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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O texto apresentado trata da experiência do Projeto Cidade que Brinca, realizado entre 2015 e 2017, que teve como objetivo pensar e fazer uma cidade mais acolhedora junto com as crianças moradoras do Glicério, seus desdobramentos e possíveis aprendizados.

english
The text presents the Cidade que Brinca Project (The City Who Plays), carried out between 2015 to 2017, wich aimed to think and make a better and more welcoming city with the children living in the Glicério neighborhood in the São Paulo downtown.

español
El texto trata sobre la experiencia del Proyecto Cidade que Brinca (la Ciudad que Brinca), realizado entre 2015 y 2017, que tuvo como objetivo pensar y hacer una ciudad más acogedora junto a los niños que viven en Glicério.


how to quote

MOURA, Rodrigo de. Cidade que Brinca. Processos de projeto e ação com crianças. Arquitextos, São Paulo, ano 24, n. 277.03, Vitruvius, jun. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/24.277/8817>.

Considerações iniciais

Este trabalho centra sua atenção nas ações, desdobramentos e possíveis aprendizados do Projeto Cidade que Brinca realizado entre 2015 e 2017, no Glicério, região central da cidade de São Paulo, liderado pela Criacidade — organização de impacto social. O Cidade que Brinca se origina das ações do Projeto Criança Fala, de autoria da mesma organização. O Projeto Criança Fala nasce como um conjunto de ações de escuta e participação das crianças na vida social e política de suas comunidades, resultando em uma metodologia própria baseada no brincar.

Em 2015, com a consolidação do Projeto Criança Fala no Glicério e maior investimento de financiadores, surge a demanda de ações no espaço público com maior perenidade e escala. Com o auxílio de profissionais e estudantes de arquitetura e urbanismo, a metodologia de escuta e participação das crianças ganha novos contornos, dando origem ao Projeto Cidade que Brinca: estratégia de projeto e intervenção com crianças nas cidades. O Cidade que Brinca teve como horizonte pensar e fazer uma cidade mais acolhedora e adequada para o desenvolvimento integral das crianças, garantindo sua real participação neste processo.

A mobilização e colaboração de um grande número de agentes públicos e privados ações foi determinante para sua realização. A equipe do projeto variou ao longo dos dois anos de implementação contando com aproximadamente dez membros contratados, quarenta estudantes de arquitetura voluntários de diversas partes do país, além de dezenas de pessoas voluntárias de dentro e fora da comunidade.

Uma vez que o Cidade que Brinca e o Projeto Criança Fala ocorreram simultaneamente num mesmo território, é possível que as ações de ambos os projetos se misturem tanto nos relatos, quanto nos registros documentais e dados, sendo possível descrever, grosso modo, que ambos os projetos são faces diferentes de uma mesma geometria de atuação. Assim, desde 2013 cerca de 1.200 crianças moradoras do Glicério (1) estiveram envolvidas nas ações dos projetos. Neste trabalho, o foco é escrever e analisar as ações relacionadas especificamente do Cidade que Brinca tendo em vista sua interface com a transformação dos espaços públicos e suas contribuições para a participação das crianças em projetos urbanos.

Sobre o Glicério

O processo de transformação do povoamento construído a partir da colonização de povos originários no século 16 até a condição de metrópole global de São Paulo passou (e passa) por complexos movimentos de disputa e contradição. A compreensão mais íntima dessa trajetória, depende do abandono a ideia do progresso positivista.

Graças à expansão da cafeicultura no interior do estado e a implantação da ferrovia que ligava as fazendas ao Porto de Santos que esse núcleo urbano ganha maior importância num âmbito regional (2). Porém, somente na segunda metade do século 20 que São Paulo se transformará na metrópole que conhecemos hoje.

Os rios Tamanduateí e Anhangabaú, ambos canalizados atualmente, definem os contornos da colina sobre a qual a cidade é fundada. No século 19, o crescimento da cidade privilegiou as terras à oeste da cidade na direção do Anhangabaú, sendo a Várzea do Carmo, às margens do Tamanduateí, sede de atividades ligadas a reprodução da vida como a criação de animais, lavagem das roupas ou mesmo o despejo de lixo. Neste momento, também era do Tamanduateí que, contraditoriamente, vinha grande parte do abastecimento de água da cidade, sendo as terras à leste do centro predominantemente ocupadas por chácaras, o que viria a mudar no início do século seguinte (3).

As obras iniciadas pela gestão de João Teodoro na década de 1870 na região tinham como objetivo tornar mais atrativas as terras ali presentes para as indústrias que viriam ocupar a orla da ferrovia e margem do Rio Tamanduateí (4). Junto com os galpões industriais que se estenderiam para a outra margem do rio em bairros como Brás, Belém e Penha, surgem as habitações para famílias trabalhadoras das fábricas. Assim, a ocupação à leste do centro seria essencialmente orientada pela Indústria e vilas operárias, um território designado para abrigar o trabalho e seus trabalhadores.

A transição da economia baseada na agricultura para uma economia da indústria, e posteriormente de serviços, iniciada no final do século 19 veio acompanhada da abolição legal da escravização de pessoas no Brasil e um aumento da demanda por trabalhadores livres, em especial imigrantes europeus (alinhado a um movimento de embranquecimento da população brasileira pós Lei Áurea). A migração e imigração na região iniciada neste período veio a se tornar uma realidade de todas as épocas (5).

Desde muito cedo, a Várzea do Carmo é marginalizada em muitos sentidos — seja espacial, geográfico, social… — perante o restante da cidade. Mesmo que hoje esteja espacialmente localizada na centralidade urbana, sua condição social permanece na periferia. A pungente industrialização que fez de São Paulo uma gigante não trouxe prosperidade equivalente aos trabalhadores que contribuíram para que o tal progresso fosse possível. O processo de modernização excludente descrito por Ermínia Maricato, baseado na exploração da força de trabalho com baixos salários e longas jornadas de trabalho para maximização dos lucros, ilustra como uma das maiores e mais ricas cidades da América Latina é capaz de abrigar gigantesca desigualdade (6). Um reflexo disso é a grande concentração de dos cortiços (7) no centro de São Paulo ao mesmo tempo que nas terras à oeste existe uma das maiores concentrações de renda do país como os famosos bairros jardim implementados pela Cia. City no início do século 20, como Jardim Paulista, Jardim América, Jardim Europa ou mesmo Higienópolis (empreendimento um pouco anterior com iniciativa de Buchard e Nothmann como alternativa aos Campos Elíseos) ainda na região central. Entretanto, na própria Várzea do Carmo, é importante o destaque para um lugar (8): o Glicério.

A tentativa de definir o Glicério como bairro ou região se mostra esforço sísifo. O Glicério acontece na Várzea do Carmo entre os distritos da Sé e da Liberdade. Como propõe Souza: “O Glicério é somente o Glicério, uma realidade diversa, inserido em um contexto próprio, em um local que traz em suas vias e vielas o peso da negligência, das marcas do tempo, da injustiça e da violência” (9).

Localização do Glicério na região central de São Paulo (em destaque) e demais municípios vizinhos
Elaboração Rodrigo de Moura

Como uma espécie de enclave urbano que não possui muros (ao menos não existem fronteiras físicas bem definidas) há de se considerar certa condição de invisibilidade do Glicério a qual podemos aproximar daquela descrita por Peter Anton Zoettl, ao se referir ao bairro 6 de Maio em Lisboa: “desvia-se o olhar desses bairros, e mantem-se o maior afastamento possível — a não ser que a televisão e os jornais tragam imagens de violência e tráfico de droga para a sala de estar do cidadão que, dessa forma, podem ser apreciadas à distância e em segurança” (10).

A violência e violação de direitos se tornam espetáculo para quem está fora dali. Numa espécie de voyeurismo crônico (11) onde pouco interessam as subjetividades e só restam imagens estereotipadas vazias. As imagens construídas pela Mídia hegemônica é elemento de dominação na disputa pelo território (12). Em outras palavras, como se a realidade vivida ali pudesse ser determinada a posteriori por quem observa de fora e não por quem a vive. A invisibilidade e o silenciamento são as bases sobre as quais crescem outras formas de violência aqui estabelecidas e serão fatores essenciais no aprofundamento da negligência do Estado e da sociedade civil para com o Glicério e seus moradores.

Contudo, o Glicério não pode ser descrito ou percebido apenas nos termos da invisibilidade ou mesmo uma negatividade em relação ao restante da cidade. Ao caminhar por suas ruas é possível ver a diversidade cultural presente em suas esquinas e nos gestos de cada pessoa. Há contradição e complexidade no lugar que, ao mesmo tempo, é marginalizado por certa coletividade, mas também oferece o acolhimento de diferenças culturais, sem que isso ignore os conflitos nesta interação. Haitianos, bolivianos, paraguaios, venezuelanos, brasileiros de todas as regiões… o Glicério se firma como lugar de chegada daqueles que vem em busca de esperança e possibilidade de vida na metrópole paulistana.

Neste ponto é fundamental afirmar: no Glicério existem crianças. Essa população é pouco ou nunca lembrada nas narrativas da história urbana, porém isso vem mudando nos últimos anos (13).

As crianças na cidade

A noção da criança como sujeito de direito específico é recente. Datam do século 20 os primeiros mecanismos legais de proteção e garantia de pleno desenvolvimento das crianças que, até então, desde muito pequenas trabalhavam como adultas de menor potencial produtivo (14). No Brasil, os marcos mais importantes nessa direção se darão com o Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA (Lei Federal n. 8.069/1990) e, mais recentemente, com o Marco Legal da Primeira Infância — MLPI (Lei Federal n. 13.257/2016). Ainda que sejam locais, há avanços na direção da garantia do seu direito à cidade. Embora não haja menção direta às crianças no Estatuto da Cidade (Lei Federal n. 10.257/2001), que trata especificamente da política urbana no país, nos últimos anos, em decorrência do MLPI, vêm sendo estabelecidos os Planos Municipais da Primeira Infância — PMPI com menções à presença das crianças na cidade. Um exemplo é o caso da cidade de São Paulo que prevê sua participação na gestão urbana (Lei Municipal n. 16.710/2017 com caderno de orientações publicado em 2018).

Mesmo com avanços no campo do direito, hoje a cidade ainda é pensada e construída para o homem adulto, apto ao trabalho e gerador de riqueza (15). Somente no município de São Paulo vivem aproximadamente de 1,8 milhões de crianças, o que corresponde a cerca de 16% de toda a sua população (16). Mas onde estão as crianças na cidade!? Dispersa nos espaços públicos, sua presença está condicionada ao domínio do privado, seja da casa ou das instituições escolares onde passam a maior parte de seu tempo com atividades programadas e sob constante vigilância de adultos, não apenas como forma de cuidado, mas para a garantia de um certo modelo de desenvolvimento. Infelizmente, ainda é possível fazer uma aproximação bastante preocupante entre a arquitetura escolar contemporânea e a estrutura do panóptico apresentada por Michel Foucault (17) para descrever as prisões — talvez os espaços sejam apenas um pouco mais coloridos. Embora haja exceções, o modelo dominante das edificações escolares é bastante semelhante ao modelo penitenciário: do pátio às salas de aula. Ver crianças reunidas fora desse contexto é bastante raro, como se a sua presença no espaço público não lhes fosse direito, mas condicionada a certa benevolência dos adultos.

A permissão da presença das crianças na cidade está bastante ligada ao ensino ou entretenimento, geralmente numa dimensão separada, onde não atrapalhem as atividades economicamente produtivas exercidas pelos adultos e, ao mesmo tempo, consumam algum tipo de bem ou serviço. A ideia importada do norte global do playground, um local delimitado para o brincar, assim como qualquer tarefa da cidade funcionalista, ainda é bastante presente ao pensar na relação criança-arquitetura. O diferencial está presente na maioria dos novos condomínios residenciais. Estejam elas mais ou menos assistidas quanto a seus cuidados físicos, as crianças brasileiras vivem uma condição de silenciamento e exclusão.

Assim, seria possível concluir que a cidade é um espaço hostil onde as crianças vivem mal (18). Onde não é possível que exerçam o livre brincar, sua criatividade, sua curiosidade, as habilidades de lidar com as diferenças que o espaço urbano demanda ou mesmo do desenvolvimento da noção de responsabilidade coletiva que não é contratual, mas inerente à civilidade (19). Mas será que esse é o único modelo urbano possível?

Para Manuel Sarmento (20), conhecer as crianças é decisivo para compreender as contradições complexidades de nossa sociedade bem como é condição necessária para a construção de melhores políticas públicas que levem em conta sua maneira própria de ser e estar no mundo. Desta forma, um primeiro passo para a melhoria da vida das crianças na cidade parte de uma escuta ativa e interessada, garantindo sua participação nas decisões que constroem o espaço urbano trilhando o caminho de uma real cidadania.

Brincar para construir a cidade

Existem tantas definições para o brincar quanto formas de se brincar, porém, a proposta de Donald Woods Winnicott (21) é extremamente útil para observar alguns fenômenos aqui discutidos. Segundo o autor, o fenômeno do brincar não estaria nem dentro (em nenhum sentido do termo) tampouco fora de nós. O brincar é um fazer que transita entre as duas instâncias, ora mais numa direção, ora noutra. Um espaço de transição entre o real e a fantasia. Para o psicólogo, “é no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto têm liberdade para serem criativos”, sendo a apreciação criativa caminho de construção de sentido para a vida vivida.

Há uma cobrança cada vez maior por adultos dinâmicos, criativos, com boas capacidades de relacionamento interpessoal, porém todas essas habilidades normalmente desenvolvidas durante a fase criança é tolhida por um grande controle de seu tempo e livre expressão. Todo o tempo livre para o pleno desenvolvimento da criatividade foi tomado das crianças (22).

Nas cidades, há pouco espaço para a criatividade que não seja destinada a geração de riqueza. Na cidade que não brinca “a cultura se transformou em algum gênero de mercadoria” (23) e, dentro dessa lógica, certos tipos de manifestações culturais têm mais ou menos valor de negociação dentro do sistema do que outros. O brincar programado, definido, delimitado e comercializável será o protagonista em detrimento da garantia de liberdade das crianças para agir no espaço onde estão, da maneira que lhes for mais atraente.

Se considerarmos como o comportamento do ambiente é de vital importância para o desenvolvimento dos indivíduos (24), uma cidade que nega a existencia de suas crianças se apresenta como desafio para a formação das mesmas. Ora, se nossas cidades não são capazes de oferecer espaços para o livre exercício do brincar e, consequentemente, da criatividade, como esperar que seus habitantes possam viver plena e criativamente!? Isso parece, no mínimo, incoerente.

O Glicério por suas crianças

A condição de negligência e inadequação ambiental em que vivem as crianças nos espaços da cidade é vivida de maneira mais intensa no Glicério, onde suas moradoras vivem situações de vulnerabilidade para além do contexto macro. A violação de direitos humanos faz parte do cotidiano. Como aponta Luiz Kohara, a precariedade das habitações, falta de saneamento, limitação da privacidade, o risco de violência ou envolvimento em situações ilícitas, bastante presente nos cortiços, têm um impacto negativo direto em no desenvolvimento das crianças (25). A violência e a desigualdade são, de fato, dimensões bastante concretas na experiência das crianças moradoras do Glicério, entretanto, privilegiar essa narrativa é apenas fazer coro ao estereótipo já mencionado. Assim, para compreender certos atravessamentos da experiências das crianças aqui, o mais pertinente seria partir de uma escuta atenta e direta de seus relatos.

A escuta — inteira e sinestésica, não apenas com os ouvidos — pode ser o meio mais potente para a construção de uma cidade mais justa e democrática para todas as pessoas. É através dela que novas possibilidades de ver e sentir o mundo podem emergir. A cidade que brinca é também aquela que escuta e educa. De acordo com Paulo Freire, “o educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele” (26). Escutar verdadeiramente é também correr o risco de se transformar completamente na experiência com os outros.

A princípio, o Projeto Cidade que Brinca tem origem num desdobramento da metodologia de escuta baseada no brincar do Projeto Criança Fala. Como ponto de partida, em 2015, foi realizado um mapeamento afetivo junto com um grupo de crianças que já participava das ações do Projeto Criança Fala anteriormente nas ruas Glicério e Sinimbu. O objetivo deste levantamento foi de trazer emoções, sentimentos, desejos, medos e falas das crianças e apresenta-los aos adultos dali e de fora. Um exercício de olhar para si, para os outros e para o lugar onde se estava.

O mapeamento ocorreu em três etapas em dias e locais distintos: 1. Passeio guiado por um grupo de crianças, onde poderiam contar suas histórias e apresentar suas visões para os adultos forasteiros; 2. Desenhos individuais do percurso realizado, além de elementos importantes que não tivessem sido vistos na visita anterior; 3. Mapa desenhado de maneira coletiva que posteriormente foi reinterpretado por adultos. Os desenhos, falas e alguns textos elaborados por pessoas próximas ao projeto deram origem a uma publicação chamada “O Glicério por suas Crianças”, amplamente distribuído tanto localmente como em outras cidades do país e do mundo (27).

O desenho, mais do que mera representação, é uma criação inteiramente nova que traz consigo um tanto da subjetividade de quem o produz. Segundo Rodrigo Moura, “todos deveriam desenhar o espaço que vivem. Pois quem desenha procura entender muito intimamente o objeto (ou ser) a ser reproduzido, e assim o entende melhor” (28).

Falas presentes na publicação citada como “minha casa é branca, mas vou pintar de rosa” de Thalia (seis anos) são bastante importantes para pensar o desenho para além de uma representação do objeto observado, mas como uma abertura para o universo sensível e mnemônico da interlocutora. Mesmo morando em uma pensão com várias famílias (cada família em um quarto) a autora do desenho destaca sua casa dentre as demais com sua cor predileta, já o mapa de Thiffany (nove anos), sua irmã, conecta os pontos de interesse como uma espécie de diagrama-labirinto (29). Embora não possamos ignorar que o ato de desenhar não depende apenas do desejo do sujeito, mas também de certas habilidades técnicas que vão sendo aprimoradas com a idade, prática ou mesmo ensino especializado, o desenho das crianças contém muito mais do que as linhas visíveis (30). Cada mapa, acompanhado das falas de quem o produz, é uma possibilidade de brincar com a cidade, como uma janela para um mundo inteiramente novo. Os desenhos aqui têm um papel muito maior do que de mera representação, mas se estabelecem como ato criador de certa realidade.

A partir do mapeamento, do constante diálogo com a comunidade e de estudos complementares foi estabelecida a estratégia de ação do Projeto Cidade que Brinca no ano seguinte que consistiu tanto em intervenções físicas quanto de uso e ocupação dos espaços públicos do Glicério.

Ações articuladas em rede

A realização de projetos públicos no espaço urbano demanda o engajamento de diversos atores com interesses bastante específicos e muitas vezes opostos. O fazer urbano, seja ele em escala local ou metropolitana, é um fazer coletivo e depende do encontro dos diferentes em prol de certos objetivos comuns. Embora iniciativas da sociedade civil sejam bem-vindas e tenham grande potencial de inovação, o Estado não pode ser excluído da tomada de decisões e, preferencialmente, deve estar envolvido em algum nível durante sua implementação.

A articulação política foi determinante para que uma organização privada pudesse atuar no espaço público e atingir determinados resultados. Durante a gestão de Fernando Haddad na prefeitura do município, foi implementada a São Paulo Carinhosa, espécie de secretaria especial com o objetivo de coordenar ações entre órgãos públicos direcionadas para a primeira, infância inspirada no modelo do Brasil Carinhoso (31). A São Paulo Carinhosa foi a principal interlocutora do Projeto Cidade que Brinca com a gestão pública, oferecendo a possibilidade de diálogo entre seus múltiplos setores e secretarias do governo.

O Projeto Criança Fala já havia realizado uma experiência de projeto participativo em 2014 junto com o Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, onde a Criacidade ofereceu oficinas de sua metodologia para alunas e alunos de graduação em arquitetura e urbanismo para que assim pudessem elaborar um projeto junto com as crianças do Glicério de requalificação da praça Luiz de Mello Malheiro, que foi apresentado à prefeitura para sua realização em parceria com a então São Paulo Urbanismo. Embora a etapa de possa ser considerada bem-sucedida, até a data deste texto não teve sua construção realizada. Este processo serviu como modelo para a atuação do Projeto Cidade que Brinca no ano seguinte.

Mapa de intervenções com destaque para instituições parceiras do CB e a Praça Luiz de Mello Malheiro
Elaboração Rodrigo de Moura

O projeto teve financiamento da Bernard Van Leer Foundation, instituição neerlandesa de defesa dos direitos das crianças. Também recebeu apoio do setor privado na figura da Akozonobel (Tintas Coral), organizações não-governamentais como Unicef, Aldeias Infantis SOS Brasil, Instituto C&A, além uma rede de empresas, entidades e pessoas físicas em menor escala. Além disso, por conta da articulação com a São Paulo Carinhosa, pôde atrair investimentos da prefeitura no Glicério. Deste modo, é possível atribuir a viabilidade do Projeto Cidade que Brinca a um trabalho de articulação de uma rede ampla de pessoas, instituições, agentes privados e públicos em sua realização. A mobilização de diversos setores em prol de um eixo de atuação de defesa dos direitos das crianças contribuiu para que as ações do projeto pudessem causar um impacto mais significativo e durável na região.

Além dos agentes financiadores, o projeto mobilizou uma rede de moradores (que se uniram em um coletivo chamado Glicério pela Vida), educadores, famílias, instituições, artistas, voluntários e tantos outros interessados, seja na ocupação quanto na intervenção física no espaço. A criação de um ambiente favorável para intervenções só foi possível por conta desse trabalho de construção de pontes ao qual podemos atribuir maior sucesso das intervenções do Projeto Cidade que Brinca em relação a intervenção na praça. Podemos atribuir tal acerto ao fato de haver mais parcerias estratégicas, pontos de apoio, para que o projeto pudesse seguir acontecendo.

Por fim, mesmo com a presença da diversidade, o projeto foi liderado, e fortemente orientado, pela ação de mulheres, sendo esse grupo o mais importante na realização do Projeto Cidade que Brinca. Como principais responsáveis pela rede de cuidado e garantia de direitos das crianças (mães, tias, avós, professoras, agentes de saúde…) sua ação e acolhimento das ideias foram fatores essenciais, seja no planejamento ou realização das intervenções realizadas. Portanto, falar de uma maior participação das crianças no espaço urbano é também falar de uma maior participação das mulheres na elaboração de políticas públicas e tomada de decisão relativas à política urbana, sempre tendo em vista a defesa dos direitos humanos e respeito à diversidade.

Ocupação e intervenção nos espaços

Em acordo com as propostas do arquiteto italiano Francesco Careri, é possível entender o caminhar pela cidade como um ato político-estético (32). Porém não se fala de um caminhar qualquer, mas uma possibilidade viva de estar na cidade com o próprio corpo (33). A garantia do livre ir e vir descrita na Constituição Federal de 1988 está cada vez mais restrita por conta de uma ampla privatização dos espaços públicos em prol do capital privado. “A liberdade de mover-nos, de arriscar-nos vem sendo submetida a uma certa padronização de fórmulas de maneiras de ser, em relação às quais somos avaliados” (34). Hoje os percursos das crianças nas cidades estão restritos a seus trajetos diários entre suas casas, a escola ou espaços de entretenimento programado.

Nessa direção, os primeiros movimentos de intervenção do Glicério se deram pela ocupação dos espaços públicos pelo brincar. O trabalho de uma equipe multidisciplinar de educadoras e educadores foi determinante para o sucesso das ações. Brincadeiras nas ruas, eventos aos finais de semana e o esquema de mutirões de pintura em pequena escala tinham como objetivo, além da garantia do direito de brincar, tornar visíveis as crianças fora do espaço-tempo escolar ou das casas num primeiro momento. Visíveis não apenas como meros sujeitos passivos do ritmo do trabalho imposto pela vida urbana capitalista, mas como protagonistas de suas próprias vidas e suas próprias histórias. As possibilidades do brincar na rua permitiram mais do que a possibilidade de as crianças serem vistas por quem passava, mas também de poder olhar de volta para quem as observava.

Iniciados com um pequeno grupo de crianças, foram realizados diversos cortejos maracatu. Em suas últimas edições, cerca de dois anos depois do primeiro cortejo, cada manifestação contava com centenas de crianças percorrendo as ruas e avenidas das imediações cantando e tocando instrumentos (35). A reação das pessoas ao se deparar com aquele grande número de crianças reunidas fora da escola, em um espaço normalmente destinado aos carros, demonstrou quão revolucionária pode ser a reunião das crianças no espaço público. Uma cidade que brinca deve aprender a perder tempo e sair deliberadamente de um espaço funcional-produtivo e se abrir às possibilidades que o ambiente proporciona e isso depende de uma visão que supere a lógica estritamente produtiva do sistema econômico vigente (36).

Cortejo de Maracatu realizado na Rua dos Estudantes em 2016
Foto Rodrigo de Moura

Cortejo de Maracatu realizado na Rua Sinimbu em 2016
Foto Rodrigo de Moura

Junto com as ações de ocupação, foi realizado um conjunto de intervenções nos espaços públicos, em ruas sem saída das vilas operárias remanescentes no Glicério com a intenção de criar uma espécie de circuito lúdico que atravessava o bairro. Três ruas sem saída, o entorno da Emef Duque de Caxias, maior escola da região (edifício que originalmente abrigava uma delegacia de polícia e posteriormente convertida em escola) e, mais tarde, os entornos do CEI Quintal da Criança e da Emei Alberto de Oliveira, foram os locais eleitos para a implantação dos pontos estruturantes do circuito lúdico. Além da visibilidade dos pensamentos e sentimentos das crianças a qualificação destes locais também contribuiu para a criação de mais locais seguros para brincar fora dos espaços reduzidos e inadequados de suas casas.

Considerando a escada descrita por Roger Hart como indicador, ao longo da realização do projeto diversos níveis reais de participação foram atingidos. Ora no campo da atribuição informação (quarto degrau), ora no campo do apoio a iniciativas das próprias crianças (sétimo degrau), passando desde a elaboração de desenhos de intervenções, atividades de pintura e construção diretas ou mesmo brincadeiras nos espaços em transformação (37). Isso se deu pela ação constante das educadoras e educadores junto às crianças e da rede de apoio local. A qualidade da participação dos grupos estava diretamente ligada ao tipo de vínculo estabelecido ao longo do processo.

Cada intervenção tinha seu início em oficinas de escuta com as crianças seguindo para o projeto arquitetônico, articulação dos agentes envolvidos, mutirões de pintura, implementação de mobiliário urbano e no último dia, celebração com uma atividade cultural, musical ou performática, como rito de encerramento de um processo. Os eventos contavam com dezenas de crianças, voluntários da comunidade, voluntários de fora da comunidade (em especial estudantes de arquitetura de diferentes universidades do Brasil), além de dezenas de artistas do grafite.

Houve colaboração da prefeitura na instalação de lixeiras, ações de zeladoria, autorizações para a realização de eventos nas ruas e a facilitação do diálogo das instituições públicas (escolas e Unidades Básicas de Saúde — UBS). Além disso, a inclusão do Glicério no circuito da Viradinha Cultural (38) foi de especial importância na potencialização da ocupação dos espaços públicos e contato da população local com experiências culturais de outros lugares.

“O fim, onde começa algo novo”

Este é o título do último capítulo de Momo e o senhor do Tempo, de Michael Ende. O livro publicado em 1973 conta a história da menina Momo que vai em busca do tempo roubado das pessoas pelos homens cinzentos (39). A história contada por Ende é uma bonita metáfora de como as crianças estão conectadas com um “tempo que mora no coração” e como esse olhar curioso e interessado pelo mundo pode inspirar os adultos a olhar a vida com mais gentileza.

O projeto vislumbrou uma cidade onde não só as crianças existam, mas também possam ser protagonistas, ao oferecer oportunidades para que experiências significativas com e no espaço público pudessem ocorrer. Onde espaços vagos (40) pudessem se converter lugares. Entretanto com o fim de suas ações no início de 2017 ficam claras certas limitações dos projetos dessa natureza e dos desafios que iniciativas futuras deverão enfrentar frontalmente.

Em visita cerca de um ano após o encerramento das ações do projeto, as crianças ainda brincavam nas ruas coloridas. Mas sem atividades frequentes e mobilizadas coletivamente pela comunidade, somadas à complexidade socioambiental do contexto do Glicério, não foi possível notar a mesma intensidade e engajamento de quando as educadoras e educadores do Projeto Cidade que Brinca estavam presentes no dia-a-dia. Sem uma rede de apoio adequada, as crianças exerciam o poder que lhes era possível para resistir à dureza do cotidiano. Uma vez vislumbradas as possibilidades de outras maneiras de ser e estar no mundo de maneira livre é difícil retroceder. O desejo de continuar o movimento iniciado permanecia ali, do mesmo modo que a cobrança por agentes articuladores também se fazia presente de maneira urgente. No movimento de saída do Glicério, o projeto não pôde fortalecer figuras de liderança da própria comunidade de maneira adequada, o que enfraqueceu a continuidade das ações realizadas anteriormente. Cabe frisar o caráter interdisciplinar de intervenções urbanas e o como profissionais de arquitetura e urbanismo devem manter um constante diálogo com diferentes disciplinas para a que iniciativas desta natureza tenham um impacto mais positivo e duradouro.

Contudo, a relação construída junto com a rede de profissionais das instituições escolares, saúde e assistência social locais, que já atuavam antes da chegada do projeto e lá permaneceram após sua saída, foi um ganho importante para o Glicério. A possibilidade de trabalharem juntas e utilizar os recursos disponíveis entre si para realizar ações se manteve de maneira bastante interessante. Pouco antes da pandemia de Covid-19, fenômeno que demonstrou quão inapta é a cidade neoliberal para cuidar das pessoas que nela vivem, era possível ver cortejos de maracatu organizados pelas escolas com dezenas de crianças de caminhando pelas calçadas da rua do Glicério ou mesmo as aulas públicas ministradas por professoras(es) das diferentes instituições presentes no território tanto nos espaços transformados, quanto nas rotas entre eles.

Neste ponto, é válido o retorno às propostas de Winnicott onde “é necessário um ambiente facilitador para que os processos de amadurecimento do indivíduo se concretizem” (41). Para o autor, os cuidados recebidos nos primeiros momentos da vida humanos são determinantes para o seu pleno desenvolvimento. Em sua teoria, o conceito de “mãe suficientemente boa” — amplo o suficiente para incluir qualquer cuidadora(o) humana(o) independentemente de seu gênero — trata de alguém capaz de oferecer as condições necessárias para que o bebê possa descobrir si mesmo, o mundo e avançar da condição de dependência absoluta até certa independência nunca alcançada de fato (42).

Como proposta aberta e em construção: qual seria a cidade suficientemente boa para o desenvolvimento das pessoas em suas diferentes etapas de vida? Ou ainda, existe um modelo único de cidade que seja suficientemente bom para todos os grupos? Quais seriam os parâmetros para pensar nessa rede de cuidado e preservação da vida? A análise apresentada até aqui, têm seus limites bastante definidos e não se propõe a dar conta de todas essas questões. Porém, é possível concluir que uma cidade que não considere as crianças livres para ser e brincar em seus espaços, não será adequada para o pleno desenvolvimento de ninguém. Logo, se faz necessário o esforço coletivo da sociedade civil e Estado para que as políticas públicas existentes sejam devidamente implementadas e aprimoradas, incluindo a participação das crianças na vida urbana como um direito e uma realidade.

Portanto, as ações realizadas pelo projeto reverberam tanto dentro quanto fora do Glicério como exemplo concreto dessa “cidade que brinca” ao demonstrar que “a atividade individual e coletiva não apenas transforma o ambiente, mas, dialeticamente, ao fazê-lo, cria formas específicas pelas quais o ambiente é apropriado” (43), além de oferecer modelos de atuação para outros contextos. Assim, por mais que as intervenções físicas sejam o elemento mais “palpável” do Projeto Cidade que Brinca, este não é o maior legado dessa experiência, mas sim a demonstração de que é possível realizar uma cidade junto com as crianças.

notas

1
Crianças transformam o bairro do Glicério, em São Paulo. Idis, São Paulo, 30 mar. 2017 <https://tinyurl.com/4w6fhmuy>.

2
REIS, Nestor Goulart. São Paulo: vila cidade metrópole. São Paulo, Via das Letras, 2004.

3
MEYER, Regina; GROSTEIN, Marta. A Leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010, p. 82–93.

4
SOUZA, Paula. Glicério: lugar de todos, terra de ninguém. Artigo de Iniciação Científica. São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2016, p. 16.

5
SOUZA, Paula. 2016. Op. cit., p. 20.

6
MARICATO, Ermínia. Metrópole na periferia do capitalismo: ilegalidade desiguladade e violência. São Paulo, Hucitec, 1996, p. 21.

7
Conforme a Lei Municipal n. 10.928 “Define-se cortiço como a unidade usada como moradia coletiva multifamiliar, apresentando, total ou parcialmente, as seguintes características: constituída por uma ou mais edificações construídas em lote urbano; subdividida em vários cômodos alugados, subalugados ou cedidos a qualquer título; várias funções exercidas no mesmo cômodo; acesso e uso comum dos espaços não edificados e instalações sanitárias; circulação e infraestrutura, no geral precárias; superlotação de pessoas”. Muitas vezes seus moradores descrevem suas casas como pensões. Aqui os dois termos serão usados como sinônimos.

8
Ver conceito de lugar como centro de significado em TUAN, Yi-Fu. Lugar: uma perspectiva experiencial. Geograficidade, vol. 8, n. 1, 2018, p. 5.

9
SOUZA, Paula. Op. cit., p. 6.

10
ZOETTL, Peter Anton. Ver e ser visto. O poder do olhar e do olhar de volta. Sociologias, n. 34, Porto Alegre, p. 6.

11
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo, Companhia das Letras, 2011.

12
ZOETTL, Peter Anton. Op. cit.

13
Diversas ações com crianças no âmbito da arquitetura e do urbanismo vem sendo publicadas nos últimos anos a partir do reconhecimento da ausência de sua participação. Com abordagens e métodos distintos, há uma série de perspectivas com maior e menor sucesso em sua implementação, valendo citar: MOURA, Rodrigo de et al. O Glicério por suas Crianças. São Paulo, Criacidade, 2015; BRAGA, Juliana Martins; FREIRAS, Veronica. Cartilha da cidade. In: SILVA, Alexandre R. N., BORIOLLO, Beatriz C (org.). Quando os olhos se abrem: educação infantil em contexto. São Carlos, Pedro e João Editores, 2020; LOEB, Rodrigo Mindlin, LIMA, Ana Gabriela Godinho (org.). Cidade, gênero e infância. São Paulo, Romano Guerra, 2022. Além do conjunto de experiências e manuais da iniciativa Urban95 <https://tinyurl.com/bdh47h2u>.

14
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro, LTC, 2014.

15
TONUCCI, Francesco. La ciudad de los niños: ¿Por qué necesitamos de los niños para salvar las ciudades? Agencia Mexicana de Cooperación Internacional para el desarrollo, Ciudad de Mexico, 2019 <https://tinyurl.com/mwnbv9h6>.

16
Dados obtidos através do Sidra IBGE com base no Censo 2010, tendo em vista o período de realização do projeto, considerando pessoas de zero a onze anos, sendo a população total do município de 11.253.503 pessoas. Ainda segundo a mesma base de dados, em 2020 São Paulo tinha uma população residente estimada de 12.325.232 pessoas, apresentando uma tendência de crescimento.

17
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 2013.

18
TONUCCI, Francesco. Op. cit.

19
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2013.

20
SARMENTO, Manuel. As culturas da infância nas Encruzilhadas da 2ª Modernidade. Braga, Instituto de Estudos da Criança Universidade do Minho, 2002.

21
WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade. São Paulo, Ubu, 2019, p. 74–108.

22
TONUCCI, Francesco. Op. cit.

23
HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo, Annablume, 2005, p. 219.

24
WINNICOTT, Donald Woods. Os bebês e suas mães. São Paulo, Martins Fontes, 1999; WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade (op. cit.).

25
KOHARA, Luiz. Relação entre as condições da moradia e o desempenho escolar: estudo com crianças residentes em cortiços. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2009.

26
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 60ª edição. Rio de Janeiro, Paz & Terra, 2019.

27
MOURA, Rodrigo. O Glicério por suas crianças. São Paulo, Criacidade, 2015. Foram impressos quatro mil exemplares da publicação, distribuídos gratuitamente no Brasil e outros países como Colômbia e Portugal.

28
Idem, ibidem, p. 13.

29
Idem, ibidem, p. 23–25.

30
COX, Maureen. Desenho da criança. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2012.

31
Programa do governo federal que criado em 2012, durante a gestão da presidenta Dilma Roussef, a fim de possibilitar a transferência direta de recursos financeiros para primeira infância. Desde sua criação, o programa vem tendo seu orçamento reduzido hoje sendo sua implementação objetivamente inviável.

32
CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo, Gustavo Gili, 2013.

33
Ver o conceito de Corpografia em JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, n. 093.07, fev. 2008 <https://tinyurl.com/y6bscb6j>.

34
FREIRE, Paulo. Op. cit., p. 71.

35
Público estimado com base em observações locais no Glicério, fotos e imagens divulgadas.

36
“Quem perde tempo ganha espaço”. CARERI, Francesco. Op. cit., p. 171.

37
HART, Roger. Children's Participation: from Tokenism to Citizenship. Florence, Unicef, 1992, p. 8.

38
Inspirada na Virada Cultural, evento anual realizado pela prefeitura com shows e ações pela cidade durante vinte e quatro horas seguidas, porém com ações voltadas peara o brincar durante o dia.

39
ENDE, Michael. Momo e o Senhor do Tempo. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2019.

40
Em alusão ao conceito de terrain vague descrito por SOLÁ-MORALES, Ignasi. Territorios. Barcelona, GG, 2002, p. 181–193. Não confundir com a ideia de não-lugar proposta por AUGÉ, Marc. Não Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 2012. P 52.

41
WINNICOTT, Donald Woods. Os bebês e suas mães (op. cit.), p. 51.

42
Idem, ibidem, p. 105.

43
MASSOLA, Gustavo Martineli; SVARTMAN, Bernardo Parodi. Enraizamento, tempo e participação na psicologia ambiental. Estudos de Psicologia, São Paulo, 2018, p. 301.

sobre o autor

Rodrigo de Moura é arquiteto e urbanista pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2013) e mestrando no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade de São Paulo. Organizador e autor na publicação O Glicério por suas crianças, mapeamento afetivo construído junto com crianças moradoras da Baixada do Glicério (2015). Como pesquisador atua principalmente na investigação das relações entre as pessoas e o ambiente urbano, afetividade e memória social.

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