Herzog & De Meuron alinhavaram a conclusão do Edifício Fórum em Barcelona com a concepção e construção de outros projetos em Madrid, Santa Cruz de Tenerife, Jerez da Frontera e Córdoba. Herzog & De Meuron é atualmente uma firma estabelecida na Basiléia, integrada por oito arquitetos associados e na qual trabalham mais de 150 pessoas. Originalmente nasceu da determinação por construir sua própria arquitetura de dois arquitetos que acabavam de se formar, Jacques Herzog e Pierre de Meuron. Pode se afirmar que a energia daquela determinação sobrevive no espírito e na atitude destes arquitetos e na essência do trabalho de cuja criação seguem sendo principais artífices até hoje, momento em que a associação dos dois jovens colegas em 1978 se transformou em um grande escritório.
Ir além do gesto individual, preferindo reinventar a arquitetura em cada projeto, ao invés de investir esforços na consolidação de um estilo: a linguagem arquitetônico de Herzog & De Meuron se fundamenta em uma pesquisa com materiais tradicionais e superfícies – entre o científico e o artístico – encaminhada para obter um tratamento destes que leve ao extremo a dimensão física de cada estrutura. Da intensificação da dimensão material da arquitetura, dos pensamentos e idéias que esta transmite, emerge sua dimensão imaterial.
Na arquitetura de Herzog & De Meuron, nesta compreensão quase espiritual, lateja um sentido de transcendência: delicadamente construída, está sustentada pela vontade de tentar, através de cada projeto, encontrar a natureza da identidade absoluta da arquitetura. Esta latência permite perceber sua obra como comovedora e perturbadora, incitadora do pensamento sobre o belo. A arquitetura é uma forma de percepção da vida, afirmam. Longe de acomodar-se em auto-referências e autocomplacência, a arquitetura de Herzog & De Meuron, em seus projetos mais recentes, investiga com novos elementos técnicos e de processo, nos quais se unem a incorporação das tecnologias digitais com o profundo interesse pelas ciências naturais e a arte que tem distinguido sua trajetória. Dois de seus projetos espanhóis são exemplo das características conceituais de sua arquitetura.
Aprofundando no conceito de solidez (não monumentalidade), e vinculada a projetos como o Edifício Fórum ou a reconversão da Central Elétrica de Southbank no Museu Tate Modern, se encontra a intervenção que se está levando a cabo em uma antiga central elétrica para transformá-la na sede de CaixaForum em Madrid. Como nos projetos anteriores, também o objetivo de integrar fluida e ativamente a estrutura arquitetônica na dinâmica urbana se acha presente neste, cuja conclusão está prevista para 2006. Para este projeto, foi preservada a estrutura de tijolos e se optou por uma profunda e cirúrgica reconversão de seu interior, de forma que o piso térreo funcione como praça pública e às vezes como vestíbulo, gerando um contraste entre a amplitude das salas expositivas e o labiríntico espaço que conformaram as salas administrativas. Tenta-se dotar a estrutura reabilitada de uma qualidade escultórica, preservando seu diálogo com a integridade do entorno adjacente, e fazer que sua potência física passe a atuar literalmente como imã de visitantes.
No projeto para a Cidade do Flamenco, que se construirá em Jerez, se manifesta o interesse pela reinterpretação e recontextualização do tradicional no contemporâneo, outra das constantes marcantes em sua arquitetura. Centro destinado à divulgação e promoção da arte flamenca, a Cidade do Flamenco se situará na Praça de Belém, espaço cuja identidade e presença pretende reforçar o complexo desenhado por Herzog & De Meuron ao integrar-se nele através de um jardim amuralhado, em cujo interior se encontraram as diferentes estruturas funcionais com que esta contará. O material de construção será a pedra tradicional, que caracteriza o bairro antigo de Jerez, enquanto que as superfícies tomarão como referência as formas, linhas e motivos da tradição ornamental andaluz – da qual os arquitetos reconhecem a sobrevivência em numerosos elementos criativos da cultura atual.
Eficientes e finos construtores de materialidade, estrutura e espaço, com a realidade de sua obra, que afirma seu ser através do uso e da percepção, Herzog & De Meuron defendem para o presente e para o futuro a construção de uma arquitetura capaz de transformar as formas e afetar aos sentidos. Que em sua vivência incite à reconfiguração da arquitetura e do humano
notas
[Publicação original no suplemento “Cultura/s”, jornal La Vanguardia, Madri, 06 de abril de 2005].
Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, Lleida, Espanha