Sol e sombra, luz e obscuridade
Porque muitas vezes, instintivamente, identificamos a luz com sua fonte, o sol, e a sombra com seu limite, a obscuridade, supomos que a luz é um fenômeno de exterior enquanto que a sombra é um fenômeno interior.
É mais certo o contrário : é só nos interiores onde a luz materializa-se, deixa-se ver.
A sombra tem presença e dá forma somente ao de fora.
A luz é um fenômeno interior.
Luz e água
Há arquitetos, como Wright, para quem a luz move-se horizontalmente, como se fora vento. A luz penetra pelos extremos de seus dilatados interiores como um polvo dourado, que vai tostando o ar e os objetos que encontra em seu caminho até deter-se esgotada.
Mas outros arquitetos têm um sentido diferente da luz, tanto em sua direção como em sua composição.
Para le Corbusier, por exemplo, luz e água não são outra coisa que estados diversos da mesma matéria. A luz desprende-se verticalmente desde o alto, cai abrupta ou escorre empapando a parede. A água plana ascende desde o chão. Há um ponto onde uma e outra se encontram : então ambas enroscam-se em um mesmo turbilhão, convertendo-se uma em outra, interminavelmente.
Mas toda su arquitectura mostra a ansiedade e a concupiscência solene por esta transformação, que tem seu crisol nos banheiros, nos bidês e nos altares.
Louis Kahn, Juan Navarro Baldeveg e Elias Torres conhecem-na.
notas
[tra(ição)dução de Olivia de Oliveira]
[publicação: novembro 2000]
Josep Quetglas, Barcelona Espanha