As universidades públicas brasileiras passaram um longo período sem um expressivo desenvolvimento físico, no início desse século um processo de expansão de novos campi e universidades públicas foi idealizado, refletindo a demanda pelo aumento da inclusão de estudantes no ensino superior no país. Esse momento merece nossa atenção, pois esses equipamentos representam implantações urbanas complexas e impactantes. Um campus, quando instalado, possui a característica de incrementar e agregar novos valores a cidades e regiões onde se inserem. Diferenciando-se em uma primeira análise, pelo local de implantação, em malha urbana ou na sua periferia, um campus gera impactos, tanto positivos quanto negativos, tanto pela sua dimensão quanto pelo número de pessoas envolvidas em suas atividades.
Entre os projetos desse período são apresentados nesse artigo quatro planos, três são novos campi universitários: Universidade de São Paulo (USP) Campus Leste - São Paulo; Universidade de São Paulo (USP) Campus 2 – São Carlos e Universidade Federal de São Carlos (UFscar) Campus Sorocaba. E somando-se a esses a nova Universidade Federal do ABC (UFABC) Campus Santo André.
A qualidade do espaço físico do campus universitário reflete a integração entre diversos elementos projetuais como edifícios, espaços abertos, vias de circulação, estacionamentos, áreas verdes, infraestrutura e projeto pedagógico. Nos campi levantados, foi observada a relação estabelecida entre esses elementos e como se definiram no seu território particular de implantação. Esses projetos abrangem o período de 2001 a 2006, estavam em fase de implantação, e em diferentes graus de concretização. Em cada um deles, métodos e propostas diferenciadas foram estabelecidas para sua implantação, o que nos permite observar a diversidade de possibilidades e embates para a realização de um plano de campus universitário.
Novas perspectivas na instalação da USP Leste em São Paulo
O Projeto de Expansão das Universidades Públicas Estaduais do Governo do Estado inicia-se em 2001, em parceria com o CRUESP (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas). A criação do campus USP Leste ocorreu em 2002 e a região escolhida foi a Zona Leste da capital, por apresentar um adensamento populacional e pela carência de uma universidade pública na região.
Nesse contexto foi formada uma Comissão Central (1), nomeada pelo Reitor Adolpho Melfi, que indicou a professora drª Myriam Krasilchik da Faculdade de Educação como presidente e contou com a participação do arquiteto e professor Sylvio Barros Sawaya da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Esta Comissão teve como objetivo analisar um possível local para a implantação do novo campus, em acordo com o governo do Estado, dois terrenos próximos foram delimitados, denominados Glebas 1 e 2. A primeira com 258.278,61 m² e a segunda com 982.578,00m², apesar da Gleba 2 possuir um dimensão mais generosa, as características ambientais exigiriam um custo elevado para a implantação e execução da obra, portanto os esforços e estudos para o campus foram centrados na Gleba 1. Esta se caracterizava por uma cota mais alta em relação ao rio Tietê do que a Gleba 2, nenhuma cobertura vegetal e solo mais firme. O acesso também foi determinante, por esta estar mais próxima da Rodovia Ayrton Senna e da linha férrea.
O campus da USP Leste, segundo o Mapa do Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo está localizado em área urbana, bairro Ermelino Matarazzo, numa Zona Mista de Proteção Ambiental. No seu entorno predominam as Zonas de Média Densidade Populacional, Predominantemente Industrial e Especial de Interesse Social. Segundo Costa (2), a inserção do campus na Zona Leste da capital possui uma complexidade influenciada por diversos fatores decorrentes da sua caracterização espacial e das possibilidades esperadas na sua implantação. A locação de uma universidade pública na região procurou romper com uma exclusão ‘socioeconômica’ e ‘socioespacial’ do ensino superior, resultante do crescimento acelerado da região metropolitana de São Paulo nas últimas três décadas. Pode-se destacar, no processo de implantação da USP Leste, a idealização de um projeto participativo, tanto com os professores da Cidade Universitária quanto com a comunidade (3) no seu entorno.
A iniciativa de configurar um novo campus foi fortemente acompanhada da idealização de inovação no conceito pedagógico de ensino, ou seja, um campus que não seguisse os padrões tradicionais de departamentalização comum nas universidades. Portanto, foi proposta a criação de uma Escola Única, com formação inicial através de um ciclo básico multidisciplinar baseado no conceito de “Resolução de Problemas” (4), para a posterior especialização em determinados cursos. Assim foi configurada a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), hoje em funcionamento na USP Leste.
No limite imediato à primeira área ocupada, Gleba 1, encontram-se o Parque do Tietê, o bairro Keralux, indústrias, vias férreas e a rodovia Ayrton Senna. Observam-se elementos bastante consolidados e definidos nos arredores do campus. A rodovia e a linha férrea delimitam, de forma precisa, sua área nos extremos noroeste e sul; a leste existem indústrias e o bairro de Keralux, este último bastante consolidado. O plano urbanístico e a maioria dos edifícios para a USP Leste foram concebidos pelo arquiteto Sylvio Barros Sawaya e foram desenvolvidos no COESF na Cidade Universitária. Nesse, foi verificado um plano urbanístico que domina toda a área, ou seja, uma ocupação integral. Após sua criação em 2002 e definição do projeto básico de implantação em 2005, as edificações foram sendo consolidadas. Em 2008, o campus já estava em funcionamento, com os principais edifícios finalizados.
A somatória do Campus 2 em São Carlos
O primeiro campus da USP em São Carlos data da década de 1950 e está inserido numa área urbana consolidada que não permite mais a expansão física da universidade. A demanda de ampliação de cursos já existentes, como de Engenharia da Computação e Ambiental, a tendência de incremento das pesquisas em biotecnologia, além da possibilidade de criação do curso de Engenharia Aeronáutica geraram a proposta de criação do novo campus.
Esse contexto favorável ao desenvolvimento da universidade, somado à instalação de indústrias de aeronáutica na região incentivaram a perspectiva para a ampliação do novo campus. Conhecido como Campus 2 da USP, seu plano teve início em 2001, assim como a USP Leste, através do Projeto de Expansão das Universidades Públicas Estaduais.
O Campus 2 localiza-se na zona noroeste da cidade de São Carlos e distancia-se do primeiro em quatro quilômetros. A área totaliza 1.024.242,54 m² e o levantamento ambiental identificou um relevo ameno, áreas com vegetação caracterizadas por pinus e um solo abandonado com antiga cultura canavieira. Três córregos foram identificados na área, sendo um deles com sua nascente no campus, e em seus vales de drenagem foram encontradas matas ciliares. A relação geográfica com o primeiro campus no centro urbano foi de extrema relevância para a escolha dessa área.
A inserção do Campus 2 é lindeira à infraestrutura da cidade, encontra-se em área urbana e aparece como um elemento integrado às futuras propostas de loteamento e expansão do sistema viário. A longo prazo, uma expansão territorial em relação à área atualmente delimitada dependerá da não concretização dos loteamentos e crescimento da cidade nesta zona. Caso contrário, o Campus 2 estará envolvido, assim como o Campus central, pela malha urbana da cidade.
Após o processo de escolha da área, duas equipes técnicas foram formadas na Faculdade de Arquitetura da USP para o desenvolvimento de projetos em relação ao Campus 2. A primeira, sob a coordenação arquiteto e professor Carlos Roberto Monteiro de Andrade, responsável pelo plano urbanístico. E a segunda pelo arquiteto e professor Gelson de Almeida Pinto, que se responsabilizou pelos projetos arquitetônicos. Posteriormente, com a dissolução das equipes em 2002, a concepção urbanística foi mantida e pouco desenvolvida, enquanto os projetos dos edifícios passaram a ser de responsabilidade da Coordenadoria de Espaço Físico – COESF sediada em São Paulo.
A implantação do campus teve como diretriz uma ocupação integral do terreno, como forma de estabelecer o domínio total da área, o que justificou o investimento em concluir num primeiro momento todo o sistema de vias. O eixo viário principal foi direcionado pelas torres de alta tensão que cortam a área do campus. Uma via secundária formou um anel que foi delimitado pelas áreas de APP e Reserva Legal. No sentido perpendicular ao eixo de acesso, um passeio para pedestres ligou os outros dois extremos da área. A organização espacial do campus foi baseada em três características marcantes da área, o eixo das torres de alta tensão, a topografia e as áreas verdes. Estas são compostas de vales com nascentes e mata ciliar, delimitadas com base no levantamento ambiental. A topografia da área apresenta relevos leves e possibilitou a valorização de visuais do próprio campus, das áreas verdes e da cidade. O passeio para pedestres que liga dois extremos do campus, no sentido perpendicular à principal via para automóveis. A partir do ponto mais elevado desse eixo, há um panorama do campus e observa-se uma valorização do trecho com a presença de arborização, bancos e esculturas.
Os primeiros edifícios foram implantados distantes uns dos outros e não estabeleceram entre si nenhuma referência ou ligação. Observa-se o espalhamento dessas unidades pela malha viária. Esta conformação do espaço não valorizou o convívio dentro do campus, o que poderá ser alterado com o futuro adensamento na ocupação.
As relações estratégicas na implantação do Campus Ufscar em Sorocaba
Simultaneamente ao processo de expansão das Universidades Estaduais Paulistas, novos planos para as Universidades Federais foram desenvolvidos e implantados. A proposta de criação do campus da Universidade Federal em Sorocaba foi definida pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC em 2002. Com uma proposta de ocupação no limite da área urbana da cidade de Sorocaba, a proposta de implantação do campus da Universidade Federal foi locado numa área de 700.000m², doado pela Prefeitura Municipal de Sorocaba. O campus se localiza na Rodovia João Leme dos Santos (SP 264), km 110, e se distancia do centro da cidade em 10 km, estabelecendo maior relação com o bairro de Itinga, caracterizado pela ocupação de uso misto. Sua implantação física teve início em 2003, com o funcionamento dos primeiros edifícios.
A região do município de Sorocaba apresenta formações ambientais relevantes com a presença de mata atlântica e cerrados, e apesar de se caracterizar como uma região bastante industrializada no seu núcleo central, principalmente nos municípios de Sorocaba, Votorantim e Alumínio, ela apresenta, nas cidades menores, uma agricultura de pequeno porte como predominante. A carência de uma universidade pública na região foi bastante argumentada pelas características sociais, econômicas e ambientais encontradas.
O campus está localizado fora da malha urbana, em área considerada pelo zoneamento municipal como Zona de Chácaras Urbanas (5), sua vizinhança se restringe a sítios, loteamentos residenciais e a comércios pontuais. No caminho de acesso do centro da cidade ao campus destacam-se condomínios residenciais fechados, que atualmente se expandem na periferia da cidade. Segundo o Plano Diretor de Sorocaba (6), este eixo da cidade foi considerado como provável área de crescimento urbano.
A Universidade Federal em São Carlos, que já administrava um segundo campus na cidade de Araras, assumiu através do Escritório de Desenvolvimento Físico – EDF a responsabilidade de desenvolvimento do projeto de implantação do campus em Sorocaba. Os parâmetros para a licitação e elaboração do Plano Diretor Físico foram baseados no Plano de Desenvolvimento Institucional da UFSCar – PDI (7), no Programa de Necessidades e no Pré-plano (8). Todas as diretrizes foram estabelecidas pelo EDF, sob a coordenação do arquiteto e professor Ricardo Siloto da Silva, juntamente com a participação de professores de diversas áreas.
Na licitação para a elaboração do Plano Diretor, o escritório vencedor foi o Locum Consultoria de Projetos Ltda., dirigido pelo arquiteto e professor Adilson Costa Macedo. A concorrência para o Plano Diretor não contemplou os projetos arquitetônicos e complementares dos edifícios, e nem os projetos de detalhamento da infraestrutura. Esses projetos foram terceirizados para diferentes projetistas, em concorrências técnica e de preço, coordenadas pelo EDF.
Vale ressaltar aqui a proposição didático-pedagógica voltada para a sustentabilidade que norteou esse campus e que se traduziu na proposta de implantação dirigida a atender tal princípio, tanto para o plano urbanístico quanto para os projetos edilícios.
Na perspectiva do plano, observa-se a indicação da tipologia dos edifícios, marcada pela horizontalidade com uma configuração arquitetônica com dois ou três pavimentos. Os edifícios moldaram os espaços delimitados pelo sistema viário e foram agrupados formando pátios internos. A comunicação entre estes foi indicada por passagens cobertas e áreas com arborização, possibilitando caminhos e passeios para pedestres. Uma implantação gradativa foi planejada e direcionada pela malha viária, que foi estabelecida a partir de dois acessos previstos à área. Um nó viário estabelece no plano o ponto central de atividades de convivência. Não houve interferência com outros fluxos da área do campus pelo tipo de ocupação do seu entorno.
A organização espacial do campus foi embasada no programa de necessidades e na análise física da área. No Zoneamento Ambiental, foram identificadas diferentes formações ambientais na área do campus. Vale ressaltar a complexidade desta gleba por apresentar uma área extensa, uma diversidade de fauna e flora, vegetação exótica e nativa originária da mata atlântica, alguns cursos e nascentes d'água.
A setorização do campus revelou uma configuração de apropriação do espaço vinculada à função de cada atividade, buscando criar uma dinâmica através dos fluxos dos usuários pela área. A locação das atividades ligadas à administração, próxima aos acessos, procura induzir uma concentração e facilidade de percurso para esses usuários, que muitas vezes não permanecem longos períodos na universidade. A moradia, também neste setor, buscou uma facilidade de locomoção para os estudantes. Enquanto os setores de ensino foram distribuídos de maneira intensa pelo campus. Os equipamentos de uso coletivo, Biblioteca, Restaurante Universitário e Vivência, foram concentrados no centro da área, marcado pela praça e nó viário, buscando criar um dinamismo e vivacidade.
A configuração projetada entre os edifícios buscou criar lugares mais agradáveis para a permanência, favorecendo o convívio entre os usuários do campus. A proximidade entre eles estimula o pedestre a percorrer o campus, sem recorrer ao automóvel. Esse conceito nos remete à remodelação de alguns campi nos Estados Unidos (9), onde existem vias para automóveis sendo reduzidas a determinados trajetos e áreas sendo revertidas para uso exclusivo do pedestre e da bicicleta, privilegiando a criação de praças e caminhos arborizados entre os edifícios. Nas imagens de 2008 o campus consolidava a sua primeira fase de implantação.
As relações projetuais estabelecidas buscam desenvolver um campus com uma qualidade físico-espacial que valorize a capacidade ambiental da área e estimule uma relação das áreas livres com os usuários. Lembrando que o processo de implantação encontrará certamente considerações não previstas no planejamento e que a flexibilidade para alterações e ajustes são fatores intrínsecos ao processo de concretização de um projeto.
Plano Urbano da Universidade Federal do ABC (UFABC)
A Universidade Federal do ABC (UFABC) foi criada no ano de 2005, teve uma proposta multicampi e seu primeiro campus foi localizado na cidade de Santo André, na Avenida dos Estados, região metropolitana de São Paulo. Implantada numa malha urbana consolidada, a nova universidade do UFABC, propôs novas possibilidades de diálogo com uma área degradada e pouco valorizada.
Para o anteprojeto de arquitetura e urbanismo foi realizado concurso público, numa parceria entre o Ministério da Educação, o Instituto dos Arquitetos do Brasil e a Prefeitura de Santo André. Um campus universitário voltado para o setor tecnológico foi justificado pela dinâmica econômica da região do ABC em relação à presença de diversas indústrias, além da demanda de ensino público e adensamento populacional da região.
Analisando as leis urbanísticas da área, segundo o Plano Diretor do Município (10), esta foi localizada em uma Macrozona Urbana (11) e em zona de Reestruturação Urbana com o Projeto do Eixo Tamanduatehy. O terreno está inserido na várzea do rio e parte dele em Área de Proteção Permanente (APP), considerando o recuo de 50 metros exigido pelo Código Florestal (12), com uma ocupação de 94.890 m².
O Projeto do Eixo Tamanduatehy se refere à requalificação de uma área que, a partir da década de 80, passou por uma reestruturação econômica com a transferência de diversas indústrias para outras regiões. Esse processo gerou o abandono de fábricas, galpões e terrenos que, consequentemente, foram sendo degradados.
Em 1998, o município de Santo André, numa articulação regional com os demais municípios do ABC, desenvolveu novas diretrizes urbanísticas para a área, baseadas no planejamento estratégico, com o intuito de desencadear um projeto de reestruturação do eixo para torná-lo um novo centro metropolitano. Neste processo foi lançado um concurso internacional (13) de ideias que buscou discutir e dinamizar a renovação da área. Devido à abrangência do projeto e ao investimento financeiro necessário para se criar uma dinâmica econômica na região, sua requalificação tem sido um processo lento.
A localização do campus da UFABC nesta região teve também como princípio incrementar a recuperação dessa área com a diversificação do uso do território e a possibilidade deste ser ainda um polo gerador de novos investimentos no seu entorno.
Pela dimensão do terreno para o campus da UFABC, esta teve desde sua proposta inicial, a necessidade de uma ocupação total da área. Dessa forma, esse campus foi licitado como um projeto único para plano e projeto dos edifícios. Os parâmetros para a elaboração do projeto foram definidos no Edital do Concurso e no Termo de Referência criado pela universidade (14). Foi estipulada para esse campus uma população de 9.000 alunos e 600 docentes.
As características ambientais do terreno, descritas no Termo, evidenciaram uma área bastante impermeabilizada com edifícios e calçamento em paralelepípedo. Foi solicitado ainda um ‘Laudo da cobertura vegetal’ (15) da área, que diagnosticou espécies de portes variado, entre árvores exóticas e algumas nativas. Este documento embasou o licenciamento ambiental, que contemplou a proposta de mitigação e compensação da cobertura vegetal.
Outra característica importante da área foi a sua inserção urbana, que em relação aos acessos, apresentou uma complexa rede viária com diversas modalidades de transporte por meio de ônibus, trólebus, trem, automóvel particular, bicicletas e a pé. Estudos e levantamentos foram realizados e serviram de parâmetros para o dimensionamento dos estacionamentos, das vias e para uma avaliação do provável impacto gerado no entorno do campus.
A estrutura acadêmica da UFABC teve fundamental influência na elaboração do projeto, que não se organizou na forma departamental utilizada na maioria das universidades brasileiras. Ela, com um enfoque na área tecnológica, se baseou em três Centros: Centro de Ciências Naturais e Humanas; Centro de Matemática, Computação e Cognição e Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas. Segundo seu Projeto Pedagógico (16) sua organização “propõe uma estrutura que permite flexibilidade acadêmica e curricular”, com o objetivo de aproximar as áreas de conhecimento através da interdisciplinaridade.
O concurso nacional para o plano da UFABC recebeu propostas de aproximadamente cinquenta participantes, e o anteprojeto arquitetônico vencedor foi concebido pelo escritório Libeskindllovet Arquitetos (17). Destaca-se na implantação o eixo principal de circulação para pedestres e os demais acesso pelas praças que marcam a busca da conectividade do plano com o seu entorno. Pela dimensão do campus, não foram necessárias vias para veículos além das projetadas para entrada, circulação e saída do estacionamento. Outro ponto marcante do projeto foi a verticalização dos edifícios, que alterou completamente a antiga paisagem do local.
A organização espacial do campus foi embasada em duas questões centrais: na proposta de integração física da universidade com o entorno e na proposta pedagógica para a UFABC. Os Centros Acadêmicos foram implantados de forma integrada, enquanto o refeitório, o anfiteatro, centro cultural e centro esportivo foram projetos independentes, assim uma configuração mista definiu sua implantação. A liberdade de acesso ao campus e a ideia de percurso livre para pedestres traduz e busca a possibilidade de uma nova relação com a quadra urbana de implantação do campus, anteriormente fechada e murada. No final de 2009, a Universidade estava em funcionamento na maioria dos edifícios projetados, porem a obra ainda não estava totalmente finalizada.
Sobre os planos dos campi
Os embates registrados sobre os campi possuem enlaces relevantes, como a importância em ampliar a educação superior pública no país e a necessidade de oferecê-la com qualidade. As diferentes concepções projetuais dos novos campi remetem a busca do ideário em conceber uma ocupação antrópica que corresponda às necessidades estabelecidas pelo seu uso específico. Essa relação entre formas e conteúdo, intrínseca ao ato de projetação, procura atender as demandas geradas pela sociedade atual e permeia os campi universitários – questões como a produção de espaços que correspondam às novas proposições pedagógicas, à valorização do uso coletivo tanto para convívio quanto para aprendizagem, à promoção da sustentabilidade ambiental e à acessibilidade e mobilidade nos campi. Na análise comparativa dos planos apresentados pode-se destacar um panorama de propostas bastante distinto, porém com preocupações concomitantes sobre o local de inserção, em relação ao acesso ao campus e à mobilidade dentro deste. A organização espacial foi, na maioria dos planos, fortemente influenciada pelas respectivas diretrizes de planejamento e pelo projeto pedagógico, resultando em concepções que procuraram valorizar os lugares de convívio, a conectividade entre os edifícios e o atendimento a questões ambientais. No período em que os planos foram estudados, por estarem em fase distintas de implantação, destaca-se o embate entre projeto e ocupação real da estrutura física, de acordo com as demandas que não foram previstas por serem resultado de questões que não foram preestabelecidas. Além dessa relação, a apropriação do campus ao longo do tempo gerará transformações, próprias do processo de maturação do uso e das necessidades surgidas a cada momento.
notas
1
A criação da Comissão Central foi publicada na portaria n.618.
2
Wanderley Messias da Costa é professor dr da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e Prefeito do Campus da Capital. Escreveu o texto: A USP na Zona Leste da Capital: Região, Sociedade e meio Ambiente.
3
Segundo Gomes, “encontros e debates com as organizações comunitárias da Zona Leste” ajudaram a justificar e a reforçar a implantação da universidade nesta região para o Governo do Estado. E ao longo do desenvolvimento dos estudos em relação ao campus, os cursos a serem oferecidos foram sendo definidos como resultado do diálogo estabelecido com as escolas secundárias, cursinhos e supletivos da região com o intuito de definir os interesses de mercado trabalho e pesquisa para os futuros alunos da universidade.
4
Segundo Arantes, “A proposta de Resolução de Problemas adota, como princípio, o papel ativo dos estudantes na construção do conhecimento. Trabalhando em pequenos grupos e coletivamente, os alunos devem pesquisar e resolver problemas complexos, relacionados à realidade do mundo em que vivem.” (Arantes, p.103).
5
Plano Diretor de Desenvolvimento Físico Territorial do Município de Sorocaba.Lei n° 8.181, de 05/06/2007 - fls. 08.
Art. 21. Nas Zonas de Chácaras Urbanas – ZCH, que compreende áreas localizadas nos limites da área urbanizável, sem previsão de atendimento por rede públicas de esgotos sendo parte contida a Norte e Noroeste do território municipal e outra parte contida nas bacias dos córregos Pirajibu-Mirim, Ipanema e Ipaneminha, principais mananciais internos do município.
As normas de parcelamento, uso e ocupação do solo devem:
I - limitar a variedade de usos permitidos nos terrenos, bem como a intensidade e extensão da respectiva ocupação, de forma a minimizar os riscos de poluição dos mananciais em cujas bacias estão inseridas;
II - estimular e a formação e manutenção de amplas áreas ajardinadas e arborização intensa, garantindo altas taxas de permeabilidade dos terrenos;
III - exigir que os loteamentos residenciais e demais empreendimentos tenham sistema próprio de coleta e tratamento de esgotos, independente do sistema público.
6
Plano Diretor de Desenvolvimento Físico Territorial do Município de Sorocaba.Lei n° 8.181, de 05/06/2007 - fls. 06.
7
A UFSCar com o objetivo de planejar e direcionar seu futuro como instituição, organizou em 2002 o Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI, um Plano que aborda aspectos acadêmicos, organizacionais, ambientais e físicos da universidade, e que buscou uma participação democrática em sua elaboração.
8
Durante os trabalhos do EDF para a licitação do campus foi desenvolvido um esboço da forma de implantação do plano que orientou também as futuras propostas, porem esses arquivos não estavam disponíveis.
9
O escritório norte americano Ayers/Saint/Groos Arquitects and Planners, trabalha com remodelações de campi universitários nos EUA, e foram responsáveis pela reformulação do campus da Universidade da Virginia.
10
Lei n. 8.696 de 17 de setembro de 2004.
11
Mapa da Prefeitura de Santo André, Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Mapa 01, do Anexo 1.1, de Novembro/2003.
12
Código Florestal - Lei No. 4.771 de 15 de setembro de 1965.
13
Participaram desse concurso alguns arquitetos como Juan Busquets, Christian de Portzamparc, Eduardo Leira e Candido Malta.
14
A criação da UFABC antecede a construção do campus definitivo, seu funcionamento iniciou-se em edifícios provisórios na cidade de Santo André.
15
Este laudo foi realizado em 2006 pela empresa Soma+ Arquitetos.
16
Documento: Universidade Federal do ABC, Projeto Pedagógico, Fevereiro de 2006, consultado no site da universidade.
17
Ver projeto vencedor em: PORTAL VITRUVIUS. Concurso para a sede da UFABC. Projetos, São Paulo, ano 06, n. 062.01, Vitruvius, fev. 2006 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/06.062/2612>.
sobre a autora
Liliane Torres de Oliveira é arquiteta e Urbanista formada na Universidade Mackenzie e mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com experiência em projetos arquitetônicos e urbanos, professora no ensino superior nos cursos de arquitetura e urbanismo e design.