Nos enganamos quando pensamos que o futuro da arquitetura é feito de imagens de arranha-céus feitos de alumínio, ferro e muito vidro. A vanguarda da arquitetura, já em curso nas paisagens dos EUA e Europa, retoma os materiais naturais e benignos, se preocupa com estratégias para poupar água e luz, respeita a natureza e o entorno onde se insere e, sobretudo, promove o conforto sem esquecer a questão estética.
Estamos passando por um processo de transição na forma de viver e ver o mundo, em que o meio ambiente começa a fazer parte do cotidiano, não como um discurso de ambientalistas ou idealistas mas com reflexos no nosso dia-a-dia. A arquitetura se integra nesta busca por respostas adequadas a integração do ser humano no meio ambiente, com mudanças no processo de criação e execução dos espaços habitáveis e reflexos em toda a cadeia produtiva da indústria da construção.
Muitos arquitetos, engenheiros e pessoas ligadas à construção, estão incorporando esta nova forma de fazer arquitetura, baseados no conceito de arquitetura bioclimática. O conceito de arquitetura bioclimática é um pouco genérico e integra outras definições mais concretas, como por exemplo, a de arquitetura integrada, aquela que se adapta a seu ambiente físico, socio-econômico e cultural, utilizando materiais autóctones, técnicas e formas tradicionais, que favorecem a integração visual e reduzem o impacto ambiental.
A arquitetura bioclimática também é conhecida como a de alta eficiência energética, porque economiza e conserva a energia que capta, produz ou transforma no seu interior, reduzindo, portanto, o consumo energético e a suposta poluição ambiental. Em geral, é uma arquitetura pensada com o clima do lugar, o sol, o vento, a vegetação e a topografia, com um desenho que permite tirar proveito das condições naturais do lugar, estabelecendo condições adequadas de conforto físico e mental dentro do espaço físico em que se desenvolve.
O Brasil é um país rico em recursos naturais e com uma importante luminosidade, mas num grande número de ambientes, existe a necessidade da luz acesa o dia inteiro, pela falta de aproveitamento da iluminação natural. Na nossa região, de clima temperado, as necessidades de iluminação, aquecimento no inverno e refrigeração no verão podem ser totalmente cobertas através de estratégias passivas de condicionamento, que devem ser incorporadas num projeto de arquitetura que conjugue a conceituação arquitetônica com o condicionamento natural da edificação.
Frente a nossa atual situação de consumo elétrico, e ao fato de que no Brasil ainda é a minoria da população a que tem condições econômicas de incorporar sistemas de calefação ou de ar condicionado, mais importante e eminente se torna a nossa posição como arquitetos, de adotar sistemas passivos e estratégias benignas, que proporcionem, sem dúvida, maior conforto ambiental com maior economia. Estes sistemas, aliados a correta eleição dos materiais, ao respeito a tradição construtiva revista sob a ótica das novas tecnologias, e a cultura regional, impulsionam ao aumento da qualidade de vida da população, e refletem a verdadeira vanguarda na arquitetura. No entanto, as cidades estão cheias de erros e despreocupações neste campo. É certo que o conhecimento das técnicas bioclimáticas são fundamentais para que o arquiteto crie a consciência sobre a importância e a responsabilidade que detém sobre estes fatores.
notas
[publicação: novembro 2001]
Celina Britto Correa, Pelotas RS Brasil