1. Introdução
A utilização de sistemas construtivos industrializados tem sido empregada como uma alternativa aos sistemas convencionais, de blocos ceramicos e de concreto, para a construção de habitações. A aposta nestes sistemas tem se mostrado como uma opção para a sustentabilidade ambiental e melhoria da qualidade do setor da construção civil. São sistemas produzidos na indústria, com maior controle do processo produtivo, diminuição das perdas e geração de resíduos durante a etapa de execução e normalmente apresentam maior produtividade.
Um exemplo destes sistemas é o Light Steel Framing – LSF, que pode ser caracterizado como um sistema industrializado formado por uma estrutura de aço galvanizado. Este sistema construtivo teve origem no início do século 19, iniciando com habitações de madeira construídas no território norte americano, chamado de Light Wood Framing. Em 1933, com o intenso desenvolvimento da indústria de aço nos Estados Unidos, foi lançado, na Feira Mundial de Chicago, o protótipo para uma habitação em LSF. No Japão, as primeiras construções em LSF começaram a surgir no período pós Segunda Guerra Mundial, quando foi necessária a rápida construção das habitações destruídas durante os bombardeios (1).
A principal característica do LSF é a sua estrutura constituída de perfis de aço galvanizado formados a frio, que são utilizados para a composição de painéis estruturais e não estruturais, vigas, tesouras de telhado e demais componentes. Devido à industrialização deste sistema, é possível uma construção a seco (permite a minimização do uso de água na montagem do sistema) com grande rapidez de execução. O LSF é composto por componentes, como isolantes térmicos e acústicos (lã mineral), de fechamento interno (como placas de gesso) e externo (placas cimentícias ou siding vinílico) e painéis estruturantes (chapas de oriented strand board – OSB). Para que o sistema como um todo cumpra os requisitos de desempenho e funções para o qual foi projetado, é necessário que os componentes sejam compatíveis entre si (2).
Tanto sistemas convencionais como industrializados precisam atender requisitos e critérios de desempenho, definidos na ABNT NBR 15575:2013 (3). Entre os requisitos e critérios estabelecidos nesta norma, tem-se o desempenho térmico, que deve ser cumprido pelos sistemas de uma edificação habitacional, tais como a vedação vertical, compostos por fachadas, paredes e divisórias. De acordo com Lamberts, Dutra e Pereira (4) é essencial durante a etapa de projeto das habitações pensar e especificar sistemas com o desempenho térmico adequado, tendo em vista o seu impacto no consumo de energia da fase operacional da habitação para climatização artificial.
Neste sentido a metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida Energético – ACVE torna-se uma importante ferramenta, pois consegue mensurar como sistemas de diferentes desempenhos térmicos apresentarão diferentes consumos de energia ao longo do seu ciclo de vida, quantificando além da energia gasta na fase operacional, o consumo de energia na extração e no processamento dos materiais e componentes, na manutenção e na destinação final destes sistemas (5). Alguns estudos, internacionais e nacionais, já abordaram esta avaliação (6).
Diante disto, neste artigo buscou-se dar continuidade ao estudo apresentado por Caldas, Pedroso e Sposto, publicado na revista Arquitextos do portal Vitruvius (7), explorando algumas das lacunas existentes. O objetivo do presente estudo consistiu na realização da ACVE, para comparação de uma habitação unifamiliar de light steel framing e outra de sistema convencional de blocos cerâmicos de vedação, localizadas em Brasília DF, considerando as etapas de pré-uso, uso e pós – uso (berço ao túmulo). Foi avaliado o impacto dos diferentes desempenhos térmicos dos sistemas estudados no consumo de energia total das habitações.
3. Metodologia
A metodologia utilizada foi o estudo de caso. O objeto estudado é uma habitação unifamiliar de baixo padrão, a mesma adotada por Caldas, Pedroso e Sposto (8), localizada em Brasília – DF, com área de piso bruta de 45,64 m2, habitada por quatro pessoas (dois adultos e duas crianças). A habitação possui dois quartos, uma sala, uma cozinha, um banheiro e uma pequena área de serviço na parte exterior. Foi considerada a variação somente das vedações verticais externas (fachadas) e internas (divisórias. Foram comparados uma habitação com sistema construtivo de Light Steel Framing – LSF e uma com sistema convencional em concreto armado e alvenaria de vedação de blocos cerâmicos (VC), ambos apresentados na figura 1 e tabela 1.
Para o inventário do ciclo de vida da habitação foram consideradas as etapas do berço ao túmulo, incluindo as etapas de pré-uso, uso e pós-uso. Foi adotada vida útil da habitação de 50 anos e unidade funcional como unidade de área (m²), em área bruta de piso da habitação (45,64m²).
Por ser um estudo em continuação ao desenvolvido por Caldas, Pedroso e Sposto (9) foram consideradas algumas premissas semelhantes a este estudo, sendo que alguns dados foram atualizados e melhorados.
3.1. Etapa de pré-uso
A etapa de pré-uso, adotada neste trabalho, consistiu na energia gasta na extração, no processamento dos materiais e no transporte dos materiais da fábrica até o canteiro. Primeiramente foram levantadas as quantidades dos principais materiais constituintes da habitação, em massa, para a posterior quantificação do consumo de energia. Os fatores de energia (FE) adotados foram retirados da média dos valores encontrados na literatura nacional e internacional, retirados de Caldas (10).
As perdas, referentes à massa produzida desperdiçada de cada material foram consideradas, em termos de acréscimo de massa; estes dados foram retirados da literatura nacional e internacional (11), e de fabricantes do LSF.
As distâncias utilizadas no transporte foram calculadas via Google Maps, adotando a mesma metodologia adotada por Caldas, Pedroso e Sposto (12). Os dados utilizados estão apresentados na tabela 2.
3.2. Etapa de uso
Na etapa de uso foram consideradas as fases operacional e de manutenção. O consumo de energia na fase operacional foi resultado da utilização da energia elétrica para o funcionamento dos aparelhos eletrônicos, cocção de alimentos e funcionamento do aparelho de climatização artificial (ar condicionado). Neste estudo foram levantados os aparelhos eletrônicos mais comuns em uma habitação de baixo padrão (tabela 3). Foi considerado o sistema de aquecimento solar e desta forma a energia gasta no chuveiro elétrico não foi contabilizada. Para a cocção dos alimentos foi adotada a utilização do gás liquefeito de petróleo (GLP), com consumo de 13 kg por mês (13). Foi adotado um fator de 46,4 MJ por kg de GLP consumido (14).
O consumo de energia da climatização artificial dos ambientes foi obtido a partir da simulação das habitações no software DesignBuilder v4.5.0.148, com o emprego da máquina de simulação EnergyPlus. A habitação foi modelada no software (figura 2), e o consumo de energia foi contabilizado para as habitações de vedação vertical de LSF e VC. Foram utilizados dados climáticos da cidade de Brasília, obtidas pelo LabEEE (15), localizada na zona bioclimática n° 4, de acordo com a ABNT (16).
Foi definida a temperatura de conforto, a partir da equação apresentada por Pereira e Assis (17) resultando em uma temperatura de conforto para a cidade Brasília de 24,3°C. Quando este valor de temperatura é atingido, em cada habitação, o aparelho de climatização é acionado e a energia é contabilizada para uma agenda de ocupação pré-definida (17h00-00h00 para os dias de semana e 09h00-00h00 para os finais de semana). Por ser uma habitação de baixo padrão foi considerado somente um aparelho de climatização localizado na sala, do tipo split no fresh air. Foi adotado um fator de eficiência do aparelho CoP de 2,80, que corresponde aos equipamentos classificados como “classe C” no Procel. Desta forma, o sistema de pior desempenho térmico apresentará maior consumo de energia na fase operacional.
Para a fase de manutenção foi estimado o fator de reposição dos materiais e componentes para cada sistema da habitação, com base na literatura, apresentados na tabela 4.
3.3. Avaliação do desempenho térmico
Para a avaliação do desempenho térmico foram utilizados os critérios da norma (18), a partir do procedimento de simulação computacional. Foram avaliadas as temperaturas horárias para um dia típico de verão e inverno para os ambientes de longa permanência da habitação (sala, dormitório 1 e dormitório 2).
3.4. Etapa de pós-uso
Na etapa de pós-uso foi assumido que a habitação de VC, juntamente com todos os materiais e componentes utilizados na fase inicial e de reposição (com as perdas), exceto o sistema de fundações é demolida e transportada para o aterro sanitário mais próximo, localizado a 20 Km da localidade escolhida. Na demolição foi considerado o fator de energia de demolição de 0,0354 MJ/kg (19). Para a habitação de LSF foi considerado que o sistema de vedações é desconstruído, com um fator de energia de desconstrução de 0,00257 MJ/kg (20), o restante da habitação é demolida, com o fator de 0,0354 MJ/kg. Adotou-se que todos os resíduos também são enviados para o aterro sanitário mais próximo. Ressalta-se que o aço possui um potencial de reciclagem, no entanto, este não foi considerado neste estudo.
Para o transporte, foi adotada a mesma metodologia de transporte de Caldas, Pedroso e Sposto (21), variando somente a distância percorrida, que nesta etapa vai até o aterro sanitário.
4. Resultados
4.1. Etapa de pré-uso
Foi encontrado 4,31 GJ/m² para habitação de VC e 3,35 GJ/m² para a de LSF na fase de extração e processamento dos materiais e componentes utilizados nas habitações. Observa-se uma diferença de 22% entre as duas habitações.
Outra análise realizada foi a comparação entre a participação da massa e o consumo de energia de cada sistema da edificação. Os resultados encontrados estão apresentados na figura 3.
A partir da figura 3 nota-se que dependendo do sistema a massa ou o fator energético dos materiais exerce maior influência. Os sistemas de estrutura e vedação vertical apresentam a maior participação em massa e energia de ambas habitações. O sistema de VC apresentou maior participação em massa que o sistema de LSF, no entanto, a energia consumida neste último não teve uma diferença significativa, devido aos maiores fatores energéticos dos materiais do LSF, principalmente do aço e painéis de OSB, como apresentado na figura 4. Os outros sistemas da habitação apresentaram menor participação em massa e no consumo de energia.
Para o sistema de VC a argamassa foi o material mais impactatnte em termos de massa e energia e para o LSF os painéis de OSB.
Para a fase de transporte foi encontrado 0,16 GJ/m² para a habitação de VC e 0,13 GJ/m² para a de LSF. Como já discutido por Caldas, Pedroso e Sposto (22), a fase de transporte é influenciada pela massa e distância percorrida. Comparando a massa dos sistemas de vedação vertical, o LSF apresentou uma massa cerca da metade do sistema de VC. No entanto, os resultados finais de energia não ficaram muito distantes, com uma diferença aproximada de 15%. Isto ocorreu pelas maiores distâncias percorridas pela maioria dos materiais e componentes dos LSF, que acabou por compensar a elevada massa do sistema de VC.
4.2 Avaliação do desempenho térmico
Com base na simulação foram encontradas as diferenças de temperaturas e classificação de acordo com a ABNT NBR 15575-1 (23) apresentadas na tabela 5.
Observa-se que ambos os sistemas de vedação vertical atendem os critérios estabelecidos na ABNT (24) para as condições de Brasília, com algumas diferenças. As células em vermelho representam o nível mínimo, em roxo o nível intermediário e em verde o nível superior, de acordo com norma (25).
Para as condições de verão, ambos os sistemas apresentaram melhor desempenho, conseguindo atingir níveis intermediários e superiores. No caso do LSF, este apresentou somente níveis intermediários enquanto a VC apresentou valores intermediários e superiores, e, portanto, apresentando um melhor desempenho para as condições de verão.
Já para o inverno ambos os sistemas apresentaram nível mínimo, mas também é possível notar que as diferenças entre a temperatura interna e externa da VC são superiores as diferenças do LSF, o que mostra o melhor desempenho da VC para o inverno. Portanto, apesar de ambos os sistemas terem atendido os critérios definidos na norma, o sistema de VC apresentou um melhor desempenho térmico para as condições de verão e inverno.
Desta forma, como é sugerido na ABNT (26) e pelos autores Lamberts, Dutra e Pereira (27), para o caso de Brasília (localizada na zona bioclimática n°4), a utilização de vedações verticais pesadas (com grande inércia térmica) são recomendadas devido à grande amplitude térmica do clima, e, portanto, entre os dois sistemas, do ponto de vista do desempenho térmico, o sistema de VC é mais vantajoso do que LSF. Assim, para a realidade de Brasília, a capacidade térmica exerce maior influência no desempenho térmico que a transmitância térmica, confirmando as diretrizes previstas na ABNT (28).
4.3. Etapa de uso
Com base nas premissas adotadas e na simulação computacional foi quantificado o consumo de energia na fase operacional. Foi encontrado 15,36 GJ/m² para a habitação de VC e 15,76 GJ/m² para a de LSF. A participação dos equipamentos eletrônicos, cocção e climatização estão apresentados na figura 5.
A diferença pela climatização entre as habitações foi considerável, aproximadamente 40%, como consequência do pior desempenho térmico do sistema de LSF. No entanto, percebe-se que a participação da climatização artificial foi bastante inferior à soma dos equipamentos eletrônicos e a cocção, com aproximadamente 5% para a habitação de VC e 7% para a de LSF, resultando em uma diferença pequena para a energia da fase operacional.
Este resultado é diferente do apresentado por outros estudos, visto que a habitação estudada se refere a um projeto mais simples que o de edificações multifamiliares estudados por Oliveira (29) e Maciel (30), ou edificações públicas e comerciais, estudadas por Kim (31) e Brás (32), além de não ter o impacto do consumo de energia para o aquecimento da habitação, como ocorre em outros países, como verificado por Mithraratne e Vale (33), ou climas mais severos (de deserto, por exemplo), como Huberman e Pearlmutter (34) e Rakhshan, Friess e Tajerzadeh (35). Desta forma, os resultados apresentados não podem ser generalizados para outras tipologias de habitações e zonas bioclimáticas.
Outro possível motivo por este baixo valor do consumo dos aparelhos de ar condicionado são as premissas adotadas neste estudo (tipo e quantidade dos aparelhos de ar condicionado, agenda de ocupação, entre outros).
Para a manutenção foram encontrados os resultados apresentados na figura 6.
Observa-se que o sistema que apresentou maior consumo de energia relacionada à manutenção foi o de pintura, para ambas habitações. Isto ocorreu devido à baixa vida útil deste sistema, somado ao elevado fator de energia das tintas. A participação dos outros sistemas foi semelhante para as duas habitações.
A partir destes resultados, nota-se a importância da etapa de projeto, em que devem ser especificados materiais e componentes com maior durabilidade e vida útil, principalmente as tintas, como forma de diminuir a necessidade de reposição, além da atenção aos critérios de consumo de energia que ocorrem na extração e fabricação destes.
4.4. Etapa de pós-uso
Foi encontrado 0,06 GJ/m² para a habitação de VC e 0,03 GJ/m² para a de LSF. Para esta etapa foi verificado que a massa é o principal fator que influencia no consumo de energia da etapa de pós-uso, pois as distâncias percorridas para a destinação final estão fixas. Neste sentido, quanto maior for à massa maior serão os valores de energia consumida na demolição ou desconstrução do sistema e transporte dos resíduos gerados.
Quando se comparam os dois sistemas, a habitação de LSF apresentou menor valor de energia do que a habitação de VC, uma diferença de aproximadamente 50%. Esta diferença foi resultado da menor massa do sistema de LSF e do menor consumo de energia e equipamentos utilizados na desconstrução. O consumo de energia gasto no processo de desconstrução é menor que no caso da demolição.
Desta forma, conclui-se que para diminuir os impactos da etapa de pós-uso devem ser especificados materiais e componentes para a composição de sistemas mais leves, com possibilidade de desconstrução e que tenham locais de destinação final próximos à localização da habitação.
4.5. Ciclo de vida completo
A partir do levantamento do consumo de energia das três etapas (pré-uso, uso e pós-uso), foi encontrado 24,87 GJ/m² para a habitação de VC e 24,76 GJ/m² para a habitação de LSF. Nota-se, portanto, uma diferença pouco expressiva, menor que 1%. Os valores encontrados ficaram mais próximos do cenário 4 encontrado por Caldas, Pedroso e Sposto (36), de 33,4 GJ/m². Embora tenha sido adotado o mesmo projeto, foram utilizados dados de inventário e algumas premissas diferentes, principalmente o tempo de vida útil dos materiais e componentes, aumentando a energia gasta na manutenção do estudo citado.
No entanto, os valores encontrados ficaram próximos ao encontrado por Paulsen e Sposto (37), de 24,7 GJ/m², que avaliaram uma tipologia similar de habitação de vedação estrutural de blocos cerâmicos, também para a realidade de Brasília, mas sem a simulação computacional. Portanto, os resultados encontrados foram considerados coerentes.
Conclui-se assim, que para um mesmo projeto ou projetos similares de habitações, resultados diferentes podem ser gerados, dependendo das premissas adotadas e metodologia utilizada. Desta forma, nota-se a importância de deixar claro nos estudos de ACVE quais as considerações realizadas, possibilitando a comparação e o reconhecimento das fontes de divergência.
A habitação de VC apresentou maior consumo na etapa de pré-uso e pós-uso enquanto a de LSF na etapa de uso, tanto na operação, pela maior necessidade de climatização, quanto na manutenção. Na figura 7 é apresentada a participação das etapas no ciclo de vida das habitações.
Observa-se que a etapa de uso (operação e manutenção) foi a mais significativa para ambas habitações, seguida pela pré-uso e pós-uso. A fase operacional já foi constatada como a mais impactante em outros estudos brasileiros como os de Tavares (38), Paulsen e Sposto (39) e Caldas, Pedroso e Sposto (40), e internacionais como os de Huberman e Pearlmutter (41) e Devi e Palaniappan (42). Deve-se ressaltar que a fase operacional foi considerada constante ao longo do ciclo de vida habitação, no entanto, com o aumento de pesquisas e incentivos na área de eficiência energética de edificações, isto pode se modificar, a partir da melhoria da eficiência dos equipamentos utilzados e da utilização de tecnologias de produção de energias renováveis, como painéis fotovoltaicos. Em países europeus é difundido o conceito de edificações de zero consumo de energia (net zero energy buildings) com consumo da fase operacional próximo a zero ou em alguns casos até negativa, como salientado por Deng, Wang e Dai (43).
A participação da manutenção e pré-uso também foram signifcaitvas mostrando a importância da elaboração de projetos e especificação de materiais e componentes para a composição de sistemas adequados.
Embora não tenha sido verificado um grande impacto do desempenho térmico do sistema de vedação vertical no ciclo de vida energético das habitações estudas para as premissas adotadas, é importante pensar neste desempenho durante a especificação dos sistemas. Provavelmente, para outras zonas bioclimáticas brasileiras, outros sistemas construtivos e outras tipologias de edificações, esta diferença será maior, o que deve ser explorado em estudos futuros.
5. Conclusões
No presente artigo foi aplicada a Avaliação do Ciclo de Vida Energético – ACVE como forma de comparar o consumo de energia no ciclo de vida de duas habitações, variando somente o sistema de vedação vertical. Foram comparados os sistemas de vedação convencional de blocos cerâmicos (VC) e o sistema industrializado de light steel framing (LSF).
Foram quantificadas o consumo de energia nas etapas de pré-uso, uso e pós-uso (berço ao túmulo) das habitações. Foram avaliados os desempenhos térmicos dos sistemas de vedação vertical para a realidade de Brasília por meio de simulação computacional. O sistema de VC apresentou melhor desempenho térmico quando comparado ao de LSF o que resultou em um menor consumo de energia da habitação com primeiro sistema para a climatização artificial. No entanto, o aumento do consumo de energia ocasionado pelo pior desempenho térmico do sistema de LSF não impactou de forma significativa o consumo de energia da fase operacional para as condições da cidade de Brasília e as premissas adotadas neste estudo.
Ao final, a habitação com VC apresentou maior consumo de energia, 24,87 GJ/m² enquanto a habitação de LSF 24,76 GJ/m², diferença inferior a 1%. A etapa de uso (operação em conjunto com a manutenção) se mostrou a mais impactante no ciclo de vida energético de ambas as habitações, com aproximadamente 84%, seguida da de pré-uso, com uma média de 16% e pós-uso menor que 1%.
Para estudos futuros recomenda-se a avaliação do desempenho térmico relacionado ao consumo de energia para outras localidades brasileiras, como também para outros sistemas construtivos.
notas
1
CRASTO, R. C. M.; FREITAS, A. M. S Steel Framing: arquitetura. Série Manual de Construção em Aço. Rio de Janeiro, IBS/CBCA, 2006.
2
RODRIGUES, F. C. Steel Framing: Engenharia. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Siderurgia. Centro Brasileiro da Construção em Aço, 2006; CAMPOS, P. F. Light Steel Framing – Uso em Construções Habitacionais Empregando a Modelagem Virtual como Processo e Planejamento. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2014.
3
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais — Desempenho Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, ABNT, 2013.
4
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência energética na arquitetura. 2ª edição. São Paulo, Pro Livros, 2012.
5
CABEZA, L. F.; RINCÓN, L.; VILARIÑO, V.; PÉREZ, G.; CASTELL, A. Life cycle assessment (LCA) and life cycle energy analysis (LCEA) of buildings and the building sector: A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 29, 2014, p. 394-416.
6
HUBERMAN, N.; PEARLMUTTER, D, A life-cycle energy analysis of building materials in the Negev desert. Energy and Buildings, v. 40, 2008, p. 837-848; KIM, Kyoung-Hee, A comparative life cycle assessment of a transparent composite façade system and a glass curtain wall system. Energy and Buildings, v. 43, 2011, p. 3436-3445; BRÁS, A.; GOMES, V. LCA implementation in the selection of thermal enhanced mortars for energetic rehabilitations of school buildings. Energy and Buildings, v. 92, 2015, p. 1-9; OLIVEIRA, Luciana B. A influência do sistema de fachada viva em manta no ciclo de vida energético de uma residência unifamiliar em clima tropical. Dissertação de mestrado. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 2015; CALDAS, Lucas R. Avaliação do ciclo de vida energético e de emissões de CO2 de uma edificação habitacional unifamiliar de light steel framing. Dissertação de mestrado. Brasília, Universidade de Brasília, 2016; NABUT NETO, Abdala C. Energia Incorporada e emissões de CO2 de fachadas. Estudo de caso do Steel Frame para utilização em Brasília. Dissertação de mestrado. Brasília, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, 2011.
7
CALDAS, Lucas; PEDROSO, Gilson; SPOSTO, Rosa Maria. Avaliação do ciclo de vida energético (ACVE) de uma habitação. Estudo para diferentes cenários considerando as etapas do berço ao túmulo. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 191.06, Vitruvius, abr. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.191/6012>.
8
Idem, ibidem.
9
Idem, ibidem.
10
CALDAS, Lucas R. Op. cit.
11
AGOPYAN, U.E.L. SOUZA, J.C. PALIARI, A.C. Pesquisa de Alternativas para a redução do desperdício de materiais nos canteiros de obras. Relatório final, volume 4 – Resultados e análises: aço, concreto usinado e. blocos/tijolos. EPUSP/FINEP/ITQC, 1998; PALACIO, Cristian D.U. Energia incorporada de vedações para habitação de interesse social considerando-se o desempenho térmico. Estudo de caso com utilização do light steel frame no entorno do DF. Dissertação de mestrado. Brasília, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, 2013.
12
CALDAS, Lucas; PEDROSO, Gilson; SPOSTO, Rosa Maria. Op. cit.
13
BERMANN, C. Energia no Brasil: Para quê? Para quem? 2a edição. São Paulo, Editora Livraria da Física, 2003.
14
BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL (BEN). Relatório Síntese ano base 2014. Brasília-DF, 2015.
15
LABORATÓRIO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EMEDIFICAÇÕES (LabEEE). Site Institucional. Disponível: <www.labeee.ufsc.br/downloads/arquivos-climaticos> Acesso em 15 de jun. 2015.
16
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Desempenho térmico de edificações. Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro, ABNT, 2005.
17
PEREIRA, I. M.; ASSIS, E. S. Avaliação de modelos de índices adaptativos para uso no projeto arquitetônico bioclimático. Ambiente Construído, v. 10, n. 1, 2010, p. 31-51.
18
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 (op. cit.).
19
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 (op. cit.).
20
PEDROSO, G. M. P. Avaliação do Ciclo de Vida Energético (ACVE) de SISTEMAS DE VEDAÇÃO DE HABITAÇÕES. Tese de doutorado. Brasília, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, 2015.
21
CALDAS, Lucas; PEDROSO, Gilson; SPOSTO, Rosa Maria. Op. cit.
22
Idem, ibidem.
23
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 (op. cit.).
24
Idem, ibidem.
25
Idem, ibidem.
26
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Desempenho térmico de edificações (op. cit.).
27
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Op. cit.
28
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Desempenho térmico de edificações (op. cit.).
29
OLIVEIRA, Luciana B. Op. cit.
30
MACIEL, Ana C. Energia incorporada de fachadas ventiladas. Estudo de caso para habitação em Brasília. Dissertação de mestrado. Brasília, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil da Universidade de Brasília, 2013.
31
KIM, Kyoung-Hee, Op. cit.
32
BRÁS, A.; GOMES, V. Op. cit.
33
MITHRARATNE, Nalanie; VALE, Brenda. Life cycle analysis model for New Zelands houses. Building and Environment, v. 39, 2004, p. 483-492.
34
HUBERMAN, N.; PEARLMUTTER, D, Op. cit.
35
RAKHSHAN, K.; FRIESS, W. A.; TAJERZADEH, S. Evaluating the sustainability of improved building insulation: A case study in the Dubai residential environment. Building and Environment, v. 67, 2013, p. 105-110.
36
CALDAS, Lucas; PEDROSO, Gilson; SPOSTO, Rosa Maria. Op. cit.
37
PAULSEN, Jacob; SPOSTO, Rosa. A life cycle energy analysis of social housing in Brazil: Case Study for the program “My House My Life”. Energy and Buildings, v. 57, 2013, p. 95-102.
38
TAVARES, Sérgio F. Metodologia de análise do ciclo de vida energético de edificações residenciais brasileiras. Tese de doutorado. Florianópolis, PPGEC, Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.
39
PAULSEN, Jacob; SPOSTO, Rosa. Op. cit.
40
CALDAS, Lucas; PEDROSO, Gilson; SPOSTO, Rosa Maria. Op. cit.
41
HUBERMAN, N.; PEARLMUTTER, D, Op. cit.
42
DEVI L., Pinky; PALANIAPPAN, Silvakumar. A case study on life cycle energy use of a residential building in Southern India. Energy and Buildings, v. 40, 2014, p. 837-848.
43
DENG, S.; WANG, R. Z.; DAI, Y. J. How to evaluate performance of net zero energy building e A literature research. Energy.v.71, p. 1-16, 2014.
sobre os autores
Lucas Rosse Caldas é engenheiro civil pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás e engenheiro ambiental e sanitarista pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Estruturas e Construção Civil pela Universidade de Brasília. Doutorando em Engenharia Civil na COPPE/ Universidade Federal do Rio de Janerio. Atua em pesquisas na área de sustentabilidade no processo de produção de edificações e avaliação de ciclo de vida.
Rosa Maria Sposto é engenheira civil pela Escola de Engenharia de São Carlos, mestre e doutora em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo. Professora do Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil da Universidade de Brasília. Atua em pesquisas na área de sustentabilidade no processo de produção de edificações e avaliação de ciclo de vida.