – revela que suas cabeceiras não distam mais de um quilômetro entre si. Partindo-se da praça Dr. Washington Pelúcio, onde se situam as nascentes do Pedra Azul, e subindo-se a rua Dona Avelina até a rua Neto de Araújo, atinge-se a praça Dr. Teodoro de Carvalho, no divisor de águas. Embora este logradouro esteja hoje reduzido a duas pistas e a um canteiro central que as separa, ele tem um significado importante para a memória do bairro por ter sido a praça da estação de bondes da Vila Mariana. Daí, atravessando-se a rua Domingos de Moraes, chega-se à rua Sud Mennucci ou à Carlos Vitor Cocozza as quais, por suas curvas, conduzem à rua Lutfala Salim Achoa, onde se encontra o primeiro indício público das nascentes do Sapateiro.
A maior dificuldade para ir das cabeceiras do Pedra Azul às do Sapateiro é vencer o divisor de águas da rua Domingos de Moraes, ou seja, subir ou descer as encostas. No trecho de250 metrosque vai da praça Dr. Washington Pelúcio até o ponto onde a rua Dona Avelina desemboca na Neto de Araújo, esta já no espigão, há um desnível de vinte e dois metros, logo, uma declividade menor que 10%. Entre as ruas Domingos de Moraes e Lutfala Salim Achoa a diferença de nível é de aproximadamente dezoito metros, e a distância que as separa é da ordem de200 metros, do que resulta uma declividade também inferior a 10%. Os obstáculos podem ser, portanto, superados sem grandes problemas. No mais, é percorrer o caminho que cada córrego sulcou no relevo – sempre mais suave à medida em que se aproxima da foz – e que as ruas decalcam e recalcam.
Ir de um parque a outro, de um lago a outro (cerca de quatro quilômetros de distância), ou mesmo de uma foz à outra, por rotas alternativas e confortáveis é um ganho a mais, porquanto se ampliam as possibilidades já vislumbradas de constituírem trajetos não só rememorativos mas também atualizadores da materialidade originária dos sítios.
notas
1
O matadouro da Vila Mariana foi projetado pelo engenheiro Alberto Kuhlmann, que era também superintendente da Companhia Carris de Ferro, construída entre 1883 e 1886, para comunicar São Paulo a Santo Amaro. (Antonio Egydio Martins, São Paulo Antigo, primeiro volume, Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1911, p. 108-110). O Mappa Topographico do Município de São Paulo de 1930, executado pela empresa Sara Brasil, mostra as ruas Tangará, Sena Madureira e Tutóia integrando o percurso da linha do tramway de Santo Amaro, que servia ao matadouro.
2
Termos usados nas convenções gráficas do Mappa Topographico do Município de São Paulo, executado pela empresa Sara Brasil, em 1930.
3
Não se trata da mesma rua Jurubatuba, posteriormente denominada Artur Saboya, e sim da sua continuação depois da forte inflexão que sofre ao contornar as nascentes do córrego.
4
O desenho no 2432, de 23/08/1946, do Cadastro de Obras da Secretaria de Infraestrutura Urbana da PMSP, antecipa a existência de uma via sobre o Pedra Azul, denominando-a Avenida Vale da Aclimação (atual Engenheiro Luís Gomes Cardim Sangirardi). Conduzidas a céu aberto até uma pequena bacia elíptica, com diâmetros de 10 e15 metros, situada no interior de uma rotatória também elíptica, as águas do Pedra Azul são a partir daí repartidas: uma tubulação de aproximadamente40 metros de comprimento as despeja diretamente no lago, enquanto o excedente vai por outra galeria que o contorna pela margem direita. O desenho no 6819, de 14/03/1952, já mostra a galeria do Pedra Azul estendida desde a rua Coronel Diogo até o lago, com uma caixa de sedimentação circular, de45 metros de diâmetro, onde se dá a separação entre os fluxos que alimentam o lago e os que prosseguem pela sua margem esquerda até encontrar o córrego a jusante.
5
Lei municipal no 4668, de 5 de maio de 1955, apud DOREA, Augusta Garcia Rocha. Aclimação. História dos bairros de São Paulo. Prefeitura do Município de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, s.d., p. 107, 108.
referências bibliográficas
AB’SABER, Aziz, N. Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo. Edição fac-similar – 50 anos. São Paulo, Ateliê Editorial, 2007.
DOREA, Augusta Garcia Rocha. Aclimação. Série História dos Bairros de São Paulo. Vol 19. Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo,1982.
MARTINS, Antonio Egydio. São Paulo Antigo, primeiro volume. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1911.
MENDES, Renato da Silveira. “Os bairros da zona sul e os bairros ocidentais”, in AZEVEDO, Aroldo de. A Cidade de São Paulo. Estudos de geografia urbana, vol. III. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1958.
SANT'ANNA, Denise Bernuzzi. Cidade das águas. Usos de rios, córregos, bicas e chafarizesem São Paulo(1822-1901). São Paulo: Senac, 2007.
SOCIARTE. Iconografia paulistana em coleções particulares. São Paulo, Museu da Casa Brasileira, 1999.
TORRES, Maria Celestina Teixeira Mendes. Ibirapuera. São Paulo, Novos Horizontes, 1977.
referências cartográficas
1897 – Planta Geral da Capital de São Paulo, organizada sob a direção do Dr. Gomes Cardim, Intendente de Obras, 1897.
1930 – Mappa Topographico do Município de São Paulo, executado pela Empresa Sara Brasil S.A., 1930.
1952-1959 – Município de São Paulo, levantamento aerofotogramétrico executado por VASP Aerofotogrametria S.A. e Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul S.A., fotografias tomadas em janeiro de 1954.
1974 – GEGRAN, Sistema Cartográfico Metropolitano da Grande São Paulo, vôo atualizado em 1974.
sobre o autor
Vladimir Bartalini, arquiteto, mestre e doutor pela FAU USP. Atua profissionalmente na área da arquitetura paisagística desde 1973 e leciona disciplinas de paisagismo em escolas de arquitetura desde 1975. Coordena atualmente o Laboratório Paisagem, Arte e Cultura do Departamento de Projeto da FAU USP.