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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O artigo mostra as implicações da arquitetura e do urbanismo no processo da domesticação humana, busca ainda aproximações com o pensamento descolonialista da América do Sul.

english
The article shows the implications of architecture and urbanism in the process of human domestication, and also seeks approximations with the decolonialist thought of South America.

español
El artículo muestra las implicaciones de la arquitectura y el urbanismo en el proceso de domesticación humana, y también busca aproximaciones con el pensamiento decolonialista de América del Sur.


how to quote

FUÃO, Fernando Freitas. Arquitetura e domesticação II. Arquitextos, São Paulo, ano 23, n. 273.00, Vitruvius, fev. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/23.273/8721>.

Domus

As relações entre casa e domesticação, lar e o domus, estão para além do impensável. A domesticação continua sendo o grande tema insuspeito da arquitetura e das cidades, talvez continue por um longo tempo. Se para Jacques Derrida o que funda as cidades é a hospitalidade (1), para John Zerzan é exatamente a domesticação. Sem excluir nem um nem outro, melhor dizer: domestico acolhendo, acolho domesticando.

O que o discurso arquitetônico tem ocultado; e nem mesmo a desconstrução de Jacques Derrida conseguiu revelar e escavar; é a questão do próprio domus, (oikus, a casa em grego), ou melhor dito: o respectivo processo de domesticação que ela guarda, o próprio domus, o domínio, o segredo contido nela. A morada antes de nada é uma das coisas mais próprias do próprio, a propriedade do humano. Não é a casa como propriedade que me refiro, mas o sentido de propriedade como singularidade da necessidade da vida de cada um, de um direito natural de querer ter ou não ter. A casa, desde sua mais remota concepção ocidental abrigou os corpos conformando as aldeias, os vilarejos, as cidades com sua ordem disciplinar de limites, ordens, leis e hierarquia, paredes, aberturas, muros e cercas.

A casa, o domus foi a primeira e mais importante construção da domesticação animal e humana; mas isso não quer dizer que essa antiga domesticação seja algo negativo; ao contrário, ela estabeleceu laços culturais entre os próximos. Entretanto, a partir do século 18 desempenharia um papel primordial na construção do que chamaríamos instituição do morar, ou seja, um modo único quase universal de morar, viver. John Zerzan, por exemplo, não poupa esforços em nos mostrar que o processo da domesticação é longo e nada recente. Zerzan apenas nos mostra que o século 18 e a atual globalização são apenas pontos cruciais nessa escalada. A domesticação data do neolítico quando os homens deixaram de ser caçadores-coletores e resolveram se sedentarizar e construíram suas primeiras casas e estabeleceram as primeiras divisões do trabalho, domesticaram a natureza e a mulher.

Essa percepção que temos hoje da vida como domesticada, que a vida se tornou totalmente controlada, são iluminações (flashes) dentro de nossa dormência e alienação promovida pela própria domesticação, na qual estamos submersos; exatamente como no filme Matrix (2). De tão domesticados que estamos já não conseguimos ver o fato em si, nem sabemos que existe tal domesticação que começa desde pequeno. Enquanto rastro se manifesta no estado de rebeldia ou selvageria contra certas imposições, sob forma muitas vezes de violência. Duvidamos e relutamos em aceitar que somos seres domesticados desde o nascimento, isso porque implica numa palavra: liberdade. Ainda mais para um arquiteto normalizado entender e aceitar. Difícil aceitar que invariavelmente na civilização o construtor de domus é um domesticador. Desde cedo perguntam-nos: “Que você vai ser quando crescer?”. Esse “vai ser” aceitável refere-se de imediato a uma profissão à serviço do capital, um modo de ser sem “ser” na vida.

Já não conseguimos ver nas coisas mais banais, por exemplo: a domesticação da natureza, compreender que as tubulações de agua, por exemplo, são domesticações sofisticadas da água, em vez de ir pegar e trazer e carregar a água da vertente; já não conseguimos perceber que o ar condicionado não deixa de ser uma máquina que domestica o ar, ar domesticado; ele condiciona o ambiente conforme nossos interesses e necessidades; já não conseguimos ver que a natureza foi quase toda domesticada, vide a agricultura, os imensos latifúndios de monoculturas transgênicas e tóxicas, assim como a violência dos aviários. Cada dia menos nos resta menos reservas e áreas de preservação como testemunhos de nossa onipotência.

Ao começar a interrogar o domus, o familiar, o familiarizado, desta forma pretende-se chegar ao pensamento domesticado e domesticante. O primeiro seria o pensamento habituado, o pensamento oprimido; o segundo: os sistemas políticos, o pensamento opressor, também o pensamento do colonizador. Para os países oprimidos, colonizados, domesticados pelos europeus, a luta por uma desdomesticação se constitui como parte fundamental também na caminhada à descolonização. Não basta pensar em descolonizar, é preciso também desdomesticar as práticas fundadas pelos opressores até os dias de hoje, num intenso processo de reavaliação diária.

Precisamos interrogar o domus e incluso seu mobiliário: o papel da cadeira, do sofá, da poltrona e da televisão como excelentes dispositivos para passarmos horas e horas sentados, imóveis. Fica obvio também porque a casa é um imóvel juridicamente. Interrogar também o bem mais precioso hoje: o celular. Já faz um bom tempo que morremos domesticados, estamos morrendo domesticadamente nos hospitais; e até as atuais formas de sepultamentos são domesticações sobre a morte. Podemos falar até de um amor domesticado, de um modo de amar pré-estabelecido de comportamentos, um modo de amar domesticado. O amor cortês: os encontros, as datas e os ritos que isso pode envolver (um restaurante especial, um objeto de consumo especial, um cinema etc.) parece sempre ter uma arquitetura específica para isso. De repente, pode acontecer de ser a birosca mais tosca onde tudo isso possa acontecer, mas o imaginário domesticado nos diz que tudo tem que ser assepticamente ideal como nos filmes de Hollywood.

Enfim falamos de uma domesticação não só da casa, mas está na casa a domesticação, em seu sentido mais amplo de morar, habitar proposto por Martin Heidegger (3), falamos principalmente de uma domesticação da vida, de uma domesticação do trabalho, do lazer, da visão, da alimentação, da saúde; enfim, de tudo que nos cerca e nos embrulha; falamos principalmente do que já está introjetada dentro de nós como doméstico, familiar, e não conseguimos perceber e reagir contra. Falamos também de uma introjeção na arquitetura, nos projetos de arquiteturas, e assustadoramente no ensino de arquitetura, uma introjeção domesticada do que seja morar. Os arquitetos elaboram esse processo através das partições do espaço, peças, os cômodos, já estabelecidas de qualquer edifício, da casa, do mobiliário e de seus fluxos. Passamos do estágio da “sociedade disciplinar” para a “sociedade do controle” (4) como afirmou Gilles Deleuze, mas ambas não sobrevivem sem as doses diárias de domesticação, sejam elas arquitetônicas ou anestesiantes; ou mesmo ironicamente de “arquiteturas anestesiantes” (desejo e sedução). As modelagens do espaço, por um lado, com seus bretes e currais numa analogia mais grotesca; por outra: ritalinas, diazepínicas, valproicas, para aplacar a ansiedade, a hiperatividade e ou a depressão dentro do cercamento ou parque humano.

O que Michel Foucault sugeriu, é que: quem está submetido, condicionado, domado, domesticado acaba incorporando e naturalizando, incorporando por sua própria conta os limites que o poder lhe impõe. Auto domesticação. Ele não ultrapassa os assinalamentos, ele segue as flechas e indicações de rumos, ele obedece à sinalização, não atravessa o sinal vermelho. Ele anda sempre do lado correto, do lado direito, não se desvia. Ele faz funcionar de uma maneira espontânea a disciplina sobre si mesmo, ou como diz mais precisamente Foucault: “ele se torna o princípio de sua própria sujeição”. Assim, o poder tende a ser incorpóreo, visível versus não visível, disseminado entre todos; e quanto mais se aproxima desse limite mais esses efeitos são constantes. Esse poder do domesticador já não está lá fora, próximo ou longe; ele está já dentro de cada um incorporado. Já não há uma externalidade absoluta desse poder, talvez cada vez menos precise ser arquitetável, edificável. Ele está em cada um de nós, como uma Microfísica do poder (5) mesmo, um poder que opera internamente dentro de cada um.

Entretanto, isto só não bastaria. Parece que a domesticação não se sustenta em sua incorporeidade, é necessária a parte física construtiva que é de responsabilidade dos arquitetos, precisa dos velhos elementos físicos para o bom adestramento: bretes, currais, cercados, campos, prisões, escolas, parques, faixas de segurança, calçadas, semáforos. É preciso que se ergam constantemente esses elementos físicos arquitetônicos disciplinadores do espaço; para isso dependemos dos arquitetos, dos médicos, dos comunicadores, dos políticos; conforme já explicitado na cidade pestilenta (6). Obviamente, se deixarmos as cidades sem planejamento, sem organização não há como viabilizar de uma forma eficaz a prática domesticante. E, dirão os adeptos da domesticação que se tornará um caos, viveremos numa cidade caótica, selvagem. E, é provável. Um dos papeis da domesticação é organizar e disciplinar, controlar a vida humana em sociedade, sem ela não se poderia levar adiante o dito processo civilizatório-capitalista. Modernidade é domesticação. Colonização é domesticação. Modernidade é colonização.

A domesticação depende ainda da arquitetura e da construção física do espaço; e mesmo que um dia já não houvesse todas essas imposições físicas, se desaparecessem de um momento a outro, provavelmente os homens ainda por algum tempo se portariam como se estivessem ainda dentro desses lugares, receptáculos condicionadores; mas não tardariam em perceber que seus comportamentos já não fariam sentido algum, assim como hoje percebemos comportamentos ultrapassados que ainda vigoram de disciplinaridades ultrapassadas.

A arqueologia temporal da domesticação é longa como já podemos suspeitar, e arrasta vários temas e áreas comprometidas como: a filosofia, a religião, a antropologia, assim como temas do familiar versus não familiar, doméstico não doméstico, o “eu e o outro” (alteridade). Ou, por exemplo, ainda, a questão do papel da mulher nesse processo enquanto domesticada e domesticadora. Uma longa e triste trajetória liga a figura feminina ocidental ao domus, dentro da casa e mesmo fora da casa. A civilização se olharmos por outro aspecto, fundamentalmente tem sido a história da dominação da natureza, dos animais e a da mulher, dos homens sobre os “selvagens”. Patriarcado e falocentrismo significam o domínio sobre a mulher e a natureza. Como explicou Zerzan, “a filosofia tem essencialmente ignorado o vasto reino de sofrimento que tem se desdobrado desde seu início na divisão de trabalho, sobre a mulher durante seu curso. Divisão do trabalho, essa que tem seu análogo de poder entre os civilizados e não civilizados ou semicivilizados, entre os cultos e os incultos; a história da filosofia tem sido uma rede de sacerdotes” (7). Para Zerzan a mulher é tão alheia a esse processo, quanto ela sofre, mesmo, esse processo

John Zerzan coloca, ainda, por exemplo, que a divisão do trabalho surgiu com a questão do gênero, e o gênero devemos entender que não é o mesmo que uma distinção natural/fisiológica entre os sexos. Gênero é uma categorização cultural, uma classificação baseada na divisão sexual do trabalho, apresentada como a única forma cultural que importa. O gênero introduz e legitima a desigualdade e a dominação.

Um breve relato histórico sobre o processo de aculturação dos povos Guaranis ao Sul do Brasil pode exemplificar boa parte desse processo de domesticação realizado pelo incansável trabalho Jesuítico, nas Missões do Sul do Brasil. Esse preconceitos foram relatados pelos próprios Jesuítas e, observado e compilado por Jean Batista em seu fantástico Dossiê Missões. O temporal, sociedades e espaços missionais (8). Também as passagens nos relatos do famoso viajante Saint-Hilaire no início do século 19, quando esteve nas reduções jesuíticas, dão conta de como ainda perdurava toda uma moralidade domesticante europeia, que aplicavam impiedosamente as almas livres das mulheres guaranis: “elas não têm nenhum pudor e parecem nascidas para a perdição dos homens de nossa raça. E, não havendo no meio delas senão alguns velhos, entregam-se ao primeiro que se apresenta, seja negro, seja branco, e muitas vezes sem exigir retribuição nenhuma” (9). As mulheres guaranis em Saint-Hilaire, enfim, “se põem a rir como loucas, prostituem-se em tenra idade, não têm nenhum pudor, sentem-se muito mais culpadas quando mantêm relações com um homem de nossa raça do que com um negro e, sobretudo, com um índio e, quando confessam, nunca deixam de dizer ao padre a raça daquele com quem intimamente convivem” (10). Para Saint-Hilaire, as mulheres indígenas; como sempre, tal quais as bruxas; seriam também as responsáveis pelo alastramento de doenças venéreas aos brancos: “Sabe-se quanto são perigosas às doenças venéreas transmitidas pelas índias aos homens de nossa raça, e quase todas as mulheres das aldeias são portadoras de vírus venéreo” (11).

O processo de domesticação dos povos selvagens no Brasil se deu, basicamente, pela nefasta catequese jesuítica no Brasil quando em 1549 chegaram ao Brasil o primeiro grupo de seis missionários liderados por Manuel da Nóbrega, trazidos pelo governador-geral Tomé de Sousa. Assim como ocorreu em outras partes do mundo, onde os jesuítas estiveram, e não foram poucos, como: Ceilão, China, Japão, Congo, Marrocos, Etiópia.

Hoje é impossível separar a tríade colonização-modernidade-domesticação, sendo que a colonização em grande parte teve o papel preponderante dos jesuítas e sua catequese. É preciso rever a história das Missões jesuíticas que sempre nos contam como uma feliz parceria de colaboração e cooperativismo entre Jesuítas e Guaranis; sem descrever as práticas corporais de aniquilamento das identidades, desde as mais simples como a colocação de vestimentas católicas nas festas religiosas, fantasiar os Guaranis com batas brancas e com seus arcos e flechas para que se parecessem “anjos na terra sem males”, comemorar as festas dos santos padroeiros católicos, e rezarem diariamente. E, acordar com o sino da igreja, ao invés do canto do galo, e ordena-lhes a que horas deveriam comer, trabalhar e dormir (12).

Não existe mal maior que a catequese e a evangelização dos povos indígenas que segue até hoje na Amazônia pelos evangélicos. O dito pastoreio de seres sem almas em nome de um Deus onipotente, e o papel dos falsos pastores. A loucura, a reverie jesuítica foi à utopia de catequisar, civilizar o mundo a partir de Pedro, isto é domesticação. E, de fato, vieram parar no fim do mundo, na Patagônia, trazendo as palavras de um deus totalmente alheio ao universo tehuelches e mapuches.

Os Jesuítas construíram uma comunidade organizada nos moldes europeus petrificados católico, deveria perdurar mais que a existência dos próprios jesuítas, essas reduções foram formuladas sobre um modelo militar greco-romano e aplicadas aos Guaranis, exatamente para domesticá-los, civilizá-los. O cântico Gloria in excelsis Deo, o deosudorante deveria sobrepujar as músicas guaranis. Eles destruíram, e seguem destruindo, a comunidade secular Guarani. Para os católicos tinha que ser pedra sobre pedra porque assim é que foi construída a Santa Fé. Pedro e pedra são seus fundadores, a pedra é o alicerce. O pétreo é o sinal de uma cultura sedentária, civilizada, ao contrário das arquiteturas ditas efêmeras dos povos nômades e selvagens cujos deuses estão na natureza e no cosmos.

De um modo geral, as culturas dos povos indígenas representavam uma afronta à cultura europeia já domesticada pelo cristianismo, por sua integração com a natureza, cultuando a mãe e os deuses da natureza, os espíritos de seus antepassados, seus mitos e ritos. Assim temos o confronto da monumentalidade pétrea frente à transitoriedade e ao efêmero da arquitetura dessa dita não arquitetura para muitos arquitetos. Os preservacionistas resolveram denominar essa inconsistência como patrimônio imaterial, só porque não é de pedra. O culto aos monumentos desde Alois Riegl (13) está impregnado pelos dogmas da religião cristã, católica.

A formação de um povoado sedentário, no caso, as Missões Jesuíticas, implicaram num cambio profundo de seus hábitos de vida. De grupos caçadores que alternavam a mobilidade e o nomadismo através de assentamentos esporádicos para o cultivo e sustentação, em busca da Terra sem Males, de repente se viram dentro de um projeto reducional jesuítico europeu colonizador, sedentário. Isso exigiu outros métodos de planejamento dos recursos naturais e produtivos distintos por parte dos Guaranis, acostumados a cultivar e cultuar a terra, e a arte de coletar. Sua relação com a mãe terra seria então ditada pelos jesuítas com seus modelos domesticadores da horta, pomar, e plantações. Obviamente que os jesuítas sempre julgaram insuficiente, ficavam insatisfeitos com a produção de alimentos dos Guaranis. Além disso, os Jesuítas somente reconheciam como produção o que estivesse orientado por formas e técnicas europeias. Some-se a isso que os Guaranis lentamente tiveram que passar do sistema poligâmico ao monogâmico, tendo por referência da família cristã: Jesus, Maria, José.

Para muitos antropólogos o local exato da transformação do dito selvagem para o cultural é o domicílio, o domus, o lar. A passagem das culturas nômades para sedentárias estaria também relacionada não só com o sedentarismo, mas também com aparecimento da linguagem (14). Na antiguidade, o lar, a grande família, o clã, a tribo, o Dom da casa era responsável pela domesticação não só dos animais e das plantas em seus pequenos cultivos e cercados para a subsistência; mas também da domesticação de seus familiares. Assim a família que se constituía, era cria de sua própria doma. Talvez ai se pudesse designar, a prima doma, a primadona, como a boa domesticação que ainda preparava os homens para viverem em pequenas comunidades culturais. “A própria palavra ‘cultura’ deriva do termo latino ‘cultura’, que se refere ao cultivo do solo; isto é, à domesticação de plantas e de animais — e de nós mesmos no processo. A cultura surgiu e floresceu através da dominação da natureza, sendo o seu crescimento um parâmetro do controle progressivo que se desenvolveu com uma divisão do trabalho cada vez maior” (15).

Oportuno reportar que na cultura greco-latina, na antiguidade grega, mediante os Deuses Lares; distintamente do status da mulher Guarani; a mulher greco-romana foi uma das mais domesticadas, uma das primeiras a ser domesticada dentro da casa. Uma vez domesticada passou a também ser domesticadora da família a serviço do Dom. Depois, paulatinamente, ao longo dos séculos essa doma foi estendida, deslocada e delegada à Igreja, e posteriormente ao Estado, no século 18 através da instituição escolar e dos reformatórios, entre outras instituições.

A religião dos Deuses Lares, na Grécia antiga com suas leis colocavam a mulher sob domínio, sob o dominus patriarcal; no domus da esfera da nova família e da religião. O dominus era o Senhor; o senhor da casa; daí derivariam palavras como dominador e domínio, que dão a ideia de alguém com poderes para ser obedecido pelos outros habitantes da morada, como parentes e servos; tudo que está ao alcance do domus. Daí, derivará também a palavra domingo, o dia do dito Senhor. O próprio título Dom, usado para os reis da Península Ibérica e os imperadores do Brasil, bem como para certas categorias eclesiásticas, vem também de domus. Em Espanhol e Italiano, Don é uma manifestação de respeito. O domus encobre e continua guardando esses acontecimentos em sua palavra, em sua origem.

O livro a Cidade antiga de Numa Denis Fustel de Coulanges (16) explica detalhadamente o papel da mulher naquela época, no culto aos deuses lares, relacionando com a questão das leis e heranças patriarcais. O casamento na antiguidade da Grécia era o ato através do qual a mulher tinha que desligar por completo da família de seu pai. Ela ao ir morar no lar de seu marido, entrava na casa dele, no lar dele, na família dele, e iria viver a vida dele e seus familiares. A mulher seria a estranha na família do esposo, perderia o direito ao culto de seus próprios antepassados, teria que recusar seus deuses lares, seus antepassados familiares, seu lar para cultuar o lar da nova família que seria o lar do seu esposo, o Dom. Confinada, se não totalmente pacificada, nos explica Zerzan, ela a esposa, a mulher sempre foi definida como passiva, domesticada. A mitologia e a religião são testemunhos desse processo da redução da mulher, e também fica evidente na relação análoga entre natureza, a terra com a mulher. Ambas, a mulher e terra foram sujeitas à dominação, satanizadas, diabolizadas pela igreja católica; não só na igreja católica, mas também em algumas culturas primitivas, como alguns tribos do Xingu, elas não podem entrar nem na casa dos homens. Essa condenação se aplicou, através da catequese colonizadora a todos os deuses e deusas da natureza na América Latina e também oriunda da África mediante a escravidão.

Ainda hoje, podemos perceber a persistência desses cultos à natureza como no culto à Pachamama na América latina, nos Andes; assim como nos cultos afro no Brasil: o Candomblé, a Umbanda, Batuque, com todas suas divindades representando os elementos da natureza, como Iemanjá a deusa das águas. Na verdade, é a partir do monoteísmo que toda a espiritualidade do mundo, a grande variedade de deuses e deusas; todos ligados à natureza e ao cosmos serão soterrados em troca de um só Deus, de um só senhor transcendental que nem morada terrena tem, de um só Dom e de sua dominação. Segundo Zerzan, “a religião não encontra base para a sua existência antes de tomarmos o caminho errado em direção à cultura e ao civilizado (domesticado)” (17).

O domus refere-se pois não só ao conforto e à proteção do lar, a esfera do indivíduo, ou da família e da comunidade como bem apresentou Peter Sloterdijk em sua trilogia Esferas (18). A palavra domesticação também se emprega ao animal que, como espécie ou, às vezes, como indivíduo, teria uma vida selvagem, mas se adaptou à vida junto às pessoas; e até mesmo dentro da casa. Domesticação tem um apelo, uma chamada para cativar, seduzir, uma armadilha para capturar os viventes, fazer com que o indivíduo ou os animais permaneçam na casa, dentro ou fora, mas sempre próximo, no domínio. Ao ponto de se sentirem como se não pudessem mais viver fora dessa circunstância de domesticado; dessa circunscrição do domus, dos limites do domus.

A vida do domesticado fica determinada por estar, de certa forma, cuidado, protegido, alimentado, administrado, cativo, economicamente, imune pelos poderes soberano do dom, da domus. Os domesticados na cidade, o locus por antonomásia da domesticação, já não concebem uma vida fora das cidades e de sua dependência. Embora muitos, nem muitos assim, consigam fazer o êxodo da cidade para viver no campo, junto à natureza. Então, esse domus é mais complexo; já não deve ser entendido como simplesmente a casa, mas o lugar de trabalho pode significar um domus, assim pensava Heidegger, mas no fim devemos entender que estamos na redoma das cidades, e tentamos redomar a terra sob o julgo da domesticação. Entretanto, o planeta não pode ser totalmente domesticado, pois teria uma feição somente humana e o humano é apenas um membro da diversidade, impossível ser um único, e quanto mais domesticado o planeta menos adequado fica para a vida.

A domesticação oferece a contrapartida de uma pseudo imunidade, de uma pseudo proteção, acolhimento e bem estar. E, essa imunidade na maioria das vezes é ditada pela medicina, pelo atendimento médico, e seus hospitais nas grandes cidades. O bem estar refere-se principalmente também às possibilidades de trabalho e de educação. Na lógica civilizatória a máxima de que quanto mais domesticado, docilizado, civilizado, culto, mais benefícios se apresentam ao ser domesticado, mais possibilidade de trabalho terá. Esse pensamento também, inversamente, aplica-se sempre aos mais pobres, colocando sua miserável existência como consequência de não ter o pensamento organizado, não ter sido domesticado o suficiente; correlacionando à sua falta de iniciativa para trabalhar, na sua falta de disciplinaridade, acarretando no paradigma da arquitetura: do barraco. Mas os domesticados não conseguem compreender que nada disso tem a ver de fato, na maioria das vezes sua miséria está num patamar quase inumano e não conseguem perceber que é apenas uma condição do opressor sobre o oprimido, do dominador sobre o infeliz. De sua observação sobre o observado. Hoje a educação tem sido o apanágio, com seu processo educativo diretamente associado à possibilidade de formação especializada para os empregos e trabalhos que os senhores do capital necessitam. Como se uma coisa dependesse da outra necessariamente.

Outro derivado de domus é a própria palavra domicílio: local onde se reside, habitação. E, quem não tem domicílio fixo não pertence à esfera dos cidadãos, é um morador de rua, um errante, um desdomiciliado, um desdomesticado, um selvagem, um favelado. Desde a Grécia antiga, o estrangeiro, o errante não pertencia a polis. Os mendigos e alguns moradores em situação de rua, muitas vezes seu aspecto é de um selvagem mesmo, pois já não conjuga nem mesmo os hábitos de higiene da sociedade. Ele está fora de tudo; fora da casa domesticada, ainda que dentro. Qualquer domus está sempre fechado para eles como os condomínios. Sua existência enquanto indomável, indomesticável, segue justificando o mito da necessidade da domesticação e da civilização.

Hoje, entretanto parece haver um deslocamento da exigência de um domicilio fixo como referência para algumas transações econômicas. O celular, cell-ular, celu-lar, desloca esse sentido de moradia imóvel, e passa para um sentido de lar deslocante. Dá-se mais importância à referência do celular do que propriamente a referência da casa fixa (19).

Se existe uma essência no domus, talvez ela arraste essa dualidade: acolher e domesticar, acolher domesticando, domesticar acolhendo; mas sempre domesticando, estabelecendo essa separação, essa fratura fundante de toda vida nas cidades. Enfim, onde houver uma casa haverá um dentro e um fora, um domesticado e um selvagem. Para a mente domesticada até um colono do campo pode ser um não domesticado, alguém inferior na escala do processo civilizatório; principalmente porque não conjugou educação.

Para Thomas Hobbes o mundo da rua era sempre o selvagem. E, mesmo que não seja, ao erguer as paredes cria-se essa distinção entre espaço protegido e desproteção, imunidade e vulnerabilidade; entre um familiar e um wild, um selvagem. O selvagem é aquele que, muitas vezes, está fora da casa, algo ou alguém que o ser humano teme e procura manter a distância, mas de vez em quando o civilizado faz incursões em seu habitat, para o domesticado a periferia é um lugar que está povoado de perigos e de seres estruturalmente, ontologicamente diferentes de nós. Importante destacar também a ojeriza e desconfiança sempre ao estrangeiro, ao que não pertence à esfera do domesticado, ao território, à pólis; o não pertencente ao locus cultural e do país.

O estrangeiro é aquele que ainda não está adaptado as regras de cada cultura; essa população oprimida que deve ser punida constantemente através da exclusão. Na sociedade dita civilizada o espaço do domus estará sempre fechado para o indomesticável, o indomável, ainda que passe fome, frio, e esteja morrendo; ele é na maioria das vezes considerado um inumano, um quase animal.

Talvez, poderíamos falar então de níveis de domesticação, de lugares singulares de domesticação, abrir o leque da domesticação e analisá-las, caso a caso, sem generalizar para detectar cada tipo de domesticação que está atuando sobre nós. Infelizmente, nesse mundo algumas vezes há de se adequar a certas formas de domesticação para se poder existir.

Os atuais estudos da ecologia, da antropologia, como os trabalhos de Tim Ingold (20) têm contribuído a desmentir e desmitificar essas barreiras ao mostrar o carácter etnocêntrico-eurocêntrico dessas classificações e conceptualizações de oposições. Mas mesmo tentando ultrapassar esses mitos, a matriz do nosso raciocínio continua a ser a mesma: estamos por assim dizer gramaticalizados nesse modo de viver domesticado.

Ao erguer as paredes da casa cria-se essa distinção entre o espaço protegido: o dentro, e a desproteção: o fora.

A casa, ás vezes, opera como um conceito, um símbolo, como a aurora da linguagem simbólica. A casa para o civilizado significa imunidade (oposto da com-unidade) em contraposição à vulnerabilidade do mundo selvagem, da natureza e seus perigos, o “lá fora”. O domus estabelece um familiar e um não familiar: o civilizado dentro, e o selvagem lá fora. Toda a anormalidade psicologicamente estará depositada nesse lá fora, fora da casa, em suas diversas dimensões e gradações. Desde pequenos nos alimentam com a ideia da segurança da casa. A consequente domesticação e subjugo são condições próprias à que nos devemos submeter para ter a segurança, mesmo em troca de nossas liberdades, para que não tenhamos desde pequenos, os mais terríveis pesadelos sobre os ataques e assaltos sobre a casa unifamiliar, e individual. Um exemplo típico é a estória dos três porquinhos.

Diz-se popularmente que estar fora da casa, “estar fora da casinha” é estar às margens, é estar na borda da loucura, ou mesmo na loucura; viver fora da casa, não estar num domus, não ser um domus é visto sempre com certa desconfiança. Viver sem casa é estar fora de si e de toda ordem e domesticação que a casa implica. O em “si de si”, para o civilizado, domesticado, é estar dentro da casa sob julgo constante do nomos e do temor, ter endereço fixo. Imóvel. Isso é o que classificamos como “estar consigo mesmo”, imobilizados e sujeitos à domesticação. O mesmo se diz de estar dentro da redoma, da re-doma da casa, redomus, hiper protegido.

Com a metáfora da casa vem acorrentada indissociavelmente também a História da loucura (21), não só a casa familiar, mas também a casa dos loucos, o manicômio e os hospitais. O não ter domus, o morar na rua como os moradores de rua, os loucos que vagam pelas ruas são considerados automaticamente como pessoas perigosas, portadores da desordem, e de todos os perigos, indomesticáveis, os que não conseguem manter-se sob o domus. O destituído de casa, o indomesticável sempre foi considerado como aquele não pertencente à comunidade, e ao território configurado institucionalizado. Tanto o indomesticável e o não domesticado — coisas próximas mas diferentes — sempre são vistos como perigo eminente. Como bem descreveu suscintamente Ana Paula Vieceli, “A origem dos diversos conceitos de loucura em cada sociedade encontra-se na relação do homem com a diferença, com aquilo que escapa aos padrões estabelecidos, às convenções da norma, aos modelos vigentes de normalidade. Assumindo a condição do diferente, o louco, esse estranho por natureza, se transforma em um ‘outro’ do homem” (22).

Observe-se, por exemplo, as ações de tentativa de ocupação de prédios abandonados por quem não tem casa. Nesses edifícios os ocupantes criam seus próprios nomos distintos dos instituídos, fazendo sua própria economia coletiva. Mas, esses atos são vistos como atos de extrema periculosidade, não familiares, e que ameaçam a propriedade privada e do Estado; consequentemente à família que está diretamente atrelada a ilusão da casa, os velhos Deuses Lares, e ao direito romano.

Entre o domus e domar, entre casa e casar há essa estreita relação. A família clássica ou mesmo a moderna são a representação da domesticação. E, a mulher ao longo da história foi a primeira domesticada sob o julgo da religião dos Deuses Lares, que está na base do direito romano, como vimos anteriormente em Celu-Lares (23). Os Deuses Lares estabeleceram a domesticação feminina, através do nomos da casa, a oikonomia (que quer dizer a lei da casa), que é em outras palavras o nomos do Dom. Na casa sempre há um nomos e também nome, o nome do Dom, o nome do domesticador (24). Em algumas casas, principalmente no interior da Europa, as casas levam ainda o nome do Dom, o chez moi.

O domus é também o timus, o lugar onde o ser humano vive a sua intimidade, o seu “in-timus”, devemos estar atento as palavras e seus jogos de reenvios de significados. Refiro-me aos significados assimilados e os sentidos incorporados que moram na linguagem e nos nomes, nas palavras que também habitam a casa e a intimidade, o mais íntimo dos seres humanos com todo o seu poder de intervir, modificar e normalizar. É importante não confundir adaptação com domesticação. O homem se adapta a muitas coisas, adapta-se natureza, ao frio, a situações econômicas; e em nada se relaciona com a domesticação. Embora, a palavra hábito e habituado também tenham seu sinônimo com adaptação, muitas vezes esse habituado é o resultado de um processo de domesticação, como veremos a seguir.

A palavra habitar, por exemplo: o ser humano habita um “domus”, habita uma casa, um “locus in-timus”. Habitar é o primeiro de todos os habitus. Os hábitos também têm nomes, tem o seu nomos. O hábito pode ser também sinônimo — mas não necessariamente — de familiar, do habitual, o acostumado e o domesticado. O cotidiano está constituído por um âmbito das coisas que se tornam familiar, onde o ser humano vive habitualmente a sua intimidade. O habitus habitua, habita, se faz habituado, domestica. De qualquer forma as domesticações estão sempre em relação com as estruturas sociais de como se conformam as famílias e, também, das não famílias entendidas como famílias civilizadas; entre o familiar e o não familiar. Para a civilização e para a linguagem corresponderia a lógica do sentido, e do não sentido simultaneamente proposto por Deleuze, entre o senso comum e não senso (non sense) (25). O domesticado e o indomesticado, a anormalidade, a linguagem diferente, esquiza.

A modernidade do século 20 se constituiu basicamente na fragmentação do morar clássico, da morada clássica, grupal e do clã, da grande família. Mas, isso não significou uma desmontagem da domesticação, ao contrário. A modernidade se apresentou exatamente como a possibilidade do esfacelamento do coletivo da antiga domesticação familiar, em detrimento das individualidades, da família mononuclear e de suas pseudos liberdades comandadas pelo Estado.

A morada coletiva dos índios Yanomami (shabono) é um belo exemplo da vida comunitária e do trabalho num processo coletivo, que se contrapõe ao modelo domesticado civilizado moderno. Curiosamente, a palavra Shabono designa fenda, abertura ou clareira na selva; seu contorno é traçado em função da estrutura familiar das partes integrantes. A Yurta, a tenda dos pastores nômades mongóis é também uma dessas outras tantas moradas que ainda guarda o segredo do que é a casa, para além de sua função de mero abrigo, a Yurta está sempre conectada ao cosmos onde quer que ela esteja.

Talvez, o sentido de repensar a domesticação e suas intermináveis mazelas seja aqui também repensar a questão do abrigo; quem nos abriga e o que abrigamos? Em que se constitui o morar, existir, viver na terra, o “de-morar-se”? Cabe recordar que o verbo morar vem do latim morari, quer dizer retardar-se, entreter-se, trabalhar com lentidão, parar-se, no sentido mesmo de fixar-se em um lugar. A palavra morari possui no latim diversos derivados, como a palavra moroso (aquele que atrasa o pagamento, moratória), mas também curiosamente podemos associá-la ao amoroso. Amorosidade, então, não se refere a um estado emocional, impalpável, mas também um modo de tocar o mundo lentamente e suavemente, roçar a vida através do morar.

Shabono
Colagem Fernando Fuão, 2014

Um rápido olhar sobre a Yurta, mostra que levamos nossa casa para qualquer lugar que formos, e essa casa transcende a qualquer aspecto de mero abrigo. Parece haver algo mais que o simples abrigar, tanto na Yurta como no Shabono dos Ianomâmis, e nas próprias pessoas em situação de rua. O caráter simbólico e comunicacional ascendente com os deuses não esta só na casa sedentária, mas em qualquer morada seja ela provisória ou permanente. Por exemplo, cabe aqui relacionar a impressionante semelhança entre o baldaquino da yurta e os eixos meridianos modernos, o feixe de varas central, em forma de cruz, orientado norte, sul, leste e oeste. O modelo da yurta casa é o céu, a natureza, estes povos são nômades e o território por onde andam é seu lar, o céu seu outro teto. Teto sobre teto, domus sob domus num alinhamento perfeito.

Os nômades pastores mongóis não são povos pastores que cercam ovelhas, o rebanho. Eles é que seguem os rebanhos dos iaques, tal como os índios americanos que seguiam os búfalos. Guardam sem guardar, domesticam sem domesticar. Mas com a agricultura, as plantações e a propriedade da terra, inverteu-se tudo. O duomo, o domus se agigantou, a casa foi ampliada e a natureza absorvida; e também “duomesticada”; colocada metaforicamente para dentro da casa, “du-homo”. Assim a terra passou a ser du homo. O homem deixou de ser pertence da terra, e a terra passou a ser seu pertence, um objeto do homem, esquecem-se que a natureza é um ser vivo indomável e soberana, mais cedo ou mais tarde ela se “desdomará” desguardando tudo, A queda do céu. Quando nos referimos ao “a Terra ser a casa do homem”, já está embutida a triste noção de propriedade, uma demonstração de como ele se apropriou e domesticou tudo. Na impossibilidade de colocar o planeta dentro de sua casa, ele fez do planeta sua casa.

A Yurta cósmica
Colagem Fernando Fuão, 2014

notas

1
DERRIDA, Jacques; DUFOURMANTELLE, Anne. Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar da hospitalidade. São Paulo, Escuta. 2003.

2
FUÃO, Fernando Freitas. Sobre cadeiras e clareiras. Fernando Freitas Fuão. Ensaios e Livros, Porto Alegre, 30 nov. 2019 <https://bit.ly/3xBFbkV>.

3
FUÃO, Fernando Freitas. Construir, morar, pensar: uma releitura de ‘construir, habitar, pensar (Bauen, wohnen, denken) de Martin Heidegger. Revista Estética e Semiótica, v. 6, n. 1, Brasília, jan./jun. 2016 <https://bit.ly/3ly502n>.

4
DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro, Editora 34, 1992, p. 219.

5
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1979.

6
FUÃO, Fernando Freitas. Sobre domesticação: A cidade pestilenta e o panóptico. Revista Estética e Semiótica, v. 9, n. 2, Brasília, 2019, p. 26–57 <https://bit.ly/3HZobtm>.

7
ZERZAN John. Patriarcado, civilização e as origens do gênero. Revista Gênero & Direito, v. 1, n. 2, 2011 <https://bit.ly/3RRcM3z>.

8
BATISTA, Jean. Dossiê Missões. Volume 3: Ruínas. 2ª edição. Brasília, Ibram, 2015.

9
Idem, ibidem, p. 150.

10
Idem, ibidem, p. 150.

11
Idem, ibidem, p. 151.

12
Segundo Felipe Ferreira Vander Veldenas, “viajando na companhia dos navegadores que vasculharam mares e terras por todo o globo a partir do século 15, os animais domésticos europeus foram, certamente, os mais importantes agentes da enorme difusão biológica da Europa. A frota de Pedro Álvares Cabral quando aportou no litoral sul da Bahia em 1500 trazia galinhas e parece certo que alguns exemplares destas aves permaneceram com os índios nas terras recém-descobertas, cumpre ressaltar, que uma vez introduzida nas Américas, a galinha espalhou-se rapidamente e tornou-se parte da economia aborígene”. VELDENAS, Felipe Ferreira Vander. As galinhas incontáveis. Tupis, europeus e aves domésticas na conquista no Brasil. Journal de la Société des américanistes, n. 98-2, 2012, p. 97-104 <https://bit.ly/3YNiHss>.

13
RIEGL, Alois. O culto moderno dos monumentos. Goiânia, Editora da Universidade Católica de Goiás, 2006.

14
ZERZAN, John. Correndo no vazio: o fracasso do pensamento simbólico. Anarquia Primitiva <https://bit.ly/3HZEHcS>.

15
Idem, ibidem, p. 4. “A cultura é um fenômeno relativamente recente. A arte rupestre mais antiga, por exemplo, é de cerca de 30 mil anos atrás, e a agricultura somente teve início há aproximadamente 10 mil anos”. Idem, ibidem, p. 5.

16
COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. São Paulo, Martins Fontes. 1981.

17
ZERZAN, John. Op. cit. p. 9.

18
SLOTERDIJK, Peter. Esferas 1. Barcelona, Ediciones Siruela, 2017; SLOTERDIJK, Peter. Esferas 2. Barcelona, Ediciones Siruela, 2017; SLOTERDIJK, Peter. Esferas 3. Barcelona, Ediciones Siruela, 2018.

19
FUÃO, Fernando Freitas. Celu-Lares. Pixo. Revista de Arquitetura, Cidade e Contemporaneidade, n. 18, v. 5, 2021, p. 258-261 <https://bit.ly/3Xseut9>.

20
INGOLD, Tim. Estar Vivo, ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petropólis, Vozes, 2011.

21
FOUCAULT, Michel. História da loucura na Idade Clássica. São Paulo, Perspectiva, 2000.

22
VIECELI, Ana Paula. Lugares da Loucura, arquitetura e cidade no encontro com a diferença. Dissertação de mestrado. Porto Alegre, Propar UFRGS, 2014.

23
FUÃO, Fernando Freitas. Op. cit.

24
O ato de linguagem se realiza também na prática de dar nomes. Nomear é dar um “nomos”, isto é, dar uma lei ao nomeado, uma herança. O nome designa o lugar e os movimentos inerentes a este lugar. O lugar designado é o “domus”, neste sentido, o processo de nomeação também é um ato domesticador, o ato de linguagem é sempre domesticador, isto é parte do âmbito doméstico, a casa.

25
DELEUZE, Gilles. A Lógica dos sentidos. 4ª edição. São Paulo, Perspectiva, 2000.

sobre o autor

Fernando Freitas Fuão é arquiteto, doutor pela Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona com a tese Arquitectura como collage, 1992. Atualmente é professor na Faculdade de Arquitetura e no Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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