Fecham a mega-biblioteca José Vasconcelos, já que o ex-presidente Vicente Fox inaugurou-a de forma ‘precipitada’. Recordemos que se aproximavam as eleições presidenciais e este tinha que deixar sua marca para influir seus potenciais eleitores, curiosamente um presidente que afirma que Mario Vargas Llosa é prêmio Nobel de Literatura e colombiano (sic), deixou como legado a biblioteca central do Distrito Federal, eixo da Rede das Bibliotecas Públicas, localizada na zona de Tlaltelolco.
Projeto da equipe do arquiteto mexicano Alberto Kalach que tentou abordar a criação de um mega espaço arquitetônico, uma espécie de arca, que sirva de continente de várias atividades humanas, talvez por isso esta biblioteca venha acompanhada de um enorme jardim botânico que entrelaça o espaço exterior e interior, onde continente e conteúdo, se mimetizam no entorno do espaço construído.
No entanto, a mega-biblioteca fechará suas portas até que se resolvam os problemas no edifício, que vão desde goteiras, falta de elevadores, até desníveis de ''jardinagem".
Este foi o projeto cultural mais importante da última administração mexicana, e que não durou nem um ano aberto, uma obra de arquitetura que novamente serve para o debate teórico aberto entre os objetos arquitetônicos ‘babilônicos’, caros (seu custo final foi de aproximadamente 6,8 milhões de euros) (1) que pretendem transcender como ‘símbolos do poder estabelecido’, mesmo apesar de se pretender ser ao mesmo tempo, um marco de referência no campo da plástica e da estética arquitetônica.
As administrações e os arquitetos, seguem caminhando juntos criando arquiteturas espetaculares, que abrem grandes espaços entre os críticos que gostam e desfrutam com estes grandes símbolos estéticos, e que se fotografam e se publicam em revistas de arquitetura ‘para arquitetos‘, no entanto fica também aberta a brecha para nós, críticos de arquitetura que nos afastamos destes projetos ‘para arquitetos’, que se vinculam abertamente com o poder e o dinheiro, e que não respondem às necessidades cotidianas dos mais de 40 milhões de mexicanos pobres, que vêem utilizarem-se seus recursos em ‘magníficos edifícios’, de uma plástica incrível, e que antes de completar um ano de inaugurados, devem fechar por que têm goteiras, não funcionam seus elevadores e sua principal base, que é o jardim botânico, têm graves problemas de ‘jardinagem’…
Um projeto que parecia já ‘babilônico e desproporcional desde o princípio’ está aí já feito, e se terá que utilizá-lo, transpondo-se agora os problemas técnicos, para dotar a mega-biblioteca posteriormente… de conteúdos sérios.
Pretendo com esta resenha gerar ‘as dúvidas’ que ajudem a ‘refletir’ sobre o que construímos, projetamos e estudamos. Não pretendo lançar aqui um ‘decálogo’ do que ‘deveríamos fazer’ na arquitetura; somente quero deixar claro que nem todos estamos de acordo com o marketing, as fotos em página dupla sem gente, e as declarações ‘somente estéticas’ que os arquitetos estrela lançam quando inauguram seus edifícios, junto aos políticos e aos empresários de plantão.
notas
1
Segundo informação encontrada no site: www.jornada.unam.mx/2004/07/08/04an1cul.php?origen=cultura.php&fly=2[tradução ivana barossi garcia]
[publicação: maio 2007]
sobre o autor
Humberto González Ortiz é doutor em Arquitetura pela Universidade Politécnica da Catalunha e arquiteto da Universidade Nacional Autônoma do México.
Humberto González Ortiz, Distrito Federal México