Apesar de ter realizado uma das melhores e bem sucedidas bienais de arquitetura dos últimos tempos – a única capaz de apagar a lembrança, com sua proposta contracorrente, da famosa edição onde Paolo Portoghesi apresentou sua Strada Nuovissima abrindo caminho ao posmoderno – Massimiliano Fuksas, diretor da seção Arquitetura da Biennale di Venezia, acaba de ser despedido pelo conselho de administração da própria Bienal. Razão oficial: as "criticas sem fundamento" avançadas por ele contra a condução e a estrutura organizativa da instituição.
O arquiteto reagiu com humor: "Será que o motorista se aborreceu por eu ter feito perguntas?"
As perguntas, de fato, foram colocadas, e não só por meio da imprensa, de cartas abertas e em encontros públicos (o atual presidente da Bienal evita, ao que parece, reunir o comitê científico) mas, sobretudo, por meio dos conteúdos e das imagens da própria 7ª Mostra Internacional de Arquitetura; começando pelo seu título e idéia guia, Less aesthetics, more ethics, que já entrou na linguagem corrente, e pela video-installation que acolhia (até 29 de setembro passado) o público do Arsenale. Na imensa tela de 280 metros de comprimento, que ocupava inteiramente o lado direito do edifício Corderie, projeções sincronizadas acompanhavam o passo do visitante mostrando as megacidades do planeta – Tóquio, São Paulo, Calcutá, Cairo, Hong Kong, Las Vegas, Moscou entre inúmeras outras – luxo e miséria, turistas e refugiados, multidões se deslocando nos aeroportos, nas estações, nos metrôs; comprando nos shopping e catando no lixo; retirantes a pé em filas sem fim; maravilhas tecnológicas e desastres naturais. Ao lado, e em seqüência, os projetos dos arquitetos convidados apareciam na maioria das vezes "fuori tema" e, no caso dos grandes escritórios, inutilmente celebrativos. O establishment não deve ter gostado: como sempre acontece quando alguém pretende embaralhar as cartas e o show se aproxima demais da realidade.
notas
[publicação: novembro 2000]
Giovanna Rosso Del Brenna, Milão Itália