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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
O problema enfrentado pela China com os edifícios dos Jogos Olímpicos de 2008 não parece ter influenciado a sua mais nova vitrine: a Expo Shanghai. O que podemos aprender com esse processo?

english
China faces a big problem with the empty buildings of the Olympic Games 2008, and now will have to deal with the same, after one of the most impressive showcases to the world: Expo Shanghai. What can we learn from this process?

español
El problema que tiene China con los edificios de los Juegos Olímpicos del 2008 parece no tener influencia en su más nuevo escaparate al mundo: la Expo Shanghai. ¿Qué podemos aprender de ese proceso?

how to quote

CODDOU, Flávio. Existe vida após os Jogos? Reconversão ou desmontagem? Drops, São Paulo, ano 11, n. 037.01, Vitruvius, out. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.037/3539>.



Quando uma cidade é escolhida para ser sede de Jogos Olímpicos ou de uma Exposição Universal, um dos debates inevitáveis entre as instituições organizadoras centra-se sobre o legado físico dos seus edifícios, marcado por eventos que excepcionalmente transformarão aquela cidade em centro da atenção mundial durante alguns meses. Como construir edifícios que se integrem no tecido urbano, com uso cultural e esportivo posterior aos eventos, e que ao mesmo tempo criem espaços públicos duráveis, redes de transporte público e melhorias em bairros periféricos ou áreas centrais degradadas?

Desde o início da história das Exposições Universais, em 1851, já se previa a construção efêmera e estrutura desmontável, aplicada já no primeiro grande edifício símbolo da nova tecnologia do ferro, o Crystal Palace, que fora desmontado e transferido a outro lugar em Londres, até ser destruído por um incêndio em 1936. Posteriormente, outro símbolo que atravessa gerações desde a Exposição Universal de 1900, a Torre Eiffel, foi alvo de um intenso debate: embora num primeiro momento tenha-se especulado desmontá-la, seu impacto simbólico foi tão grande que o monumento resiste como nenhuma outra construção “efêmera” de Exposições Universais da história. O mesmo acontece com o Atomium em Bruxelas. Numa cidade carente de símbolos que não vão além do ridículo Manneken Pis, o momumento da Expo de 58 conseguiu manter a atenção até hoje por conta da dúbia relação entre monumento, edifício ou escultura atômica de Claes Oldenburg.

O caso atual e amplamente publicado em todos os meios de comunicação, por conta de sua escala e interesse, é a Expo Shanghai, que tem provado ser a versão máxima da promoção de “branding” de cidades (e nesse caso de um país) que tem se acentuado nas duas últimas décadas. Neste caso, trata-se do ápice de um processo de crescimento econômico que deve ser reconhecimento “formalmente”, uma vitrine institucional do auge da abertura da China ao comércio mundial, mas que no caso das Expos se constrói “ao contrário”, de fora para dentro, através da promoção, representação e patrocínio de todos os países do mundo em direção ao público chinês, buscando prestígio e um lugar ao sol no maior mercado consumidor do mundo.

Embora Shanghai tenha construído novas linhas de metrô, abrindo passo para que a área da Expo ao longo do rio Huangpu se integre ao processo inevitável de urbanização rápida através do modelo de verticalização irregular e pouco controlada do restante da cidade, o futuro dos pavilhões da Expo Shanghai continua incerto. Shanghai parece não ter se assustado com os fiascos urbanos e financeiros de Sevilha e Hannover, e a reflexão sobre a sustentabilidade, durabilidade e adaptação a longo prazo é secundária em relação ao impacto midiático imediato almejado. O lema ‘Better cities, better life’ é pouco sustentável nesse mar de pavilhões pouco aproveitáveis. Se alguns arquitetos haviam pensado na desmontagem e reciclagem dos pavilhões, esse mérito é unicamente seu, e não da organização da Expo. De modo a bater recordes de participação do maior número de países possível, a China chegou a patrocinar a construção de pavihões de países que não tinham condições econômicas, como é o caso da Coreia do Norte, Nepal e uma grande parte dos países africanos.

Pode-se dizer que há muito tempo as Exposições Universais deixaram de representar um evento de encontro e troca de experiências tecnológicas e institucionais, dando lugar a um mega evento de auto-promoção no qual imperam os interesses das grandes corporações mascarados pela vitrine de edifícios assinados por grandes arquitetos mundiais, e, especialmente em Shanghai, soma-se claramente os objetivos políticos do PCC que precisa reforçar periodicamente a auto-estima da população. A tensão social nas províncias de minorias étnicas, que sempre obrigam os chineses da maioria ‘han’ a reforçar o discurso sobre a indivisível harmonia do país, e o crescente desastre ambiental no qual se tem transformado as grandes cidades chinesas são percalços com os quais o partido já se acostumou a lidar e esses reforços tem sido frequentes.

Com a dobradinha Jogos + Expo (que também se viveu em 1992 na Espanha com Sevilha e Barcelona), a China então está passando por um processo de digestão dessa problemática: “o que fazer com tudo isso, agora que o evento acabou?”.

Sabemos que algumas cidades viram na organização do evento olímpico uma oportunidade única para se reestruturar e se transformar completamente, não somente através dos edifícios esportivos, mas também da vila olímpica, que foi integrada à cidade de modo exemplar. Isso ocorreu em cidades como Helsinque, Tóquio, Barcelona e Sydney.

No caso da capital chinesa, o investimento em edifícios que são sub-utilizados pela população que não tem a tradição de assistir esportes coletivos em grandes estádios – a China é um país de esportes individuais – fez com que as autoridades repensassem os usos depois dos Jogos desde o início da construção, especialmente no caso do Estádio Nacional (de Herzog & de Meuron e o artista chinês Ai Wei Wei). Contudo, não parece haver solução possível: devido aos raríssimos eventos de atletismo e futebol que se realizam no país, as autoridades chinesas, que já contavam com o problema do desuso (ver o documentário Bird’s Nest), não conseguem solucionar o problema com uma proposta viável de reconversão. Com um gasto de 31 bilhões de dólares em suas instalações olímpicas, era inevitável que o governo de Beijing recebesse como troco esses elefantes brancos. Com dois concertos realizados desde 2008 e as críticas à péssima acústica para acolher eventos musicais, o debate agora está centrado sobre a (aparentemente única) possibilidade de transformar o espaço externo de acesso aos diferentes níveis da arquibancada do Estádio Nacional em zonas de centro comercial. Contudo, essa opção não contempla um uso à maior área disponível, ou seja, o campo de esportes e arquibancadas. Com uma manutenção que custa 10 milhões de dólares ao ano, o imenso fiasco do Estádio Nacional parece inevitável.

Enquanto não se materializa o futuro do estádio, do lado oposto da esplanada olímpica, uma reconversão de uso acaba de ser inaugurada: o Happy Magic Water Cube.

O projeto do escritório australiano PTW, e sede das atividades aquáticas durante os Jogos Olímpicos de Beijing em 2008, foi completamente esvaziado e ocupado por um parque aquático de 7 mil m2 com tobogãs, piscinas com ondas artificiais e uma decoração de gosto duvidoso, dando lugar ao maior parque aquático coberto da Ásia.

A inauguração não está isenta de críticas: o preço de entrada ao parque (200 rmb para adultos, 160 para crianças) é considerado altíssimo em relação ao salário médio da população de Beijing, que gira em torno de 960 RMB ou 107 euros.

Sem sabermos se esse recém inaugurado parque aquático terá êxito, a notícia não deixa de ser pertinente no momento em que Londres e Rio de Janeiro elaboram os projetos para as instalações olímpicas. Londres enfrenta a resistência da população, pois uma alta porcentagem do cidadãos, tomada pelo ceticismo com relação à celebração dos Jogos em plena crise econômica, se sente ainda mais enganada com a publicação dos orçamentos atuais de investimento público,  que cresceu 10 vezes desde 2005. O governo britânico reforça a ideia de evitar os elefantes brancos na cidade, realizando os Jogos mais baratos da história, mas o orçamento já bate os 17.4 bilhões de dólares, muito mais do que os 12 bilhões de Atenas.

No caso do Rio, a utilização do Maracanã nos poupará dos problemas do maior e mais problemático elefante branco. Em relação aos outros edifícios, muitos deles construídos para as dezenas de esportes sem tradição no Brasil, é fundamental pensar em estruturas desmontáveis, e também na conversão de uso. A dobradinha Copa do Mundo + Jogos, aproveitar os projetos construídos durante o Pan faz com que a atenção dos arquitetos se concentre sobre a vila olímpica.

Os Jogos são uma oportunidade única de revitalizar e integrar bairros degradados em áreas centrais, construindo um conjunto isento da perversão usual de criar bolsões de especulação urbana, e, a partir de um projeto mais amplo, propor uma vila olímpica capaz de servir de exemplo ao restante da cidade, com uma vocação claramente permeável, propulsora de uso misto e espaços públicos. Igualmente importante, a alta densidade deve priorizar e potencializar o transporte público, integrando-se à cidade através de uma malha aberta.

A vila olímpica é uma peça-chave nesse processo de incluir o Rio na lista de cidades que souberam aproveitar a oportunidade de um evento como esse, e enraizar mudanças profundas e definitivas na cidade.

sobre o autor

Flavio Coddou é arquiteto (1998) e um dos editores responsáveis pelo Vitruvius Espanha.

O Crystal Palace em 1936, pouco antes de seu incêndio

Happy Water Cube, o parque aquático recém-inaugurado
Foto divulgação

Vista aérea da Expo Shanghai 2010
Foto Charles Xia

 

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