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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Analisam-se duas casas modernistas, buscando identificar correlações entre aspectos sociais e a lógica de apropriação dos espaços, por meio do aparato teórico-metodológico da Sintaxe Espacial, observando a permeabilidade física e visual.

english
Two modernist houses are analyzed, aiming to identify correlations between social aspects and the logic of appropriation of spaces, through the theoretical-methodological apparatus of Space Syntax, observing the physical and visual permeability.

español
Two modernist houses are analyzed, aiming to identify correlations between social aspects and the logic of appropriation of spaces, through the theoretical-methodological apparatus of Space Syntax, observing the physical and visual permeability.


how to quote

GURGEL, Ana Paula Campos; CABRAL, Tamires Oliveira. Relações espaciais na habitação moderna. Artigas e Bo Bardi sobre a perspectiva da sintaxe espacial. Arquitextos, São Paulo, ano 24, n. 277.02, Vitruvius, jun. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/24.277/8819>.

O objetivo desse artigo é analisar a organização espacial de duas casas modernistas construídas em São Paulo na década de 1940, visando identificar correlações entre relações sociais e a lógica de apropriação dos espaços, por meio do aparato teórico-metodológico da sintaxe espacial. A arquitetura moderna brasileira foi — e continua sendo — um tema bastante investigado e discutido nos meios acadêmicos. Questões relacionadas ao habitat, aos princípios éticos e estéticos modernistas, às diversas análises dos projetos e à preservação das edificações são alguns assuntos recorrentes. No entanto, embora muitos se debrucem sobre sua historiografia, poucos trabalhos exploram a variável espacial em termos da sua topologia. Desse modo, há sempre espaço para novas discussões, novos olhares e, talvez, novos resultados, visto que essa produção ainda é muito recente. De acordo com Carlos Antônio Leite Brandão (1), a capacidade crítico-analítica do processo de confrontamento pode fomentar uma série de discussões e fortalecer conceitos e ideias. Assim como a visão de terceiros e de uma outra época tem a capacidade de identificar novos significados e características, não para reduzir o valor da edificação, mas para reafirmar a sua importância e seu mérito arquitetônico.

Lançando um breve olhar sobre algumas famosas habitações modernistas datadas de meados do século 20 no eixo Rio-São Paulo, vislumbra-se uma relação harmônica entre a edificação e o seu entorno, a utilização do concreto armado preponderantemente, a organização em planta livre com planos transparentes de vidro que se destacam e toques de brasilidade pela fusão de soluções tradicionais e modernas (2). Como exemplares canônicos de um mesmo período, facilmente se identificam tais semelhanças entre as soluções formais, estruturais, de implantação e materiais — um tipo de brazilian style, que se dissemina pelo país entre os anos 1940 e 1950, contrapondo-se ao international style, hegemônico até os anos 1930 (3). Mas o movimento moderno não foi apenas um estilo que determinou novas características plásticas, mas também buscou romper (em diversos níveis e com mais ou menos sucesso) questões conceituais, compositivas, técnico-estruturais e espaciais precedentes. Por isso, levanta-se neste artigo a seguinte questão: dentre exemplares ícones da arquitetura moderna brasileira que, a princípio, acredita-se estarem atrelados às suas condicionantes teóricas e práticas, seria possível identificar configurações espaciais semelhantes?

Apesar do grande volume de obras arquitetônicas de caráter residencial, são reduzidos os estudos que reúnem e avaliam esse tipo em profundidade, negligenciado talvez por sua trivialidade cotidiana. Contudo, casas são objetos de estudo riquíssimos que possibilitam uma infinidade de análises socioespaciais e que permitem comparações entre exemplares de mesma natureza, mas em diferentes recortes temporais e estilísticos (4). Este trabalho justifica-se, portanto, na inserção à literatura da história da arquitetura brasileira desse olhar espacial por meio da sintaxe espacial, na qual estuda-se a relação entre espaço e práticas socioculturais mediante a representação e quantificação da configuração espacial, conforme detalharemos a seguir. Não se procura aqui fazer um trabalho historiográfico sobre a habitação modernista, pois, como já mencionado, isso foi ostensivamente estudado, mas apresentar um exercício de aplicação da sintaxe espacial como mais uma possibilidade de análise e reflexão, bem como difusão dos seus métodos e técnicas.

Como objetos de estudos, elegeu-se a Segunda Casa de Vilanova Artigas e a Casa de Vidro de Lina Bo Bardi, as quais foram determinadas a partir de três critérios: 1. Ambas são projetadas e construídas na cidade de São Paulo em um período próximo, entre 1948 e 1950; 2. Pertencem a contextos urbanos e sociais semelhantes; e 3. Foram elaboradas por renomados arquitetos do movimento moderno no Brasil para sua moradia pessoal. Os resultados encontrados serão confrontados com a literatura já produzida sobre elas, tanto sob o viés plástico-conceitual como morfológico.

A comparação entre edificações arquitetônicas é um método de análise bastante utilizado pelos teóricos para confrontar os projetos e identificar possíveis semelhanças, diferenças e relações. Edificações do mesmo período ou de períodos diferentes são passíveis de contraposição e os resultados encontrados podem, algumas vezes, surpreender. Por exemplo, o emblemático estudo de Rowe (5) que confrontou duas habitações de períodos distintos: a Villa Foscari (Andrea Palladio, 1559) e a Villa Stein (Le Corbusier, 1927). Embora não apresentem, a princípio, nenhuma relação clara, ao final do estudo de decodificação formal e espacial o autor identificou uma regra compositiva comum. Processos desse gênero são essenciais para revigorar o olhar sobre a arquitetura. A necessidade de retomar, questionar e lançar mais um olhar sobre edificações modernistas é fundamental para a construção do conhecimento arquitetônico atual, para manter viva a discussão sobre o passado e, quem sabe, para descobrir novas interpretações e modos de ver a produção desse período. A sintaxe espacial possui corpo consolidado de pesquisas acadêmicas, propondo-se a observar não somente elementos da caixa mural, materialidade ou tectônica, mas olhar para um aspecto, em geral, pouco analisado da arquitetura moderna brasileira: o espaço em si.

O estudo proposto está dividido em seis etapas: 1. Revisão crítica da sintaxe espacial enquanto teoria e método; 2. Levantamento de dados para a obtenção das plantas baixas, fotografias e demais informações; 3. Redesenho dos projetos, para a elaboração dos mapas convexos e das plantas das barreiras e permeabilidades visuais; 4. Análise dos projetos nos softwares JASS (análise convexa) e Depthmap (VGA); 5. Descrição das características modernistas e espaciais em cada caso; 6. Comparação, confrontamento e avaliação dos resultados.

Sintaxe espacial: teoria e método

Na década de 1970, surge na University College London a Teoria da Lógica Social do Espaço (6) articulando padrões de organização espacial à apropriação social e uso, relacionando as diversas lógicas sociais que diferentes qualidades de espaços possibilitam. Ou seja, como determinados espaços podem ser utilizados de diferentes maneiras de acordo com quem os usa e de sua realidade social. Mas liberta-se o entendimento da arquitetura tão somente a partir de rótulos que dependem de sociedades e grupos e extrapola-se para uma interpretação do espaço a priori livre de qualquer interferência de padrões culturais que variam com o tempo.

Este método de análise configuracional surge num contexto de revisão dos conceitos modernistas, quando em meados das décadas de 1970–1980 muitos campos de estudo passam a questionar alguns dogmas do movimento moderno. Por meio de uma visão sociológica, busca-se entender as relações entre os cheios (elementos-meios), os vazios (elementos-fins) e seus usuários (ocupantes ou visitantes), pois, as relações e os processos socias existentes em um espaço são determinados pela sua configuração espacial. Propõe-se que no lugar de postular uma fórmula e tentar a qualquer custo encaixá-la em edifícios, se estude o fenômeno em si para descobrir as suas relações intrínsecas. Portanto, o que se busca é aquilo que é contido na própria configuração da arquitetura e que se mantém independente do tempo, lugar e sujeitos. É a sua espacialidade por ela mesma e todas as variadas possibilidades que ela oferece dentro da sua estruturação. Segundo Ana Paula Campos Gurgel, “os padrões espaciais carregam em si informação e conteúdo social e que diferentes tipos de reprodução social requerem diferentes tipos de estrutura espacial” (7).

A relação abstrata entre o espaço e a vida social é representada e quantificada pela sintaxe espacial, por meio da análise do encontrar, do ver (e ser visto) e do mover-se, ou seja, como um arranjo espacial pode favorecer ou não estas ações. A partir de parâmetros técnicos específicos, examina-se os graus de permeabilidade do espaço e a sua transparência e opacidade, para assim verificar as consequências sociais de determinada configuração. A topologia, ramo matemático que estuda a relação de conexão entre entidades, possibilita a quantificação da análise sintática, principalmente das características do encontrar-se e do ver-se. Por meio da Teoria dos Grafos, os espaços são analisados pela relação dos pontos de uma região convexa com outras regiões do mesmo sistema, ou seja, avalia-se a capacidade que o espaço tem, sempre em relação a outros do sistema, de permitir o encontro (permeabilidade física) e a visibilidade (permeabilidade visual) dos seus usuários. Neste estudo, serão utilizados dois métodos de análise preconizados pela sintaxe espacial: 1. Os grafos justificados de fluxo e 2. Os gráficos de visibilidade.

Análise convexa e grafos de fluxo

Na análise convexa, os ambientes, internos ou externos, são transformados em espaços convexos, depois organizados em um grafo de conexões. Grafos são modelos matemáticos aplicados em vários ramos, apropriados por Bill Hillier e Julienne Hanson (8) para descrever e quantificar propriedades morfológicas da forma arquitetônica e urbana. Evidenciam-se as conexões dentro do sistema e suas propriedades: integração, profundidade, distributividade, simetria, conectividade dentre outras. Os círculos ou nós (node) representam os espaços e, as linhas ou vértices (edge) são a abstração das conexões, passagens, vãos, cruzamentos, ou seja, as permeabilidades. Para facilitar a leitura, é possível organizar esses grafos de maneira justificada, ou seja, alinhando-os a partir de um nó de referência (9), denominado de raiz. Isso permite capturar as propriedades topológicas da configuração espacial, definindo “um modo de análise que combina o deciframento visual de padrões com procedimentos de quantificação” (10). Indica-se que:

“Grafos justificados em forma de árvore correspondem a sistemas mais profundos, em que a maioria dos nós está afastada da raiz. Configurações do tipo árvore apresentam tendência à assimetria e não-distribuição, sendo, portanto, sistemas mais estruturados. Já os grafos em forma de rede correspondem a sistemas mais rasos, em que a maior parte dos nós está próxima à raiz. Esses, por sua vez, tendem à simetria e distribuição, correspondendo a sistemas menos estruturados” (11).

A acessibilidade do sistema é determinada pelas propriedades sintáticas de distribuição e simetria. Distribuição é a qualidade do nó de ter várias opções de se conectar com outros nós ou apenas uma opção. Já a simetria é a qualidade de um nó em relação a um terceiro, de modo que um sistema simétrico é aquele em que um nó (a) pode se conectar a um nó (b) ou a um nó (c) da mesma forma que o nó (b) pode-se conectar ao nó (c); e um sistema assimétrico é quando um nó (a) pode se conectar a um nó (b) ou a um nó (c), mas o nó (b) não pode se conectar com o nó (c). Em outras palavras, no sistema simétrico não existem espaços controladores, pois as relações espaciais são semelhantes. As ferramentas computacionais são capazes de quantificar esse controle (12).

A simetria do sistema está relacionada à profundidade, pois se as relações dos nós são semelhantes eles configuram um grafo raso, mas se o sistema não possuir relações próximas os grafos se desenvolvem de modo profundo, ou seja, serão necessários mais passos topológicos para percorrer-lo. O JASS, software livre utilizado nesse artigo, calcula essas relações e fornece o valor da Real Relative Asymmetry — RRA, a medida média de simetria global de um sistema específico, que Edja Bezerra Faria Trigueiro (13) considera a “mais universalmente utilizada”. Ou seja, essa medida indica a integração do sistema, entendida como a acessibilidade topológica de cada espaço em relação a todos os demais.

Sistemas distribuídos, geralmente, com grafos em forma anelar, muitas vezes oferecem diferentes percursos entre espaços diversos, onde os ambientes com maior valor de controle são estratégicos, funcionando como rotas alternativas para que não haja encontros, por exemplo, entre moradores e empregados. Em contrapartida, os grafos tipo “árvore” não apresentam rotas alternativas, pois um determinado espaço exerce controle único de acesso aos demais.

Compilado metodológico da sintaxe espacial utilizado (de cima para baixo): definição de espaço convexo e não convexo; grafos e variáveis quantitativas analisadas; análise gráfica visual
Elaboração das autoras, 2022

Análise gráfica visual

A análise gráfica visual (em inglês VGAVisual Graphic Analysis) está relacionada a capacidade de alcance visual, a partir da premissa de que o ser humano vê campos visuais diferentes à medida que se movimenta no espaço. A análise gráfica visual é uma adaptação da técnica da isovista — um polígono definido por tudo que pode ser visualizado a partir de um determinado ponto no espaço, em caráter local — que relaciona não apenas um ponto, mas todos os pontos contidos no sistema (14). A técnica permite quantificar globalmente as questões de visibilidade e verificar a relação entre o comportamento humano e a configuração do espaço, pois, “características qualitativas básicas do espaço como amplitude, permeabilidade, complexidade, ordem e fechamento estão correlacionadas a atributos quantitativos simples de isovistas e grafos de visibilidade” (15).

A partir do redesenho da planta com a representação das barreiras e permeabilidades visuais internas, ao nível dos olhos (visão) ou dos joelhos (movimento) (16), conduz-se a análise no software Depthmap. Embora vários cálculos possam ser realizados, nesse trabalho utiliza-se a integração visual “derivada da menor distância média de um nó a todos os outros pontos do sistema” (17) que estima a proximidade (integrado) ou o afastamento (isolado) que determinado ponto possui dos demais no sistema. Nos mapas resultantes, as cores mais quentes representam os locais de onde se tem maior controle e acesso da planta, ou seja, os locais a partir dos quais se vê e se conecta a mais ambientes. As cores mais frias indicam os locais mais segregados ou mais íntimos, ou seja, onde pouco vê e pouco é visto.

Análises

Segunda casa de Vilanova Artigas — 1949

A análise convexa da casa revela um grafo de profundidade cinco — ou seja pouco profundo — e em forma anelar, o que é resultado direto da presença de quatro anéis no sistema. O valor do RRA médio (0,9847), ligeiramente abaixo de 1, demonstra que o sistema é integrado. Ambientes sociais como alpendre, sala e lareira possuem RRA baixo (18), assim como cozinha, área de serviço e circulações (serviço e social). O escritório é o espaço mais isolado do sistema, o que já é esperado, pois este é o único ambiente no pavimento superior e, portanto, essa segregação significa um espaço reservado do convívio diário dos moradores e visitantes (19). Quartos e banheiros também possuem altos valores de RRA, reforçando a necessidade de privacidade típica dos setores íntimos. Os espaços de transição são ambientes naturalmente de controle e distribuição e, na casa de Artigas, isso não se altera. As circulações social e de serviços controlam o sistema espacial, no entanto, o fato delas estarem dentro de um mesmo anel, bem como a ideia da porta social e de serviços estarem conectadas diretamente à circulação social enfraquece uma rígida separação entre setor social e de serviços. Assim, moradores, visitantes e empregados possuem fluxos alternativos e interligados.

A análise gráfica visual do térreo (20) ressalta a linearidade da organização espacial. Os espaços mais integrados (em vermelho e laranja) localizam-se em um eixo à frente da lareira até a varanda, ou seja, o usuário que estiver nesses pontos irá ver a maior quantidade de espaços a sua volta. Essa integração visual é facilitada por uma grande esquadria de vidro e articula-se com a escada de acesso ao mezanino. O restante da área social permanece em níveis medianos de integração visual, bem como o corredor de acesso aos quartos — que também reforça o eixo linear da casa. Um pouco abaixo na escala cromática encontramos cozinha e área de serviço. Os locais de integração visual menor são os quartos (em tons azuis), é de se esperar que estes espaços tenham sua intimidade preservada por meio da baixa visibilidade.

Construída em uma segunda fase de sua carreira, que pode ser caracterizada como um “período de experimentação, com espaços livres e fluidos” (21), a casa revela resultados semelhantes entre o grafo e a análise gráfica visual. Espaços mais profundos são menos integrados visualmente e os espaços mais rasos possuem maior permeabilidade visual. Não temos aqui uma casa completamente aberta e permeável, pois os espaços íntimos e o escritório continuam com sua privacidade intocada, no entanto, a centralidade da área de serviços traz para este setor integração física e visual, demonstrando uma busca por romper com a distinção social entre setores ocupados pela família e pelos empregados.

Segunda Casa de Vilanova Artigas: a) vista da fachada frontal; b) vista do Pilotis/varanda com a escada ao fundo; c) fachada posterior; d) vista do corredor e escada a partir do escritório
Foto Ana Paula Gurgel, 2017

Análises da Segunda Casa de Artigas: planta baixa, grafo justificado e VGA
Elaboração das autoras, 2022

Casa de Vidro: Lina Bo Bardi

Utilizando o mesmo processo metodológico, observa-se que o grafo da Casa de Vidro possui profundidade sete — ou seja profundo, especialmente em comparação com a outra casa — e forma em árvore, o que sugere a presença de maior segregação no sistema. O alto valor da média de RRA (1,2509) confirma que o espaço é mais assimétrico e, curiosamente, a circulação de serviços e a cozinha são espaços mais integrados do que ambientes do setor social, sendo esses dois os únicos locais a possuírem valores de RRA menores do que 1. O controle da casa é realizado pelas circulações de serviços (4,7 e 2,92) e íntimas (3,7 e 3,53) e, apesar desses fluxos se cruzarem na cozinha, as rotas alternativas da casa possuem uma nítida separação entre caminhos de moradores e de empregados.

Ao mesmo tempo que a casa possui uma área social integrada com o exterior, por meio de grandes planos de vidro, ela é detentora de um espaço tripartido segregado e controlado, onde a rigidez do agenciamento interno colonial (22) é clara na configuração da planta e do espaço. No entanto, a presença de uma cozinha conectada diretamente aos espaços de serviço, sociais e íntimos, demonstra uma tentativa de rompimento com o paradigma dos setores (23). De acordo com Marcelo Tramontano (24), as mudanças das atribuições da cozinha estão relacionada às alterações do status da mulher rica dentro da sociedade.

A análise gráfica visual foi realizada para o pavimento térreo e superior. Nesse trabalho (ao contrário do realizado por Gurgel) (25) optou-se por desenhar o mapa de barreiras do térreo como aquelas dadas ao movimento, ou seja, a vegetação que invade parcialmente os pilotis é impedimento à livre movimentação dos usuários. Essa abordagem interpretativa decorre de olhar atento ao espaço: os pilotis da casa localizam-se nas cotas topográficas mais altas do terreno o que permitiria — não fosse hoje pelas altas árvores — um domínio visual de todo o lote e arredores. Portanto, as relações visuais interior versus exterior são extremamente fluidas. A modelagem proposta permite uma acuidade de análise, possibilitando a leitura da hierarquia espacial da área coberta. Assim destaca-se a integração visual da garagem, enquanto o depósito e a sala de máquinas têm baixíssimos índices de permeabilidade.

A análise do pavimento superior demostra claramente a relação entre setorização funcional e integração visual. A arquiteta organiza os espaços em três blocos bem definidos volumétrica e espacialmente: 1. a área social (caixa de vidro) é aquela com maiores valores de integração visual; 2. na porção central está a área íntima que possui valores mais baixos (circulação em verde e quartos e banheiros em tons de azul claro); e 3. os espaços menos integrados visualmente são os cômodos de serviço (26) em azul escuro. O cálculo, entretanto, destaca um eixo de visibilidade que se inicia defronte a lareira (área em vermelho), passa pela sala de jantar, cozinha até a entrada posterior. Gurgel (27) indica que “a entrada da cozinha que interliga a área social à área íntima por meio do corredor de acesso aos quartos […] tem-se um grande domínio visual dos três setores funcionais da casa”, ou seja, novamente temos o destaque à cozinha como um espaço de importante função de ligação — física e visual — no sistema.

Primeiro projeto de Lina Bo Bardi no Brasil, a análise espacial da Casa de Vidro revela que as permeabilidades física e visual não são perfeitamente compatíveis. Enquanto os valores de RRA destacam a presença de um espaço global segregado, com maior integração presente apenas em alguns ambientes do setor de serviços, a permeabilidade visual é marcada no setor social e em seguida na região da cozinha e circulação de serviços e íntima.

A casa é um experimento que busca sair de um espaço segregado e entrar em uma configuração integrada, em um universo novo que ainda não se dominava ou aceitava. É tradicional a sua setorização e orientação frente-fundos nas questões plásticas e no tratamento dos seus espaços, estando os mais segregados na região central e posterior e os mais integrados na área frontal. É moderna a posição lateral da cozinha e seu caracter conector, a existência de uma relação interior-exterior extremamente fluida e a integração entre alguns cômodos.

A dualidade aqui encontrada não é capaz de questionar o valor da materialidade modernista presente nessa casa, no entanto, a constatação de uma configuração espacial um pouco mais tradicional revela que o invólucro moderno abriga um espaço experimental, que se buscava ter espaços integrados (setor social), ao mesmo tempo que preserva o controle de acesso nos espaços internos e certa segregação.

Casa de Vidro: a) vista da fachada frontal camuflada entre as árvores; b) vista da fachada lateral, parte suspensa sobre pilotis e parte apoiada diretamente no terreno; c) átrio; d) eixo visual que vai da sala defronte à lareira, passando pela sala de jan
Foto Ana Paula Gurgel, 2017

Análises da Casa de Vidro: planta baixa, grafo justificado e VGA
Elaboração das autoras, 2022

Achados, limitações e considerações finais

Os pressupostos modernistas foram aplicados em diversos programas, mas a habitação destacou-se tanto na teoria quanto na prática. Os arquitetos buscavam adaptar-se aos novos requisitos econômicos, socioculturais e tecnológicos que se delinearam a partir de finais do século 19 e intensificaram-se no primeiro pós-guerra especialmente na Europa. A sociedade brasileira aos poucos incorporou essas transformações, em sua ávida busca em repetir padrões europeus de modernidade. Entretanto, os valores tradicionais da família patriarcal permaneceram pouco alterados reproduzindo “antigos modos de interface entre as comunidades de usuários domésticos (patrões, visitantes e empregados) […] e padrões sociais de controle e supervisão familiar” (28). Ou seja, mesmo que mudanças plásticas, técnicas e espaciais sejam nítidas nas residências algumas características são tão fortemente arraigadas à herança doméstica brasileira que permaneceram quase inalteradas.

Essa dualidade entre tradição e modernidade já havia sido discutida em âmbito da plástica dos edifícios, especialmente na produção de Lucio Costa (29) e Lina Bo Bardi (30). Mas espacialmente é reforçada pelo “paradigma dos setores”, premissa projetual que visa estabelecer a melhor articulação espacial dos setores (social, serviço e íntimo), bem como a sua separação determina os modos de interação e co-presença entre os grupos de indivíduos (moradores, visitantes e empregados), revelando uma tendência à delimitação de cada grupo em uma zona definida pela setorização. Para as casas modernas:

“Um novo ambiente doméstico, mais fluído e sem portas, é a organização espacial que define as barreiras entre visitantes e moradores. As portas, que eram utilizadas para restringir o movimento e a visão nas casas pré-modernas, são substituídas por arranjos espaciais que dificultam acessos, ao mesmo tempo que ampliam os campos visuais. Isto pode ser percebido pela definição mais clara dos setores funcionais domésticos e pela drástica redução da permeabilidade do sistema espacial, o que significa um maior controle de movimentos na habitação” (31).

Esses novos arranjos espaciais são claramente perceptíveis na Casa de Vidro. A íntima relação entre exterior e interior e a tensão entre extroversão e introversão são características espaciais próprias da arquiteta, expressas na casa pela presença de limites horizontais (piso e coberta) e ausência de limites visuais nos planos verticais (fachada envidraçada), nos espaços sociais do térreo e superior; pela elevação do setor social, presença de pilotis e escada vazada, o que proporciona uma posição privilegiada para esse setor e cria um espaço de suave transição entre interior e exterior; pelos espaços sociais fluidos, integrados e contínuos em oposição aos espaços íntimos e de serviços mais isolados, recolhidos e resguardados; e, por fim, pela presença de dois pátios internos (mais não acessíveis a partir do interior da casa) que sugerem a introspecção ao passo que o perímetro externo translúcido sugerem a extrospecção. Essa organização enfatiza a separação hierárquica entre moradores, visitantes e empregados ao criar uma oposição entre informalidade (setor social francamente aberto — continuidade espacial) e formalidade (restrição ao setor íntimo — alto controle de acesso), de acordo com Luiz Amorim (32).

Por outro lado, a composição arquitetônica proposta por Artigas articula espaços internos abertos, fluidos e contínuos com planos verticais translúcidos e opacos. Segundo Miguel Antonio Buzzar, o projeto modifica a tradicional relação frente-fundo ao dispor os ambientes em eixo paralelo a maior dimensão do lote e assim “todos os ambientes estavam no ‘meio’, participavam ativamente da residência, apenas os quartos possuíam um resguardo maior” (33). De fato, essa explicação condiz com os resultados encontrados nas modelagens de SE, visíveis na criação de rotas alternativas de movimento (anéis). O bloco hidráulico no centro da casa determina os fluxos e separa o espaço íntimo do espaço social; a cozinha aberta que se prolonga pelas circulações e se conecta facilmente com o setor íntimo e o social.

A importância das cozinhas é percebida nas duas casas. Traçando-se eixos principais de circulação e integrações visuais, identifica-se em ambas as casas uma estrutura em cruz cujo centro é a cozinha. Esse resultado parece antever, mesmo que timidamente, uma realidade socioespacial contemporânea: nos últimos anos, as cozinhas passaram a abarcar funções de convívio ao serem integradas claramente às áreas sociais (34). Nas casas analisadas sua função é ser um ponto nodal entre os três setores funcionais, distanciando-se do conceito colonial de cozinhas isoladas (repetido nos palacetes ecléticos da burguesia urbana na virada do século 20, por exemplo) e que representava uma rígida separação entre moradores, moradoras e empregados.

Destaca-se mais um elemento integrador em ambas casas: a lareira. Em geral tão estranha às casas coloniais, pelo nosso clima quente, as lareiras passam a ser inseridas nas áreas socias das residências palacianas ecléticas (35). Para além das questões climáticas, a justificativa do seu uso na Casa de Vidro talvez remeta à origem europeia dos Bardi. Na casa de Artigas podemos aventar a influência da arquitetura norte-americana de Frank Lloyd Wright (36), para o qual a lareira era o coração da casa (37). Aspectos simbólicos da casa como abrigo, conforto e domesticidade podem relacionar-se ao fogo, mas nas modelagens que apresentamos nesse artigo vemos mais uma nuance: as lareiras se localizam lateralmente ao eixo de integração visual das casas. Moradores e visitantes ao se sentarem próximos a lareira (e há uma foto do casal Bardi exatamente nessa posição) dominam com o olhar a maior quantidade de espaços ou, levantando-se dali, vão acessar mais rapidamente qualquer outro espaço de suas casas. Portanto, para além da função de aquecer, as lareiras de Lina e Artigas são — além de coração — os olhos das casas. Essa análise parece ter passado desapercebida em estudo anteriores, talvez por não configurarem geometricamente como claro ponto de partida da composição e organização espacial, como na obra de Wright (38) ou como na casinha de Artigas (1942, São Paulo) ou na residência que Lina faz para Valéria Piacentini Cirell (1958, São Paulo).

Artigas, talvez pelo seu posicionamento político e teórico, parece-nos dar um passo à frente para quebrar as amarras do espaço doméstico brasileiro. E talvez quem primeiro escreva sobre isso é Lina Bo Bardi, num artigo publicado no primeiro número da revista Habitat em 1950 “uma casa construída por Artigas não segue as leis ditadas pela vida de rotina do homem, mas lhe impõe uma lei vital, uma moral que é sempre severa, quasi [sic] puritana. Não é vistosa, nem se impõe por uma aparência de modernidade que já hoje se pode definir num estilismo” (39). Desejando que a casa fosse um manifesto tanto ideológico quanto funcional, o arquiteto aplicou soluções econômicas e estritamente necessárias, mesclando materiais tradicionais com modernos em uma volumetria clara. Espacialmente, o duplo papel do setor social — reunir a família e receber visitas — faz da sua casa um território amplo e livre para as suas discussões acadêmicas e políticas e palco para sua vida social agitada.

Comparação dos achados versus VGA: a. vista da sala e lareira a partir do escritório; b. corredor principal e escada; c. sala de jantar e porta de acesso a cozinha; d. Cozinha
Elaboração das autoras, 2023/foto Ana Paula Gurgel, 2017

Ao confrontar os resultados constata-se que as configurações espaciais encontradas são diferentes, principalmente, com relação as medidas do mapa convexo. Ao passo que a primeira casa tende a ser simétrica e distributiva, ou seja, os encontros são mais frequentes devido à falta de uma hierarquia forte entre os espaços e a existência de maiores opções de deslocamento, a segunda casa tende a ser assimétrica e não distributiva, o que significa dizer que os encontros são limitados e que os espaços não permitem muitas opções de deslocamentos. A Casa de Artigas aproxima-se mais claramente dos conceitos modernistas do que a Casa de Vidro, o que corroboram com estudos anteriores (40), nos quais a casa de Lina é por vezes descrita como um amálgama complexo entre tradição e modernidade.

A partir da análise de duas edificações modernistas, que apresentavam certa aproximação em suas configurações formais, estruturais e estilísticas e em seus conceitos, verifica-se que as configurações espaciais não são semelhantes, mas sim distintas. Diante dessas diferenças, surge uma nova questão: a variação seria uma consequência de um processo evolutivo da arquitetura moderna brasileira, onde, aos poucos, a espacialidade deixa de lado as características da arquitetura tradicional, para firmar-se dentro dos conceitos modernistas?

A expectativa de rompimento com conceitos tradicionais, no sentido de identificar uma evolução espacial, é algo que ainda se espera. Dados rececentes indicam que as famílias nucleares representam 49,4% dos arranjos familiares e 5,68% da população ocupada desempenha serviços de atividades domésticas (41), assim, estando as relações do espaço correlacionadas à sociedade e identificando-se esse contexto ainda tradicional, pode-se entender o motivo do espaço interno fluido ainda ser restrito (42). A aplicação desse exercício analítico a partir da sintaxe espacial contribui para a interpretação da organização espacial da arquitetura moderna, podendo adicionar nuances interpretativas à historiografia, despertando reflexões e questionamentos que não se encerram aqui, mas abrem um leque de opções para futuros trabalhos e discussões.

notas

1
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Por que estudar história da arquitetura? PosFAUUSP, [S. l.], v. 19, n. 32, p. 26-36, 2012 <https://tinyurl.com/y4h437rm>.

2
BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. 4ª edição. São Paulo, Perspectiva, 2008.

3
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas do Brasil 1900-1990. 3ª edição. São Paulo, Edusp, 2014.

4
HANSON, Julienne. Decoding homes and houses. Cambridge, Cambridge University Press, 1998.

5
ROWE, Colin. The mathematics of the ideal villa and other essays. Londres, The MIT Press, 1976.

6
HILLIER, Bill; HANSON, Julienne. The social logic of space. Cambridge, Cambridge University Press, 1984.

7
GURGEL, Ana Paula Campos. A sintaxe da casa modernista: análise da casa Mina Kablin e Gregori Warchavchik (1927–28). In ANTICOLI, Audrey; CRITELLI, Fernanda; CHIARELLI, Silvia; OSSANI, Tais (org.). Arquiteturas do patrimônio moderno paulista. Reconhecimento, intervenção, gestão. São Paulo, Altermarket, 2017, p. 182–196 <https://tinyurl.com/2s3b3vjb>.

8
HILLIER, Bill; HANSON, Julienne. Op. cit., p. 149. Tradução das autoras.

9
Normalmente, esse nó é a rua, mas nesse trabalho definiu-se como raiz o espaço exterior (jardim/recuos) das casas. É possível modelar diversos grafos a partir de diversas raízes, por exemplo, escadas ou espaços altamente segregados como banheiros ou áreas de serviço, o que permite discutir como moradores/visitantes/empregados percorrem os sistemas.

10
HILLIER, Bill; HANSON, Julienne. Op. cit., p. 149. Tradução das autoras.

11
BECK, Mateus Paulo. Arquitetura, visão e movimento: o discurso de Paulo Mendes da Rocha na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Dissertação de mestrado. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011.

12
A distributividade pode ser compreendida, quantitativamente, por meio do valor de controle e a simetria por meio do valor da Real Relative Asymmetry — RRA.

13
TRIGUEIRO, Edja Bezerra Faria. Sobrados coloniais: um tipo só?. Cadernos Proarq, v. 1, n. 19, Rio de Janeiro, dez. 2012, p. 194–211 <https://tinyurl.com/ms3ddd8s>.

14
TURNER, Alasdair; DOXA, Maria; O'SULLIVAN, David. From isovists to visibility graphs: a methodology for the analysis of architectural space. Environment and Planning B: Planning and Design, v. 28, 2001, p. 103–121 <https://tinyurl.com/a9zs743t>.

15
BECK, Mateus Paulo. Op. cit., p. 21.

16
Utilizamos aqui uma tentativa de representar as casas ao nível dos olhos, adotando os seguintes critérios: portas e janelas limítrofes ao exterior foram desenhadas fechadas (como se as cortinas estivessem cerradas, por exemplo); portas internas mantêm-se todas abertas; meias-paredes, diferentes níveis, mezaninos e escadas são tidos como barreiras; mobiliários fixos (como balcões de cozinha e guarda-roupas) foram mantidos como barreiras e peças sanitárias foram desconsideradas. Pavimentos são avaliados separadamente. É importante frisar que essa etapa de análise e redesenho da planta é de extrema importância, pois ela influencia diretamente nos resultados. Os parâmetros escolhidos e a manipulação das informações definem que tipo de relação com o espaço está sendo analisado e, portanto, permite diversas modelagens.

17
BECK, Mateus Paulo. Op. cit., p. 32.

18
Escala do RRA: valores menores do que 1 são baixos o que significa cômodos mais integrados no sistema, enquanto e acima de 1 são altos, representando os espaços mais segregados.

19
Essa é uma decisão projetual interessante, pois embora essa privacidade do escritório seja atenuada por sua materialidade, com os fechamentos em vidro, espacialmente o ambiente é segregado, apartado da casa volumétrica e altimetricamente.

20
Só foi considerado o mapa de visibilidade do térreo nessa casa, pois o pavimento superior é formado apenas por um espaço convexo (estúdio) e isso não iria interferir no estudo.

21
PEREIRA, Ana Karla Olimpio; FUJIOKA, Paulo Yassuhide. A residência do arquiteto: uma análise gráfica das casas de Vilanova Artigas. Risco. Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo (online), [S. l.], n. 21, 2016, p. 39 <https://tinyurl.com/2dtdrk6p>.

22
Áreas sociais na fachada frontal, serviços ao fundo e ambientes íntimos resguardados ao centro.

23
AMORIM, Luiz Manuel do Eirado. Modernismo recifense. Uma escola de arquitetura, três paradigmas e alguns paradoxos. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 012.03, Vitruvius, maio 2001 <https://tinyurl.com/34akrfja>.

24
TRAMONTANO, Marcelo. Novos modos de vida, novos espaços de morar — uma reflexão sobre a habitação contemporânea. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 1998.

25
GURGEL, Ana Paula Campos.. Diálogos entre Lina Bo Bardi e Julienne Hanson: a produção arquitetônica residencial modernista brasileira sob a ótica da sintaxe espacial. Dearq, n. 23, Bogotá, jul./dez. 2018, p. 36–65 <https://tinyurl.com/57rvup5d>.

26
Em geral, as representações pesquisadas e as informações contidas no sítio eletrônico do Instituto Bardi colocam essa última porção como áreas de serviço, estando os hóspedes provavelmente alocados em um dos quartos da área íntima. A existência de uma grande área destinada à cômodos de serviço na casa pode ser explicada por sua implantação em um grande lote o que, portanto, demanda quantidade e variedade de serviços de manutenção doméstica. Não foi construído originalmente uma casa para caseiro (ou outros empregados domésticos) apartada da construção principal, embora posteriormente sejam edificados uma casa para o porteiro e o estúdio casinha nos anos 1980. A separação dos empregados numa edícula, solução emprestada das casas coloniais e ecléticas e repetida por exemplo, no projeto de Gregori Warchavchik para sua casa à rua Santa Cruz em 1928, foi marca do espaço patriarcal de ranço escravocrata, onde as regras sociais definiam rígidas relações entre patrões e empregados.

27
Idem, ibidem, p. 28.

28
ALDRIGUE, Maryá de Sousa. Aparências da forma e forma do espaço: análise da configuração espacial de residências unifamiliares dos anos 1970 em João Pessoa PB. Dissertação de mestrado. Natal, PPGAU FAU UFRN, 2012, p. 61 <https://tinyurl.com/rsr2ekx3>.

29
GUERRA, Abilio. Lúcio Costa — modernidade e tradição. Montagem discursiva da arquitetura moderna brasileira. Campinas, IFCH Unicamp, 2002.

30
ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Tensão moderno/popular em Lina Bo Bardi: nexos de arquitetura. Dissertação de mestrado. Salvador, PPGAU FA UFBA, 2002 <https://tinyurl.com/muj9t8ua>.

31
AMORIM, Luiz Manuel do Eirado. Modernismo recifense. Uma escola de arquitetura, três paradigmas e alguns paradoxos (op. cit.).

32
AMORIM, Luiz. Flexibilidade espacial: entre o princípio e o mito. In AMORIM, Luiz; GRIZ, Cristiana (org.). Cidades: urbanismo, patrimônio e sociedade. Olinda, Livro Rápido, 2008, p. 317.

33
BUZZAR, Miguel Antonio. João Batista Vilanova Artigas. Elementos para a compreensão de um caminho da arquitetura brasileira, 1938–967. São Paulo, Editora Unesp/Editora Senac São Paulo, 2014, p. 312.

34
TRIGUEIRO, Edja B. F.; UMBELINO, Andreia Gurgel; MORAIS, Fernando de Oliveira; FILGUEIRA NETO Silvio Justino. Brazilian contemporary kitchens: core or backstage? In VAN NES, Akkelies; KONING, Remco E. de (org.) Proceedings of the 13th Space Syntax Symposium. Western Norway University of Applied sciences. Bergen, 2022 <https://tinyurl.com/mwt25zya>.

35
HOMEM, Maria Cecília Naclerio. O palacete paulistano: e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira. São Paulo, Martins Fontes, 1996.

36
IRIGOYEN, Adriana. Wright e Artigas: duas viagens. São Paulo, Ateliê Editorial, 2002.

37
LIND, Carla. The Frank Lloyd Wright’s fireplaces. San Francisco, Archetype Press, 1995.

38
SOSTRUZNIK, Manoela Py. A lareira nos projetos residenciais de Frank Lloyd Wright. Dissertação de mestrado. Porto Alegre, PPGAU FA UFRGS, 2019.

39
BUZZAR, Miguel Antonio. Op. cit., p. 309.

40
LIMA, Zeuler. Lina Bo Bardi: em busca de uma arquitetura pobre. Revista AU, n. 249, São Paulo, dez. 2014.

41
IBGE. Contagem da População 2010 <https://tinyurl.com/529efdec>.

42
As discussões podem ser ainda levantadas em termos de questão de gênero e raça, por exemplo.

sobre as autoras

Ana Paula Campos Gurgel é arquiteta e urbanista (UFRN, 2008), mestre em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU UFRN, 2012) e doutora em Arquitetura e Urbanismo (PPG FAU UnB, 2016). Professora adjunta do Departamento de Teoria e História e do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB. Vincula-se ao Grupo de pesquisa Dimensões Morfológicas do Processo de Urbanização — DIMPU, no qual pesquisa sobre o espaço habitacional no Brasil no século 20.

Tamires Oliveira Cabral é arquiteta e urbanista (UFPB, 2010), mestre em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU UFPB, 2016) e doutoranda em Arquitetura pela FAU Lisboa. Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Paraíso. Desenvolve pesquisa na área de habitação contemporânea brasileira.

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