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drops ISSN 2175-6716

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Quatro fragmentos de um trabalho final de graduação: [in]Comunicabilidade, condução clariciana, Fotografia e trechos escolhidos

how to quote

YOSHINORI MIAZAKI, Élcio. Entre o verbo e o visual.... Quatro fragmentos de um trabalho final de graduação. Drops, São Paulo, ano 02, n. 004.04, Vitruvius, fev. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/02.004/1587>.


1. [in]Comunicabilidade

Silêncios entre peças gráficas e imagens em movimento, propõe uma correlação entre comunicação visual e trechos literários que remetem ao processo de criação e diálogo. Trata-se de encontrar similaridades entre a arquitetura e literatura, indicando estruturas comuns e confrontando linguagens verbais e não-verbais. Sugere  uma discussão em relação ao próprio processo de criação, indicação de posturas e grau de envolvimento adotados ao “querer dizer” (mas não conseguir se expressar na totalidade) quando se projeta.

Foram escolhidas partes da obra de Clarice Lispector, fragmentos de contos e crônicas, além de trechos de depoimentos e cartas. Pesquisas em Recife, Olinda e Rio de Janeiro, cidades nacionais percorridas pela autora, foram uma busca por imagens e explicações para as situações que ela expõe e se expõe. Essas viagens foram importantes à medida que trouxeram outros dados e relações para os mesmos fragmentos de textos, significando um ensaio que procura a mesma condução de leitura àquela que Clarice gera sobre seus leitores.

2. Condução Clariciana

Vísceras torturadas me guiam.

Encontramos em Clarice um estilo ensaístico indagador, desconcertante e incômodo. O leitor se encontra no livro quando é atingido e enriquecido pela escritora, mas ao mesmo tempo se perde nele quando se faz sentir menos sólido e seguro. Reconhece-se em Clarice, uma escrita sugestiva e flutuante, de tom ligeiramente fora de foco, que tende ao silêncio quanto mais almeja representar. A ausência de voz, ou o silêncio, ocupa na narrativa a função de núcleo, em torno do qual a linguagem constrói os seus ruídos. Trata-se de desaprender um olhar viciado sobre as coisas. Por paradoxal que pareça, a riqueza advém da consciência de que a literatura não pode - ou não consegue - dizer tudo, nem captar – ou traduzir – a totalidade do real, nem compensar a ânsia de idealização humana, denuncia assim a irrepresentabilidade do real.

Clarice trabalha a “precariedade” dos seres e da linguagem além de lidar com a aparente simplicidade dos fatos, fazendo caber tanto em tão pouco espaço e, ao mesmo tempo, alargar o próprio espaço, expandindo sentidos e significações.

3. Fotografia como meio não-verbal na percepção das cidades

“Fotografo cada instante. Aprofundo as palavras como se pintasse mais do que um objeto, a sua sombra.”

A percepção das cidades é sinestésica. Essa compreensão pré avalia a capacidade da fotografia de representar a linguagem gerada pelo ambiente. Na fotografia, a realidade é reconstruída a partir de princípios que dizem mais respeito à estrutura interna da própria imagem. A linguagem muda fotográfica constrange pela viagem interior. Segundo Cristiano Mascaro, fotógrafo e escritor têm o mesmo “ímpeto de falar alguma coisa a respeito do mundo.” Uma das grandes riquezas da fotografia é a capacidade de transmitir a natureza de interrogações sobre o mesmo mundo, apesar de que cada imagem seja captada por um ponto de vista único.

Se por um lado a fotografia parece não atender a um desejo de esgotar uma comunicação, ela ganha força ao multiplicar significados. Como o Francisco Homem de Melo aponta, “a linguagem deve ser usada na sua capacidade de reverter uma percepção, flagrar o inusitado, surpreender o espectador”. Resta-nos então, tentar capturar o que sobrou da sua não representabilidade.

4. Alguns trechos escolhidos

Escrevo-te em desordem, bem sei. Mas é como vivo. Eu só trabalho com achados e perdidos. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever sempre me foi difícil, embora tivesse partido do que se chama vocação. Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir. Cortar os próprios defeitos pode ser perigoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Necessidade de transformar as coisas para lhes dar uma realidade maior. Gosto de poder manter o silêncio junto de alguém… a mudez necessária para que se digam certas coisas. Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever.

notas

[publicação: agosto 2001]

Élcio Yoshinori Miazaki, São Paulo SP Brasil


Foto Élcio Yoshinori Miazaki


Foto Élcio Yoshinori Miazaki


Foto Élcio Yoshinori Miazaki


Foto Élcio Yoshinori Miazaki

 

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