“Toda a terra é um arquipélago em uma água morta, e o homem salta de ilha em ilha como uma pulga”
Jean-Paul Sartre. La reine Albermale ou le dernier touriste
O escritor francês Jean-Paul Sartre era um amateur confesso de cidades: Paris, Roma, Nápoles e Veneza. Mas, entre uma viagem e outra, Sartre trabalhava com rigor e extremo afinco, e a veracidade dessa afirmação é atestada pela sua vastíssima obra (1). O objeto de estudo desse artigo, todavia, não é paixão desse escritor pelo trabalho intelectual, mas um texto póstumo intitulado La reine Albermale ou le dernier touriste, e, em especial, o sub-capítulo que apresenta o mesmo título do supracitado romance. Nesse texto, a personagem criada por Sartre, um turista francês em viagem a Itália, descreve a cidade de Veneza, a qual, sabemos pelos seus biógrafos, era – assim como Roma – uma das suas cidades italianas preferidas. No entanto, nesse caso, amar não significa necessariamente escrever textos laudatórios, apologéticos ou condescendentes, mas, implica, sobretudo, a demonstração patente de um interesse afetivo. Com a análise desse subcapítulo pretendemos demonstrar o que afirmamos acima, isto é, a relação íntima que o intelectual francês possuía com as cidades, e, em especial, com a cidade de Veneza, e como nesse texto a personagem oscilaria entre um sentimento de mal estar em relação ao turismo, para, logo após, entregar-se com certo deleite a esta atividade. Porém, antes de realizar a análise que nos propusemos, seria mister esclarecer um pouco mais o caráter desse romance inacabado, e, para tanto, recorreremos a uma das suas mais renomadas biógrafas, Annie Cohen-Solal:
“O trabalho mais desconhecido desses anos de impasse [1951-52], e também o trabalho no qual ele mais investiu – e cujo abandono ainda permanece um enigma (2) –, talvez seja o manuscrito conhecido sob o nome de La reine Albermale ou le dernier touriste, esse romance inédito e inacabado, o qual Simone de Beauvoir dizia ser a ‘La nausée da sua idade madura’” (3).
Trata-se de uma narrativa viática, mas com um caráter um pouco ambíguo, uma vez que consistia em uma espécie de “anti-guia de viagens”, no qual uma personagem deambula pela Itália enquanto descreve as cidades e tece algumas considerações de ordem filosófica. Afirmamos que se trata de um projeto ambíguo porque em uma “narrativa viática clássica” o escritor não descreve a angústia de estar em solo estrangeiro e nem faz da sua posição de turista um motivo de reflexão (como o fez a personagem de Sartre). O viajante-escritor pode perfeitamente narrar o seu espanto em face de paisagens, costumes e hábitos desconhecidos, assim como pode ressentir certo dépayment (desorientação) por estar longe do seu país natal, mas não é comum que este coloque entre parênteses a sua condição de turista. Veremos, porém, que em determinados momentos da narrativa a personagem se rende a sua própria condição de turista, e, em Veneza, se entrega a uma atividade antes renegada.
Sabemos que Sartre era um viajante notório (ele conheceu, por exemplo, quase todas as repúblicas da antiga União Soviética), então, caberia perguntar por que ele tomou a decisão de dedicar um projeto literário a esse país em especial, e não a qualquer outro que ele por ventura tenha visitado. Para responder tal pergunta novamente recorremos a sua biógrafa: “O país no qual ele residiu com mais frequência e com mais prazer foi a Itália. Nápoles, Veneza, Milão, Turim e, sobretudo, Roma” (4). Portanto, para Sartre talvez tenha parecido natural escrever um romance sobre uma viagem a Itália quando se vai, com frequência, a esse país. De qualquer sorte, o romance jamais foi concluído, e as razões desse abandono, como vimos, estão por ser elucidadas, e, sobre essa questão, como já escrevemos, ainda estamos no domínio da especulação. Após os anos de redação de La reine Albermale, Sartre deu por encerrada a sua carreira literária – ao menos no que se refere à ficção – e passou a servir-se da escritura com fins políticos. Esse romance inacabado, então, talvez tenha sido a última obra de um escritor que se tornaria um militante gauchiste e marxista, que mesmo quando escrevia sobre literatura procurava denunciar a “exploração do homem pelo homem” (5).
Sartre e Veneza
Muitas cidades italianas são conhecidas por atrair turistas: Roma, a sua capital, a pequena cidade medieval de Siena, a cidade de Florença, com a qual aquela disputou a hegemonia da região durante alguns séculos, Gênova, e, ainda, Veneza. No entanto, muitas cidades são consideradas turísticas ainda que tenham conseguido guardar – ou desenvolver – outras formas de economia. Veneza pareceu, para a personagem de Sartre, uma cidade cuja economia estava baseada unicamente no turismo, e, em determinado momento, ela se pergunta: “Quem mora em Veneza?” Trata-se, certamente, uma pergunta retórica, e ela mesma a respondeu:
"Artesãos, restauradores e fabricantes de móveis, marceneiros, fabricantes de objetos de vidro. Pequeno comércio. Trabalhadores temporários. Fabricantes de sapatos: eles os fazem sob medida. Camisas sob medida. Roupas e alfaiates: trazidos pelos turistas" (6).
De fato, pensando sob o prisma elíptico desse turista, Veneza não parece ser muito próspera e nem possuir uma economia diversificada, sobretudo se evocarmos a riqueza que essa cidade já conheceu e cujos símbolos podiam ainda ser vistos, em meados do século 20, no reflexo dos seus palácios nas águas turvas dos seus canais. “Uma cidade de armadores e de grandes comerciantes e ocupada por artesão e comércio de luxo” (7). A constatação é melancólica, e o turista continua: “Havia as formas mais altas do capitalismo comercial. Veneza devia causar espanto como Nova York.” O luxo que a personagem percebe é, agora, destinada aos turistas, e Veneza seguia espantando com a ostentação do seu luxo pretérito. Ora, a riqueza que ele constata em Veneza a partir dos turistas é a riqueza internacional, e não a riqueza da Itália ou da própria cidade. E a alusão à cidade de Nova York não é, certamente, gratuita, pois quando Sartre escrevia o seu texto a metrópole norte-americana era a encarnação – em pedra e aço – da imensa riqueza e prosperidade do país que havia vencido a guerra contra o fascismo.
Mas a prosperidade da cidade italiana não existia mais quando a personagem deambulava pelos canais em gôndola – uma verdadeira image d’épinal (8) para um turista francês – e observava: “De vez em quando um palácio deslizava vergonhosamente” (9). Em outro momento da narrativa, a personagem, navegando em um bairro descrito como “popular”, afirmou: “Havia os rios dos pobres, mais sujos que os outros. Barcas ali apodreciam. [...] Casas que descascavam, o gesso se fendia como uma pele seca, a rosa da derme, tijolos rosas apareciam como estigmas” (10). O nosso autor fez referência tanto a “Veneza dos ricos” quanto a “Veneza dos pobres”, e um único conceito as reúne em um amálgama: a decadência. Ora, a personagem notou que, naqueles palácios, as janelas estavam sempre fechadas e que não se habitava senão o térreo, e que as casas populares se abriam mostrando a derme rosada dos tijolos. Com essas imagens a decadência da cidade era exibida, e, finalmente, terminavam por servir de cenário para a curiosidade ávida de pitoresco dos turistas.
Assim, vê-se que Veneza é percebida como um belo objeto que teria resistido mal ao fluxo inexorável do tempo: as janelas permanentemente fechadas são as marcas de que aqueles espaços um dia já foram habitados, que eram animados por ricos comerciantes, cúpidos aristocratas e dezenas de domésticos. E mesmo as casas dos pequenos comerciantes e artesãos já não existem senão como uma lírica e bela imagem, em que paredes que se abrem mostram os seus estimas de tijolos. Restaram a essa cidade os turistas internacionais e os pequenos comerciantes que deveriam servir-lhes. É esta, ao menos, a melancólica imagem desse pessimista turista francês.
Avivam as reflexões da personagem o caráter particular da sua malha urbana cortada por inúmeros canais, e essa é uma das razões pelas quais essa cidade é tão procurada pelos turistas. Certamente que isso não é, de fato, tão particular assim a essa cidade italiana; ora, Amsterdam, Bruges e Gend, apenas para nos restringirmos aos exemplos mais conhecidos, também são cortadas por canais. Mas, para um turista, Veneza é, sobretudo, a cidade dos canais, e a personagem faz a seguinte constatação: “Perto da ponte da Academia, há árvores que saem do solo de pedra ondulado, mas elas saem da pedra, o solo está escondido. É o único mistério de Veneza – que já foi tão misteriosa – essa terra rara e negra (eu a imagino assim) e que escondem” (11). Ou seja, para o turista – e até para esse turista tão empenhado em fazer um exercício de “anti-turismo” – essa cidade não é uma cidade de terra, mas de água: é o material de construção por excelência dessa cidade que se dobra nos seus canais.
A terra é escondida e os seus jardins, por sua vez, são prisioneiros: “Os jardins estão na prisão. Entre dois canais, no cruzamento, uma cadeia flutuante. Três muros de tijolos são os lados visíveis” (12). A imagem criada por Sartre evoca o fato de que nessa cidade, o único elemento natural que tem a liberdade de existir é a água, o resto é escondido ou aprisionado: “Percebe-se, entre as grades, úmida, fechada, misteriosa e melancólica, a vegetação cativa que às vezes pende sobre um muro, calamitosa, com uma longa cabeleira vermelha ou verde” (13). Pode-se perceber que a imagem de Veneza criada pelo turista francês procura fugir de alguns dos clichês habituais: cidade apinhada de turistas, alegre e festiva, com os gondoleiros nos seus trajes típicos a conduzir turistas de um lado a outro nos canais.
Aliás, nessa narrativa nem mesmo os gondoleiros escaparam ao pessimismo da personagem. Conduzido em uma gôndola, o turista observou com surpresa que o seu condutor tinha sido honesto: “Ele não me roubou, o que é uma prova de resignação” (14). E ficou imaginando qual seria a natureza da amargura que teria levado o gondoleiro ao “fracasso” de pedir apenas a tarifa regulamentar. E, ao observar com certa admiração a suposta habilidade do gondoleiro em manobrar o seu barco em alguns poucos metros disponíveis, ele logo percebe que estava quase cometendo um dos tiques habituais do turista em Veneza: “o espanto secular do turista que não terá satisfação se não pensar que o gondoleiro é um virtuose da gôndola” (15). O evento que o turista narra em seguida vem confirmar o “tique” e contradizer o “espanto secular”:
“No mesmo instante o meu virtuose mergulha o remo até o fundo tentando frear a nossa gôndola, e foi, então, que aconteceu esse milagre que talvez cem mil turistas tenham esperado, cansados de serem roubados e desprezados, mas que jamais puderam ver, esse milagre que foi a minha ração diária de anti-turista, esse acontecimento que acabou com um dos meus últimos respeitos pelo turismo: o remo se parte e o gondoleiro mergulha na água” (16).
A narração desse evento, sem condescendência nem piedade – e talvez com um tout petit peu de sarcasmo – cobre de ridículo a profissão mais conhecida – o pobre gondoleiro é descrito como “chefe de família” (17) – e a mais famosa imagem da cidade, e, a partir da reação do turista francês, poder-se-ia dizer que ele pareceu ter se vingado do próprio turismo; ora, nesse caso, não foi um simples gondoleiro que caiu nas águas, mas foi um ancestral cliché veneziano que tombou por terra (na “terra escondida” de Veneza...). Poder-se-ia afirmar que, nesse caso, o autor faz um acerto de contas com o turismo de massa, e que o seu amor por Veneza está mais no passado que no presente.
Ora, depois do incidente, face à pequena multidão que observava o gondoleiro molhado, alguns turistas norte-americanos perguntaram à personagem se, pelo fato de ter despertado tanta atenção, “ele era alguém conhecido”. É um sinal dos tempos: a estrita etiquette dos ricos comerciantes e aristocratas foi substituída pela vulgaridade atávica dos turistas internacionais. É essa, justamente, a marca de um “guia de anti-turismo” de que se reveste essa narrativa: os palácios arruinados não são um mero cenário para o sentimento do pitoresco dos turistas, mas a marca da inelutável decadência – econômica e cultural – de uma cidade; os gondoleiros, por sua vez, não são a tradição ainda viva dessa nação de marinheiros e de comerciantes, um verdadeiro virtuose do seu ofício, mas um simples “pai de família” pouco honesto e a serviço do turismo de massa.
Pelo episódio criado e narrado, vê-se que Sartre estava disposto a ir às últimas consequências no acerto de contas da sua personagem com o turismo. Mas mesmo um turista empenhado em fazer “anti-turismo” pode se permitir um momento de trégua, e apreciar os ditos momentos felizes do turismo: “Água verde, maré cheia na laguna, exuberante; uma poeira de sol apura tudo: Lorrain. Eis a felicidade do turismo: esses pequenos momentos eternos que fazem o mundo parecer uma antiga pintura” (18). E a paisagem veneziana passa a ser descrita como uma pintura de Watteau, tornando-se, na verve do escritor francês, uma espécie de universo pré-romântico sem uma data precisa: “Normalmente, Veneza é plana e sábia. Vê-se as fachadas ou as belas linhas de um canal cortado por pontes divergentes.” Mas em uma narrativa viática cabe ao autor o inevitável da procedimento comparação, e a cidade italiana torna-se, pela “confusão das suas perspectivas”, uma cidade industrial no vale do Reno ou do Marne (19). E não deixa de ser curioso que o momento feliz em Veneza esteja associado as suas lembranças de um solo mais conhecido.
Mas, subitamente, esse turista retorna a Veneza, e passa a refletir sobre o caráter, talvez único, dos espaços dessa cidade. Segundo a personagem, em muitas cidades, como Roma e Nova York, é possível discernir claramente o começo e o fim de uma rua, que não é, finalmente, senão uma sequência de fachadas que está diante de uma outra sequência de fachadas; essas cidades são chamadas de “cidades de lucidez”, e talvez nesse aspecto resida o seu charme. “Mas em Veneza é-se o homem do bricolage e do artesanato, porque se é obrigado a viver e se vive au jour le jour, minuto a minuto” (20). Eis uma bela imagem para Veneza, uma cidade que não se entrega ao observador senão aos poucos, e jamais de uma única vez em uma grande e larga perspectiva; ou, como afirmou o turista francês: “é uma cidade para míopes”(21). Veneza, cidade italiana da proximidade e das curtas distâncias.
Mas há, além da admiração, o estranhamento do turista que, em determinado momento, movido pelo dépaysement, imagina-se em outro lugar que não simplesmente, em uma cidade italiana. E, finalmente, se não se está na sua cidade, não se está, talvez, em lugar algum: “Está-se cortado do mundo. Eu não sinto nem um pouco o mundo efervescente em torno dela [Veneza], ao contrário, eu imagino uma camada infinita e lunar de água morta.” E conclui: “Aqui se está um pouco como na lua” (22) E assim, com uma comparação exótica, o turista francês dá por encerrada a sua jornada em Veneza.
Últimas considerações
Afirmamos no caput desse artigo que Sartre era um aficionado por cidades, e que estas nunca lhe deixavam indiferente. Embora não fosse um profundo conhecedor de arquitetura e de urbanismo – as artes nas quais ele era especialista eram a música e a pintura – ele escreveu sobre as cidades italianas com inegáveis discernimento e poesia. Sobre essa questão, pode-se ler em outro subcapítulo do mesmo romance: “A mais bela rua da Europa é a Rua Rochechouart, quando ela é vista do Boulevard Barbès” (23). Estas são, certamente, as frases de alguém que se encontra claramente enamorado, e, nesse caso, o objeto de amor é o urbano. E, se não fosse certa cidade situada no norte da Europa, poderíamos afirmar que as cidades que ele mais amou foram as cidades italianas, e, principalmente Roma e Veneza. Mas qual seria essa outra cidade por quem ele nutria uma especial afeição? Deixemos a resposta para o próprio autor:
“Só me interessam as pessoas e quando penso em revê-las é nesta Paris de guerra que imagino nossos encontros. Minha licença consumou a ruptura com o meu passado. Eu recuo e poderei dizer um dia – amanhã talvez – o que Paris foi para mim. Sinto que, se não fui patriota, pelo menos fui comunalista e regionalista. Paris era a minha aldeia, como diz a canção. Cidadão de Paris, se tivesse sido chauvinista” (24).
Sartre e Beauvoir costumavam dizer que tinham um amor mútuo que era necessário, e que saiam, então, a procura de amores contingentes; Paris, cidade com a “rua mais bela da Europa”, talvez fosse para o filósofo francês esse amor necessário. No entanto, não ocupavam um lugar em nada desprezível nessa relação às cidades de Roma e de Veneza, como nos assevera Cohen-Solal: “Pois Sartre foi loucamente enamorado pela cidade de Roma, um amante gourmet, um romântico, um apaixonado” (25). Quanto a Veneza, aprendemos com outro conhecido biógrafo, Bernard-Henry Lévi, que o filósofo francês, nos seus últimos dias de vida, já bastante debilitado e quase cego, pediu que o levassem a Veneza, para ver e ouvir, pela última vez, as cores e os sons da cidade pela qual nutria tanta paixão (26).
Mas para além da cidade, Sartre nos escreveu – e não sem certa amargura – sobre as experiências desse eterno passageiro que é o turista, condenado a errar de cidade em cidade, sem jamais compreender completamente o que observa e narra, e a quem não restaria senão a redação de um “anti-guia de viagem” irônico e amargurado. Mas é justamente nessa incompreensão parcial que se dá o procedimento de analogia tão caro às narrativas viáticas: as cidades do “outro” devem ser comparadas com as “minhas” cidades, para que possam ser re-conhecidas. E poder-se-ia dizer que, nesse texto de Sartre, Veneza c’è, apesar da pretensa vulgaridade do turismo de massa, e o nosso autor faz uma dialética improvável entre o turismo e anti-turismo.
notas
1
A esse respeito, ver: CONTAT, Michel; RYBALKA, Michel. Les écrits de Sartre. Paris, Gallimard, 1970.
2
Tal projeto ambicioso, contudo, como pudemos ler, foi abandonado, e das suas prováveis quinhentas páginas de manuscrito, apenas cerca de cem foram encontradas e publicadas pela sua filha adotiva no ano de 1990; temos, então, apenas a parte visível do iceberg. Ainda que o abandono seja um enigma, pode-se, contudo, aventar algumas possibilidades, como o fizeram, aliás, alguns dos seus biógrafos: talvez tenha sido a ambição do próprio projeto literário, um misto de diário íntimo, narrativa viática, ensaio sobre pintura e romance; ou talvez porque um projeto considerado tão “literário” acabasse por se chocar com o ativista político de caráter marxista que Sartre teria se tornado já a partir do final dos anos 1940. A esse respeito, ler: CONTAT, Michel. Autopsie d'un livre inexistant : La Reine Albemarle ou le Dernier touriste. In: Item [On line] Disponível em http://www.item.ens.fr/index.php?id=172593.
3
COHEN-SOLAL, Annie. Sartre 1905-1980. Paris, Gallimard, 1999, p. 541. Tradução nossa do francês para o português.
4
Idem, ibidem, p. 541. Tradução nossa do francês para o português.
5
Referirmo-nos ao ensaio O que é a literatura?, publicado pela primeira vez em 1947 na coletânea Situações II. De fato, nesse texto já se percebe, de mais ou menos velada, certas inflexões marxistas e políticas. Nesse ensaio, por exemplo, ele já deplora o que ele chama de “negrofobia americana”, país que até então, quase sempre fora abordado de maneira positiva.
6
SARTRE, Jean-Paul. La reine Albermale ou le dernier touriste. Paris, Gallimard, 1991, p. 123. Tradução nossa do francês para o português.
7
Idem, ibidem, p. 123. Tradução nossa do francês para o português.
8
Na cultura francesa este termo significa uma gravura popular de tema ingênuo, e, com o tempo, passou a significar algo ingênuo e estereotipado, uma espécie de cliché.
10
SARTRE, Jean-Paul. La reine Albermale (op. cit.), p. 119. Tradução nossa do francês para o português.
11
Idem, ibidem, p. 119. Tradução nossa do francês para o português.
12
Idem, ibidem, p. 119. Tradução nossa do francês para o português.
13
Idem, ibidem, p. 118. Tradução nossa do francês para o português.
14
Idem, ibidem, p. 118. Tradução nossa do francês para o português.
15
Idem, ibidem, p. 122. Tradução nossa do francês para o português.
16
Idem, ibidem, p. 122. Tradução nossa do francês para o português. O espanto diante do desconhecido é um topos clássico da literatura viática, e é justamente por isso que Sartre alude ao “espanto secular do turista”.
17
Idem, ibidem, p. 122. Tradução nossa do francês para o português.
18
“Ninguém vai acreditar no que eu vou escrever. Eu tenho preguiça de começar. Pouco importa. Pois bem, eu estava em uma gôndola, conduzida por um pai de família. Pai de família, mas ainda assim mesmo um gondoleiro.” SARTRE, Jean-Paul. La reine Albermale (op. cit.), p. 119. Tradução nossa do francês para o português.
19
Idem, ibidem, p. 133. Tradução nossa do francês para o português.
20
A comparação é um procedimento clássico nas narrativas de viagem, no qual o desconhecido perde esse caráter em uma analogia com aquilo que já é conhecido: “Pensar por antecipação o Selvagem era erigi-lo em protótipo, ou, mais exatamente, em um arquétipo suscetível de permitir uma avaliação visual (mental) procedente de um julgamento de conformidade ou de não conformidade, com o modelo fabricado aqui mesmo, em todo caso antes do encontro”. LECRUD, Gérard. Quand voir, c’est reconnaitre: les récit de Voyage et le regard antropologique. In: Terrains de l’enquête, n. 1, Marselha, Editions Parenthèses. Tradução nossa do francês para o português.
21
SARTRE, Jean-Paul. La reine Albermale (op. cit.), p. 139. Tradução nossa do francês para o português.
22
Idem, ibidem, p. 139. Tradução nossa do francês para o português.
23
Idem, ibidem, p. 140. Tradução nossa do francês para o português.
24
Idem, ibidem, p. 56. Tradução nossa do francês para o português.
25
SARTRE, Jean-Paul. Diário de uma guerra estranha: “a drôle de guerre”, novembro de 1939 – março de 1940. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983, p. 143.
26
COHEN-SOLAL, Annie. Op. cit., p. 543. Tradução nossa do francês para o português.
27
LÉVY, Bernard-Henri. O século de Sartre. Tradução Jorge Bastos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000, p. 398.
sobre o autor
Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima, arquiteto e urbanista, Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo, Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Autor do livro Arquitessitura; três ensaios transitando entre a filosofia, a literatura e arquitetura. Professor Assistente da Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Arquitetura e Urbanismo.