O conjunto da produção arquitetônica de Joaquim Guedes, em grande parte projetada em parceria com a arquiteta Liliana Marsicano Guedes, foi destacado por Mônica Junqueira de Camargo (1) como significativa e "contribuiu para a afirmação da produção paulista no cenário nacional" (2). O casal de arquitetos projetou diversas residências durante a segunda metade do século 20 em São Paulo, por esta razão suas obras foram selecionadas pela autora como objetos de estudo em sua tese de doutorado (3), e desta forma, o presente artigo escrito a partir daquela pesquisa.
Os progressos técnicos e científicos, os aperfeiçoamentos dos sistemas construtivos, os novos materiais e o avanço da industrialização aliados às transformações culturais e sociais no século 20 (iniciadas no século anterior) suscitaram profundas mudanças na arquitetura e no design, que repercutiram nos modos de morar e viver nas cidades. Homens, mulheres e famílias do século 19 moravam em casas tradicionais que muito se assemelhavam com as habitações dos séculos anteriores; contudo, a modernidade abriu espaço para novas formas de vida. O objetivo deste trabalho é apresentar uma leitura dos arranjos espaciais domésticos das obras projetadas pelo casal Guedes.
Sobre os autores
A arquiteta Liliana Marsicano Guedes (4) não se tornou uma celebridade no cenário da arquitetura moderna paulistana, também “não é uma figura desconhecida” (5). Graduou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 1954, onde foi colega de turma de Joaquim Guedes. O casal atuou junto por vinte anos, período em que permaneceram casados. Em depoimento para Mônica Junqueira de Camargo, o arquiteto destaca a importância da parceria:
“Liliana teve papel relevante em minha formação profissional. Fizemos juntos todos os projetos e obras de 1954 a 1974, com exceção dos jardins, que eram só dela. Mas por extrema discrição e elegância, ela preferiu ficar na retaguarda do escritório, impedindo que seu nome dele constasse” (6).
No artigo “Casas casadas: o emprego dos tijolos e a ideia de Moderno nas casas de Joaquim e Liliana Guedes”(7), de Ana Gabriela Godinho Lima e Andraci Maria Atique, as autoras salientam a dificuldade de encontrar referências à arquiteta no âmbito acadêmico e reservam um tópico (“Em busca de Liliana no mundo de Joaquim”) para contextualizar a profissional:
“O primeiro texto que encontramos a mencioná-la é o livro de Mônica Junqueira sobre Joaquim Guedes, publicado pela Cosac & Naify em 2000. [...] Prosseguindo nesta busca por Liliana, na penumbra ou nas sombras dos artigos sobre Joaquim Guedes, encontramos menções a ela nas legendas, ou entre parênteses. [...] Já Monica Junqueira de Camargo, em seu livro sobre Guedes publicado em 2000, coloca Liliana não apenas entre colchetes, nas descrições das obras, como também inclui o depoimento de Guedes sobre o papel da arquiteta em seu trabalho. Sensibilidade da autora, mas também sinal dos tempos” (8).
Joaquim Manoel Guedes Sobrinho (1932 – 2008) foi arquiteto formado na terceira turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU USP (em 1954) onde lecionou até sua aposentadoria em 2002. A contribuição de seu trabalho foi decisiva na conformação da arquitetura paulista da segunda metade do século 20. Sua produção se destaca pela exploração da linguagem arquitetônica por meio de variados elementos expressivos: formas compactas, prismáticas e fechadas e também formas abertas, articuladas e espalhadas. É também destacada em sua produção a experimentação de diversos materiais como concreto, tijolo, madeira e vidro explorando-os de maneira racional e econômica (9).
As casas
Ao analisar o conjunto de residências projetadas por Joaquim Guedes, publicadas no livro Joaquim Guedes de Mônica Junqueira de Camargo (10), tanto as obras que contaram com a participação de Liliana Guedes, ou ainda as que foram projetadas em parceria com outros profissionais, verificou-se que as características mais marcantes da arquitetura de Guedes, que fizeram seu trabalho se destacar dentro do cenário paulista na segunda metade do século 20, como a experimentação formal, não foi observada ao analisar o programa funcional dos interiores e seu respectivo arranjo espacial. Ao descrever a atuação do arquiteto, Camargo o classifica como um profissional “investigativo”, que “sempre procurou a versatilidade”, que buscou “explorar uma linguagem arquitetônica rica”, que recorreu a “diversos meios expressivos”, e que explorou “a fundo os materiais nos seus atributos e no máximo de suas potencialidades” (11). Camargo concluiu que: “nas suas mãos, todos os detalhes construtivos se convertiam em elementos expressivos do espaço interior e determinavam o caráter da obra, numa relação única e indissociável, entre forma e conteúdo” (12). Contudo, pelo que se observou nos onze projetos residenciais publicados no livro de Mônica Junqueira Camargo em 2000 os arranjos espaciais internos decorrentes do programa de necessidades são convencionais; ou seja, o caráter “investigativo” e “versátil” do arquiteto não foi traduzido em uma proposição inovadora na composição dos espaços domésticos (13).
Nas publicações consultadas a respeito do trabalho de Guedes (14), as duas obras residenciais que recebem maior visibilidade foram concebidas em parceria com Liliana Guedes: a Residência A. C. Cunha Lima (de 1958) e Residência Liliana e Joaquim Guedes (de 1968). O destaque do projeto da casa Cunha Lima é o “conceito estrutural inovador para a implantação em terrenos de acentuada declividade, que acabou por se constituir num paradigma para sucessivas gerações de arquitetos” (15). O cuidado com a composição plástica decorrente do uso de diferentes materiais construtivos, concreto aparente e superfícies brancas de alvenaria, também são apontados como diferencias dessa obra.
Sobre a organização espacial dessa residência, nota-se que os setores funcionais da casa são distribuídos pelos quatro pavimentos. No primeiro pavimento (nível jardim), lazer e apoio (casa de máquinas); no segundo pavimento, serviços e social; terceiro pavimento (nível da rua), garagem e escritório; no quarto pavimento, área íntima. Desta forma, as áreas sociais e de serviço estão separadas da área íntima pelo pavimento do escritório, dando acesso restrito aos visitantes (usuários do escritório), e com isso conferindo maior privacidade à família no setor íntimo, que fica na cota mais alta da edificação.
A composição espacial da casa não é totalmente tradicional. Apesar do escritório estar localizado na parte frontal casa, com maior facilidade de acesso à rua, situa-se na cota intermediária e desta forma separa a área íntima da área social e de serviço. Porém, a segregação dos cômodos em decorrência das funções sinaliza uma semelhança com a maneira de morar do final do século 19: cozinha, sala de almoço e dormitórios de empregados isolados do restante da residência.
Na Residência Liliana e Joaquim Guedes (1968) que o casal de arquitetos projetou para sua própria família, composta por eles e seus cinco filhos (16), o ponto que sobressai é a concepção estrutural, em especial a modulação das nervuras da laje e ainda as abas em concreto aparente que servem como quebra-sóis. Camargo destaca que: “depois de várias experimentações, Guedes retomou as formas mais contidas dos primeiros projetos” (17).
No arranjo em planta dessa residência todos os setores funcionais estão em apenas um pavimento, na cota elevada do terreno, abaixo do nível da rua (segundo pavimento). O setor social, o de serviço e a área íntima estão alocados num mesmo plano, possivelmente para promover maior integração dos membros da família. Porém, novamente a configuração dos cômodos e o arranjo entre os setores permanecem tradicionais: seis dormitórios (um para cada filho e outro para o casal), cozinha, lavanderia e dormitório para empregados, compartimentados e dispostos consecutivamente. Pode-se notar uma única grande sala para estar e jantar e o isolamento do dormitório do casal (em relação aos demais dormitório), todavia não há maiores experimentações no que tange o arranjo dos espaços internos e suas funções.
No livro Joaquim Guedes (18) dos dezoito projetos apresentados, onze são residências (19), sendo sete deles realizados pela dupla Guedes e Liliana. Apesar das diferenças nos arranjos espaciais dos interiores, como exemplificado anteriormente nas residências Cunha Lima e Liliana e Joaquim Guedes, há uma questão que parece ser constante nas casas projetadas pelo arquiteto (20): a independência do setor de serviços em relação ao restante da casa. É possível notar uma separação física entre o setor de serviços e os demais cômodos, com a existência de uma escada para a circulação dos funcionários entre a cozinha, lavanderia e dormitórios de empregados nas residências Cunha Lima, Francisco Landi, Liliana e Joaquim Guedes e Waldo Perseu Pereira, e também nas Residências Fabrizio Beer e Residência Dourado (sendo que essas duas últimas não contaram com a participação de Liliana). Na Residência Dalton Toledo não há uma escada separada, mas a circulação é restrita no setor de serviços (cozinha, lavanderia e dormitório de empregada). Na Residência J. Breyton, uma casa térrea, o setor de serviço fica alinhado com o muro na face sul que delimita o terreno, apresentando quase como uma configuração de “bastidores” de funcionamento da casa. Já a Residência Pedro Mariani, construída no Rio de Janeiro para uma família com cinco filhos, com um conteúdo programático complexo (quadra poliesportiva, campo de futebol e sala de ginástica) e uma área construída extensa, a ala de serviços não só conta com uma circulação isolada, mas com um bloco inteiro e independente do restante da casa (nesse bloco localiza-se a cozinha, lavanderia, sala dos empregados e dormitórios de empregados).
No livro Residências em São Paulo: 1947 – 1975, de Marlene Acayaba (21), são apresentadas três obras de Guedes: Cunha Lima, Waldo Perseu Pereira e Liliana e Joaquim Guedes. Ao introduzir a década de 1970, da qual a casa do casal de arquitetos faz parte, Acayaba pondera que esse período foi marcado por casas servindo para as experimentações formais e materiais de arquitetos; contudo, esses ensaios parecem não ter sido traduzidos nas configurações internas do ambiente doméstico – ponto em que, para a autora, os profissionais naquela década se distanciaram das moradias proposta pelos pioneiros do Movimento Moderno:
“Enquanto nas décadas anteriores os programas adequavam-se à realidade nacional e ao contexto político-social do moderno, nesse período (década de 1970) prevaleceu certo exagero. Em qualquer edifício, da residência à agência bancária, procurava-se fazer o grande vão. Estruturas de grande porte foram construídas para vencer ou ocupar toda a extensão do lote. Espaços amplos substituíram todo o antigo esforço de compactar o programa. Em vista disso, uma vez resolvidas as funções vitais em dependências limitadas, o resto era ocupado por extensas áreas sociais. A essas zonas de estar adicionaram-se zonas esportivas com piscina, saunas, vestiários, salões de jogos etc. imensas paredes de vidro, ao separar as salas dos jardins, valorizaram a luz do sol e os dias de verão. A generosidade desses espaços tropicais foi inspirada mais na casa-grande brasileira do que na máquina de morar de Le Corbusier (22).
A Residência Waldo Perseu Pereira possui cinco dormitórios para a família, que eram ocupados pelo casal, seus filhos e o sogro do proprietário; além de possuir dois dormitórios de empregadas. Entre as fotos dessa obra que constam no livro de Acayaba (23), uma imagem, a da cozinha, aparece uma funcionária, de uniforme, trabalhando. Essa foto parece ilustrar a ideia de “modernização da desigualdade” de Susan K. Besse (24), de que o sistema de gênero no Brasil foi “modernizado” (a partir no início do século 20) e não democratizado, dada a natureza extremamente estratificada e rígida da nossa sociedade, atingindo assim as mulheres das diferentes classes sociais de modos distintos e frequentemente contraditórios (25), conforme observa a pesquisadora:
“As necessidades econômicas e normas sociais em mudança davam às mulheres das classes alta e média novas oportunidades de educação superior e de emprego remunerado que não tinham correspondência nas oportunidades para as mulheres de classe inferior. [...] Além do trabalho fabril ‘feminino’, o serviço doméstico continuava a proporcionar a outra grande fonte de emprego para as mulheres pobres das cidades. Enquanto as empregadas domésticas liberavam as mulheres de classe média para exercer suas carreiras, elas próprias permaneciam presas na esfera doméstica sob a tutela de suas patroas mais ricas” (26).
O que Acayaba pondera sobre a arquitetura residencial da década de 1970, transcrito anteriormente, aproximando-a à “casa-grande” e, por conseguinte, afastando-a da máquina de morar proposta por Le Corbusier, foi observado ao analisar o conjunto de casas projetadas por Joaquim Guedes: o programa de necessidades e a composição espacial daquelas casas se assemelham aos palacetes paulistanos estudados por Maria Cecília Naclério Homem (27) da segunda metade do século 19 e das primeiras décadas do século 20. Estes palacetes, por sua vez, constituíram uma manifestação do processo civilizador da sociedade paulistana em decorrência da ascensão econômica pelo cultivo cafeeiro. Os programas de necessidades dessas residências traduziram um modo de vida burguês, atendido por uma arquitetura que propunha a individualização da casa e a conciliação dos estilos, espelhando o êxito socioeconômico do proprietário (28). Os palacetes descritos por Maria Cecília Naclério Homem diferenciavam das moradias da classe operária pela especialização dos cômodos, não havendo a superposição de funções ou atividades nos ambientes: “o estar desmembrou-se em salão de recepções, sala de estar, sala da senhora, sala de jogo, bilhar, fumoir, sala de estudos, biblioteca, gabinete, hall, jardim de inverno, etc. [...] Entre a cozinha e a sala de jantar surgiram a copa, a sala de almoço e a sala de refeições das crianças” (29). Também foi notada a separação dos papéis masculinos e femininos na esfera doméstica: “o trabalho masculino afastou-se da casa para o escritório e a fábrica, mas o gabinete, local exclusivo do homem, permaneceu na parte fronteira, com a entrada independente" (30).
“Camuflou-se o trabalho manual, e as atividades passaram a ocorrer em compartimentos estanques: os serviços, na cozinha, nos porões e nos fundos da casa; o estar no térreo e nos jardins; o repouso, nos quartos de dormir, em geral situados no primeiro andar. A nova distribuição agrupava os cômodos em três zonas distintas: estar, repouso e serviços, separados entre si mediante a utilização do vestíbulo ou do hall. Este induzia também ao novo tipo de circulação, feito de modo a evitar o contato prolongado entre patrões, criados e visitantes” (31).
Algumas das características de palacetes listadas acima foram observadas nas residências projetadas por Joaquim Guedes, tais como: a circulação de serviços separada e, em alguns casos, a implantação do escritório próximo à entrada principal, destacado do restante da casa. Estas características apontam uma maior aproximação com a cultura da sociedade do século 19 do que com as proposições das vanguardas modernas do início do século 20.
Se as vanguardas modernistas procuravam novas formas de viver, como a proposição buscada por Gerrit Rietveld para a Casa Schröder (Utrecht, Holanda, 1923-24), com a finalidade de atender a visão de sua cliente Sra.Truus Schröder, que foi materializada na configuração espacial dos interiores daquela casa, o mesmo não foi observado em casas projetadas em meados do século 20 no Brasil que integram a pesquisa realizada pela autora em sua tese de doutorado (32) que fundamente este artigo. Nas obras nacionais os arquitetos visavam inovações estruturais, no uso e na composição de materiais construtivos, porém mantiveram uma postura convencional ao organizar os espaços domésticos.
O terreno encontrado por Rietveld e Sra. Schröder lhes permitiu projetar uma moradia “híbrida” (33). Apenas uma das quatro faces do lote faz divisa com uma construção vizinha, a lateral maior possui uma entrada central mais formal, onde foi incorporado um jardim fechado. Olhando para fora do jardim, de dentro da casa através das grandes janelas das principais áreas de estar, ter-se-ia a sensação de ter deixado a cidade para trás, de estar em uma região mais rural.
Esta mistura de tipos urbanos, suburbanos e rurais da Casa Schröder, segundo Alice T. Friedman (34), oferecia uma flexibilidade de escolha de experiências na vida diária; ainda, em toda a casa havia diversos elementos de design, como o uso de ambas paredes fixas e divisórias móveis, que permitiam aos ocupantes fazerem escolhas entre os vários modos de vida. O fato de que a casa é literal e figurativamente aberta é uma de suas qualidades mais distintas, e fornece uma definição mais rica, mais complexa do que o arquiteto e a cliente concebiam da essência de vida moderna (35).
O projeto da Casa Schröder foi concebido a partir do questionamento de como a Sra. Schröder desejava que sua família vivesse, e para ela era preciso que os ambientes fossem abertos para que os adultos e as crianças pudessem conviver, conversar e realizar diversas atividades. Resultando em uma pequena casa com um estúdio, biblioteca, escritório, cozinha e copa no piso térreo; no andar superior ficava o dormitório da Sra. Schröder, dormitórios das crianças e uma grande área de estar e de jantar. Enquanto os cômodos no térreo são pequenos e separados por paredes tradicionais fixas, no pavimento superior concebeu-se um grande espaço que pode ser dividido nos diversos ambientes por finos painéis de correr. A Sra. Schröder recorda sobre como sua expectativa de nova forma de morar de sua família norteou o desenvolvimento do projeto de sua casa:
“Eu havia deixado o meu marido em três ocasiões porque eu discordava com ele era tão rígido sobre a educação das crianças. Em cada ocasião, eles estavam aos cuidados de uma empregada doméstica, mas eu achava que era isso horrível para eles. E depois do falecimento do meu marido, eu tinha a custódia completa das crianças, eu pensei muito sobre como deveríamos viver juntos. Então, quando Rietveld fez um esboço dos quartos, eu perguntei: ‘Essas paredes podem sair?’ Ao que ele respondeu: ‘com prazer, eliminado as paredes!’ Eu ainda posso ouvir-me perguntar, essas paredes podem sair, e foi assim que acabamos com o único grande espaço” (36).
Considerações finais
A arquitetura moderna introduziu novas técnicas construtivas e novas soluções formais, entretanto, como observado nas casas aqui estudadas, essas inovações nem sempre se manifestaram no programa e nos arranjos domésticos que, em geral, ainda estavam alinhados às formas de morar dos palacetes e casas de “alvenaria burguesa” (37) dos barões do café. A ausência de edículas não significou a extinção dos setores de serviços ou dormitórios de empregados – esses cômodos passaram a integrar o corpo principal das casas, porém com acessos separados e/ou circulações restritas aos funcionários; como observado neste trabalho nos acessos e nas circulações das casas projetadas por Joaquim Guedes.
Ao examinar diversas residências nacionais e estrangeiras como a Casa Schröder fica evidente que as casas aqui analisadas de Joaquim Guedes, produzidas para famílias de classe média alta no sudeste brasileiro, foram projetadas em conformidade com as tradições locais, em que é pressuposto a existência de empregados domésticos para o funcionamento e manutenção, diferentemente do contexto europeu. Assim, a “modernização” (38) decorrente do processo de desenvolvimento econômico e social ocorrido no Brasil, sobretudo na primeira metade do século 20, parece não ter promovido transformações na forma de morar das famílias das classes média e alta, como foi salientado por Acayaba (39) e observado nos programas e na composição dos espaços das residências projetadas por Guedes.
notas
NE – Este artigo foi inicialmente apresentado e publicado no 5oSeminário Docomomo SP, sendo realizadas pequenas alterações no conteúdo e formatação para adequar as normas da revista. ARAUJO, Fanny Schroeder de Freitas. Os interiores das casas de Liliana e Joaquim Guedes: uma perspectiva de gênero. In ANTICOLI, Audrey Migliani; CRITELLI, Fernanda; CHIARELLI, Silvia Raquel; OSSANI, Tais (Org.). Arquiteturas do patrimônio moderno paulista. reconhecimento, intervenção, gestão. São Paulo, Altermarket, 2017, p. 405.
1
CAMARGO, Mônica Junqueira. Joaquim Guedes. São Paulo, Cosac e Naify, 2000.
2
Idem, ibidem, p. 7.
3
ARAUJO, Fanny Schroeder de Freitas. Interiores da casa brasileira: artefato, gênero e espaço. Tese de doutorado. São Paulo, PPGAU FAU Mackenzie, 2017.
4
Não foi possível precisar as datas de nascimento e falecimento de Liliana Guedes, sabe-se apenas que faleceu poucos anos antes que Joaquim Guedes.
5
LIMA, Ana Gabriela Godinho; ATIQUE, Andraci Maria. Casas casadas: o emprego dos tijolos e a ideia de Moderno nas casas de Joaquim e Liliana Guedes. Anais do IV Seminário Docomomo Sul. Porto Alegre, Propar UFRGS, mar. 2013.
6
GUEDES, Joaquim. Apud CAMARGO, Mônica Junqueira. Joaquim Guedes (op. cit.), p. 122.
7
LIMA, Ana Gabriela Godinho; ATIQUE, Andraci Maria (op. cit.).
8
Idem, ibidem.
9
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Guedes: razão e paixão na arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 099.01, Vitruvius, ago. 2008 <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.099/116>.
10
CAMARGO, Mônica Junqueira. Joaquim Guedes (op. cit.)
11
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Guedes: razão e paixão na arquitetura (op. cit.).
12
Idem, ibidem.
13
CAMARGO, Mônica Junqueira. Joaquim Guedes (op. cit.)
14
Tais como: BELLEZA, Gilberto. Joaquim Guedes, arquiteto. Especial Pini 60 anos. AU – Arquitetura e Urbanismo, n. 174, São Paulo, set. 2008, p. 74-79; CAMARGO, Mônica Junqueira de. Guedes: razão e paixão na arquitetura (op. cit.); CAMARGO, Mônica Junqueira. Joaquim Guedes (op. cit.); GRAÇA, Pablo Lühers. As Casas de Joaquim Guedes: 1957-1978. Dissertação de mestrado. Porto Alegre, Propar UFRGS, 2007; LIMA, Ana Gabriela Godinho; ATIQUE, Andraci Maria (op. cit).
15
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Guedes: razão e paixão na arquitetura (op. cit.).
16
ACAYABA, Marlene Milan. Residências em São Paulo: 1947 – 1975. São Paulo, Romano Guerra, 2011, p. 344.
17
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Guedes: razão e paixão na arquitetura (op. cit.).
18
CAMARGO, Mônica Junqueira. Joaquim Guedes (op. cit.)
19
Residências projetadas pelo casal publicadas em Joaquim Guedes, de Mônica Junqueira de Camargo: Residência José Anthero Guedes (1957), Residência A. C. Cunha Lima (1958), Residência Dalton Toledo (1962), Residência Francisco Landi (1965), Residência J. Breyton (1965), Residência Waldo Perseu Pereira (1967) e a Residência Liliana e Joaquim Guedes (1968). Residências projetadas após o fim da parceria entre Joaquim Guedes e Liliana Guedes: Residência Fabrizio Beer (1975), Residência Anna Mariani (1977), Residência Dourado (1991), Residência Pedro Mariani (1999). CAMARGO, Mônica Junqueira. Joaquim Guedes (op. cit.).
20
Foram analisadas as casas publicadas em CAMARGO, Mônica Junqueira. Joaquim Guedes (op. cit.)
21
ACAYABA, Marlene Milan (op. cit.).
22
Idem, ibidem, p. 323.
23
Idem, ibidem.
14
BESSE, Susan K. Modernizando a Desigualdade: Reestruturação da Ideologia de Gênero no Brasil, 1914 – 1940. São Paulo, Edusp, 1999.
25
Idem, ibidem, p. 8.
26
Idem, ibidem, p. 9.
27
HOMEM, Maria Cecília Naclério. O Palacete Paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira: 1867 – 1918. 2ª edição. São Paulo, Martins Fontes, 2010.
28
Idem, ibidem, p. 247.
29
Idem, ibidem, p. 125.
30
Idem, ibidem, p.129.
31
Idem, ibidem, p.129.
32
ARAUJO, Fanny Schroeder de Freitas (op. cit.).
33
FRIEDMAN, Alice T. Women and the Making of the Modern House: a Social and Architectural History. New York, Harry N. Abrams, 1998, p. 74.
34
Idem, ibidem.
35
Idem, ibidem, p. 74.
36
SCHRÖDER, Truus. Apud FRIEDMAN, Alice T. (op. cit.), p. 76. Tradução da autora.
37
LEMOS, Carlos A. C. Alvenaria burguesa: breve história da arquitetura residencial de tijolos em São Paulo a partir do ciclo econômico liderado pelo café. 2ª edição. São Paulo, Nobel, 1989.
38
Termo empregado por BESSE, Susan K. (op. cit.).
39
ACAYABA, Marlene Milan (op. cit.).
sobre a autora
Fanny Schroeder de Freitas Araujo é arquiteta (2005), mestre (2009) e doutora (2017) pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora do curso de Arquitetura no Centro Universitário Senac, trabalha em escritório próprio na área de Arquitetura de Interiores.