Sobreposição, simultaneidade, multiplicidade. Estas e outras palavras que remetem à desorganização, ao acúmulo e ao caos são muito úteis quando queremos definir com precisão a época em vivemos. Neste sentido, se incapacitados estamos de fugir desta crescente aglutinação, é preciso, cada vez mais, aprofundar nosso conhecimento sobre este complexo relevo que está sendo formado.
A palavra palimpsesto deriva do grego pálin (novamente) e psestos (raspado, apagado) e faz referência a uma página manuscrita ou livro cujo conteúdo foi apagado (mediante lavagem ou raspagem) e escrito novamente. É a partir deste conceito de aglomeração, supressão e manipulação que a série Palimpsestos está embasada. Composta por obras em vídeo e fotografia, ela procura refletir sobre um questionamento tão conflituoso quanto inevitável no fotojornalismo: é a imagem que recria o texto ou é o texto que redefine a imagem?
Os vídeos são resultado de uma pesquisa, onde eu preciso encontrar, numa mesma folha de jornal, uma imagem que tenha um texto relacionado a ela no verso. Neles observamos alguém com pincel e água que se entrega a um (inútil?) processo de raspagem de um texto escrito para que o visual venha à tona, uma espécie de Sísifo contemporâneo, que tem como resposta para sua tarefa de desconstrução uma nova construção.
Depois de filmadas, as folhas de jornal que tiveram seu texto raspado são fotografadas. No entanto, nestas imagens, além de visualizarmos a notícia que foi apagada, passamos a ter acesso ao conteúdo que estava ao seu redor, tais como cabeçalhos com datas, nome do jornal, outras imagens e textos. Através das fotografias, o palimpsesto é reinscrito em seu caótico ambiente original e nos revela que o território explorado no vídeo nada mais é do que uma clareira neste extenso emaranhado midiático.
Mirando(a): uma reflexão sobre a natureza das artificialidades (1)
Em Mirando(a), imagens de pássaros foram “capturadas” da internet, ampliadas, emolduradas e penduradas em árvores. Ao promover este reencontro da “foto de natureza” com a natureza, retomo um dos temas recorrentes em minha pesquisa: o contraste entre o real e sua representação.
Inspirado pelo filme Eu, Você e Todos Nós, de Miranda July, cinema e intervenção urbana têm em comum o uso da imagem do pássaro como metáfora das artificialidades do nosso cotidiano que passamos (ou fomos condicionados) a aceitar como naturais.
nota
NE
Texto do artista para a exposição Palimpsestos, Ateliê da Imagem Espaço Cultura, de 26 de agosto a 15 de outubro de 2011.
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Em exposição no jardim do Ateliê