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drops ISSN 2175-6716

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português
No mito da caverna os homens só viam sombras das idéias projetadas nas paredes. Nos livros, revistas e exposições de arquitetura nos países tão longe como tão pobres, arquitetos e estudantes, só vêem fotos de edifícios distantes em cidades desconhecidos

how to quote

BARNEY CALDAS, Benjamin. Cidade?. Edifícios ou imagens?. Drops, São Paulo, ano 01, n. 002.09, Vitruvius, abr. 2001 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/01.002/1574>.


No mito da caverna os homens só viam as sombras das idéias projetadas nas paredes. Nos livros, revistas e exposições de arquitetura nos países tão longe como tão pobres, os arquitetos, e sobretudo os estudantes, só vêem fotos de edifícios distantes em cidades desconhecidas; e nem ao menos de todas as cidade: só as da Europa, Estados Unidos e Japão, e só os que estão de moda. Desde que a revista Mimar parou de sair, nem ao menos vemos fotos do que se faz na África e Ásia. E pior ainda: desde que acabou a coleção SomoSur, tampouco sabemos algo dos países vizinhos. Ficamos à mercê de umas poucas revistas para as quais a América hispânica simplesmente não conta, ou então caríssimos e escassos livros.

Mas o que não vemos tampouco nas publicações com freqüência é o que de verdade existe: só fotos mentirosas muitas vezes. É o papel distorcido da representação que leva a valorizar o que não deveria ter valor. É como se muitas revistas fossem de projetos de arquitetura e não de arquitetura; mostram os edifícios sem usar e sem contextos, sem envelhecer, sem móveis ou pessoas, e com os pisos molhados para se obter reflexos deslumbrantes que na realidade poucas vezes existem. As plantas e cortes são às vezes abstrações de abstrações e nunca são suficientes pois são dispostos pensando mais na diagramação bonita da página editada do que em sua legibilidade, e os textos, por sua vez, ficam a desejar, inclusive alguns são francamente tolos: explicações abstrusas ou falsamente poéticas cujo prejuízo é pior dada a inexistência entre nós de uma crítica de arquitetura permanente e plural.

Imagens de arquiteturas que se transformam em paradigmas para os estudantes, que tão mal aprendem o que era a arte de construir para habitar com emoção. As representações de seus projetos de graduação, que jamais serão construídos nem habitados, facilmente se tornam os objetivos únicos de seus trabalhos de ateliê. Uma vez graduados (ou antes), não têm problemas com a construção de suas fantasias e caprichos de moda: o desenvolvimento da tecnologia da construção permite hoje em dia construir quase qualquer coisa. Pouco importa que o resultado não seja correto, que as fotos se tornem mais importantes do que seus clientes e que as cidades sejam vítimas da concreção edilícia de imagens que só foram um problema de gosto.

Se chegou ao extremo de atuar como se a razão de ser da arquitetura não fosse a de ser habitada com segurança, dignidade e prazer, para a qual tem que previamente ser corretamente construída, mas sim a de ser magnificamente fotografada. Os edifícios "bons" são os que são fotogênicos; como as modelos, das quais pouco importam suas qualidades humanas mas apenas que "registrem" bem. Às vezes parece que os jurados de concursos e bienais e os curadores de exposições olham apenas com olhos de fotógrafo de moda; para eles a arquitetura torna-se um problema de casting. Apresentam, valorizam e premiam imagens de objetos, não edifícios habitados e que estejam de fato nas cidades. É o triunfo da aparência e. em última instância, o triunfo da imagem e da moda. A beleza já não é mais entre nós "o esplendor da verdade" mas sim a mentira que resplandece em uma "boa figuração da "atualidade".

A solução seria fazer, como antes, viagens de estudo, olhar com os próprios olhos os edifícios e as cidades onde se viva ao menos alguns dias. Mas os estudantes, os professores e os arquitetos quando "vêem" um edifício, uma praça ou uma rua que lhes chame a atenção, reagem de imediato, sem mirá-los, e começam a tirar fotos e saem rapidamente à procura da clareira seguinte, esforçando-se para encontrar seus "melhores" ângulos e momentos, torcendo para que não haja carros nem pessoas na frente, tentando separá-los de seus vizinhos e contextos; para fotografá-los de onde ou como nenhuma pessoa possa realmente vê-los. Subjugados pelas sombras distorcidas da representação, não podem facilmente ver o que realmente fazem; ou não fazem... Fica a esperança da www; cada vez mais acessível às pessoas: oxalá não fiquem também atrapalhados em seus sutis e perigosos meandros. Que fique registrado: o problema não é a fotografia, mas sim seu abuso.

notas

[publicação: março 2001]

Benjamin Barney Caldas, Cali Colômbia

 

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