Nos últimos anos, nota-se, nos Estados Unidos, um certo aumento no interesse pela arquitetura Latino-Americana. Livros e revistas dedicam cada vez mais espaço para a difusão de obras contemporâneas e para estudos sobre o periodo heróico do Movimento Moderno na região, em particular no Brasil. Em muitas ocasiões Architectural Record, a principal revista daquele país, apresentou casas de Márcio Kogan. Além disso, o renomado crítico do New York Times, Paul Goldberger listou em 2004 o hotel paulistano Unique de Ruy Ohtake entre as obras consideradas como as “sete maravilhas do mundo”. Dois livros difundiram a articulação entre a arquitetura e a arte da primeira modernidade e o recente desenvolvimento das novas edificações nas cidades do continente. O venezuelano Carlos Brillembourg — que organizou em 2002 um seminário na New School University de Nova York sobre o atual pensamento crítico em torno do Modernismo — , publicou em 2004 o livro Latin American Architecture 1929-1960, editado pela Monacelli Press de Nova York, com a participação de alguns scholars Latino-Americanos. Entre eles: Paulina Villanueva, Roberto Segre, Francisco Liernur, e os brasileiros Lauro Cavalcanti e Ruth Verde Zein.
O professor Jean-Francois Lejeune, da University of Miami, organizou em 2002 uma exposição sobre as cidades e a arquitetura da America Latina no Centre International pour la Ville, l’ Architecture et le Paysage (CINVA) de Bruxelas, que posteriormente se concretizou em um livro recente (2005), editado pela Princeton Architectural Press, patrocinado pela University of Miami. Com o título Cruelty & Utopia. Cities and Landscapes of Latin America, também contou com a presença de vários pesquisadores e críticos brasileiros: Carlos Martins, Lauro Cavalcanti, Carlos Eduardo Comas, Olivia de Oliveira e Roberto Segre. Este editor também publicou em 2003 o livro de Lauro Cavalcanti When Brazil Was Modern: A Guide to Architecture, 1928-1960. Na University of Southern California em Los Angeles, a professora venezuelana Clara Irazabal está organizando uma coletânea de autores da região com o titulo Ordinary Places & Extraordinary Events, dedicado ao uso social e a transformação dos espaços urbanos na América Latina.
Além das universidades citadas, outros centros acadêmicos organizaram cursos e conferências sobre a arquitetura do continente, com particular ênfase sobre as contribuições brasileiras. Um expressivo grupo de profissionais e pesquisadores – Lauro Cavalcanti, Márcio Kogan, Ciro Pirondi e Thiago Bernardes – participou em Houston no seminário organizado em 2005 por The Rice Design Alliance; e neste ano, Lauro Cavalcanti foi convidado pela Tulane University de New Orleans para expor o tema do modernismo brasileiro, assim como Roberto Segre difundiu nas Escolas de Arquitetura de Arizona, Gainesville e Windsor, Ohio, a pesquisa sobre o Ministerio de Educação e Saúde desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro. Também em Arizona, a Escola de Arquitetura iniciou um intercâmbio de alunos e professores com a FAUSP, e Angelo Bucci assumiu por um semestre um ateliê na sede de Tempe.
Mas a contribuição mais duradoura foi concretizada pelo professor argentino Claudio Vekstein no seminário docente para os alunos do College of Architecture and Environmental Design da Arizona State University. Como trabalho final do seminário mantido ao longo de três anos, cada equipe de estudantes teve que elaborar uma sofisticada e detalhada maquete em madeira de um edifício moderno Latino-Americano, realizadas em diferentes escalas e com uma particularidade específica. Assim, no mês de março de 2005, coincidindo com o curso por mim ministrado nessa escola, foi inaugurada a exposição com 25 maquetes, acompanhadas dos textos teóricos referentes a cada um dos prédios (a exposição pode ser acessada no site: http://lai.caed.asu.edu/).
O Brasil teve uma significativa participação com as seguintes obras: Ministério de Educação e Saúde no Rio de Janeiro de Costa, Niemeyer e equipe com a participação de Le Corbusier; a Igreja de São Francisco em Pampulha, Belo Horizonte e o Palácio de Itamaratí em Brasília de Oscar Niemeyer; o projeto do Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Osaka de Paulo Mendes da Rocha e Ruy Ohtake, e o MUBE em São Paulo; a Faculdade de Arquitetura da FAUSP de João Vilanova Artigas; o conjunto de Pedregulho no Rio de Janeiro de Affonso Reidy; o MASP e o SESC Pompéia de Lina Bo Bardi.
Com um amplo leque temporal — os edifícios selecionados vão desde a casa-atelier de Diego Rivera e Frida Kahlo no México (1931-32) até o MUBE de Paulo Mendes da Rocha (1988) — as maquetes permitiram compreender a dimensão urbana no relacionamento com os terrenos nos diferentes sítios em que ficam implantados os edifícios, as qualidades formais e espaciais e as particularidades tecnológicas dos elementos construtivos, que não podem ser verificadas com as fotografias tradicionais. A tridimensionalidade facilitou o conhecimento dos atributos mais marcantes de cada edifício, já que os alunos não foram simples “reprodutores”, mas intérpretes das características específicas de cada exemplo. Este enfoque definiu a escala e o grau de detalhamento que facilita ao observador assimilar o caráter inovador de cada exemplo estudado: a distribuição sobre o terreno dos volumes curvilíneos das Escolas Nacionais de Arte de Havana de Ricardo Porro e Vittorio Garatti (1961-64); a complexidade da construção em tijolos da cobertura da Igreja de Atlântida de Eladio Dieste (1952-59); o relacionamento com a topografia da casa sobre a ponte em Mar del Plata de Amancio Williams (1943-45) ou o conjunto habitacional de Pedregulho de Affonso Reidy (1950-52); a vigorosa estrutura do Banco de Londres e America do Sul em Buenos Aires de Clorindo Testa (1959-64); a leveza suspensa da laje do pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Osaka de Paulo Mendes da Rocha e Ruy Ohtake (1969).
Sem dúvida, este foi um dos maiores esforços realizados nos Estados Unidos para difundir a arquitetura Latino-Americana. Oxalá a coleção de maquetes circule no sistema universitário Norte-Americano, e esperamos que a exposição também chegue um dia às universidades da nossa região.
[publicação: abril 2005]