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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Os autores apresentam a Escola de ensino primário Gitanjali em Badalona, de autoria dos arquitetos Albert Salazar e Joan Carles Navarro, que aplicaram no projeto os princípios pedagógicos libertários das idealizadoras da instituição

english
The authors present a primary school in Badalona Gitanjali, designed by architects Alberto Salazar and Joan Carles Navarro, who applied the libertarian principles of the board directors in the design of the institution

español
Los autores presentan la Escuela de Enseñanza Primaria Gitanjali en Badalona, de autoría de los arquitectos Albert Salazar e Joan Carles Navarro, que aplicaron en el proyecto los principios pedagógicos libertarios de las idealizadoras de la institución

how to quote

MASSAD, Fredy; GUERRERO YESTE, Alicia. Arquitetura para a boa educação. Escola de ensino primário Gitanjali em Badalona. Drops, São Paulo, ano 05, n. 011.02, Vitruvius, abr. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/05.011/1648>.


A atual sede da escola de ensino primário Gitanjali em Badalona (Barcelona), obra do escritório AIA – dirigido pelos arquitetos Albert Salazar e Joan Carles Navarro – é um edifício que oferece em si mesmo, a seus pequenos usuários, um duplo componente educativo: é o espaço de reunião para o aprendizado e o local que se torna referência direta de como estabelecer com o entorno uma relação sustentável. Como uma lição reiterada, os alunos e alunas da escola Gitanjali aprendem, em seu uso diário do colégio, como manter uma relação respeitosa com o meio ambiente mediante o aproveitamento das energias alternativas. Esse conceito de edifício auto-abastecido desenhado por Salazar e Navarro se encontra em absoluta sintonia com o conceito pedagógico de Gitanjali, uma escola que nasceu em 1962 como uma reação ao ambiente educativo rarefeito e opressor do franquismo, no qual se educaram suas fundadoras Mercè Illana, Roser Padrós e Maria Teresa Giné, que tinham 24 anos quando decidiram criar uma escola aonde os meninos e meninas se sentissem "livres e felizes". Baseando-se nas teorias pedagógicas defensoras da liberdade infantil e com a motivação de um progressismo revolucionário de então, de potenciar em sua nova escola a catalanidade, a co-educação e a condição laica, estas três mulheres resolveram batizar o centro com o título de um poema de Rabinadrath Tagore para expressar o caráter de seu projeto.

A escola está hoje encravada no casco antigo de Badalona. A construção de Salazar e Navarro substitui uma edificação de um piso que abrigava parte da antiga escola e conforma uma extensão das antigas instalações, situadas em um edifício de estilo modernista, reabilitado por estes mesmos arquitetos, onde atualmente estão as salas de aula dos alunos da pré-escola. A integração do velho e do novo edifício se realiza pela diferença, com o acréscimo ao edifício modernista de um volume cúbico. Nos três pisos do novo edifício se distribuem os equipamentos próprios de todo colégio: salas de aula, escritórios administrativos, refeitório, ginásio, biblioteca, espaços para reunião e orientações...

Os arquitetos do escritório AIA não apenas são especializados em instalações, mas também as tornam centrais em seus projetos. Foram colaboradores em importantes obras de Dominique Perrault, arquiteto que reconheceu e elogiou o conceito moderno e dinâmico de entender a profissão, muito próprio destes arquitetos, que combinam arquitetura, engenharia e desenho, e que dedicam fundamentalmente seu trabalho ao desenho de sistemas de instalações. Neste projeto, revestindo conscientemente a ação arquitetônica de uma motivação pedagógica, Salazar e Navarro se esforçaram por conseguir que as placas destinadas à captação de energia solar se incorporassem à estrutura de maneira que se colocassem a serviço da expressão estética do edifício, com o objetivo de que os meninos e meninas percebessem esses elementos com naturalidade. Isto se faz patente na forma em que se incorpora uma placa fotovoltaica na fachada externa, que contrasta com a interior por sua austeridade – de forma que visualmente possa passar totalmente desapercebida ao ficar totalmente integrada na pele que recobre o edifício – e aonde se destaca, à maneira de um grafitti, o rótulo com o nome da escola. Esta placa gera uma produção elétrica de 5 kw. Na laje de cobertura do edifício alguns coletores solares cobrem praticamente os 100% das necessidades de uso energético de Gitanjali. Os tratamentos do ar e da ventilação são realizados por um climatizador, que recolhe ar exterior da câmara formada no vão entre a fachada interior e a placa fotovoltaica, ar que é introduzido controladamente no interior: no inverno, o ar quente obtido pela radiação solar é impulsionado para dentro dos diferentes espaços da escola, permitindo a redução do consumo de gás; quando as temperaturas são frescas, o interior recebe ar da face norte do edifício, complementando-se com um sistema de acondicionamento do ar. O ar quente entra por finas frestas feitas no teto e os radiadores são substituídos com o desenho de um embasamento radiante. O edifício foi dotado de um pequeno sistema de controle centralizado que permite programar e visualizar o funcionamento via Internet, recolhendo e armazenando os dados de manutenção e economia energética de tais sistemas.

Da mesma maneira que o espírito renovador com que se fundava Gitanjali foi fruto de um desejo de inverter um conceito tradicional e encarquilhado de escola que partiu de uma reflexão sobre a própria experiência de Illana, Padrós e Giné como alunas, é como se o processo de criação deste edifício por parte de Salazar e Navarro houvesse consistido também em levar a cabo esse exercício de memória, que habitualmente é apenas literário, de regressão aos sentimentos da infância e de evocação do que suscita em nós o espaço e a dinâmica do colégio: o conceito sobre o qual os arquitetos basearam seu projeto gira em torno da convicção de que o edifício de um colégio deve possuir o mesmo espírito que os meninos e as meninas: "tem que ser vivo, alegre e próximo; não um simples recipiente frio e despersonalizado", sustentam. Evidência dessa concepção é a sensibilidade no tratamento da fachada interior, voltada para o pátio de recreio e por isso a fachada do colégio que as crianças vivenciam, cheia de contrastes em suas cores vivas, com a intenção de desmistificar a transcendência que representa o colégio para uma criança.

O edifício de Gitanjali surge da conjunção e da concordância sobre valores e objetivos compartilhados: alguns buscados, outros, surgidos com o acaso. O encontro deste escritório de arquitetos com um projeto de escola fundado nos valores de liberdade confluiu em uma determinação de se realizar uma escola sustentável, racional e que em cujo projeto primava a economia energética. Conseguindo às vezes transmitir a partir de sua própria estrutura sensações de afeto, segurança e respeito, hibridizou em um mesmo compromisso criatividade e ética. Neste caso, também prolongando, reatualizando e revitalizando aqueles ideais a partir dos quais nasceu Gitanjali há 40 anos.

notas

[Publicação original no suplemento “Cultura/s”, jornal La Vanguardia, Madri, 02 de março de 2005].

Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, Lleida, Espanha


 

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